quarta-feira, 17 de outubro de 2018

RESENHA: O sol da meia-noite

Jo Nesbø / O sol da meia-noiteQuando um dos meus autores de suspense favoritos lança um novo livro, eu corro conferir.

Jon cometeu um erro terrível. Tentou enganar seu chefe e fugir com uma considerável quantia de dinheiro. Mas ninguém engana o Pescador e agora o traficante está atrás do seu ex-cobrador que se escondeu em uma pequena comunidade longe de Oslo, onde o sol nunca se põe e ele atende pelo nome de Ulf.

Eu gostaria de fazer uma resenha totalmente imparcial de “O sol da meia-noite”, mas não vejo como, visto que a minha expectativa pela leitura foi totalmente influenciada pela minha experiência prévia com o autor.

A carreira de Nesbø como escritor começou e se firmou com a série Harry Hole: excelentes livros policiais protagonizados por um personagem cheio de problemas. Mas às vezes o autor se afasta do seu cativante inspetor e se arrisca em livros avulsos. Desses, tive oportunidade de ler “Sangue na Neve” e agora “O Sol da Meia-Noite”. Ambos apresentam histórias bem mais curtas do que as de Hole e são protagonizadas por personagens que deveriam matar alguém, decepcionaram seus chefes e agora lutam para continuarem vivos. O que me alertou para as coincidências foi que, mais uma vez, a narrativa em primeira pessoa do autor me incomodou. Por alguma razão, os livros avulsos de Nesbø são narrados por seus protagonistas, o problema é que eles não são homens carismáticos e mesmo estando em situações eletrizantes não conseguem contagiar o leitor (estranhamente, quando se trata dos livros da série Harry Hole, mesmo que a ação demore a acontecer, Nesbø envolve desde a primeira página). Pesquisando, vi em alguns lugares a informação de que os dois livros fazem parte de uma mesma série, mas não consegui entender a relação entre as tramas.

“Acreditava em sonhos tanto quanto em deuses. Estava mais inclinado a acreditar no amor de um viciado pelas drogas do que no amor de uma pessoa por outra. Mas acreditava na morte, isso sim. Essa era uma promessa que eu sabia que seria cumprida. Em uma bala de nove milímetros a mil quilômetros por hora – nisso eu acreditava. E que a vida era o tempo entre essa bala sair da pistola e partir um cérebro ao meio.” (NESBØ, 2018, p. 171)

“O sol da meia-noite” parece um rascunho de história e Jon/Ulf um personagem sem contexto. Mal entendemos de onde ele vem, apenas o vemos cair naquela comunidade que tem uma estranha relação com a religião e onde os relacionamentos que o protagonista desenvolve são clichês e previsíveis. Se vendassem a capa, eu jamais diria que se trata de um livro de Nesbø.

O pior é que havia muito para ser aproveitado, mas o autor não desenvolveu o potencial da trama. O passado de Jon/Ulf (sua relação com a filha doente, seu início no mundo do tráfico), o passado dramático de Lea, a mulher por quem ele se apaixona (obrigada a casar com o homem que lhe estuprou aos 18 anos porque havia engravidado) e também o personagem Mattis, cujas intenções não conseguimos compreender até o final. Para mim, fica claro que a intenção de Nesbø era nos apresentar esses detalhes nas entrelinhas (algo que normalmente aprecio), mas dessa vez deixou o livro sem tempero.

Apesar dos pesares, li o livro em três dias porque a leitura flui rapidamente, mesmo que não instigue o leitor como poderia.

Costumo dizer que Jo Nesbø não erra nunca, mas após a leitura de “O sol da meia-noite” faço o seguinte acréscimo na frase: “na série Harry Hole”, já que o autor certamente não é em seus livros avulsos o mesmo que é na sua excelente série policial.

Título: O sol da meia noite
Autor: Jo Nesbø
N° de páginas: 221
Editora: Record
Exemplar cedido pela editora

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12 comentários:

Gabriela CZ disse...

Que pena, Mari. É tão triste quando um autor querido escreve um livro que não empolga né? Mas acontece com todos os leitores. Ótima resenha.

Beijos!

Rubro Rosa disse...

Puxa...Nesbo é fantástico realmente, apesar de eu ter lido muito poucos livros ainda do autor.
Mas amo suas letras e a maneira como desenha seus enredos.
Deste livro é a primeira resenha que leio e mesmo com alguns pontos negativos, o enredo parecia tão bom. O que faltou foi o autor se aprofundar mais nos assuntos e com isso, a leitura acabou sendo tão superficial.
A capa é maravilhosa e mesmo assim, se puder e tiver oportunidade, quero poder conferir!!!!
Beijo

Jessica Rabelo disse...

Oiie.
Eu até fiquei interessada pela premissa, mas essa história de ser um rascunho bem mal acabado me deixa triste para conferir. Gosto de suspenses bem trabalhados se não fica sem nexo.
Beijos.

Blog: Fantástica Ficção

Ludyanne Carvalho disse...

Eis um autor que nunca li, e por não ser fã de suspense eu não tenho vontade de ler.
Uma pena que a leitura não tenha sido como esperado, acho que não dá para o autor viver escrevendo sobre Hole, é bom ter essa mudança; mas pelo visto ele falha na construção dos outros personagens.
Gostei dessa capa!

Beijos

DIVAGANDO PALAVRAS disse...

Oi Mari nunca li nada do autor acredita? Mas tenho vontade.
Bom saber, sendo assim não começo por esse rs.
Beijos

Divagando Palavras
www.divagandopalavras.com

Sil disse...

Olá, Mari.
Eu estou sempre ensaiando para ler algo do autor e nunca compro hehe. Não sabia que esse e Sangue na Neve eram independentes, acho que vou começar por um dos dois. E acho que vou gostar até mais que você porque não conheço a escrita dele hehe.

Prefácio

Luiza Helena Vieira disse...

Eita, Mari! Tão ruim quanto o autor decepciona.
Esse ano eu me decepcionei muito com uma que adoro...
Beijos
Balaio de Babados

Nana Barcellos disse...

Oi Mari,
Uma pena que o livro não superou suas expectativas.
Eu nem posso falar muito, pois só li Boneco de Neve e adorei.
Pretendo ler outros livros do autor, mas irei calma com esses 'solos'.

até mais,
Nana e Leticia - Canto Cultzíneo

RUDYNALVA disse...

Mari!
Meu pensamento é o seguinte: muitos autores que se consagram, ou com alguns livros e/ou séries, acabam querendo inovar e se arriscam a escrever de uma fórmula diferente e acabam 'prejudicando' os leitores, porque compramos os livros por sua fama e escrita, e, no final, poderia ser bem melhor do que o esperado... Uma pena!
Desejo uma semana feliz!
“Algumas quedas servem para que levantemos mais felizes.” (William Shakespeare)
cheirinhos
Rudy

Ana Paula Santos Moreira disse...

Pena que o autor se perdeu no meio do caminho, é decepcionante para quem conhece outras obras. Se caso eu for ler livros dele, vou começar pela série Harry Hole então.

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Não li nada de Nesbo e vejo maravilhas da série do detetive Harry Hole.
O Sol da Meia Noite não surpreende pelo menos a leitura flui, quando for ler não vou ter expectativas.
Beijos

Ana I. J. Mercury disse...

Oi, Mari,
teno vontade de ler um livro do autor, mas esse achei bem chato, não gostei.
Pela sua resenha deu pra ver que não tem muito desenvolvimento e os personagens parecem não cativar.
bjs

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