“Havia quatro de nós lá embaixo nos primeiros trinta e dois meses e onze dias do nosso cativeiro. E então, de repente e sem qualquer aviso, éramos três. Apesar de a quarta pessoa não ter feito barulho algum nesses vários meses, o porão ficou muito silencioso quando ela se foi. Depois disso, durante muito tempo, ficamos sentadas em silêncio, no escuro, imaginando qual de nós seria a próxima na caixa.” (ZAN, pag. 7, 2013)
Algumas pessoas têm como regra não ler as sinopses dos livros para evitar que qualquer surpresa se perca. Eu não sou tão radical, mas compartilho dessa preocupação. Por isso, quando uma sinopse me cativa trato de esquecer seus detalhes o mais rápido possível, mantendo em mente apenas uma noção geral da trama. Quando fiz isso com “A Lista do Nunca”, inesperadamente, prejudiquei a minha experiência.
Sarah e Jennifer são amigas desde crianças e graças a um acidente de carro compartilham uma paranóica obsessão por segurança. Porém - apesar de todas as precauções que tomam - as duas são sequestradas em seu primeiro ano de faculdade e mantidas acorrentadas em um porão por três anos, junto com outras duas mulheres, experimentando os mais cruéis tipos de tortura. Seu captor: um professor universitário da área de psicologia.
Quando comecei a ler “A Lista do Nunca” eu estava sob a impressão de que o cerne da história seria o cativeiro de Sarah e Jennifer e que acompanharíamos o sofrimento das personagens ao seu lado. Porém eu estava enganada.
A história se passa dez anos depois de Sarah ter conseguido fugir e libertar as outras duas mulheres presas com ela e sua amiga. Seu sequestrador está preso, mas continua a lhe atormentar através de cartas enviadas da prisão. Ela também mantém-se em uma espécie de prisão, trancada em seu apartamento 24 horas por dia, onde trabalha, faz suas refeições (todas entregues pelo porteiro do prédio) e não tem contato com ninguém, com exceção de sua terapeuta, que realiza suas sessões a domicílio. Mesmo isolada do mundo, é assustador para Sarah descobrir que seu captor está prestes a ganhar liberdade condicional e é isso que a impulsiona a descobrir coisas que a polícia não foi capaz de descobrir há dez anos e que poderiam mantê-lo encarcerado para sempre.
Constatar que “A Lista do Nunca” não focaria nos anos de cativeiro e sim na busca de Sarah foi uma decepção no início da leitura. Demorei até conseguir me envolver por estar presa à idéia de que a autora estava deixando passar os episódios mais intensos da trama, relevando-os ao segundo plano. Ainda assim, sua narrativa ágil e os capítulos curtos foram me conduzindo a entender que Koethi Zan optou por trilhar um caminho menos óbvio e com isso seu livro - que não conta a mais original das histórias - ganhou força, sendo capaz de provocar um impacto maior. A verdade é que o cativeiro dessas mulheres não teve fim com a fuga, pois, psicologicamente, elas continuam prisioneiras daquele homem. Tendo entendido o porquê de a história ser contada em um momento em que o cativeiro seria passado aprendi a apreciar o livro, sentindo todo o impacto daqueles momentos pontuais reservados a isso (especialmente as revelações finais). Ainda assim, confesso que me fez falta sentir algumas coisas acontecendo. Minha impressão geral é que este é mais o relato de uma vivência do que uma vivência em si.
Essa opção da autora fez com que a história perdesse em alguns aspectos, mas permitiu que ganhasse em muitos outros. O mais importante deles, permitir ao leitor compreender o quanto aquela experiência mudou essas mulheres. Por isso também é acertado que seja Sarah a nos contar essa história que a todo momento é invadida por lembranças do passado. Outra vantagem desta opção é conseguir mesclar momentos perturbadores com momentos mais leves e fazer com que o leitor se sinta compelido a continuar lendo por capítulos e mais capítulos ao invés de parar a todo o momento para recuperar o fôlego.
Acredito que nada pode ser mais assustador do que o que se imagina e que não explicar tudo ao leitor, deixando buracos para que ele tire suas próprias conclusões ao captar o que está nas entrelinhas, é uma das melhores ferramentas que um autor pode usar. Quando comecei a ler “A Lista do Nunca” não percebi de imediato que estava diante de um desses livros. Ao fim, reconheci: essa é uma história forte, cujo texto não exprime toda a sua força, mas estimula o leitor a fazê-lo.
