quinta-feira, 6 de agosto de 2015

RESENHA: Caçada às Cegas

“— Mas você é meio arrogante, sabe? – disse ela. — Promotor, juiz, jurados, executor, tudo em um? E quanto às regras?
Ele sorriu.
— Essas são as regras — respondeu. — Quando alguém mexe comigo, descobre isso bem rapidinho.” (CHILD, 2015, p. 319)

***

Lee Child é um consagrado autor do gênero policial, por isso, sempre tive vontade de conferir uma das aventuras de seu protagonista, o ex-militar Jack Reacher. Com o lançamento de Caçada às Cegas, o quarto livro da série, surgiu a oportunidade de conhecer o trabalho de um autor tão elogiado pela crítica. 

Um assassino está a solta e seu alvo são mulheres, ex-militares, que deixaram a carreira após terem sido estupradas dentro da corporação. As investigações levam o FBI direto a Jack Reacher, que esteve envolvido com as vítimas. Porém, com a morte de mais uma mulher, Reacher é inocentado e passa a ajudar nas investigações. 

Em meu primeiro contato com Jack Reacher fiquei com a impressão de que ele é uma pessoa desagradável. Creio que Child tentou criar um protagonista com um ego avantajado, que desrespeitasse as regras, que tivesse seu próprio código, que fosse “durão”, e a reunião de tais características compôs um personagem que não tem carisma e que não desperta a empatia do leitor. Porém, talvez Reacher seja o tipo de personagem que você não compreende com a leitura de apenas um livro, sendo necessário acompanhar sua evolução ao longo da série. 

Por outro lado, os agentes do FBI, além de caricatos, se mostraram extremamente incompetentes. A meu ver, ficou claro que Child queria “encher a bola” de Reacher, fazendo dele o salvador da pátria. Assim, os agentes do FBI não fizeram nada de relevante no decorrer da investigação, visto que não poderiam roubar a cena. O problema fica ainda mais grave por que Reacher chega a conclusões do nada, como se tivesse uma bola de cristal. 

Na verdade, faltou verossimilhança em toda obra. A começar pelo fato de que o assassino não deixava nenhum vestígio de sua presença nas cenas dos crimes, o que é completamente impossível. Cabelo, fibras das roupas, poeira dos calçados. Algo, sempre fica para trás. E a explicação de Child para a ausência de tais elementos não se sustenta. Além disso, o FBI trabalhava com um perfil psicológico, porém, além de ter sido composto com poucas informações, o perfil era estático. Eles partiam do pressuposto que o perfil era uma verdade universal e que nada poderia alterá-lo, o que não é verdade. A ciência do comportamento está longe de ser uma ciência exata, não havendo concordância nem mesmo entre especialistas. 

Mas nada é pior do que a inverossimilhança do modus operandi do assassino. Fica claro que o autor não conseguiu criar algo verdadeiramente complexo, de modo que precisa se valer de artifícios para conseguir criar a situação. A cereja do bolo é a forma como as vítimas eram mortas, método este que jamais funcionaria na vida real (inclusive, o programa Mythbusters testou a hipótese em um nível muito mais simples, e não foi bem sucedido). Fica claro que o autor fez uma pesquisa superficial e seguiu o caminho que era mais fácil, ao invés de optar pelo que era mais crível. 

Outro ponto que me desagradou foi a morosidade da investigação. Se há um serial killer a solta, é imperioso que a investigação seja ágil, porém, o FBI não demonstrou nenhum senso de urgência, parecendo apostar todas as suas fichas em Reacher. O caso começa a andar apenas por volta da página duzentos, quando o ex-militar reduz a lista de vítimas em potencial, ação esta que qualquer agente do FBI poderia ter realizado logo no início da investigação. 

Child ainda investe em arcos paralelos, como o relacionamento amoroso de Jack Reacher com a advogada Jodie, na clara tentativa de humanizar seu protagonista. Além de ter falhado neste sentido, o drama pessoal me pareceu completamente irrelevante, até mesmo por que Jack e Jodie sequer convencem como casal. 

