sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

RESENHA: O Leitor do Trem das 6h27

“Gosto da ideia de que os textos amadurecem durante a noite, como uma massa de pão que deixamos descansar e encontramos na manhã seguinte muito crescida e cheirosa.” (DIDIERLAURENT, p.103, 2015)

Guylain Vignolles trabalha fazendo algo que abomina: destruindo livros encalhados. Porém, todos os dias, ele salva algumas páginas e as leva consigo para a casa onde vive sozinho com seu peixe. No dia seguinte, no caminho para o trabalho no trem das 6h27, ele lê em voz alta as páginas salvas na véspera. É no trem que Guylain vai conhecer pessoas que se encantarão por suas leituras e também descobrirá textos perdidos escritos por uma moça que trabalha na manutenção de banheiros públicos e que acaba conquistando Guylain com suas palavras.

“O Leitor do Trem das 6h27” é um livro singelo e sensível. Sua narrativa não é fluida, mas também não é monótona. Para mim, sua história é sobre as pequenas coisas que podem salvar um dia. Sobre a capacidade que algumas pessoas têm de enxergar mais do que há para ser visto. Guylain é uma dessas pessoas. É alguém que chama a máquina que destrói livros de “A Coisa” e chama as páginas que salva de “peles vivas” porque para ele aquele equipamento é um ser monstruoso cuja única utilidade é causar destruição de coisas vivas já que livros não são apenas papeis e contém mais histórias e mais vidas do que ele encontra em seu dia a dia solitário. Para Guylain tudo é dotado de vida.

Sempre que Guylain lê uma das páginas que salva, lemos com ele. Mas como se trata de uma única página de cada livro, o que temos é apenas um trecho da história e o vemos fora de contexto. Não vejo nisso um problema, pois “O Leitor do Trem das 6h27” não é sobre os textos e sim sobre o homem que os salva. É dessa mesma forma que conhecemos Julie, a moça que perdeu no trem o pen drive com seus textos, porém com ela acontece o inverso: a partir do momento em que seus textos surgem, ela se torna tão importante quanto Guylain, pois é como se acompanhássemos duas narrativas e tivéssemos dois protagonistas que, claramente, precisam ter seus caminhos cruzados. É fácil perceber que esses textos avulsos são muito diferentes daqueles outros textos avulsos porque aqueles preenchem temporariamente um vazio, mas esses são capazes de eliminar o vazio da vida de Guylain por completo.

Eu diria que “O Leitor do Trem das 6h27” gira em torno de palavras, já que todos os eventos e personagens que cruzam a vida de Guylain tem nelas sua grande paixão, de uma forma ou de outra. Seu amigo que perdeu as pernas para “A Coisa” e que fez da sua missão de vida encontrar os livros que carregam parte dos seus membros decepados (porque o material que sai da Coisa é utilizado para novos livros), seu outro amigo que fala apenas em versos alexandrinos pois os considera a forma mais bela e perfeita de expressão, as senhoras da casa de idosos que se encantam pela maneira como Guylain lê em voz alta no trem e pedem que ele vá até a sua casa ler para os outros também, e, claro, a moça que, assim como Guylain, trabalha em um lugar sem nenhum traço de beleza, mas que escreve com sensibilidade sobre o que acontece no seu dia.

Existe um belo sentimento nisso tudo, mas ainda assim “O Leitor do Trem das 6h27” é um livro que cativará a poucos (e, confesso que, eu mesma não me senti completamente envolvida por ele). Isso porque sua história parece nunca acontecer. Não há o desenvolvimento de uma situação, o que é representativo da monotonia da vida do protagonista. Por isso digo que este não é um livro sobre eventos e sim sobre o olhar desse homem solitário em relação ao que o cerca.

Entre o muito banal e o muito absurdo existe sensibilidade e o leitor precisará saber enxergar isso para apreciar essa leitura que não é marcante, mas tem sua beleza. Não chegou a me agradar totalmente, mas tampouco desagradar.

Título: O Leitor do Trem das 6h27 (exemplar cedido pela editora)
Autor: Jean-Paul Didierlaurent
N° de páginas: 175
Editora: Intrínseca

32 comentários:

Camila Monteiro disse...

Gostei da sutileza!
Vou dar uma olhada melhor nessa obra, parece o tipo de livro que nos salva de vez em quando de uma ressaca!

>> Vida Complicada <<

Gabriela CZ disse...

Ganhei esse livro no Natal e estou curiosa para ler, Mari. Li comentários semelhantes ao seus, de que é uma leitura sensível mas não exatamente marcante. Pra mim isso basta. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Mari.
Não conhecia o livro, mas a sua resenha me chamou a atenção. O primeiro motivo do meu interesse é a premissa não convencional; afinal, um homem que salva páginas de livros e as lê em um transporte público é algo bem original. Outro aspecto que me agrada é esse foco que os personagens parecem receber através das palavras (a provável grande protagonista).
Sem dúvidas, uma obra que merece ser conferida.