Título: A Lista do Nunca (exemplar cedido pela Editora Paralela)
Autora: Koethi Zan
Nº de páginas: 271
Editora: Paralela
Algumas pessoas têm como regra não ler as sinopses dos livros para evitar que qualquer surpresa se perca. Eu não sou tão radical, mas compartilho dessa preocupação. Por isso, quando uma sinopse me cativa trato de esquecer seus detalhes o mais rápido possível, mantendo em mente apenas uma noção geral da trama. Quando fiz isso com “A Lista do Nunca”, inesperadamente, prejudiquei a minha experiência.
Sarah e Jennifer são amigas desde crianças e graças a um acidente de carro compartilham uma paranóica obsessão por segurança. Porém - apesar de todas as precauções que tomam - as duas são sequestradas em seu primeiro ano de faculdade e mantidas acorrentadas em um porão por três anos, junto com outras duas mulheres, experimentando os mais cruéis tipos de tortura. Seu captor: um professor universitário da área de psicologia.
Quando comecei a ler “A Lista do Nunca” eu estava sob a impressão de que o cerne da história seria o cativeiro de Sarah e Jennifer e que acompanharíamos o sofrimento das personagens ao seu lado. Porém eu estava enganada.
A história se passa dez anos depois de Sarah ter conseguido fugir e libertar as outras duas mulheres presas com ela e sua amiga. Seu sequestrador está preso, mas continua a lhe atormentar através de cartas enviadas da prisão. Ela também mantém-se em uma espécie de prisão, trancada em seu apartamento 24 horas por dia, onde trabalha, faz suas refeições (todas entregues pelo porteiro do prédio) e não tem contato com ninguém, com exceção de sua terapeuta, que realiza suas sessões a domicílio. Mesmo isolada do mundo, é assustador para Sarah descobrir que seu captor está prestes a ganhar liberdade condicional e é isso que a impulsiona a descobrir coisas que a polícia não foi capaz de descobrir há dez anos e que poderiam mantê-lo encarcerado para sempre.
Constatar que “A Lista do Nunca” não focaria nos anos de cativeiro e sim na busca de Sarah foi uma decepção no início da leitura. Demorei até conseguir me envolver por estar presa à idéia de que a autora estava deixando passar os episódios mais intensos da trama, relevando-os ao segundo plano. Ainda assim, sua narrativa ágil e os capítulos curtos foram me conduzindo a entender que Koethi Zan optou por trilhar um caminho menos óbvio e com isso seu livro - que não conta a mais original das histórias - ganhou força, sendo capaz de provocar um impacto maior. A verdade é que o cativeiro dessas mulheres não teve fim com a fuga, pois, psicologicamente, elas continuam prisioneiras daquele homem. Tendo entendido o porquê de a história ser contada em um momento em que o cativeiro seria passado aprendi a apreciar o livro, sentindo todo o impacto daqueles momentos pontuais reservados a isso (especialmente as revelações finais). Ainda assim, confesso que me fez falta sentir algumas coisas acontecendo. Minha impressão geral é que este é mais o relato de uma vivência do que uma vivência em si.
Essa opção da autora fez com que a história perdesse em alguns aspectos, mas permitiu que ganhasse em muitos outros. O mais importante deles, permitir ao leitor compreender o quanto aquela experiência mudou essas mulheres. Por isso também é acertado que seja Sarah a nos contar essa história que a todo momento é invadida por lembranças do passado. Outra vantagem desta opção é conseguir mesclar momentos perturbadores com momentos mais leves e fazer com que o leitor se sinta compelido a continuar lendo por capítulos e mais capítulos ao invés de parar a todo o momento para recuperar o fôlego.
Acredito que nada pode ser mais assustador do que o que se imagina e que não explicar tudo ao leitor, deixando buracos para que ele tire suas próprias conclusões ao captar o que está nas entrelinhas, é uma das melhores ferramentas que um autor pode usar. Quando comecei a ler “A Lista do Nunca” não percebi de imediato que estava diante de um desses livros. Ao fim, reconheci: essa é uma história forte, cujo texto não exprime toda a sua força, mas estimula o leitor a fazê-lo.
