“Não tenho certeza, como saber exatamente onde tudo começou, quando, por quê, naquela época não só eu, todos estávamos perdidos, aconteceu da noite para o dia, não fui capaz de ver a coisa vindo, de repente você abre uma porta, acende a luz e ali está o mal.” (GUTIÉRREZ, 2014, pag. 68)
“Um Bom Rapaz” é um livro que pode passar despercebido se você não estiver atento. Eu sei, pois aconteceu comigo. Sua premissa, por si só, não parece muito atraente, mas esconde uma narrativa soberba (da mesma forma que essa narrativa esconde as verdades assombrosas que seus personagens tentaram esconder ao longo dos anos). Sim, o verbo de “Um Bom Rapaz” poderia ser “esconder”.
Depois de anos sem se verem, Polo e Blanca se cruzam nas ruas de Madri. Uma conversa trivial tem início entre os outrora amigos e desperta em Polo lembranças terríveis de coisas que aconteceram na década de 90 quando a banda em que ambos tocavam caminhava rumo a um futuro promissor, mas que foi destruído por péssimas escolhas. O encontro é o gatilho que faz com que Polo reviva perturbadores acontecimentos e revele segredos que o têm corroído há anos.
A narrativa de “Um Bom Rapaz” é umas das melhores com as quais já me deparei em muito tempo. Qualificá-la como intensa seria pouco, já que nas primeiras páginas eu já me encontrava sem fôlego (o que não digo como simples força de expressão, visto que em alguns momentos eu realmente precisei respirar fundo antes de continuar). O autor conta a sua história de uma maneira tão peculiar que a leitura se torna hipnótica e, ao mesmo tempo, conflituosa, já que os acontecimentos são profundamente perturbadores. Alias, é bem possível que as palavras “intenso” e “perturbador” apareçam muitas vezes nessa resenha, já que cada página do livro poderia ser descrita dessa maneira (e quando digo “cada página” isso também não é força de expressão. Cada uma das páginas de “Um Bom Rapaz” exprimem força e exercem poder sobre o leitor).
É a partir do ponto de vista de Polo que conhecemos os eventos, mas o que torna a abordagem especial é que isso ocorre como se o personagem falasse com ele mesmo. Por isso, a sensação que se tem é de ser sugado para dentro da mente do protagonista e não conseguir se livrar dos demônios que o assombram, assim como ele também não consegue.
Em uma história relativamente simples, porém contada de maneira complexa, não existe lugar para excessos. No caso de “Um Bom Rapaz” não existem travessões ou marcações tradicionais de diálogo. Pensamentos e falas, passado e presente, realidade e lembranças se misturam o tempo todo, sem qualquer indicação gráfica e não é raro que falas de dois personagens se sobreponham em uma mesma frase. Devido a isso, é uma leitura que deve ser feita com atenção, caso contrário, é possível que o leitor se perca no seu emaranhado de artimanhas que tem a clara função de fazer com que ele sinta a mesma angústia de seu protagonista. Para isso o autor se vale mais da maneira como constrói as sentenças do que da história ou das palavras em si.
“Ela olha para você com preocupação, você está tremendo, meu amor, você se joga na cama, vestido, tremendo, o que está acontecendo, Polo, impossível parar a cabeça, o corpo frio, vertigem ao se debruçar sobre o abismo, é tentado pelo nada, ele grita com você, vontade de desaparecer, de se jogar no vazio, de se entregar a ele, você fecha os olhos. Meu amor, você está bem? Você olha para teto, preciso fazer um telefonema, Gabi, você não lembra do Nacho, mas ele lembrava de você.” (Pag. 91-92)
Não seria possível discorrer muito sobre a trama ou os personagens de “Um Bom Rapaz” sem estragar as surpresas que Javier Gutiérrez guardou e manipulou tão habilmente. O que posso dizer é que esta é uma história sobre consequências. Sobre pessoas que tinham uma coisa boa, mas estragaram tudo. Sobre comportamentos cruéis e destrutivos. Uma história que já começa com as luzes apagadas, mas se torna cada vez mais negra.
Na orelha do livro, uma citação diz: “Cento e quarenta páginas à beira do precipício.” Me parece que isso resume tudo.
