sábado, 9 de dezembro de 2017

RESENHA: Polícia

Quando o assunto é Jo Nesbø eu não penso duas vezes: qualquer livro do autor é bem vindo. Ainda mais se tratando de uma historia de Harry Hole: meu detetive favorito da literatura policial contemporânea.

Alguém está matando policiais, atraindo-os para cenas de crimes que eles mesmos investigaram, mas que ficaram sem solução. Agora, a polícia de Oslo tenta encontrar o assassino antes que ele faça novas vítimas entre seus colegas. Eles gostariam de poder contar com a ajuda de Harry Hole. Mas não podem.

Hello Harry Hole! Enfim nos encontramos novamente. E é sempre um prazer revê-lo Mas....cadê você? Algo inusitado nesse livro é que Hole demora 175 páginas até aparecer. Isso, claro, é extremamente angustiante levando em consideração que o livro anterior ("O Fantasma") terminou em um cliffhanger, deixando o detetive mais perto da morte do que da vida. É claro que sabemos que, dificilmente, Hole nos deixaria - afinal é em torno dele que a série gira -, mas algo que os leitores de Nesbø sabem é que o autor não teve medo de matar personagens importantes ao longo da jornada (algo que, inclusive, volta a fazer nesse livro), então como ter certeza de que se está pisando em território seguro? Mas o que mais impressiona é como o autor consegue levar esses 15 primeiros capítulos, deixando o leitor cada vez mais interessado e avançando com segurança e ritmo pela trama. Mesmo sem a presença de seu protagonista, isso é uma coisa que apenas autores que sabem mesmo o que fazem são capazes de conseguir.

Eu sempre digo que as histórias da série são para mais para contar a vida do próprio Harry do que para desvendar o caso, por isso também me surpreendeu que o detetive mantenha-se fora de tantas páginas.

Sou uma leitora que perde a conexão com a história quando demoro muito a ler um livro. Essa foi outra coisa que me surpreendeu em "Polícia" já que levei três vezes o tempo que deveria para um livro desse tamanho, mas me mantive interessada até o último momento, mesmo que em alguns dias eu lesse apenas 5 páginas, o que dificultava avançar na trama.

Quanto à investigação, Nesbø acerta mais uma vez, construindo a trama de forma que coisas aparentemente sem conexão acabam se cruzando e espalhando suspeitas. Havia um momento em que eu suspeitava de três personagens ao mesmo tempo, apenas para descobrir mais tarde que isso se devia apenas a habilidade do autor (e que eu estava errada em todas elas).

Se ela pudesse passar cinco segundos em sua mente, se visse quem ele era de verdade, será que ela teria saído correndo dali horrorizada? Ou seria que todos somos igualmente doentes dentro de nossas cabeças? Será que a diferença reside apenas em quem solta o monstro que existe dentro de si e quem não faz isso? (NESBO, 2017, p.226)

Para aqueles que leem fora de ordem (coisa que eu mesma fiz com vários livros da série), essa é a primeira vez que vejo um empecilho, já que "Polícia" traz um spoiler de "O Fantasma".

A bagagem de "O Fantasma" também aparece em personagens secundários como Michael Bellman e Trulls Berntsen que continuam a desempenhar os papéis do livro anterior, desenvolvendo mais a sua complexa relação de obsessão, rancor, cumplicidade, autoridade e submissão. Aliás, isso também é outra coisa que gosto muito nos livros de Nesbø: os personagens não surgem e saem dos livros apenas porque o caso acabou. Eles chegam para ficar, para desempenhar um papel.

Assim como "O Fantasma", a trama de "Polícia" termina em um cliffhanger que, mesmo sem envolver o detetive, deixa o leitor curioso para o próximo livro. Uma sacada inteligente de Nesbø que mostra que esteve alinhavando a trama do próximo livro enquanto contava a deste. Com que frequência vemos isso em uma série policial?

Para os que acompanham o personagem há vários livros, um momento sensacional (e que eu nunca imaginei que veria) os aguarda nos últimos capítulos. O que o torna sensacional não é apenas o que acontece, mas a maneira como acontece. Pontos para Nesbø mais uma vez.

Já vi Jo Nesbø declarar em uma entrevista que o futuro de Harry Hole não seria muito longo. Depois de "Polícia" o autor já publicou mais um livro (The Thirst - ainda sem previsão no Brasil). Quando conclui a leitura de "Polícia", percebi que o fim, provavelmente, está se aproximando. Até porque, Harry é uma espécie de Jack Bauer norueguês: há coisas que ninguém vai fazer melhor do que ele, mas ele já está cansado de ser quem é, de ter que fazer o que faz. Ele já perdeu coisas demais, correu riscos demais por estar sempre disposto a fazer o precisava ser feito. Agora ele quer paz, mas algo sempre o puxa de volta. E é esse "trazer o detetive à ação quando tudo que ele quer é se afastar" que tem se tornado cada vez mais complicado desde o final do excelente "Boneco de Neve". Sejam quantos livros ainda nos restem na companhia desse personagem complexo e apaixonante, que venham mantendo a qualidade que os 10 livros da série apresentaram até o momento.

