domingo, 5 de julho de 2015

RESENHA: Eu, você e a garota que vai morrer

“Pois é, na verdade, este livro provavelmente está fazendo a minha vida parecer mais interessante e importante do que é. Livros sempre tentam fazer isso. Se vocês tivessem as manchetes de todos os dias da minha vida, teriam uma sensação melhor de como é entediante e arbitrária.” (ANDREWS, p. 178, 2015)

Há anos esbarro em “Eu, você e a garota que vai morrer” quando acesso a Amazon e suas inúmeras avaliações positivas e o prêmio Sundance que sua adaptação cinematográfica recebeu me deixaram curiosa para conferir esse YA.

Greg Gaines é um adolescente de 17 anos que se esforça ao máximo para passar despercebido. Ele faz questão de não fazer amigos para evitar ser enquadrado em um grupo e sofrer bullying dos outros, afinal, se você não faz parte de nada, não tem porquê se tornar um alvo. Assim, o mais próximo que ele tem de uma amizade é com Earl Jackson, um menino que tem uma vida familiar problemática e com quem ele cria filmes. Péssimos filmes. Tão ruins que eles não deixam ninguém mais assistir. Até que Rachel, uma menina da escola, é diagnosticada com leucemia e a mãe de Greg faz questão que ele se aproxime dela e, o mais surpreendente sobre Rachel: ela gosta dos filmes.

Narrado em primeira pessoa por Greg, “Eu, você e a garota que vai morrer” é um livro irreverente, debochado e divertido que pode ser lido com uma pausa a cada 100 páginas e na segunda você praticamente terminou. O estreante Jesse Andrews acerta na narrativa, soando muito bem como um adolescente que sente que não tem muito o que dizer (e que quando tem não sabe bem como dizer), vive irritado com as coisas ao seu redor e quer simplesmente passar pela vida sem incômodos.

É fácil aceitar Greg como um adolescente real. Não há nada de especial nele ou em seu comportamento, nada de grandes talentos ou alguma característica física que o destaque. Ele está simplesmente vivendo sua vidinha, um dia após o outro, e continuará a fazer isso. Ao contrário do que se possa imaginar (e do que seria pouco plausível supor) a doença de Rachel não será responsável por uma grande transformação ou uma experiência inesquecível. O próprio narrador salienta que a história que conta não é uma história de amor, em que ele se apaixonará pela menina doente e eles viverão um romance emocionante antes que ela morra. Tampouco se tornam grandes amigos, já que parecem até ter pouco assunto para discutir (e Rachel nem está afim de grandes conversas ou atividades mesmo, afinal, ela está passando por quimioterapia). Ressalta também que Earl é mais um companheiro, alguém com quem ele faz coisas junto, do que um amigo. Mas então se essa não é uma história de amor, não é uma história de amizade e Greg não é um personagem particularmente carismático, vivendo uma jornada significativa então sobre o que é “Eu, você e a garota que vai morrer”? Minha resposta: eu não sei.

Poucas coisas incomodam mais do que personagens e dramas inverossímeis. Afinal, se você não consegue acreditar naquela verdade (mesmo ela sendo fictícia) como poderá gostar da leitura? Esse é um erro que Andrews, definitivamente, não comete já que todos os personagens apresentam comportamentos plausíveis diante de situações que poderiam de fato ocorrer. Mas ao fazer seu livro verossímil ao extremo, o autor deixou de fazê-lo cativante e acabou despertando a mesma emoção que uma ida ao supermercado (crível, mas pouco memorável).

A verdade é que a vida aceita certas coisas (coincidências, banalidades, falta de explicações e milhares de pessoas que passam por nós sem realmente deixarem uma marca), mas a ficção não. E por não aceitar é preciso mais para que a história de Greg importe para o leitor. É preciso algo significativo - que se justifique dentro da ficção criada pelo autor, mesmo que não se justifique totalmente na vida real – e ao tentar fazer com que sua estreia literária soasse ao máximo como a vida real Jesse Andrews me privou do que é mergulhar dentro de uma história.

Greg e Rachel não se apaixonarem nem se tornarem melhores amigos simplesmente porque ela está doente, tampouco ela ser um símbolo de como lutar diante de uma doença fatal, são escolhas que fazem sentido, mas não fazem torcer pelos personagens já que eles mesmos não parecem estar torcendo por nada.

