segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

RESENHA: Os Robôs da Alvorada

“Ele estava abraçando um robô e o robô também o abraçava de leve, permitindo-se ser abraçado e julgando que aquele ato dava prazer a um ser humano e tolerando aquela atitude porque os potenciais positrônicos de seu cérebro o impossibilitavam de repelir o abraço e assim causar decepção e constrangimento ao ser humano. A insuperável Primeira Lei da Robótica declara: ‘Um robô não pode ferir um ser humano...’: repelir um gesto de amizade feriria o humano.” (ASIMOV, p.56, 2015)

Dois anos após ter desvendado um crime em Solária, o detetive Elijah Bailey é enviado para Aurora, o mais desenvolvido dos Mundos Exteriores, para solucionar um caso de roboticídio, o equivalente a morte de um robô. A vítima não é qualquer robô e sim um dos únicos modelos humaniformes já criados, o que coloca o Dr. Fastolfe na posição de suspeito já que é o único roboticista conhecedor da teoria sobre o cérebro desse tipo de robôs e, portanto, é único que poderia ter feito tal coisa. Mas Fastolfe jura inocência e agora Bailey precisa tentar inocentá-lo, já que Fastolfe é um dos únicos que pode ajudar a situação da Terra diante dos Mundos Exteriores na tentativa de expandir território e colonizar outros mundos.

Durante muito tempo, fugi de histórias de ficção científica por acreditar que as premissas eram tolas. “Os Robôs da Alvorada”, por exemplo, gira em torno de descobrir quem “matou” um robô. Verdade seja dita: isso, em essência, é tolo. Mas o que aprendi a apreciar é o contexto dentro do qual essas histórias se passam e, no caso de Asimov mais especificamente, os dilemas que surgem a partir das três leis da robótica.

Nesse terceiro livro da Série dos Robôs, o autor nos leva a um terceiro cenário, sendo que cada um deles tem culturas e costumes diferentes e, consequentemente, uma relação diferente com os robôs. Nesse sentido, é possível observar que a cada livro a complexidade aumenta, já que Asimov coloca em choque todas essas culturas. Apesar disso, acredito que os livros possam ser lidos fora de ordem (eu mesma comecei a série pelo segundo) já que os poucos personagens que se repetem são contextualizados, assim como os mundos e costumes.

O maior mérito das histórias de Asimov é criar conflitos complexos a partir de algo muito simples: as três leis da robótica. No caso dessa série, o autor usa dos elementos de ficção científica para desenvolver tramas policiais que se desenrolam como quaisquer outras (interrogatórios, pistas) mas ficam cada vez mais difíceis de serem solucionadas justamente devido aos elementos de ficção científica.

É admirável como esse universo parece ser uma fonte inesgotável para o autor e como ele revela domínio sobre suas particularidades, nos mostrando a cada página algo que ainda não havíamos pensado. Mas em “Os Robôs da Alvorada” isso se torna um problema, já que o autor se empenha tanto em aproveitar cada detalhe desse mundo que a trama se torna arrastada. Se por um lado não incomoda que a investigação ande a passos lentos (afinal, o mais interessante nesse caso é o contexto e não a resposta), por outro se torna irritante a sensação de que o autor quer se certificar de que tudo que sua mente conseguiu pensar será transmitido ao leitor. Até certo ponto é interessante, mas depois se torna cansativo porque nada parece evoluir.

Quando li “O Sol Desvelado” (o segundo livro da série) sofri um pouco para me envolver com a narrativa, mas depois reconheci a genialidade da trama. Com “Os Robôs da Alvorada”, apesar deste também trazer um desfecho interessante, não consegui me dar por satisfeita porque a maior parte da leitura foi enfadonha (e trata-se de um livro de mais de 500 páginas). Isso tudo me leva a crer que talvez Asimov seja um desses autores que são melhores nos contos do que nos romances. Penso que as narrativas curtas possibilitam ao autor criar um conflito, explorar os dilemas provenientes dele, e solucionar tudo de maneira a surpreender o leitor (tanto com sua criatividade como domínio daquele mundo), mas de maneira breve. Ao tentar fazer isso em um romance, o autor estica demais a jornada, o que a torna cansativa.

