“E então, ela parou. De falar, de gritar, de chamar atenção
dele. Esse novo silêncio era diferente do anterior. Se antes eles queriam
poupar um ao outro, agora não havia restado mais nada para salvar.” (JOYCE, 2013, p.
99).
***
Quando de meu breve intercâmbio em Londres, uma das
diferenças culturais que mais me chamou a atenção foi o hábito da leitura. De
manhã cedo, quando pegava o metro para a escola, a maioria dos passageiros
estava lendo, fosse jornal, revista, livro ou ebook. Confesso que sou daqueles
que discretamente estica o pescoço para ver o que o passageiro a frente esta
lendo, e dois livros estavam entre os mais lidos. Um deles era A Improvável
Jornada de Harold Fry e agora não me surpreende tê-lo visto com tantos passageiros.
Após receber uma carta de uma antiga ex-colega de trabalho,
Harold decide cruzar a Inglaterra e juntar-se a amiga, que luta contra o câncer
em estágio terminal. Sua convicção é de que se ele continuar caminhando, ela
continuará vivendo, porém, não tem ideia das proporções e consequências que sua
despretensiosa caminhada irá tomar.
A narrativa de Rachel Joyce em muito me lembrou a de Jane
Austen (e este é um dos maiores elogios que um fã confesso e incondicional de Ms. Austen poderia fazer). Assim como sua
conterrânea, Joyce consegue ordenar as palavras de uma forma tão poética, mas
ainda assim tão cheia de significado, que é impossível não se impressionar.
Devo salientar que A Improvável Jornada de Harold Fry é uma
leitura que exige maturidade, visto que aborda temas complexos — tais como a
efemeridade da vida e a fragilidade dos relacionamentos —, mas sem perder a
sensibilidade. E talvez por isso não agrade aos leitores mais jovens.
Seu conteúdo denso associado a uma narrativa profunda e poética fazem
com que o leitor se questione e reflita sobre sua própria vida durante o
transcorrer da leitura, de modo que é necessário ter tempo e paciência para
apreciá-lo em sua totalidade, mesmo sendo um livro relativamente pequeno.
Um dos pontos altos é a crítica mordaz ao egoísmo
generalizado em que vivemos neste século. Tantas pessoas estão ao nosso redor,
cada uma com sua própria estória, com suas dores e problemas, mas parece que
nossas preocupações se limitam a nós mesmos. O que será necessário para abrir
nossos olhos às necessidades alheias?
Se pudesse resumir a essência do livro em poucas palavras
diria que se trata de uma incrível jornada de autoconhecimento e de cura, uma busca pela
humanidade que se perde no afã do dia a dia. Tocante, comovente e grandioso em sua simplicidade.
A Editora Suma de Letras já confirmou a publicação do segundo livro da autora, Perfect.
Autora: Rachel Joyce
N.º de páginas: 243
Editora: Suma de Letras
16 comentários:
São poucas as vezes que me deparo com um livro que não tinha me chamado a atenção em um primeiro momento e, de repente, descubro que é algo que deveria ter lido há tempos.
E esse é um dos casos. Simplesmente me surpreendi com a profundidade dessa história, com todas as reflexões proporcionadas, etc. E por fim, uma comparação, em qualquer nível, com Jane Austen, pra mim já é o bastante! rs
Espero ler em breve.
bjs
Eu acho que vou gostar muito de ler esse livro parece ser acima de tudo uma história sobre esperança e fé na vida. Eu gosto de livros que levem à reflexão e mesmo que o final não seja feliz, preejo que no caso não seja, o que mais me importa é a evolução da história e o envolvimento com a trama.
Olá, Alê. Novamente você trouxe um livro que me instigou a leitura. Gostei do tema, trata-se de algo que venho observando há algum tempo. Suas resenhas sempre são ótimas, parabéns!
Só por dizer que a narrativa lembra a Jane Austen você já convence várias pessoas a lerem esse livro né? Fui uma delas hahaha
Também sou daquelas que dão um jeito de descobrir o que o outro está lendo!
Esses dias fiquei encantada com um cara que estava lendo um dos livros do Martin (em inglês!!! e em pé!!!) no ônibus *-*
Beijos,
http://www.interacaoliteraria.com/
A sinopse já tinha me deixado bem interessada há algum tempo, e depois dessa resenha tão maravilhada sinto por não ter o livro aqui. Preciso mesmo ler.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Depois que eu li a sinopse do livro, fiquei super interessada logo de cara. Aí você vem e fala que lembra Jane Austen? Preciso desse livro pra já! hahaha eu amo essa autora e a resenha do livro me conquistou por completo, fora que o título é bem 'diferente' haha
Pela sua resenha já fiquei interessada pois sou super fã de autores que tem uma narrativa poética sem ser forçado. Quero ler!
Não conhecia este livro, nunca havia lido resenhas dele. Esta tua resenha deixo-me com uma imensa vontade de ver as obras de uma autoraboa o bastante para ter sua escrita semente a da maravilhosa Jane Austen...
Acho tão lindo livros poéticos... eles tocam meu coração.
Parabéns pela resenha!!
Bjs
Oi Alê. Eu não conhecia a história deste livro. Acho que ele deve ser muito comovente, eu gosto de ler estes tipos de livro, que nos fazem pensar e refletir sobre a própria vida, quando quero dar um tempo nos sobrenaturais e fantasias...
Abraços.
Olá Alê!! Tudo bem??
Achei a capa bem atrativa, eu que não conhecia o livro, fiquei bastante interessada, parece emocionante, e eu amo ler dramas, tem uns que quando são bem escritos me fazem perder o fôlego!
Mais um livro para minha lista de livros desejados!!
Nunca tinha ouvido falar nesse livro, porém a história parece ser muito tocante e reflexiva.
Parece ser interessante, porém não sei se o leria nesse momento, talvez mais no futuro, exatamente pelo que você disse na resenha, de poder pensar e refletir sobre temas profundos e aproveitar o livro em sua totalidade.
Se a narrativa de uma autora consegue ser comparada a de Jane Austen, já tem minha total atenção. Achei legal essa parte da crítica ao egoísmo. Só fez aumentar meu interesse em lê-lo, e espero que seja muito em breve.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Olha, confesso que não ou uma grande fã da Austen, mas imagina que essa comparação seja uma coisa positiva. Gosto muito de dramas e esse em especial me conquistou desde a capa. Adicionei a minha lista de desejados e assim que tiver a oportunidade, lerei. Espero gostar tanto quanto você gostou.
A Capa é Bonita apesar da ausência de cores. Já tinha visto o livro e me pareceu bem interessante.
Mas, acho q depois da resenha, vou deixar para depois essa leitura. Um senhor de 65 anos do nada resolver caminhar tanto sem nem se planejar e um tanto estranho. hehehe
Eu não conhecia esse livro, mas me surpreendi com sua resenha! Uma leitura intensa e que já me conquistou, sem ao menos eu ter lido! Por ser uma historia que nos traz a reflexão e que necessita de um tempo maior pra ser entendida, não pretendo ler agora, mas num momento melhor da minha vida, mesmo assim, recomendação super anotada! Adorei!
Adriana
Não estou conseguindo ver o Harry a não ser como uma pessoa, no começo pelo menos, totalmente infantil. Fico pensando como ele conseguia trabalhar...
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