É por isso que me senti um pouco enganada por “Eu, você e a garota que vai morrer” (principalmente pelo seu título no original, que inclui Earl como se os três personagens formassem uma espécie de trio). Ele pode até ser sobre correr riscos e aceitar quem você é (já que eventualmente Greg é obrigado a expor uma parte de si e conviver com o que resulta disso, fazendo, então, escolhas), mas mesmo isso é abordado de forma pouco marcante. Ainda assim, se o breve amadurecimento do protagonista consegue eventualmente encontrar o seu espaço, Earl e a garota que vai morrer são meros coadjuvantes que parecem nem importar muito para o protagonista (que, querendo ou não, continua sendo aquele cara que quer ser invisível).

A meu ver, o mérito de “Eu, você e a garota que vai morrer” é sua narrativa descontraída, rápida e que rende algumas risadas. Mas eu certamente no consigo entender o porquê de tanto alvoroço.

Título: Eu, você e a garota que vai morrer (exemplar cedido pela editora)
Autor: Jesse Andrews
N° de páginas: 287
Editora: Fábrica 231

23 comentários:

Soraya Abuchaim disse...

Oi, Mari,

A principio achei a ideia interessante, mas não sei... lendo a resenha, não parece fazer muito meu estilo não, embora o título seja promissor.

Beijos

Meu Meio Devaneio

Unknown disse...

Oi Mari!
A sua é a primeira resenha que leio e admito que não fiquei muito empolgada para ler... Gosto de livros e personagens realistas, mas a história realmente tem que ter algo a mais para ser memorável. Provavelmente eu leria para confirmar, mas tenho uma lista de livros tão grande que esse dificilmente vai entrar na lista de futuras compras...
Bjs
sobrelivrosesonhos.blogspot.com.br

Jessinha Cruz disse...

Oi Mari, tudo bem?
Até agora eu não tinha lido nenhuma resenha completa sobre esse livro, então eu apenas sabia o título, e que a menina que se referia tinha leucemia. Achei que ia ser algo marcante mas depois da sua resenha super sincera e crítica fiquei sem a mínima vontade.
Um beijo
www.fofocas-literarias.blogspot.pt

Unknown disse...

Então, quando você pega assim de cara, o livro de te chama super a atenção, mas depois dessa resenha sincera (que são as melhores), perdi o interesse, quem sabe em um futuro distante eu não esbarre nele?
Um grande abraço e que a força esteja com você!
http://www.paradageek.com/

Inês Gabriela A. disse...

Olá,
Eu estou vendo a editora fazer muita divulgação em cima desse livro, mas confesso que apesar de ter curiosidade para conhecer a história, não estou extremamente louca para ler. Uma pena que o livro não tenha sido tão satisfatório.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

Anônimo disse...

Muita gente passa por essa vida sem proposito algum,mas em um livro? Serio? Perdi completamente a vontade de ler. E se um dia eu chegar a ir para a leitura dele, vou sem nenhuma expectativa.
Ótima resenha Mari.
http://maisumaleitura.blogspot.com.br/

Camila Faria disse...

Oi Mari, eu tinha lido sobre esse livro, mas não me interessei muito... talvez porque essa temática de adolescentes-doentes-que-vão-morrer já esteja um pouco cansativa, né? Não sei, acho que já deu desse tema...

Beijo, beijo. :*
http://naomemandeflores.com

Janaína de Souza Roberto disse...

Oi, Mari, sua linda, tudo bem?
Confesso que quando vi esse título/capa não fiquei muito interessada e agora lendo a sua resenha percebo que apesar de ser uma narrativa leve e divertida deixa muito a desejar pela superficialidade. Acho que não compraria.

Beijão,
Blog | Youtube | Instagram

Ana Clara Magalhães disse...

Oi Mari!

Só pelo título creio que não seria um livro que eu fosse ler. Sei lá, pelo o que você escreveu desanimei ainda mais, porque parece ser bem superficial e não ter uma história em si (bom, foi isso o que a resenha me passou). Achei a capa até bonitinha, mas sei lá, nada no livro me chamou, mesmo.

Beijo!
http://www.roendolivros.com/

Unknown disse...

Oii!

Já tinha esbarrado com resenhas desse livro em outro blog e não sei se eu curti. Fiquei bem na dúvida sobre essa história... talvez eu leia futuramente para tirar a minha dúvida!

beijos

http://mundo-restrito.blogspot.com.br
@rs_juliete

Lucas Kammer Orsi disse...

Oi Mari,

Que pena que você não curtiu a leitura. Pela premissa, não era de se esperar muita coisa do que estamos acostumados a ver por aí, mas de qualquer forma, já que o livro causava um burburinho, acredito que uma chance ele merecia. Apesar disso, não tenho muita certeza se um dia comprarei ou algo do tipo. Acho, que se surgir uma oportunidade, não pensarei duas vezes em ler. Mas caso contrário, não.