Vale ler a Série dos Robôs para testemunhar a genialidade de Asimov em extrair tantos conflitos com base em apenas três regras extremamente simples. Mas para ser sincera, é possível testemunhar isso da mesma forma nos contos de “Eu, robô” e de forma muito mais prazerosa.

Título: Os Robôs da Alvorada (exemplar cedido pela editora)
Autor: Isaac Asimov
N° de páginas: 542
Editora: Aleph

24 comentários:

Estante Diagonal disse...

OI Mari, nunca li nada do autor, "shame of me" hehehe mas pretendo começar pelo livro que a Aleph lançou de Eu Robo que contem diversas histórias. O que tu acha?!

Beijos,
Joi Cardoso
Estante Diagonal

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Nunca li nada do autor e ele é meio que leitura obrigatória no meu curso.
Não sei se leria um romance dele por conta do que você disse de ser enfadonho, mas quero ler Eu, Robô.
Acho muito interessante essas leis da robótica que ele inventou.
Beijos
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DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Mari.
Conheci as três leis da robótica através de Eu, Robô e esse livro me proporcionou uma ótima leitura. É incrível como Asimov cria grandes obras partindo de premissas simples.
Quanto a esse livro, especificamente, me interessa demais. Tenho até o primeiro da série já em casa. Quero conferir como o autor trabalho o contato de diferentes culturas com os robôs.
Ótima resenha, como sempre.


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Daniel Igor disse...

Sou louco para ler algum livro do Isaac, o que mais quero ler, do autor, é Eu Robô. Vou aproveitar que tem na biblioteca da minha escola, hehe. Gostei muito da resenha e fiquei bastante interessado nessa outra obra do autor! Abraços :)

Gabriela CZ disse...

A cada vez um de vocês fala de Asimov me dá mais vontade de conferir suas obras, Mari. Uma pena que este livro tenha te parecido arrastado, mas se mesmo assim te agradou é porque vale a pena. Preciso ler. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Patrini Viero disse...

O contato mais próximo que eu tive de Asimov foi com Eu, Robô, título do qual gostei muito. Realmente é impressionante a forma como o autor consegue extrair tantos aspectos de um mundo como faz com as três leis da robótica, é uma pena que o livro tenha parecido arrastado pra ti. Eu acho incomum e curioso essa mistura de ficção científica e investigação policial, acho que ia curtir bastante o livro, já que sou bem ligada no gênero.

Do Prefácio ao Epílogo disse...

Oi Mari, a capa já nem me chamou a atenção muito menos o nome. Ao ver que era uma trilogia, fiquei com menos vontade ainda. Mas gosto das suas resenhas!

Beijos,
Natália

www.doprefacioaoepilogo.blogspot.com

Jeni Viana disse...

Oi, Mari! Tudo bem contigo?

Hmmmmmm! Já ouvi muitas pessoas comentando a respeito desse autor, porém até o momento confesso que nunca quis ler nada de sua autoria. Normalmente não me interesso muito por ficção científica, justamente pelo ponto que citou nesse livro: a lentidão da narrativa por conta do cuidado excessivo com os detalhes que o autor criou, sob um pano de fundo bem simples.

Valeu a dica, mas no momento vou deixar passar. Com tantos livros para ler, não posso me dar ao luxo de uma aventura literária arrastada!


Um beijo,
Doce Sabor dos Livros - docesabordoslivros.blogspot.com

JULIA disse...

Oi Mari!
Achei sua resenha muito interessante, realmente alguns ótimos escritores de contos deixam a desejar quando escrevem romances. Conhecia o autor de nome, mas nunca li nada dele, uma pena o livro ter te desapontado.

Beijos!

http://sozinhanabiblioteca.blogspot.com.br/

Tony Lucas disse...

Oi, Mari! Tudo bem? Gosto da premissa desta série, mas a quantidade de páginas deste livro me assustou. Além disso, você mesma disse que "a maior parte da leitura foi enfadonha". Então é melhor passar longe de "Os Robôs da Alvorada". Adorei a resenha! :)

Abraço

http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

Resenha Atual disse...

Olá, Mari, tudo bem?