Título: A Lista do Nunca (exemplar cedido pela Editora Paralela)
Autora: Koethi Zan
Nº de páginas: 271
Editora: Paralela
14 comentários:
Gostei muito da premissa do livro e achei a abordagem diferente. Na realidade, durante a leitura da resenha fiquei com a impressão de que esse livro é um tanto parecido com Identidade Roubada, mas que muda no enfoque (já que o cativeiro não é parte principal). De qualquer forma, a vida dessas pessoas jamais será a mesma e acho interessante poder acompanhar o "após".
bjs
Ana Paula Barreto
Oi, Mari,
Também imaginava que focaria mais no cativeiro em si, mas adorei saber que não é assim porque eu até prefiro que se passe depois.
Tenho um problema em ler livros ambientados em um cenário tão horrível - quando a pessoa está sentindo a tortura "naquele momento" -, mas acredito que o fato de já ter passado, por mais que ela ainda sofra muito com isso, trará algum alento.
Fiquei curiosa. Talvez o leia no futuro!
Beijos!
Não conhecia o livro, e infelizmente não curti muito a estória :/
http://soubibliofila.blogspot.com.br/
Muito Interessante. E muitos traumas também, alem do acidente ainda enfrentar um sequestro. É um bom tema para se abordar, faz a gente pensar nas diversas pessoas que tem síndrome do panico e acabam se isolando do mundo. Com certeza leria esse livro.
Beijos, Bell
http://contosdoguerreiro.blogspot.com.br/
Livros que deixam lacunas para que possamos pensar são realmente muito bons, eu aprecio muito. Como eu não conhecia o livro, é novidade para mim, mas fiquei bastante curiosa quanto a trama.
Me parece que esse livro tem uma carga de tensão altíssima durante toda a narrativa. Deve ser extremamente complicado viver com todo esse medo após essa experiência traumática. Acho que essa trama é, no mínimo, perturbadora.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Não conhecia esse livro, parece bem intenso. Vou procurar.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Não conhecia esse livro, mas agora me pareceu muito interessante. Ainda mais ao saber que o sequestrador é um professor de psicologia. Muito bom o texto!
Nossa, esse livro desse ser incrível. Adoro livros que mostrem histórias dessas que mexem muito com o sentimento. Imagina ficar sequestrada por tanto tempo!? Essa é uma pergunta que me faz querer ler o livro e responder!
Caramba, já gostei do livro instantaneamente.
Já li vários comentários positivos no Twitter e depois da resenha fiquei ainda mais interessada. O tema é bem tenso e causa muito impacto, e eu amo histórias com teor psicológico. Gosto de histórias que me devastam (sou masoquista, okay). E saber que o sequestrador é um professor de psicologia já deixa a coisa mais interessante ainda rsrsrs
Com certeza uma leitura forte! Apesar de ter lido outras resenhas desse livro, até agora achava que o cativeiro delas era contado em boa parte do livro e que eram relatados os horrores que elas passaram lá, mas pelo visto, essa parte só é dada uma pincelada do que realmente ocorreu e o que é contado é a vida pós cativeiro. Creio que é exatamente como voce disse, com isso a autora quis mostrar que os traumas e sensações do sequestro continuam mesmo depois do seu término, até porque os danos psicológicos são muito grandes. Fiquei fisgada por essa leitura, adoro um bom thriller psicológico e esse parece maravilhoso, sem dúvida alguma! Parabéns pela ótima resenha! :)
Olá Mari!! Tudo bem??
Não conhecia este livro, e não li nenhum livro que falasse deste assunto, e isso despertou minha curiosidade para descobrir como se finaliza estra trama mais complexa.
Beijocas e parabéns pela resenha =)
Terminei de ler A Lista do Nunca na semana passada. Achei a leitura fluída, apesar de não ser tão eletrizante. A cena final é empolgante mas um dos personagens da cena final é desproposital, não acrescenta em nada, não achei o sentido do personagem ser estar alí,mas isso dá pra relevar. Outra coisa que me fez falta foi o final do jack Derber que nem foi citado me deixando com a sensação de que a história terá continuação. Cheguei a procurar informações para ver se estava lendo o primeiro volume de uma trilogia mas não achei nada.
Terminei de ler A Lista do Nunca na semana passada. Achei a leitura fluída, apesar de não ser tão eletrizante. A cena final é empolgante mas um dos personagens da cena final é desproposital, não acrescenta em nada, não achei o sentido do personagem estar alí, mas isso dá pra relevar. Outra coisa que me fez falta foi o final do jack Derber que nem foi citado, me deixando com a sensação de que a história terá continuação. Cheguei a procurar informações para ver se estava lendo o primeiro volume de uma trilogia mas não achei nada.
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