Caçada às Cegas é como um pastel sem recheio: com boa aparência por fora, mas quando você morde, logo percebe a ausência de sustância. O que, na verdade, não é de se espantar considerando a quantidade de clichês, as incoerências da estória e a ausência de profundidade nos personagens. Child certamente é um autor que não pretendo reencontrar. 

Título: Caçada às Cegas (exemplar cedido pela editora)
Autor: Lee Child
Nº de páginas: 473
Editora: Bertrand

23 comentários:

RUDYNALVA disse...

Alê!
O que anda acontecendo com esses escritores de romances policiais?
Carecemos de bons livros no estilo, faz tempo que não leio um bom...
Só decepção e esse fi mais uma.
Que triste!
Vamos desenterrar Agatha Christie?kkkk
“A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca.” (Carlos Drummond de Andrade)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Participem no nosso Top Comentarista!

Ana Clara Magalhães disse...

Oi Alê!

Eu nunca tinha ouvido falar do autor e já quero passar longe dele, kkkkkk. Já não sou muito fã de ler policiais, mas assisto muitas séries com o tema , então sei que o FBI em sua grande maioria são bem competentes. Tenho certeza que eles me irritaram muito na história por sua falta de participação. Pelo que você disse, o autor quis fazer o personagem principal perfeito e eu detesto isso também; todo mundo tem defeitos.

Beijo!
http://www.roendolivros.com

Mariele Antonello disse...

Bom adoro livros relacionados a gênero policial, mas não me agradei muito por esse livro, e pelo que deu para perceber na resenha você não curtiu muito o livro, é muito ruim quando o livro não é bom, não pretendo ler.

Luis Carlos disse...

Eu amo livros de suspense, principalmente nesse estilo. Porém, vendo sua opinião, vi que ele é um livro muito artificial, daqueles que o autor inventam coisas que não condiz com a realidade. E livro assim eu prefiro não me arriscar!

Gabriela CZ disse...

Lendo sua resenha fiquei me perguntando como o autor pode ser consagrado com tanta artificialidade, Alê. E ainda usou uma morte que não funciona? Obrigada, eu passo. Não se deve ter sido pior pra você acompanhar as inconsistências da investigação ou tantos clichês. Enfim, ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Caverna Literária disse...

Que pena que o livro desaponta assim :( a capa é instigante, havia me interessado logo de cara, mas realmente pelo jeito o autor peca em vários pontos pertinentes pra história

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br
Tem resenha nova de "Caixa de Pássaros" no blog, vem conferir!

Unknown disse...

Oi Alê!

Assistir o filme baseado no livro dele, o Último Tiro estrelado por Tom Cruise e adorei! Desde então fiquei louca para ler a série. Sempre leio resenhas positivas de outros livros da série e fiquei bem desapontada com esse livro. Mas imagino que deve seguir a mesma linha que os livros do Alex Cross... São trocentos e o autor não consegue manter o mesmo nivel em todos eles!

Adorei a resenha!

Beijos!

Cintia
http://www.theniceage.blogspot.com.br/

Thiago Martins disse...

Li Alerta Final, protagonizado pelo mesmo personagem e achei a história bem desinteressante, depois daquela experiência eu também cheguei a conclusão de não ler mais nada desse autor.

Anônimo disse...

Oi, Alê!

Que decepção. É péssimo criar tantas expectativas para o livro ficar tão aquém do esperado. Eu adoro o gênero policial, mas percebi que muitos livros não inovam, estão repletos de clichês e pior, nem aprofundam o mínimo... Criando uma história fraca com personagens e situações nem um pouco críveis. Uma pena mesmo.
Ótima resenha!

Beijocas.
http://artesaliteraria.blogspot.com.br

Adriana disse...

Oi Alê!
É um estilo literário que me agrada, mas através da sua resenha parece que a ideia do autor não foi tão bem aprofundada na história e fica a desejar...
Adorei a resenha!
Beijos
Dri

Camila Monteiro disse...

Hahaha chorei aqui: "...é um pastel sem recheio".
Muito boa crítica. Eu não conhecia a obra, mas ficarei decolho nesse escritor.
Nem sempre eles acertam, talvez tenha outra obras boas, mas já fiquei com o pé atrás.
Valeu!

www.vidacomplicada.com

Camila Monteiro disse...