Já ouvir sobre o Eu, Robô, mas nunca tive um contato com nenhuma obra do autor, não sou muito fã de ficção cientifica, não quer dizer que a estória não seja, mas e realmente raro quando paro, para ler algo do tipo, não nada contra a quantidade de paginas, na verdade adoro se o autor saber fazer bom uso disso, que neste caso infelizmente não deu certo,não sei se leria, mas gostei da resenha.

Beijinhos

http://resenhaatual.blogspot.com.br/

Diane disse...

Oi...
Ganhei o livro "Eu, robo" já faz uns cinco anos ou mais e até hoje não tive coragem de ler, porque, não acho que gostarei. Ficção Científica não é muito a minha praia.
Beijos

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

Kézia Martins disse...

Eu nao gostei da capa e do titulo, mas sua resenha me deixou curiosa. Confesso que prefiro livros mais romanticos e chick lit, daqueles que lemos em uma tarde ou seila, aqueles gostosinhos sabe? kkkk
http://b-uscandosonhos.blogspot.com.br/

Sil disse...

Olá, Mari.
Eu tenho curiosidade em ler essa série por causa do filme que gostei bastante. Mas o gênero não me atrai e nem o autor. Ainda mais você falando sobre a leitura ser enfadonha. Mas quem sabe né? hehe

Blog Prefácio

Maria Ferreira- Impressões de Maria disse...

Olá, Mari.
Meu primeiro contato com o Asimov se deu com seu livro "Eu, Robô". Eu gostei bastante, mas acho que não o suficiente para encarar mais de suas obras. Robótica é um tema que pouco me atrai dentro da ficção científica.
Abraços.

Minhas Impressões

Unknown disse...

Oi, tudo bem?
Nunca li nada do autor :o mas tenho muita vontade, inclusive Eu, Robô esta na minha lista de desejados ;D
Bj


@saymybook
saymybook.blogspot.com

Unknown disse...

Oi Mari,

Suas resenhas são maravilhosas! Tenho muita vontade de ler algo do autor, espero conseguir ler em breve.

Beijos!

Cintia
http://www.devaneiosdeumacindy.blogspot.com.br/

Maah disse...

Ola Mari.
Amei sua resenha.
Porem esse livro passa longe do meu gênero literário, e realmente não me chamou a atenção.

Monique Larentis disse...

O "mundo dos robôs" é sempre algo que nos causa curiosidade. Muitos filmes e livros explorando esse tema, e nunca se esgotam as ideias.
Não conhecia esse livro, e achei até muito interessante. Parece um pouco enigmático não sei porque :P
Gostei da resenha :D

www.vivendosentimentos.com.br

Leandro de Lira disse...

Oi, Mari!
Eu realmente não me interessei pela obra. Sci-fi nem sempre é o meu forte; só gostei de alguns livros. A premissa deste não me chamou atenção nem um pouco.
Acho que vou passar dessa vez. :s
Abraço!

"Palavras ao Vento..."
www.leandro-de-lira.blogspot.com

Bru Costabeber disse...

Olá Mari,
Isaac é um autor que desperta muito minha curiosidade, pois sinto que lerei e amarei, sabe?
Gostei muito da sua resenha e de conhecer um pouco mais do livro, fiquei bem curiosa em relação ao livro. Espero ler.
Beijos,
http://mileumdiasparaler.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Sinceramente não conheço autor, mas fiquei curiosa em ler o livro, a trama chama atenção (assim como a capa), acho que leria em um dia esse livro.

Gêmea Má disse...

Oi!

Eu li Eu, Robo, do mesmo autor e gostei bastante, mas achei a leitura muito pesada... Não sei se foi a edição que eu li, a época em que eu li ou se é pesado memso hahahahahaha

Ozzy disse...

Ola, eu sou um fã do Asimov, ele é muito incrível, recentemente comecei a serie Fundação e já estou amando.
Infelizmente ainda nao li essa trilogia dos Robôs, mas concordo com você no ponto que as vezes a leitura se torna um pouco arrastada por causa desse perfeccionismo do Isaac em fazer questão de preencher todos os buracos da mitologia dele, mas mesmo arrastando o pouco sempre me divirto lendo os livros/contos dele.
xoxo

planeta94.blogspot.com

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