“As mãos dos culpados não tremem, necessariamente, só em contos um copo cai da mão, revelando descontrole. A tensão com frequência, revela-se nos atos estudados.” (GREENE, p.42, 2007)
Foi em um dos meus passeios pelo sebo que me deparei pela primeira vez com Graham Greene, um dos maiores nomes do suspense de espionagem. Isso resultou na minha experiência com “O Fator Humano”, uma boa leitura que não chegou a empolgar como eu gostaria, mas manteve o nome do autor na minha mente. Foi novamente no sebo que esbarrei em “O Terceiro Homem” que me atraiu imediatamente por ter sido a base para o filme de mesmo nome.
Rollo Martins vai a Viena a convite de seu amigo de longa data, Harry Lime, mas assim que chega na cidade descobre que ele morreu em circunstâncias misteriosas. Em um lugar onde autoridades russas, britânicas, norte-americanas e francesas se misturam com o fim da Segunda Guerra Mundial, Martins tentará descobrir no que Harry estava metido que pode te-lo levado à morte e quem era o misterioso terceiro homem presente na cena do crime (ou sua morte terá sido mesmo um acidente?).
No prefácio, Graham Greene esclarece que “O Terceiro Homem” não foi escrito para ser lido e sim ser visto. A narrativa curta nada mais é do que o argumento para o roteiro do filme dirigido por Carol Reed na década de cinquenta. Greene diz que nunca conseguiu escrever um roteiro sem antes escrever a história, com ambientação e construção de personagens, coisas que não acreditava ser possível conseguir através da linguagem enxuta dos roteiros. Por isso, pode-se dizer que este livro é um ensaio, um rascunho detalhado do que viria a ser transposto para o filme e que Greene escreveu sem a intenção de que fosse publicado. Isso fica evidente na narrativa que, apesar de contar com bons personagens e conseguir manter o suspense, não se aprofunda (o que não deixa de ser justificável, afinal, a linguagem cinematográfica se vale de outros recursos para contar uma história, não havendo necessidade de o autor se preocupar com isso neste texto).
O que fica claro é o potencial da trama. Não é à toa que “O Terceiro Homem” é um dos mais famosos exemplares do cinema noir e com frequência entra nas listas de melhores filmes ou melhores suspenses de todos os tempos. Com uma bela fotografia e a presença breve mas marcante do lendário Orson Welles, é inegável que o filme consegue construir uma atmosfera que o livro não consegue.
Eu já havia assistido “O Terceiro Homem” antes da leitura, então já conhecia a trama, o que, é claro, influenciou o meu envolvimento com o livro. Mas acredito que se meu primeiro contato tivesse sido através do original de Greene, eu teria tido uma bela surpresa. Ainda assim, ela talvez não tivesse tanto impacto já que não chega a ser desevolvida a fundo (coisa que o filme consegue graças ao seu elenco).
Contando com poucos eventos e personagens, o destaque fica para a misteriosa figura de Harry Lime (Amigo? Trapaceiro? Criminoso?) mas também merece ser dado a Martins (protagonista sobre quem pouco sabemos).
Suponho que deva ser uma tarefa ingrata encontrar uma voz narrativa para uma história que não deverá ser conhecida pela narrativa literária e sim cinematográfica. Mas por se tratar do noir (cuja presença da narrativa em off é frequente) é possível ver no filme o narrador de Greene.
Quanto ao livro, algo que gosto em narrativas em primeira pessoa que relembram um fato já ocorrido é especular sobre o motivo que levou o narrador a decidir contar a sua história agora. No caso de “O Terceiro Homem”, o narrador testemunha intensifica o suspense já que não temos nenhuma segurança quanto ao destino do protagonista por sua história ser contada por um policial envolvido na investigação da morte de Harry, tempos depois que tudo teve fim.
Ao não se ater a muitos detalhes, a narrativa torna-se fluída e permite que o livro seja lido em poucas horas.
“O Terceiro Homem” tem seus méritos, mas está longe de ser imperdível. Se tiver que optar, assista o filme.
Autor: Graham Greene
N° de páginas: 127
Editora: L&PM
18 comentários:
Oi, Mari!
Não sabia nem do livro e nem do filme, mas vou seguir seu conselho e optar pelo filme.
