domingo, 13 de agosto de 2017

RESENHA: O Apanhador no Campo de Centeio

“— Claro! Gosto que a pessoa seja objetiva e tudo, mas não gosto que seja objetiva demais. Não sei. Acho que não gosto quando a pessoa é objetiva o tempo todo.” (SALINGER, 2016, p. 218).

***

O Apanhador no Campo de Centeio é um dos maiores clássicos da literatura norte-americana, aclamado tanto pelo público, quanto pela crítica. Por isso, há anos tinha o desejo de conferir a obra prima de J.D. Salinger. 

Holden Caufield, um adolescente de dezesseis anos, foi expulso de sua escola e, descontente com a situação, resolve retornar para Nova York antes do início do recesso de fim de ano. Assim, acompanhamos suas aventuras na Big Apple às vésperas do Natal, seu descontentamento com a sociedade, seus desgostos, medos e planos para o futuro. 

O Apanhador no Campo de Centeio é narrado por Holden em primeira pessoa e Salinger utiliza da técnica do fluxo da consciência. Ou seja, o protagonista fala tudo sem filtro, conforme as ideias lhe surgem à mente, às vezes interrompendo a si mesmo e fazendo saltos temporais sem seguir uma linha lógica. 

O início do livro estava me agradando, pois estava bastante intrigado com Holden e sua personalidade. Porém, com o avançar da leitura, comecei a sentir o vazio da trama. A estória basicamente acompanha o protagonista indo do ponto A para o ponto B, de lá para o ponto C e assim sucessivamente. O problema é que nenhum destes eventos são relevantes ou significativos, mas isto não impedia Holden de descrevê-los em detalhes. 

Entretanto, é preciso dizer que Holden é um personagem interessante. Logo percebemos que sua constante insatisfação — com a sociedade, a família e a escola — e suas críticas exacerbadas, apontam para um adolescente que está completamente perdido em uma crise de identidade, que vai para um lado e para outro, sem saber o que quer da vida, por que, na verdade, não sabe quem é. 

Mas o problema é que Holden, em vez de olhar para sua vida como uma tela em branco — se me é permitido o clichê — e colocar energia na tarefa de descobrir o que quer ser, ele parece se limitar a ver o lado ruim. Dessa forma, o protagonista é a encarnação do típico adolescente rebelde sem causa, com um senso de superioridade intragável, que parece gostar de ser incompreendido e que prefere criticar a ter uma atitude positiva. 

Entretanto, ao mesmo tempo que o protagonista conta com essa bagagem dramática e promova certas reflexões, a estória em si se limita a uma sucessão das reclamações de um adolescente, possivelmente mimado, de dezesseis anos. Então, por mais interessante que seja o aspecto psicológico, este não consegue compensar a falta de carisma de Holden, muito menos preparar o leitor para mais de duzentas páginas de reclamações. 

A meu ver, um dos trechos mais interessantes do livro é quando Holden vai conversar com um ex-professor no meio da madrugada. Antolini é um dos poucos adultos a aparecer na estória e logo vemos que ele consegue enxergar Holden, muito melhor do que o próprio adolescente enxerga a si mesmo e se preocupa por ver a jornada sem destino do ex-aluno. É justamente do diálogo entre os dois que retirei o quote que abre esta resenha, pois é uma descrição perfeita da forma como Holden conta sua estória (e talvez até mesmo da forma como vê o mundo): sem objetividade, sem foco e com inúmeras divagações.   

Talvez uma das maravilhas do livro seja sua ambiguidade. Emergimos na cabeça de Holden, mas a verdade é que como nem ele mesmo sabe quem é, nós como leitores também temos a sensação de não conhecê-lo direito. Ele pode ser um adolescente problemático, talvez com problemas mentais. Ou ele pode ser um adolescente são que crítica os valores de uma sociedade problemática, na qual não consegue se encaixar. Caberá ao leitor interpretar e as possibilidades são inúmeras. 