Desbrava(dores) de livros - Participe do top comentarista de janeiro. Serão dois vencedores!

Daniele Costa disse...

O livro parece ter um enredo muito interessante, mas por se tratar de uma leitura muito parada não tenho certeza se conseguiria terminar, porém admito ter ficado muito curiosa com relação a Coisa e ao amigo que perdeu as pernas.
Estante de uma Fangirl

Sil disse...

Olá, Mari.
Ainda não conhecia esse livro, a sua é a primeira resenha que leio dele. Primeiro você me envolveu com a história e me fez desejar ler o livro, depois você vem lá no penúltimo paragrafo e me tirou a vontade de ler hehe. Agora fiquei na duvida se quero ler ou não.

Blog Prefácio

Patricia disse...

Olá! Não conhecia o livro, mas parece ser uma história bem envolvente e delicada, vou procurar saber mais, me interessei pela leitura, apesar desse seu penúltimo paragrafo ter confundido meus sentimentos kkkkk
Beijo!
http://booksmanybooks.blogspot.com.br/

Jessica Andrade disse...

Olá,
Não conhecia esse livro e confesso que fiquei igual a você em relação a história não me chamou tanta atenção mas tambem não me desagradou.
No momento não leria, talvez futuramente.
Bjs e Parabens pela resenha.
http://diarioelivros.blogspot.com.br/

Beatriz Andrade disse...

Eu tinha visto esse livro como lançamento no "Skoob", mas não cheguei a ler a sinopse ou algo do tipo. Pelo o que você disse na resenha, apesar do pouco número de páginas, consegue transmitir uma mensagem legal como essa. O poder das pequenas coisas. Um bom livro para ler e refletir. Gostei.
Beijo,
paraisodemenina.blogspot.com

Estante Diagonal disse...

Oi Mari, vi resenhas que dividem opiniões! E todos com esta mesma impressão que demora para acontecer. Espero conseguir conferir a leitura em breve para saber o que achar.

Beijos,
Joi Cardoso
Estante Diagonal

Lais Ribeiro disse...

Já tinha visto esse livro no blog da Intrínseca, na postagem de lançamentos, e não me interessei muito. Pra mim falta atrativo na capa e o título me coloca com pé atrás, pois livros que falam da paixão por ler livros ou me agradam muito ou me decepcionam, e pelo sinopse eu achei que me decepcionaria e a resenha me confirmou isso. Provavelmente eu ficaria muito interessada nos textos que o Guylain salva e o livro não girar em torno deles me frustraria, me traria algo próximo da sensação de que nada acontece mencionada na resenha... Não é um livro que vá entrar pra minha lista de desejados.

Unknown disse...

Gostei da história, apesar de ela ser monótona e acompanhar a vida de um personagem. Gostei da atitude de Guylain de guardar pelo menos uma página dos livros que "A Coisa" destrói, mas não sei se estaria disposta a lê-lo. Se demoro para ler os livros que para mim são maravilhosos e cheios de ação, imagina os monótonos? Acredito que eu não encararia essa leitura, infelizmente :(

Carla disse...

Oi, Mari! Alguns livros são assim, né?! O objetivo não é necessariamente contar uma história, mas mostrar para o leitor a vida/visão de um personagem, fazê-lo pensar sobre algumas coisas... Imagino que seja mesmo uma leitura que não agrade a todos, mas deve ser uma experiência interessante.

Beijos, Entre Aspas

Caverna Literária disse...

Ouvi falarem bastante desse livro, do quão singular ele é, da forma como apesar de simples, acaba tocando o leitor. Adorei a resenha! Não sei se leria no momentos, mas como você falou que não é monótono, talvez até arriscaria

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Tem post novo no blog sobre séries, vem conferir!

Unknown disse...

Heey!
Esse livro é diferente do que eu pensava e essa premissa não me agrada muito...
Não sei se leria esse livro, mas deve ser uma experiência no mínimo interessante.
Abraços!!
http://desbravando-o-infinito.blogspot.com.br/

Tony Lucas disse...

Oi, Mari! Tudo bem? Apesar da simplicidade, gosto muito da capa de "O Leitor do Trem das 6h27". Ele também é curtinho, o que é bom, mas não sei... Tenho uma certa indecisão quanto a ler ele. Mas enfim, espero tomar uma decisão à cerca disso em breve. Adorei a resenha! :)

Abraço

http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Olá, Mari!
Eu acho tão linda essa capa, confesso que minha vontade de ler ele diminuiu depois de varias resenhas não tão boa a respeito, mas a sua me deu um pouco mais de vontade de conhecer essa leitura.

http://blogexplicita.blogspot.com.br/

Tem sorteio no meu blog, venha participar!
http://goo.gl/i03FzM
<3

Kathleen Yasmin disse...

