“A fisionomia de Maigret era assustadora, porque ele nunca havia visto um crime tão covarde e, ao mesmo tempo, tão hábil.” (SIMENON, 2015, p.40)
Há alguns anos participei de um evento sobre literatura policial no qual o palestrante, um grande fã de Georges Simenon, destacava “O Caso Saint-Fiacre” como um de seus livros favoritos. Mesmo tendo descoberto muitas das surpresas da trama nessa ocasião, tinha vontade de ler o livro desde lá.
É por acaso que o comissário Maigret encontra um bilhete que faz uma sinistra previsão: “Anuncio que um crime será cometido na igreja de Saint-Fiacre durante a primeira missa do Dia de Finados.” O comissário não vai ao vilarejo há anos, mas está bem familiarizado com o local, afinal, foi criado lá. Agora, o crime o leva de volta, fazendo com que se depare com lembranças da infância.
Sempre digo que Simenon tem um jeito muito peculiar de fazer literatura policial e que, mesmo sendo um dos autores mais renomados do gênero, segue poucas das suas regras. Em “O Caso Saint-Fiacre” não é diferente. Nele, a impressão que fica é que a presença de Maigret na trama se dá apenas porque é dela que depende a participação do leitor, afinal, é o comissário que acompanhamos. Digo isso porque o desenvolvimento do arco investigativo, mesmo sendo conduzido por Maigret, não leva o personagem a muitas respostas e, mais surpreendente ainda, não necessita dele para ser encerrado. O clássico momento do desfecho, em que o detetive apresenta sua linha de raciocínio e revela o assassino, conta com a presença de Maigret em cena mas esse papel não é desempenhado por ele. Não é Maigret quem encontra a solução, não é Maigret quem desmascara o assassino. Isso significa que a cena decepciona? De forma alguma. É uma das mais empolgantes que já vi em um livro de Simenon. Isso significa, então, que Maigret é supérfluo na história? Também não porque ele vive uma história paralela dentro da história da investigação: a da sua volta ao local da sua infância.
Outra coisa que sempre digo sobre as histórias envolvendo o comissário é que elas são mais sobre pessoas do que sobre crimes. Dessa vez, uma das pessoas sob os holofotes é o próprio comissário. Existe o crime e existe Maigret. Para onde quer que o personagem olhe, ele vê a sua infância. As lembranças não são necessariamente boas ou ruins. São apenas lembranças. E para os leitores já familiarizados com o personagem é uma ótima oportunidade de saber de onde ele saiu.
Quanto ao crime, esse parece ter saído da cabeça de Agatha Christie. Aquela execução absurdamente simples que fascina o leitor. Uma morte que, tendo ocorrido como constatado, simplesmente não poderia ter sido prevista com quinze dias de antecedência como anunciou o autor do bilhete. E como Simenon faz suas próprias regras, a maneira que o misterioso crime é cometido é esclarecida logo no começo do livro, porque não é sobre esse mistério que a história girará em torno e sim dos motivos que levaram a tal crime.
Já disse e repito: Simenon não escreve o tipo de livro policial que deixa o leitor desesperado para encontrar respostas, mas sempre cria tramas interessantes que são lidas sem que se sinta as páginas passarem.
Autor: Geroges Simenon
N° de páginas: 144
Editora: Companhia das Letras
22 comentários:
Oi, Mari!
Não conhecia o autor e nem a obra mas, curti muito a premissa. Obras no estilo são sempre boas.
Parabéns pela resenha.
Beijos
Balaio de Babados
Mari, o autor Georges Simenon é totalmente novo para mim, mas ele está adicionado em minhas futuras leituras devido a esta recomendação. O Caso Saint-Fiacre me cativou inicialmente com a premissa do comissário ao encontrar um bilhete e as velhas lembranças deixadas no vilarejo onde morava. Entretanto, o ponto forte da trama, para mim, foi a desnecessidade da presença do "protagonista" para o fim da história.
Oie Mari =)
Sempre vejo os livros do Simenon por ai, mas confesso que eu mesma nunca tive muita curiosidade de ler nada dele, até agora. Afinal ser comparado com minha diva Agatha não é para muitos. Na próxima oportunidade vou dar uma chance a autor e espero gostar bastante da trama do autor.
Beijos;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary
Não gostei. Não mesmo. Recebi 3 livrinhos dele e me empolguei, mas a coisa passou rápido,. No entano, presentei uma tia que quase morreu de alegria ao ler hahahaha
Ele merece todo reconhecimento.
>> Vida Complicada <<
Não conhecia esse autor, mas pelo visto ele é bom mesmo. Tô começando a pegar gosto por livros nesse gênero, então vou anotar o nome desse autor. =)
Abraço,
literarizei.blogspot.com
Mari!
Gosto da forma como Simenon escreve seus crimes e os descreve através de Maigret.
O que me atrai nele é justamente porque o mais importante não é o crime em si, mas tudo que o permeia e as personagens.
Muito bom.
“Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo.”(Carlos Drummond de Andrade)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Oi Mari! Adoreeeei a resenha! Maigret é um bom observador do ser humano, gosto muito dessa outra perspectiva também nos romances policiais...
Esse livro em especial tá na minha lista pra dezembro, e agora acho que ele vai furar a fila rs
Beijos!