De qualquer forma, preciso admitir que O Apanhador no Campo de Centeio foi uma leitura bastante decepcionante e o que me incomodou foi justamente a falta de estória. A meu ver não se poderia dizer nem mesmo que a jornada de Holden é o cerne da estória, pois ele não parece passar por grandes evoluções. Um livro interessante, mas certamente superestimado. 

Título: O Apanhador no Campo de Centeio. 
Autor: J. D. Salinger
N.º de páginas: 250
Editora: Editora do Autor

Compre: Amazon
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20 comentários:

Nicole Longhi disse...

Oi Alê,
Li este livros há alguns anos atrás e eu acabei gostando bastante da história.
Eu realmente tive problemas para conseguir criar uma empatia por Holden, mas o fato da trama ser bastante ambígua acabou criando uma curiosidade maior pelo livro.
Mas que pena que você acabou achando decepcionante, porém acontece haha

beijinhos
She is a Bookaholic

Giulianna Santicioli disse...

Morria de vontade de ler esse livro, mas depois da resenha essa vontade caiu consideravelmente, odeio pessoas que são reclamonas, que são revoltadas com tudo mas que não fazem nada para mudar isso, dá vontade de dar uns tapas na cara e falar para a pessoa acordar para vida, ainda quero ler o livro, mas com certeza não vou ler com toda a expectativa que eu estava.
Beijos!

Unknown disse...

E ai Alê! Tudo bem?

Nunca havia visto antes este clássico estrangeiro e muito menos o autor, me empolguei com a premisse, mas a capa me desanima bastante pela similaridade com títulos corporativos que tenho que ler as vezes.

A resenha está muito boa, mas é uma pena que haja irrelevância nos acontecimentos.


Grande abraço,
www.cafeidilico.com

Gabriela CZ disse...

Sempre vejo falar tão bem desse livro que confesso ter ficado um pouco assustada com teus comentários, Alê. Tinha bastante curiosidade em ler, mas com toda essa falta de objetividade da trama que você mencionou já não tenho certeza. Apesar de que parece ter reflexões que valem a pena, e agora pelo menos sei o que realmente esperar. Quem sabe? Ótima resenha.

Beijos!

Rissia Ribeiro disse...

Hummm eu confesso que já não sou muito fã de clássicos, eles me dão dono na maioria das vezes, e até fiquei animada antes de saber que na verdade o livro é sobre um menino que fica entre o ponto A e B que está me crise. Sinceramente eu confesso que tenho coisas mais interessantes pra ler então eu dispensa a leitura.

Anônimo disse...

Oi, Alê!

Falam tanto deste livro que há anos tenho vontade de lê-lo, mas depois de saber sua opinião, acho que vou continuar adiando a leitura, rs.
Parece ser uma boa história, mas com muitas ressaltas, e que claramente poderia ter sido melhor... Uma pena, já que é um livro tão famoso.
Adorei a resenha.

Beijocas.
http://artesaliteraria.blogspot.com.br

Na Nossa Estante disse...

Oi Alê, tudo bem? Olha eu tinha uma enorme curiosidade sobre esse livro, mas agora não tenho mais hehehehe acho que tenho coisas mais interessantes pra conferir rs

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Sora Seishin disse...

Oi Alê!
Tenho curiosidade em ler esse livro por ele ser muito famoso. Mas confesso que saber que não ter muito bem uma história me deixa com um pé atrás.

Beijos,
Sora | Meu Jardim de Livros

Unknown disse...

Oi Alê!

É um livro muito comentado, porém nunca tive muita vontade de lê-lo. Gostei da resenha!

Beijos

Vivian
Saleta de Leitura

Unknown disse...

Confesso que eu conhecia o nome do livro, porém nunca tinha parado para ler alguma resenha referente a obra.
É um livro que eu tenho vontade de ler, porém não seria por agora.

Márcia Saltão disse...

Oi.
Já havia lido alguns comentários a respeito desse livro, mas resenha é a primeira. Para ser sincera, eu nem sabia muito sobre o que se tratava. Uma pena não ter sido uma leitura completamente satisfatória, para você. Mas infelizmente acontece.
Provavelmente não irei ler, mas quem sabe um dia.
Ótima resenha.
Beijos.