Beijos,
Lucas
ondeviveafantasia.blogspot.com.br

Camila Monteiro disse...

Hum, vc só reforço o que ando lendo por aí. Acho que vou deixar esse passar! Valeu a dica! Beijos :)

Anônimo disse...

Ah nem. eu estava louca pra ler esse livro, mas agora dispenso. Concordo total com você, no fato de que mesmo sendo "real" digamos assim, precisa de alguma coisa pra inspirar, ou mexer com a gente. e esse pelo visto só contou uma história de alguém. Uma história que pela sua resenha me deu muito tédio.

Inquietudes Secretas

Estante Diagonal disse...

Oi Mari, primeira resenha que leio sobre o livro, antes nção tinha ideia do que esperar. Na verdade antes tinha visto apenas o livro na sua versão original em inglês. Confesso que espera outra coisa mesmo, mas lendo sua resenha, agora tenho certeza do que se trata. Eventualmente vou procurar a leitura ^^


Beijos,
Joi Cardoso
Estante Diagonal

Gabriela CZ disse...

Confesso que não tinha muito interesse por esse livro, e acho que continuo não tendo, Mari. Seus comentários sobre a narrativa descontraída e engraçada até me deixaram curiosa, mas o que você disse sobre o autor ter criado uma história tão verossímil que deixa de ser cativante expressa o que penso de histórias que soam "reais demais". Acho que não é pra mim. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Adriana disse...

Não tinha muito interesse por esse livro e mantenho o não interesse rs pelo menos por enquanto.
Gosto de livros que nos proporcionem um algo mais e que sejam gostos e cativantes durante a leitura e este não me pareceu o caso.
Parabéns pela resenha
Beijos
Dri
http://www.livrosleituraseleitores.blogspot.com.br/

Jéssica Soares disse...

Oi, Mari! Tudo bem?
Mais uma vez, adorei a sua resenha! Mas confesso que estou surpresa com relação a sua avaliação justamente pelo alarde que esse livro causou. Foram prêmios, avaliações positivas e resenhas gringas que me deixaram super ansiosa para conferi-lo, mas saber que a história não é marcante torna isso tudo ilógico. É péssimo quando os personagens não são cativantes e mesmo que a história seja palpável, qual é o motivo de tanto sucesso? Pretendo ler para ver se a experiência de leitura será diferente comigo, mas já não estou esperando mais o melhor livro do ano. Bjs
Jéssica - http://lereincrivel.blogspot.com.br/

Cláudio Cabral disse...

Oi Mari!!
Admito que esse livro me chamou mais atenção pela capa do que pela sinopse em si,porque fiquei exatamente com a sensação que você teve,afinal:se a história não é romance,amizade nem nada do gênero então é sobre o que?Fiquei meio com medo de comprar,mas pretendo dar uma chance.
Beijos!!

http://livreirocultural.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Oiee
Adorei a resenha como sempre kkkk
Mas, a história não me interessou muito. O titulo já não é muito promissor.
Medo de comprar e não gostar ;p
Beijinhos Screepeer
screepeer.blogspot.com

Mandy disse...

Se eu já não estava interessada antes agora que não pretendo ler mesmo HSUAHUSH Gosto de fantasia, de sobrenatural, de distopias e de ficção então apesar de querer que as ações e os personagens sejam "reais", o livro não pode ser tão real assim, já vivemos o tempo todo no mundo real, nas horas que lemos temos que ter algo novo,
Beijoos,
Sétima Onda Literária

RUDYNALVA disse...

Mari!
Tem livros que são assim... insossos com o próprio protagonista.
E o que mais me choca, já que nem sabemos do que se trata o livro, como ele pode ir parar nas telonas? É falta de bons roteiros? Será que é por que é voltado ao público jovem e eles vendem ingressos no cinema por assistirem qualquer enlatado? Faço como você: não sei...
Não me interessei nenhum pouco pela leitura, mesmo sabendo que poderia até dar algumas risadas.
“Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo...”(Mario Quintana)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Tamara Costa disse...

Acho que só agora entendo o porque te tantas notas negativas que vi para esse livro no skoob...ele, ao menos aqui na resenha, não me passou muita emoção =/ me pareceu muito "tanto faz" acho que gosto de ler sick lits (ou o que seja esse gênero) pela questão da superação e esse livro não parece passar isso. Uma pena...

Ju M disse...

Que narrativa morna. Uma pena, adolescentes, doenças terminais, são temas que rendem uma boa narrativa, reflexiva, emocionante. Acho que falta ao livro um pouco de profundidade.

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