Ana Paula
http://literaturapolicial.com/
Já ouvi falar muito do autor, mas ainda não li nada dele, mesmo seus livros sendo de um gênero que aprecio muito. Sempre fico curiosa com o modo como falam que ele costuma ter uma abordagem diferente do romance policial, focando mais nos personagens em vez do crime, e mesmo que isso não deixe o leitor desesperado por respostas, de certa forma ainda o fascina.
Gostei muito da sua resenha e esse será outro livro de Simenon para a minha lista. Abraços
Oie,
Eu ainda não conhecia o autor e nem o livro, mas fiquei interessada.
Gostei muito da resenha!
Beijos,
Juh
http://umminutoumlivro.blogspot.com/
Oi, Mari! Tudo bem? Acredita que eu ainda não conhecia o comissário Maigret e o autor George Simenon? Adorei conhecê-los e fiquei com vontade de começar a conhecer os outros casos escritos pelo o autor e protagonizado pelo personagem. Como já disse aqui em outra ocasião, gosto de quando o livro vai muito além do famoso "quem matou?". Adorei a resenha! :)
Abraço
http://tonylucasblog.blogspot.com.br/2015/10/resenha-premiada-muito-mais-que-5inco.html <- Tá rolando promoção do livro "Muito Mais Que 5inco Minutos" lá no blog! ;)
Oi Mari! Tudo bom?
Nunca tinha ouvido falar do livro, assim como do autor.
Adorei a capa, mas ultimamente tenho evitado livros policiais porque não estou mais com cabeça pra isso. Mergulhei demais na fantasia e no romance :P
Bom saber que não é só aquela história de 'quem matou fulano?'. É mais instigante.
Ótima resenha!
Beijos,
Denise Flaibam.
http://www.queriaestarlendo.com.br/
Não sei bem o que dizer, mas sei que agora eu fiquei curiosa pra ler esse livro, Mari. Como toda vez que você fala do Simenon. Ótima resenha.
Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Olá, Mari.
Eu nunca li nada do autor, mas sempre vejo resenhas elogiosas a ele aqui no seu blog. É engraçado porque lá no começo da resenha eu pensei nossa parece coisa da Agatha e depois você falou exatamente isso. Eu quero ler um livro do autor para me familiarizar com sua escrita. Não sei se irei gostar disso do crime não ser o foco da história, mas é sempre bom ter experiencias diferentes nas leituras.
Blog Prefácio
Eu não conhecia o livro nem o autor, mas adorei a historia. Oq me chamou atenção foi o autor focar mais em outra historia do q no proprio crime. Vai pra os desejados sim!
Www.cidadedosleitores.blogspot.com (TÁ ROLANDO SORTEIO)
Olá, Mari.
Já li apenas um livro do autor e eu gostei, mas não tanto quanto eu imaginava gostar. Ainda assim, pretendo ler outros livros dele. Esse, por exemplo, parece ser bem interessante, principalmente por não ter um foco tão intenso no crime.
Vai para a lista de leituras.
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Olá Mari
Confesso que não conheço nada do autor, mas sua resenha me cativou a ler a historia. Aliás, seu blog é encantador, estou a seguir.
Beijinhos ♥
Borboletas de papel
Oi, Mari!!
Não conhecia o autor ainda, mas fiquei bem curiosa pelo livro. Até hoje não li nenhum livro policial que o protagonista que narra a história não resolva o crime, confesso que não li muitos, mas mesmo assim. Achei essa temática muito interessante e fiquei querendo saber mais.
Vou dar uma pesquisada no livro e adicioná-lo à lista! Hahahaha
Bjs
livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br
Apesar de há tempos não ler nada do gênero, gosto muito ! Ainda não conhecia o livro,mas adorei conferir a resenha e achei muito interessante. Este tipo de livro sempre faz a gente ler uma página a mais! Instiga ainda mais a nossa "fome" de leitura. Livro mais do que incluído a lista de desejados....
Sinceramente não conhecia ambos nem o autor, nem a obra. Nunca li sequer um livro policial, a leitura parece fluir bem, porém é totalmente fora dos gêneros que eu estou acostumado a ler, como ´´e sempre bom dar uma inovada, daria com certeza uma chance ao livro!
OI! A trama parece ser interessante e também diferente, quando leio um livro policial espero aquela sede por respostas, aquela sensação de não conseguir largar o livro. Nesses livros quase nunca os motivos do crime são o que interessa, sempre é a busca incessante pelo culpado e também a outra abordagem da trama é curiosa, as lembranças desse comissário, mesmo não sendo lembranças que chocassem ainda, mas apenas lembranças. Mesmo assim eu leria.
Eu ainda não conhecia o livro nem ao autor, mas fiquei interessada, pelo visto Simenon tem um jeito autêntico de narrativa sobre romances policiais, pela sua resenha já fiquei bem curiosa e animada, parece que vou mergulhar nos livros de Simenon em um caminho sem volta!
Valeu pela dica. ^^
Abraçoos
Jovem Literário
Olá!!
Eu nunca li nada do Simenon e confesso que não tenho tanta curiosidade assim , ja vi algumas opiniões de que não era muito om , que que já aviam se decepcionada e isso me desestimulou, mas nunca tinha visto nenhuma resenha sobre esse livro em questão, e achei interessante meio que conta a historia da vida do comissario e pros fãs certamente é uma boa oportunidade.
Bjocas!!
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