Título: Um Bom Rapaz (exemplar cedido pela Editora)
Autor: Javier Gutiérrez
Nº de páginas: 139
Editora: Verus
“Um Bom Rapaz” é um livro que pode passar despercebido se você não estiver atento. Eu sei, pois aconteceu comigo. Sua premissa, por si só, não parece muito atraente, mas esconde uma narrativa soberba (da mesma forma que essa narrativa esconde as verdades assombrosas que seus personagens tentaram esconder ao longo dos anos). Sim, o verbo de “Um Bom Rapaz” poderia ser “esconder”.
Depois de anos sem se verem, Polo e Blanca se cruzam nas ruas de Madri. Uma conversa trivial tem início entre os outrora amigos e desperta em Polo lembranças terríveis de coisas que aconteceram na década de 90 quando a banda em que ambos tocavam caminhava rumo a um futuro promissor, mas que foi destruído por péssimas escolhas. O encontro é o gatilho que faz com que Polo reviva perturbadores acontecimentos e revele segredos que o têm corroído há anos.
A narrativa de “Um Bom Rapaz” é umas das melhores com as quais já me deparei em muito tempo. Qualificá-la como intensa seria pouco, já que nas primeiras páginas eu já me encontrava sem fôlego (o que não digo como simples força de expressão, visto que em alguns momentos eu realmente precisei respirar fundo antes de continuar). O autor conta a sua história de uma maneira tão peculiar que a leitura se torna hipnótica e, ao mesmo tempo, conflituosa, já que os acontecimentos são profundamente perturbadores. Alias, é bem possível que as palavras “intenso” e “perturbador” apareçam muitas vezes nessa resenha, já que cada página do livro poderia ser descrita dessa maneira (e quando digo “cada página” isso também não é força de expressão. Cada uma das páginas de “Um Bom Rapaz” exprimem força e exercem poder sobre o leitor).
É a partir do ponto de vista de Polo que conhecemos os eventos, mas o que torna a abordagem especial é que isso ocorre como se o personagem falasse com ele mesmo. Por isso, a sensação que se tem é de ser sugado para dentro da mente do protagonista e não conseguir se livrar dos demônios que o assombram, assim como ele também não consegue.
Em uma história relativamente simples, porém contada de maneira complexa, não existe lugar para excessos. No caso de “Um Bom Rapaz” não existem travessões ou marcações tradicionais de diálogo. Pensamentos e falas, passado e presente, realidade e lembranças se misturam o tempo todo, sem qualquer indicação gráfica e não é raro que falas de dois personagens se sobreponham em uma mesma frase. Devido a isso, é uma leitura que deve ser feita com atenção, caso contrário, é possível que o leitor se perca no seu emaranhado de artimanhas que tem a clara função de fazer com que ele sinta a mesma angústia de seu protagonista. Para isso o autor se vale mais da maneira como constrói as sentenças do que da história ou das palavras em si.
“Ela olha para você com preocupação, você está tremendo, meu amor, você se joga na cama, vestido, tremendo, o que está acontecendo, Polo, impossível parar a cabeça, o corpo frio, vertigem ao se debruçar sobre o abismo, é tentado pelo nada, ele grita com você, vontade de desaparecer, de se jogar no vazio, de se entregar a ele, você fecha os olhos. Meu amor, você está bem? Você olha para teto, preciso fazer um telefonema, Gabi, você não lembra do Nacho, mas ele lembrava de você.” (Pag. 91-92)
Não seria possível discorrer muito sobre a trama ou os personagens de “Um Bom Rapaz” sem estragar as surpresas que Javier Gutiérrez guardou e manipulou tão habilmente. O que posso dizer é que esta é uma história sobre consequências. Sobre pessoas que tinham uma coisa boa, mas estragaram tudo. Sobre comportamentos cruéis e destrutivos. Uma história que já começa com as luzes apagadas, mas se torna cada vez mais negra.
Na orelha do livro, uma citação diz: “Cento e quarenta páginas à beira do precipício.” Me parece que isso resume tudo.