Título: Polícia
Autor: Jo Nesbø
N° de páginas: 546
Editora: Record 
Exemplar cedido pela editora

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15 comentários:

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Dependendo da história, eu também perco a conexão. Eu acho que nessa série iria acontecer isso.
Beijos
Balaio de Babados
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Ludyanne Carvalho disse...

Não conheço a escrita do Jo Nesbø, não curto literatura polícia; mas quando leio resenhas desse gênero eu sempre me pego curiosa querendo saber a solução do caso.
Eu acho interessante esses livros que mantém o personagem mesmo que sejam histórias diferentes.
Gostei da resenha, e de saber um pouquinho desse livro.

Beijos

Unknown disse...

Adorei a resenha. Fiquei curiosa pela história
os relatos de uma jornalista

RUDYNALVA disse...

Mari!
Bom ver que conseguiu ler...
Nem aredito que ainda não li nenhum dos livros do autor e da série, tenho a maior curiosidade.
Pelo visto ele sabe escrever um bom livro policial que prende o leitor do início ao final, mesmo que sua forma de escrita seja até certo ponto um tanto previsível, mas acredito que com outros autores também são assim, pois ando relendo os livros da Agatha e depois que lê uns dois, já sabe toda dinâmica do que irá acontecer, o que não quer dizer que o livro não seja bom e não nos surpreenda, não é mesmo?
Estou com meu exemplar aqui e será uns dos primeiros de 2018 a ser lido.
Bom domingo!
“A melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.” (Desconhecido)
cheirinhos
Rudy
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Na Nossa Estante disse...

Oi Mari, tudo bem? É tão difícil um autor conseguir manter o bom nível em tantos livros de uma única série, fico feliz em saber que neste caso o autor consegue. Nunca li nada dele e confesso que o filme Boneco de Neve foi uma enorme decepção, mas quero ler os livros do Jo Nesbo e tirar essa sensação ruim que o longa deixou.

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Nessa disse...

Oi Mari
Li somente um livro do autor e morro de vontade de ler esta série, parece ser ótima.

Beijinhos
https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Felipe disse...

Oi Mari,
Todo mundo me fala desse autor, mas eu ainda não li nada dele, quem sabe esse não será o primeiro hein!
Blog Entrelinhas

Thuanne Hannah disse...

Ainda não li nada do autor, mas seus livros parecem ser muito bons. Comprei Boneco de Neve algum tempo atrás, pretendo ler em breve e se gostar, vou comprar este e os outros também. Mas pelo que li na sua resenha, provavelmente vou gostar.

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!
Ainda não tive o prazer de ler nenhum dos livros de Jo Nesbo. Estou bem vírus a com relação ao livro dele Boneco de Neve, pois fim várias resenhas bem legais sobre essa estória. E espero ansiosa ler algo do autor.
Bjos

Unknown disse...

Adoro livros neste estilo, é um dos meus gêneros favoritos, estou com alguns livros deste autor para eu ler, mais eu queria ler em ordem, mesmo se tratando de livros independentes.

ME Assessoria disse...

Ainda não conhecia esse livro, amei sua resenha, fiquei bem interessada :D

http://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/

Lana Silva disse...

Primeiramente comecei a interessar pela leitura desta série, depois que a obra Boneco de neve tomou essa proporção toda, após o anuncio da adaptação do filme, o que me cativou bastante a dar uma chance a obra, já que como você mesma citou, o autor consegue construí uma ótima investigação policial, com uma trama que prende realmente o leitor, e nos faz desconfiar de vários personagens, mas que nos surpreende no final. Estou louca para me aventurar nesta leitura.

Carolina Santos disse...

Fiquei muito afim de ler o livro do Gênesis um boneco na neve e vi que ele tem vários outros livros publicados e cada um me chamou mais atenção que o outro

Ana I. J. Mercury disse...

Tenho muita vontade de ler um livro do Jo Nesbo, mas confesso que esse eu achei meio chaatinho, enrolado.
Achei que vou começar com outro, daí acho que pegarei o jeito do autor kkkk
bjss

Gabriela CZ disse...

E me pergunto: Por que ainda não li essa série? A parte em que você fala que Harry Hole é como um Jack Bauer norueguês me convenceu de vez, Mari. E é melhor eu correr, já que já saíram dez livros. Ótima resenha.

Beijos!

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