quinta-feira, 9 de junho de 2016

RESENHA: David Copperfield

Desde que li Grandes Esperanças tenho vontade de conferir outro romance de Charles Dickens. O escolhido foi David Copperfield, referido pelo próprio autor como “seu filho predileto” e que se tornou a minha maior expectativa literária deste ano. 

David Copperfield conta a estória do personagem homônimo, partindo de sua infância até a vida adulta. Assim, acompanhamos seu nascimento e primeiros anos de vida, sua difícil infância, os anos de estudos, as paixões da juventude, sua indecisão a respeito do futuro profissional, entre outros episódios. Além de David, também acompanhamos a jornada de inúmeros personagens que cercam a vida do protagonista. 

A obra é narrada em primeira pessoa pelo próprio David, que conta sua estória olhando para trás, reencontrando os fantasmas do passado e falando abertamente sobre sua vida como se estivesse conversando com o leitor. Logo nos primeiros capítulos nos afeiçoamos a ele e a sua voz sincera, que não oculta defeitos, nem exalta qualidades. Chama atenção que mesmo publicado há mais de cento e cinquenta anos, a linguagem de Dickens é acessível e envolvente. Entretanto, a leitura é densa em virtude de sua carga dramática, então não espere encontrar um livro cuja leitura seja fluída. 

Como esperado, o trabalho do autor na construção dos personagens é fantástico. Mesmo sem descrever a personalidade, o leitor enxerga nas entrelinhas a essência de cada personagem, especialmente de David. E mais do que isso: vemos como a vida deles é entrelaçada e a forma como as ações de uns provocam as reações dos outros. Eis um mestre na arte do “show, don’t tell” (mostre, não diga). 

A estória é extremamente orgânica e retrata a vida como ela é. Dickens cria uma trama verossímil, sem reviravoltas mirabolantes, focando sua atenção na jornada de seus personagens, seus altos e baixos. Mesmo se passando na Inglaterra do século dezenove, vemos que os costumes mudaram, mas as relações humanas permanecem as mesmas.

“[...]; tinha pensado como as coisas que nunca acontecem muitas vezes são tão reais para nós, em seus efeitos, quanto as que se realizam.” (DICKENS, 2014, p. 1162). 

Apesar de não conter grandes críticas sociais, pelas quais o autor geralmente é conhecido, David Copperfield faz o leitor refletir sobre temas como amadurecimento, amizade, ganância, injustiça, perda da inocência, amor, família, entre tantos outros. 

Porém, não gostei tanto de David Copperfield quanto esperava e atribuo isto ao fato de que a estória me pareceu muito dispersa. Em alguns momentos, tramas paralelas ganharam demasiada importância, sendo que o próprio Copperfield se tornava um mero coadjuvante. Não é por menos que o livro conta com mais de mil e duzentas páginas. Se Dickens tivesse dado menor atenção às estórias dos personagens secundários, a leitura teria sido menos cansativa. 

Devo confessar que tampouco gostei do desfecho, pois me pareceu um pouco forçado em virtude da felicidade generalizada dos personagens, passando a impressão de que todos “viveram felizes para sempre”. Não que o final deixe de ser verossímil, mas considerando que a estória envolvia inúmeros núcleos, achei estranho que todos eles conquistassem exatamente o que desejavam. 

Apesar das críticas, David Copperfield não apenas mostra a habilidade inata de Dickens em retratar o ser humano de forma profunda e sem maniqueísmos, mas também revela um autor que sabe criar personagens inesquecíveis e abordar temas universais.

Título: David Copperfield
Autor: Charles Dickens
N.º de páginas: 1243
Editora: Cosac Naify

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14 comentários:

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Alê!
Não conhecia essa obra do Dickens.
Apesar do que comentastes sobre as tramas paralelas meio dispersas, fiquei bem curiosa sobre a história.
Beijos
Balaio de Babados

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Alê.
Conheço Dickens e tenho curiosidade sobre essa obra, mesmo sendo gigantesca e um pouco dispersa. O desfecho no estilo "felizes para sempre" não me agrada, mas já esperava algo assim, visto ao período literário que o autor faz parte.
Apesar de alguns problemas, daria uma chance para a obra.

Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de junho. Serão quatro livros e dois vencedores!

Camila Monteiro disse...

Ler algo com expectativas altas é um terror, geralmente me decepcionou também, talvez tenha sido um ponto pra vc! Eu não li esse livro, mas conheço a Escrita do autor e é mesmo impressionante o quanto ele consegue ser atual.

Fiquei curiosa. Vou procurar essa obra. Valeu a dica.

>> Vida Complicada <<

Camila Monteiro disse...

Ler algo com expectativas altas é um terror, geralmente me decepcionou também, talvez tenha sido um ponto pra vc! Eu não li esse livro, mas conheço a Escrita do autor e é mesmo impressionante o quanto ele consegue ser atual.

Fiquei curiosa. Vou procurar essa obra. Valeu a dica.

>> Vida Complicada <<

Gabriela CZ disse...

Estou louca para conferir os romances de Dickens, Alê. Visto que até agora só li Um Cântico de Natal. Entendo os pontos negativos que apontou, e o tamanho também assusta um pouco. Mas os elogios ganham de longe. Certamente quero ler. Ótima resenha.

Beijos!

Bruna Lago disse...

Que pena que não foi tudo isso que você estava esperando. Esse livro não nao é pra mim, por mais que você tenha falado pontos positivos. Porem, eles não me cativaram. Talvez seja porque esse não é muito meu estilo de leitura, sabe?

Alessandra Salvia disse...

Oi Alê,
Acho que essa obra não é para mim, rs.
Não faz muito meu estilo, sabe? Seria para sair da zona de conforto.
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

Elisa disse...

Oi, Alê, tudo bem?

Esse ano comecei a ler Um Conto de Suas Cidades e encalhei na metade por causa do final trágico (porque é obvio que não consegui não espiar o fim), então talvez esse exagero de felicidade no final de David Copperfield me faça bem.

Entendo o que você quer dizer sobre o foco desnecessário nos núcleos secundários, senti bastante isso no Conto também. Sinto agora que preciso me adiantar pra conseguir esse livro, porque desde o fechamento da Cosac que to numa corrido contra o tempo para comprar todos os livros que me interessam do catálogo antes que esgotem e... parece que não acaba nunca. E David, em especial, é um livro que poucas editoras publicaram integralmente no Brasil.

Abraços,
Elisa~
The Fat Unicorn

Tô Pensando em Ler disse...

Ol´s!!!

Preciso tanto ler este livro!!! Comprei faz um tempinho e ainda não tive tempo :( Mesmo com essa sua crítica negativa, ainda assim a vontade de conhecer esta obra não passou.
Adorei a resenha, e como disse, só me fez ficar com mais vontade de ler.

Bjkssssssss

Lelê

Cabine de Leitura disse...

Oi Alê;
Não tenho muito animo pra leitura que se arrasta, sou uma pessoa imediatista em tudo. Não teria interesse em ler, mas curti em ler sua resenha. Costumo dizer que odeio gente feliz de mais kkkk não mostram credibilidade, então não curtiria o desfecho do livro.

Beijos da Camila.
http://cabinedeleitura1.blogspot.com.br

Carolina Garcia disse...

Olá, Alê!

Gostei da sua resenha, mas não fiquei muito interessada nessa leitura. A história é muito famosa, mas nunca me chamou muito a atenção.

É bom saber que mesmo com os fatores negativos ainda é uma boa opção. Dickens é sempre um clássico de qualquer forma.
Quem sabe um dia, não é mesmo?

Bjs

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Ana I. J. Mercury disse...

Já comecei a ler ele várias vezes e parei.
Deixei pra lá por enquanto.
Vou ler o Grandes esperanças agora.
A resenha me deu mais vontade de ler, e vergonha de não o ter lido ainda kkk
bjs

Unknown disse...

Oi!
Faz um tempo que estou com esse livro do Charles Dickens na minha lista de leitura mas até hoje ainda não o peguei para ler, e lendo a resenha voltei a ficar interessada nesse livro, gostei de como acompanhamos a vida do personagens em todos as fases e achei interessante os temas que o autor aborda !!

Unknown disse...

e a escrita como e que ta bem escrito só que não!!!!kkkkkkk

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