Oi, Mari!
Adorei a premissa desse livro, fiquei me imaginando no lugar do Guylain, tendo que destruir esses livros... só de pensar, me dói o coração hahaha
Fiquei com vontade de conhecer melhor esse livro, apesar de não ter grandes acontecimentos, como você falou...
Mas, sei que vai ser um daqueles que eu vou deixando e nunca pego hahaha
Beijoss
www.vidaemmarte.com.br

Monique Larentis disse...

Nunca li esse livro, mas parece ser muito boa a história, gostei da resenha e de conhecer mais :D

www.vivendosentimentos.com.br

Vanessa Vieira disse...

Gostei da resenha Mari. Achei a premissa do livro bem interessante e por sua vez, um tanto quanto convidativa. Beijo!

www.newsnessa.com

RUDYNALVA disse...

Mari!
Tem umas coisas que me deixaram em dúvida: primeiro, por que a máquina destrói os livros? Qual o sentido da destruição? E depois, se ela destrói os livros e outros são feitos com os livros destruídos, qual sentido destrui-los?
Fiquei bem intrigada com essa leitura...
“A dúvida é o princípio da sabedoria.” (Aristóteles)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Participe do TOP COMENTARISTA de Janeiro, são 4 livros e 3 ganhadores!

Ana Clara Magalhães disse...

Oi Mari!

Vi algumas resenhas desse livro há um tempinho e acho que o que mais surpreende a todos é o tamanho dele. "Como um livro tão pequeno e que possui tão poucas páginas consegue passar uma história tão bonita?"
Mas enfim, eu tenho a impressão de que ele não me cativaria tanto também. Gosto de livros que narram uma história com acontecimentos, não que falem apenas dos personagens.

Beijo!
http://www.roendolivros.com

Patricia Porto Marketing Digital disse...

Parece ser bem legal. Estou vendo varias postagens suas atualmente para pegar indicações e livros. Quero ler mais . E estou amando suas resenhas.

Beijos | te espero no post novo.
www.anaportoblog.blogspot.com.br

Sora Seishin disse...

Oi Mari!
Ainda não conhecia esse livro, e já me choquei na primeira frase, quando você diz que ele destruía livros (que triste!).
Mas não sei se leria, me parece uma leitura mais parada, e estou fugindo de livros desse tipo no momento.

Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros

Michelle disse...

Eu já estava interessada nesse livro, agora fiquei ainda mais. Acho que essa monotonia é importante para a história. E acho que vou gostar muito :)

Carolina Garcia disse...

Oi, Mari!

Já havia lido algumas resenhas desse livro e todas dizem que é uma obra muito sensível.
Uma pena que não agradou nem desagradou, mas acontece às vezes.
Melhor que odiar o livro, na minha opinião. Hahaha

Ainda estou curiosa sobre a história então acredito que mais para frente vou procurar uma cópia para ler. :)

Bjs

livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Unknown disse...

Me encantei pela resenha.... Achei linda! Acho q todos amamos livros como o personagem e fiquei curiosa para saber quais as peles que ele conseguiu salvar.

Maria Ferreira- Impressões de Maria disse...

Oi Mari.
Fiquei um pouco dividida. Não sei se vou gostar do livro por isso das páginas dos livros não serem completas ou se vou gostar por ser um livro que irá fazer refletir sobre as coisas que não são vistas. Mas que quero ler, eu quero.
Abraços.

Minhas Impressões

Unknown disse...

Preciso desse livro, serio eu imaginei o personagem em quanto eu lia a resenha. Achei diferente a ideia do autor, pena que nunca tinha ouvido falar dele até então.

Unknown disse...

Quero muito ler esse livro e já ta na minha lista um bom tempo mas eu sempre fico adiando ele, ele parecer ser bom e ja vi muitas gente falando muito bem dele.
Bjss

Daniel Igor disse...

O livro tem uma premissa interessante, mas não me atraiu nem um pouco. Sua resenha está bem sincera e realmente me afastou um bocado, uma história monótona é algo que não caí bem em mim. Abraços

Unknown disse...

Oi!
Ainda não conhecia esse livro e mesmo não sendo o tipo de leitura que gosto de fazer, a algo nele que me conquistou acho que pela a mensagem que podemos pegar com essa historia, mesmo sendo uma historia mais tranquila !!

Ana I. J. Mercury disse...

Eu só conhecia o livro de nome, e achei bem fofinha pela sua resenha, parece ser bem profundo, reflexivo e lindinho =D
AAAH, eu queroooo,fiquei curiosa por esses textos!!
bjoos

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