segunda-feira, 28 de novembro de 2016

RESENHA: A verdade e outras mentiras

“Não existia silêncio como aquele que surgia com a ausência de alguém. Sem nada que fosse familiar ou acolhedor, o silêncio do abandono era hostil e acusador. Sem fazer nenhum barulho, as sombras da lembrança surgiam e começavam seu jogo de imagens. Ilusões e realidade se mesclavam, vozes nos chamavam, e o passado regressava.” (ARANGO, 2016, p. 70)

Henry Hayden é uma farsa. Escritor best-seller dos livros que, na verdade, são escritos por sua esposa. Marido devoto, mas que há anos mantém um caso com Betty, sua editora, a quem no fundo despreza apesar de parecer ser apaixonado. Hayden só consegue levar essa vida porque é muito bom em mentir (tanto que seu passado permanece um mistério mesmo para aqueles que leem a sua biografia), mas agora que sua amante está grávida, todas as mentiras cuidadosamente orquestradas entram em choque e, em um impulso, ele coloca tudo em risco. Logo a polícia estará atrás dele e o passado também.

A narrativa de Arango é crua e direta, dando a impressão que não tem tempo a perder e quer contar logo a história, sem se apegar emocionalmente aos fatos que relata. Devido a isso, a leitura flui rápido e é o que de fato salva o livro de se tornar enfadonho.

A história tem inúmeras pontas que o autor manipula concomitantemente. Além dos conflitos que surgem a partir do triângulo formado por Hayden, sua esposa e sua amante, temos ainda um amigo leal ao protagonista, um editor que está à espera do novo livro de seu autor best-seller ao mesmo tempo em que lida com uma doença terminal, uma secretária apaixonada que vê em Betty uma inimiga e um homem que guarda mágoas do passado e quer destruir Hayden. Tudo isso é, potencialmente, interessante pois podemos perceber que, de um jeito de outro, as coisas vão dar errado para o protagonista. Em algum momento, tudo vai estourar e ele vai ter que arcar com as consequências de seus atos. A expectativa teria tudo para funcionar, afinal, não sabemos onde está a bomba que irá explodir. Não sabemos o quanto consertar um problema aqui não fará com que outro estoure ali. O problema é que Hayden não é um personagem cativante e não consegue desenvolver nenhum tipo de conexão com o leitor, seja de amor, seja de ódio. Deveríamos desprezar o seu comportamento, mas ele simplesmente não é digno de um sentimento intenso como desprezo. Também não conseguimos sentir por ele a empatia que outros vilões (como Hannibal Lecter e Tom Ripley) conseguem despertar. Assim, por mais que muitos acontecimentos estejam em andamento, a trama não envolve o leitor.

Nas primeiras páginas eu elaborei diversas teorias. Tive a sensação de que o autor tentava me manipular, que as coisas não eram exatamente como ele estava me contando, que Hayden era um personagem misterioso, que Martha (sua esposa) também era misteriosa, que o relacionamento deles guardava muito mais segredos do que se podia supor. Mas nenhuma das minhas teorias estava correta e “A verdade e outras mentiras” logo se tornou um livro que eu lia apenas para chegar ao fim e não para saber o que iria acontecer com aqueles personagens ou como aquela confusão toda iria acabar.

É uma pena porque poderia ter dado muito certo. Sem dúvida, a história tem elementos que poderiam ter dado forma a um livro tenso e hipnotizante, mas ao invés disso foi apenas morno.

Título: A verdade e outras mentiras (exemplar cedido pela editora)
Autor: Sasha Arango
N° de páginas: 223
Editora: Suma de Letras

15 comentários:

Erika Rodrigues disse...

Oi Mari!
Comecei a sua resenha cheia de expectativas por que simplesmente amei a citação com que você abriu o texto. Mas depois de continuar lendo pude perceber a sua frustração com uma leitura que não causou nenhuma identificação. Pela premissa a gente tem essa sensação de que será uma história intrigante... é uma pena que o autor não tenha trabalhado todo o potencial que a história poderia oferecer.
Beijos
http://numrelicario.blogspot.com.br/

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
É tão ruim quando não nos identificamos com um personagem. Nem que seja um pouco de empatia. É uma pena porque, pelo que você comentou, esse livro tinha tudo pra ser bom.
Beijos
Balaio de Babados
Participe da promoção seis anos de Caverna Literária

Nessa disse...