Beijos
Balaio de Babados
Não conhecia o livro porém achei a historia interessante, inclusive por eu adorar suspense e mistérios, porém desanimei um pouco quando vi na resenha é mais pra um roteiro de filme do que um livro de fato.
Olá, Mari.
Conheço o filme, apesar de nunca tê-lo assistido. O livro não era do meu conhecimento.
Apesar de não ter um completo aprofundamento, já que o objetivo claramente era o cinema, fiquei com vontade de conferir a obra. Parece interessante; a premissa me atrai demais.
Ótima dica.
Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de julho. Serão quatro livros e dois vencedores!
Oi, Mari!
Não conhecia o livro ainda, mas ao ver a capa dele achei super com cara de capa de filme, hahaha.
Aí ao ler sua resenha de de cara com você falando que era um filme e que ele foi escrito para o cinema.
:D
Achei super bacana o fato de que ele não escreveu para ser lido e sim visto.
Histórias de espionagem sempre me encantam. Vou dar uma procurada, se não achar o livro, pelo menos vejo o filme.
Beijoooos
www.casosacasoselivros.com
Não li nada do autor e confesso não ter visto o filme, Mari. Mas me deixasse bastante curiosa, principalmente sobre o filme. Vou procurar para ver. Ótima resenha.
Beijos!
Oi Mari, eu quero ver o filme antes de ler o livro, acho que escrever algo que deveria ir para o cinema é bem original e diferente, deve mesmo valer a pena conferir.
Bjs, Mi
O que tem na nossa estante
Vou seguir seu conselho e optar pelo filme, se eu curtir leio o livro.
Adorei seu post, beijos!
www.lendo1bomlivro.com.br
Instagram :) @lendo1bomlivro
Não conheço esse filme. Conheço? Estou pelejando pra lembrar, porque me soou familiar, mas não tenho certeza se já vi alguma coisa dele. Achei interessante a ideia de um livro pra ser visto e não lido. Se tentar fazer isso deve ser uma leitura muito boa. E depois ver em filme fica uma experiência bem legal.
Nunca tinha ouvido falar nem do livro e nem do filme, mas parecem interessantes...
Abraços Cá.
Gostei da resenha Mari. Esse é um dos raros casos em que o filme supera o livro e achei o mote da história bem atrativo. Beijo!
www.newsnessa.com
Olá, Mari.
Nunca li nada do autor, nem conhecia ele para falar a verdade. Gosto do estilo do livro, mas vou seguir seu conselho e ver o filme primeiro. Se gostar muito, dai vou procurar o livro.
Blog Prefácio
Oie Mari =)
Já ouvi falar do filme, mas não conhecia o livro. Como o estilo do livro não é um gênero que costumo ler, vou procurar o filme para assistir em ver se gosto da história.
Se o que ver me deixar surpresa ou curiosa ai vou atrás do livro rs...
Faço isso sempre quando fico na dúvida.
Beijos;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary
Já tinha visto sobre o filme, e me interessei pelo livro, mas é decepcionante essa falta de aprofundamento, me incomoda muito, amo livros de suspenses, filmes nem tanto, mas no caso o melhor seria conhecer essa história pela adaptação, obrigada pela indicação, prefiro ver o filme e conhecer melhor sobre os acontecimentos do que no livro, que não parece agradar muito
Oi Mari. Meu tio já tinha assistido esse filme e me recomendou, mas eu nunca parei para assistir. Não sabia que tinha livro também. Sua resenha me animou, vou conferir a trama ainda nessas férias, adoro filmes de investigação, suspense...São os melhores.
Beijos
Oi, Mari!!
Eu conheço o filme, mas confesso aqui que não sabia que tinha o livro.
Interessante esse processo de criação de que para escrever o roteiro, seria necessário escrever o livro antes.
Muito interessante de fato.
Se eu achar um exemplar desses nos sebos, darei uma olhada também! ;)
Bjs
http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br
Oi :)
A estória do livro não me chamou a atenção, não gosto muito de suspense. Todavia já tinha ouvido falar bem do filme, talvez de uma chance a ele.
Beijos.
Já tinha ouvido falar do livro de novo, mas não sabia bem do que se tratava.
Achei bem interessante, e por se situar no tempo da segunda guerra, já me conquistou.
Anotado aqui,
abraços.
estimulante-masculino-efeito
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