Título: Um Bom Rapaz (exemplar cedido pela Editora)
Autor: Javier Gutiérrez
Nº de páginas: 139
Editora: Verus
16 comentários:
Fiquei surpresa com esse livro lendo sua resenha!
A narrativa parece incrível mesmo. Não é sempre que um autor consegue nos deixar sem respirar por uns segundos de tanta tensão e envolvimento com a trama.
Gosto de histórias sobre o comportamento humano e suas consequências.
Esse livro entrou para minha wishlist!
bjs
Oi xará! :)
O que eu mais gosto de ler são histórias que falem sobre destino, causa e consequência. Nunca me canso desse tema, porque se encaixa perfeitamente na vida de cada um de nós. Cada ação gera uma reação e ver isso dentro de um livro, nos faz perceber o quanto nossas atitudes podem ser maximizadas, por isso devemos pensar antes de fazer.
Beijo,
Mari Siqueira
http://loveloversblog.blogspot.com
Oi Mari!! Já fiquei angustiada lendo sua resenha, imagina lendo o livro! Espero ter a oportunidade de ler esse livro!
Beijoo, Gabe!
Blog Mundo Mágico dos Livros
Adoro livros que me deixam sem ar e essa ausência de marcação de tempo também muito me agrada.
Beijos,
Blog | Youtube
A capa e o título me chamaram a atenção, mas não imaginava que esse livro era tão bom assim. Adoro livros intensos e perturbadores. Essa frase que você falou do início se no escuro e depois vai ficando mais escuro ainda, já diz tudo. Aí você finaliza a resenha com essa frase da orelha do livro, e me deixa em total curiosidade pra ler esse livro. kkkkk
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Vi a sinopse desse livro em blog há um tempinho e alguma coisa me atraiu, mas não imaginei que fosse assim tão intenso. Depois de todos esses elogios farei o possível para ler. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
ótima resenha, admito que nem conhecia esse livro ainda RSrs
Bjs
http://eternamente-princesa.blogspot.com.br/
Nunca tinha visto esse livro. Passou despercebido mesmo. Mas achei bem interessante o que você escreveu sobre ele.
Blog Prefácio
"cento e quarenta páginas a beira do precipício" é maravilhoso!!!!
Não tinha ouvido falar do livro ainda, e confesso que por um momento achei meio confuso que essa coisa de passado e presente se misturem sem qualquer indicação para diferencias, ou travessões. Mas eu bem gosto de um desafio e fiquei bem curiosa com sua resenha super positiva. Quem sabe...?
bjus
terradecarol.blogspot.com
Nossa Mari, fiquei MUITO curiosa sobre esse livro. Realmente, não apenas pelo sinopse, mas pela capa ele não me chamou atenção. Se tiver uma oportunidade com certeza o lerei!
Beijos, http://porredelivros.blogspot.com.br/
Uaaauuuuu, que intenso! Fiquei curiosa, quem não gosta de livros que tirão o fôlego né?
Beijos
http://poraodaliesel.blogspot.com.br
Parece mesmo um livro muito bom, porque logo de cara já te tirou o fôlego né! É tão bom quando um livro nos surpreende positivamente, que fiquei bem interessada nessa leitura, vou coloca-lo na minha lista de desejados, pois tb quero ser surpreendida por ele! Excelente resenha, parabéns!
Eu não conhecia esse livro, mas pela sua resenha me interessei bastante por ele, fiquei bastante curiosa.
Beijos, Paradoxo Perfeito
Uau, esse livro parece MESMO ser ótimo! Mas como você disse, temos que ler com atenção, afinal, li aquele quote umas três vezes para poder compreender sem ficar confusa. Mas enfim, eu curti mesmo e já coloquei na minha lista de desejados.
É a primeira vez que vejo alguém falar desse livro.
Nunca tinha visto ele e nem conhecia o autor, mas pela resenha parece ser uma estória e tanto.
Fiquei mega curiosa para conhecer o Polo e perder meu ar kkk
Bjokas
A resenha me deixou muito interessada nesse livro! Ele realmente não tinha me chamado atenção até agora, mas parece que ele realmente surpreende a gente. Espero poder ler em breve.
Beijos!!
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