Oi Mari
Que pena que a leitura não foi bem o que esperava. Gostei da temática do livro, fiquei até curiosa para ler, mas suas ressalvas me deixaram na dúvida. Mas quem sabe eu leia.

Beijinhos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Camila Carvalho disse...

Oi, Mari.
É péssimo quando a leitura não nos conquista. Tive uma leitura assim recentemente e super te entendo.
Beijo

Te Conto Poesia ♥

Gabriela CZ disse...

Tinha algumas expectativas por esse livro, Mari. Tinha. O título chama atenção e a premissa é interessante, mas pelos seus comentários é só isso mesmo. Um protagonista que não estimula sentimento algum no leitor não cola. Enfim, ótima resenha.

Beijos!
Portal Andar de Cima

Cristiane Dornelas disse...

É, a premissa dele até que me chama atenção. Mas não tive muita vontade de ler quando vi. O livro parece que pode ser bom, só que não chega a ser ótimo. Uma pena, porque dá a impressão de que é bem interessante se a gente fica até criando teorias. Mas aí só tendo coragem mesmo pra ler e ver como é. Coisa que não tenho =/

RUDYNALVA disse...

Mari!
Que triste ver até um bom enredo escorrer pelo ralo.
Já não gostei do protagonista, porque detesto mentiras e quando tem um triângulo amoroso, ainda mais, não gosto mesmo.
Curiosidade ficou por saber que bom irá estourar e quando?
“Para saber uma verdade qualquer a meu respeito, é preciso que eu passe pelo outro.” (Jean-Paul Sartre)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

Ana I. J. Mercury disse...

Acho que eu não leria não.
O protagonista parece ser muito chato e cheiooooo de defeitos sem ao menos tentar se redimir, o que me tira a paciência, rs
Ainda mais cheio de mentiras. Quero não, rs
bjs e boas leituras!!

Anônimo disse...

Oi, Mari! Que pena que um livro com uma sinopse com tanto potencial pode ter acabado sendo apenas "morno". Beijinhos, Beatriz.

www.odiariodeumaescritorainiciante.blogspot.com.br

Bárbara disse...

Oi Mari,

Que pena que no fim o livro não deu certo pra vc, é tão ruim sentir isso, quando queremos concluir a leitura só pra chegar ao fim e não pra saber o que acontecerá!

E, pelo que li em sua resenha, a trama até que é envolvente né, querendo ou não, todos os personagens estão envolvidos nessa mentirada toda e tinha tudo pra dar certo!

Uma pena o autor não ter conseguido isso!

Um beijo, Bá.
http://cafecomlivrosblog.blogspot.com.br

Luiza disse...

Oi Mari, conheci esse livro agora e uma pena o livro se "morno" nem sempre o autor sabe aproveitar os elementos da história.
Bjs
https://eternamente-princesa.blogspot.com.br

Luciana Campos disse...

Nossa, Mari, pela sinopse eu achava que o livro seria tudo menos morno! A sinopse nos entrega uma trama cheia de reviravoltas, e essa quantidade de pessoas contra o Henry me fizeram confirmar isso. Uma pena que no fim das contas não foi tão bom assim.

Sil disse...

Olá, Mari.
Que pena que o livro não te agradou. Quando vi a premissa, achei bem interessante e já fiquei aqui pensando o que tinha acontecido no passado e porque até a policia estaria atras dele. Mas depois de ver sua opinião acho que é um livro que não lerei. É tão ruim quando isso acontece, a ideia é boa, mas o autor não sabe desenvolver.

Blog Prefácio

Na Nossa Estante disse...

Oi Mari,

Poxa que pena que não funcionou a trama porque a premissa parece ser tão boa. E a capa tb é muito bia. Mas, infelizmente, acontece....

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Carolina Garcia disse...

Oi, Mari!
Tudo bem?

Uma pena que o livro não foi o que poderia ter sido. Infelizmente isso acontece várias vezes.

A história em si não me chamou muito a atenção. Mas talvez dê uma checada no futuro.

Bjs!!

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

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