quarta-feira, 28 de agosto de 2013

RESENHA: As Neves do Kilimanjaro e outros contos

“Não era tanto pelo fato de mentir, mas porque não havia verdades a dizer.” (HEMINGWAY, pag.17, 2011)

Resenhar Hemingway. Eis uma responsabilidade que eu não queria. Porque sejamos sinceros: quando se trata de Hemingway, por mais que se fale, nunca se falará o suficiente, porque se perfeição técnica - em termos de transformar uma idéia em texto - existe, é ali que ela está. “As Neves do Kilimanjaro e outros contos” é uma coletânea que usa de doze histórias curtas para exemplificar isso.

Confesso, com vergonha, que não sou muito familiarizada com as narrativas longas do autor (nesse formato li apenas “Adeus às Armas”), mas seus contos me encantam. O texto seco e preciso é extremamente visual. É incrível como com tão poucas palavras o autor consegue nos fazer visualizar cenas que outros precisariam de parágrafos para descrever e ainda assim não obteriam o mesmo êxito. Com Hemingway não existe meras descrições. Tudo é visto - como se fosse uma imagem – e, mais que isso, sentido. Dos doze contos, foram apenas um ou dois que não me fizeram terminar a leitura e fechar o livro por um instante e refletir sobre o que havia sido contato (tanto que em nenhum momento emendei um conto no seguinte. Li cada um pausadamente e sempre deixei passar um tempo antes de ir adiante). Porque Hemingway tem disso: não basta ler, é preciso apreciar com calma. Saborear cada frase.

A cada conto, eu me encantava em testemunhar a habilidade do autor em conduzir uma história que - como sempre nos melhores contos – parece ser sobre uma coisa, mas acaba se revelando ser sobre outra (Hemingway é o mestre da história oculta). A cada diálogo, era incrível observar como tudo o que era de fato dito era tão pouco quando comparado ao que o autor conseguia deixar entender. Todo o histórico dos personagens impregnado naquelas poucas linhas. Tanta coisa dita sem que o leitor perceba que está sendo dita, porque está sendo mostrada.

Em alguns contos, duas ou três linhas são suficientes para inserir o leitor na história como se aqueles personagens fossem seus conhecidos há muitas páginas ou, no mínimo, muitos parágrafos; e, em tantos outros, comparo a sensação de acompanhar a história como se estivesse sentada em um café, ouvindo a conversa das pessoas da mesa ao lado. Pessoas que se conhecem de longa data e tem um relacionamento pré estabelecido que me seria fácil compreender mesmo em poucos minutos.

“As Neves do Kilimanjaro”, um dos contos mais extensos do livro – mesmo com suas meras 28 páginas -, abre com brilhantismo a coletânea e é seguido por “Cinquenta Mil” que me fez conseguir quase sentir o cheiro do sangue que saia daqueles lutadores de boxe. Outros contos que se destacaram para mim foram “Os Pistoleiros”, “A Capital do Mundo”, “Depois da Tempestade” e, finalmente, “O Velho na Ponte” que encerra o livro de maneira comovente.

Eu não queria a responsabilidade de resenhar Hemingway, mas ao terminar esse livro, eu não podia deixar de compartilhá-lo com vocês. Leitura mais que recomendada, “As Neves do Kilimanjaro e outros contos” é um pequeno exemplar de porque Ernest Hemingway é considerado um dos melhores escritores de todos os tempos. Todo e qualquer elogio não é excessivo.

Título: As Neves do Kilimanjaro e outros contos
Autor: Ernest Hemingway
Nº de páginas: 175
Editora: Best Bolso

8 comentários:

Ana Paula Barreto disse...

Eu é que tenho vergonha.. nunca li absolutamente nada dele, apesar de ouvir falar desde sempre. O mais legal mesmo é a habilidade na narrativa, como é possível alguém conseguir transportar o leitor para o cenário, para dentro da história. Não deve ser à toa toda a fama dele! Espero ler um dia.
bjs
GFC: Ana Paula Barreto

Fran disse...

Nunca li nada do autor, na verdade nunca me interessei por ele, nao sei nem dizer o porquê, acho q nenhuma sinopse me cativou, mas fiquei interessada nesses contos vendo a forma que eles te tocaram ao lê-los =) Se tiver oportunidade eu vou dar uma olhada neles.

Nardonio disse...

Na verdade, quem deveria estar com vergonha seria eu, pois nunca tinha ouvido falar nem do autor, nem de suas obras. Essa sua resenha só me fez ver que preciso conhecer mais as obras do Hemingway. Afinal, são pouquíssimos os autores que conseguem esse feito de ser descritivo e visual na medida certa.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Gabriela CZ disse...

Não tenho muita intimidade com clássicos da literatura universal e nunca li Hemingway, mas sei quem é e conheço sua reputação. Fiquei muito instigada com a forma como você descreveu os contos, Mari. Então mais do que nunca Hemingway está na minha lista de autores a serem lidos. ^^

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

GFC: Gabriela Cerutti Zimmermann

Unknown disse...

Hemingway é um clássico, muita gente ama. Eu também para ser honesta não estou familiarizada. Ouço muitos comentários sobre o velho e mar, gostei de conhecer um livro de contos do autor, apesar de não ser fã do gênero, acho que vale muito a pena.

beijos

Ana de Cassia Oliveira.

Rayssa Gimenes disse...

Infelizmente eu nunca li nada do autor e preciso corrigir esse erro urgentemente! Gosto de livros com vários contos, pelo que disse são contos ótimos que valem a pena serem lidos.

GFC: Rayssa Gimenes

Unknown disse...

Não sou fã de contos então não me interessei muito por esse livro...
GFC: Thaynara Ribeiro

Luiz Carlos Castilho disse...

Li boa parte da obra de Hemingway, um escritor que gosto muito. Em toda sua obra podemos observar que apesar da ficção, estão inseridas passagens de sua vida aventureira, Nas neves de Kilimanjaro, ele narra a história de um escritor que volta para um lugar que diz muito sobre seu passado. Com ferimento na perna quase gangrenando ele revive uma época áurea de sua vida. Hemingway também foi algumas vezes caçar na África. Assim co o em Adeus às Armas ele conta de seu alistamento voluntário como motorista de ambulância na Primeira Guerra Mundial, como em Por quem os sino dobram, ele conta sua luta, ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola, em o Sol também se levanta ele relembra as touradas e suas amizades com toureiros. Em paris é uma festa, ele lembra de Paris dos anos 20. Em o Velho e mar, ele conta das pescarias de sua época vivendo em Cuba.

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