Hahaha chorei aqui: "...é um pastel sem recheio".
Muito boa crítica. Eu não conhecia a obra, mas ficarei decolho nesse escritor.
Nem sempre eles acertam, talvez tenha outra obras boas, mas já fiquei com o pé atrás.
Valeu!

www.vidacomplicada.com

Camila Monteiro disse...

Hahaha chorei aqui: "...é um pastel sem recheio".
Muito boa crítica. Eu não conhecia a obra, mas ficarei decolho nesse escritor.
Nem sempre eles acertam, talvez tenha outra obras boas, mas já fiquei com o pé atrás.
Valeu!

www.vidacomplicada.com

Soraya Abuchaim disse...

Oieee.. Nossa, a premissa é tão boa, como o autor conseguiu estragar a obra? Hahahaha
É tão ruim quando nos decepcionamos, né?
E a questão da falta de verossimilhança acho que é o pavor de qualquer escritor.
Eu até fiquei com vontade de ler, acredita? Adoro opiniões controversas.

Beijos

Meu Meio Devaneio

Sil disse...

Oi Alê.
Adoro vir aqui no blog porque sempre fico conhecendo novos nomes da literatura policial, um gênero que adoro. É uma pena que esse autor não te agradou tanto quanto os outros que tenho lido resenhas aqui. Eu nem vou me arriscar hehe. Me lembrou o programa do Didi que os outros personagens sempre fazem tudo errado para que o Didi sai como o esperto hehe.

Blog Prefácio

Rebecca disse...

Oi Alê,
Eu já não estava muito animada quanto a este livro agora que desanimei mesmo. Principalmente por ser um ''pastel sem recheio''.
Em geral não gosto muito de livros assim, foge muito da minha zona de conforto.
Beijos!!
umlugarparaleresonhar.blogspot.com

Unknown disse...

Oi!
Ainda não conheço o Lee, mas não gostei muito desse livro a historia não conseguiu me envolver e deixar curiosa sobre a trama também achei que faltou mais realidade no livro e a trama e cheia de furos o que para mim em livro policial acaba totalmente com a historia !!!

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Alê.
A capa e a premissa do livro me chamaram a atenção. Contudo, ao terminar a resenha, me senti traído pela sinopse. rs Imaginei uma obra inteligente e bem escrita e não um enredo com diversos furos. Isso, sem dúvidas, desanima um leitor.

Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de agosto. Serão dois vencedores.

Patrini Viero disse...

Gostei muito da capa do livro, e a premissa tinha tudo para dar uma boa leitura e história. Fico decepcionada pelo autor ter tido tantas incoerências no decorrer da narrativa, por essas inverossimilhanças realmente complicam a leitura e acabam irritando o leitor em determinado ponto, quando são muito frequentes. Além disso, uma investigação morna é impossível de ser convidativa. Este é um gênero feito para ser crível, constante e eletrizante, e é bem chato saber que o autor passou longe dessas características!

Unknown disse...

A capa do livro expressa um mistério profundo relacionando com a trama do livro. Uma história policial sempre é bem vinda e essa não seria diferente. Entrou pra minha lista.

Anônimo disse...

A capa e o título dão um ar de terror e suspense. Ainda não conhecia a série e esse quarto livro pareceu ser interessante, mesmo com algumas falhas observadas por você. Creio eu que eu nunca tenha lido nenhum livro policial, pois não me lembro. Acho q não seria uma boa eu começar por "caçada ás cegas".
Nunca tinha ouvido falar desse ditado do pastel sem recheio, hahaha. Gostei!!

Bjs, Alexandre.

Ana I. J. Mercury disse...

Pela sua resenha, parece ser meio mal planejado, e realmente um livro inverossímil é uó.
Acho que não lerei, não. Na verdade, nem conhecia o autor.
bjs

Unknown disse...

Oi
Que pena que a leitura não foi tudo o que você esperava.Mas esses livros policiais onde os responsáveis pela investigação são uns boboes e outras pessoas do nada encontrar as respostas são meio intragaveis.Eu ainda quero ler as obras do Lee,quem sabe se eu acompanhar desde o primeiro livro eu gostei da narrativa do autor.

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