Marta Izabel disse...

Oi, Alê!!
Mesmo que o livros O Apanhador no Campo de Centeio seja uma clássico norte-americano essa é a primeira vez que escuto algo sobre esse livro, mais pelo que li na sua resenha não é um livro que me atrai.
Bjoss

Amanda Barreiro disse...

Olá! Eu li esse livro já faz algum tempo e preciso humildemente discordar de você sobre ele ser superestimado. Acho que o que acontece com ele é o que acontece com a maioria dos clássicos: não se trata de ação, de acontecimentos, e sim de reflexões. O ritmo é devagar, quase parando, mesmo. Mas tudo diz respeito a essa crise de identidade, de não saber o que quer, o que fazer, quem é e toda essa confusão do Holden. Eu gostei muito da leitura.
Beijos.

RUDYNALVA disse...

Alê!
Apesar de ser um clássico da literatura como falou, ainda não li, mas já tinha lido algumas resenhas com conclusões iguais as suas e aí que desanimei ainda mais em ler.
Na verdade achei que o livro seria algo mais filosófico, onde poderíamos apreciar os questonamentos, mesmo que de um adolescente, sobre a sociedade e a própria vida, porém parece que é algo totalmente aleatório e torna o protagonista algo indecifrável.
Boa semana!
"...Aceite com sabedoria o fato de que o caminho está cheio de contradições. Há momentos de alegria e desespero, confiança e falta de fé, mas vale a pena seguir adiante..."(Paulo Coelho)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

Anônimo disse...

Gosto muito do livro porque me identifico com o Holden. Lembro que passei uma semana,mais ou menos, chamando todo mundo de cretino, mentalmente, como ele.

Unknown disse...

nossa, confesso que estou mega surpresa em ver que voce nao gostou do livro, tendo em vista o tanto que todo mundo adora!
estou com ele aqui na minha estante, mas nao sei, tá faltando alguma coisa pra me dar aquele impulso pra pegá-lo!
estou curiosa em relaçao a historia, mas confesso que sua resenha só fez que com ele provavelmente sente mais um tempo na estante haha

Unknown disse...

O livro tem essa ideia mesmo, mas é narrado sobre a visão de um adolescente que ainda não sabe nada sobre a vida, por isso as divagações e a falta de crescimento ou até mesmo de acontecimentos relevantes, o que tornou em um clássico é justamente isso, não ser um livro com tudo muito bem definido, é confuso, nublado e inconstante igual o personagem, achei uma leitura muito bacana, uma pena você não ter gostado tanto.

Ana I. J. Mercury disse...

Ai, Alê, desculpa, mas esse não leio não. kkkk
O protagonista parece ser muito vida louca kkkk
Não faz bem o meu estilo.
bjs

Isabela Carvalho disse...

Olá Alê ;)
O Apanhador no Campo de Centeio é um dos clássicos que ainda quero ler e está na minha meta, então adorei sua resenha e seus comentários.
Uma das coisas que acho que vai me incomodar na narrativa é essa narração dos mínimos detalhes... acho que isso faz a leitura fluir bem devagar né :/
Acredito que seja superestimado mesmo, mas ainda vou conseguir ele, já jurei para mim kkkk
abç

skox disse...

Gostaria de deixar aki uma indicação singular para quem deseja saber + sobre a vida de J. D. Salinger:

Foi lançado em julho de 2018, um filme do diretor Danny Strong (seu 1º filme nesta função) e denominado como “O Rebelde no campo de centeio – A vida de J. D. Salinger”. Mostra tudo sobre como foi sua vida [final da adolescência] antes de começar seu misterioso período de reclusão até o falecimento em 27 de janeiro de 2010.

Elenco: Nicholas Hoult, Zoey Deusch, Kevin Spacey, Hope Davis, etc.

Recomendo e disponham !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Tchau …

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