quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

RESENHA: A Fogueira das Vaidades

Tom Wolfe / A Fogueira das Vaidades
Há certo tempo fora de catálogo, há anos que “A Fogueira das Vaidades” desperta minha curiosidade. Com a nova publicação da Editora Rocco, não perdi tempo para conferir um dos livros mais famosos de Tom Wolfe.

Sherman McCoy é um figurão de Walt Street que trabalha na Bolsa de Valores. Seu dia a dia inclui muitas horas do escritório, números altos, uma filha que ele adora, uma esposa fútil e uma amante sexy. No fim de um desses dias, Sherman está na companhia de Maria, sua amante, dirigindo seu Mercedes quando erra o caminho e vai parar no Bronx. Assustados quando dois jovens negros se aproximam e acreditando que serão assaltados, eles aceleram o carro, atropelando um deles. Querendo ir à polícia, mas convencido por Maria (que dirigia) a ficar calado, Sherman fica atormentado pelo que pode ter acontecido ao rapaz. Não demora até que ele saiba pelos jornais: o jovem Henry Lamb está hospitalizado em coma, com poucas chances de sobrevivência.

Na longa jornada que “A Fogueira das Vaidades” é, o primeiro personagem a quem Wolfe nos apresenta é Sherman, seu protagonista complexo e ricamente construído. Arrogante e autoconfiante em excesso, Sherman vê a si mesmo como um “Senhor do Universo”, uma pessoa que tem o poder de reger e controlar os acontecimentos. Apesar de detestável em muitos sentidos, Sherman não é mau caráter, o que faz com que o leitor consiga sentir até certa simpatia por ele em alguns momentos. A partir do atropelamento, começamos a ver as fragilidades do personagem, sendo a culpa a primeira de uma extensa lista de coisas que irão consumir o Senhor do Universo”.

No caminho de Sherman teremos ainda o jornalista Peter Fallow (desesperado por uma boa história), o reverendo Brown (ambicioso por trás de suas boas intenções), Thomas Killian (seu advogado de defesa) e Lawrence Kramer (o promotor que sonha com uma condenação de grande porte). O interessante neste grupo de personagens é que todos, cada um a seu modo, são movidos pela ambição e a hipocrisia dá as caras muitas vezes ao longo da trama.

“Suponhamos que Henry Lamb fosse um rapaz branco que morasse na Park Avenue e estivesse prestes a ingressar em Yale e fosse atropelado na Park Avenue por um homem e uma mulher negros num... num... Pontiac Firebird e não num Mercedes... compreende... e esse rapaz dissesse à mãe o que Henry Lamb disse à dele. O senhor quer me dizer que não haveria um caso?” (WOLFE, 2018, p.174)

O problema em “A Fogueira das Vaidades” é que, querendo dar a todos os personagens o mesmo destaque, Wolfe dá muitas voltas. Em uma tentativa de permitir ao leitor conhecer todos eles a fundo, o autor se afasta vezes demais da história principal, mergulhando em histórias paralelas que têm como único objetivo contextualizar esses personagens. Concordo que o artifício é interessante e que quanto mais tridimensionais os personagens forem, melhor será a história. O problema é o excesso. Para exemplificar, o próprio atropelamento (estopim de toda a trama) leva 100 páginas para acontecer. Isso é muito tempo para contextualização e desmotiva qualquer leitor. Além disso, por vezes ficamos páginas e páginas sem encontrar nosso protagonista, sendo que é com ele que os conflitos mais interessantes estão acontecendo, enquanto que com os outros personagens, o que temos é uma espécie de preparação do território. Não foram uma ou duas vezes em que li um capítulo ou trecho inteiro, 10 ou 15 páginas, para finalizar e me perguntar de quê aquilo havia servido.

Publicado em 1987, “A Fogueira das Vaidades apresenta uma excelente história e a queda de Sherman vem acompanhada de uma série de questionamentos que levam o leitor a refletir. Fica claro que Wolfe quer usar cada personagem para representar algo, para alfinetar e incomodar (no melhor sentido), o problema é que ao fazer isso com tantos rodeios, faz o leitor perder o fôlego.

Título: A Fogueira das Vaidades
Autor: Tom Wolfe
N° de páginas: 588
Editora: Rocco
Exemplar cedido pela editora

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11 comentários:

Rubro Rosa disse...

Caramba!!!Há quanto tempo não lia título deste livro! E olha, não sei se ele é considerado um clássico, mas que povoou a mente de muitos leitores por um longo tempo, isso é fato!
Eu nunca cheguei a ler a obra original,mas via e ouvia muito a respeito dela,mas isso tem longos anos.
Por isso, tudo que li acima, é uma grande novidade.
Fiquei meio apreensiva com isso de dar voltas demais e por ser vários personagens.
Mas no mais, se puder, está aí um livro que ainda quero ler sim!!!
Beijo

Espiral de Livros disse...

Oi Mari, tudo bem? Que resenha instigante, mas o ponto negativo da construção da história serviu como um balde d'água frita na minha motivação em conferir essa história. Adorei a premissa, as intenções por trás da construção de cada personagem, uma pena esse excesso desmotivador... deixo a dica anotada, quem sabe me animo em outro momento.
Beijos, Adri
Espiral de Livros

RUDYNALVA disse...

Mari!
Até gosto quando tudo é bem explicado, principalmente as personagens, mas nada em excesso é bom, deve ter se tornado um livro fora de foco, ainda sim, dá curiosidade para fazer a leitura por causa das reflexões.
cheirinhos
Rudy

Gabriela CZ disse...

Já ouvi falar muito desse livro, Mari. O fato do autor fazer muitos rodeios me desmotiva, mas o enredo ainda me deixa curiosa. Ótima resenha.

Beijos!

Ycaro Santana disse...

A Fogueira das Vaidades honra seu título através de uma história completamente cheia de ambição. Sherman McCoy e Maria me chocaram no começo da história, principalmente pela real confusão que acontecem diariamente com os negros, mas também outro ponto que despertou meu interesse foi a vasta gama de personagens e seus respectivos interesses. Muito curioso!

Unknown disse...

Olá Mari, tudo bem?
Que livro incrível, fiquei muito curiosa para conhecer essa obra e poder entrar na vida do protagonista. Eu entendo seu lado ao dizer que muitas páginas poderiam ser economizadas, porque eu mesma me canso muito quando um assunto foge do seu foco. Mesmo assim quero conhecer a história.
Beijos

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Ainda não li o livro e agora com esse lançamento tenho certeza que ainda vou ler muitas resenhas a respeito.
Gostei da premissa do livro e adoro detalhes, mas quando tem excesso foge do foco da trama.
Mas mesmo com esses detalhes quero muito poder conhecer.
Beijos

Ana I. J. Mercury disse...

Não conhecia o livro, mas gostei demais da sua resenha.
Deu pra ver que é um livro que nos faz questionar o ser humano, suas atitudes, vaidades e prepotências.
Vou querer ler!
bjs

Carolina Santos disse...

O livro pelo visto é cheia de reflexões sobretudo mas realmente não é o tipo de leitura que eu estou habituado a realizar é algo totalmente fora da minha zona de conforto

Roberto Brito disse...

A história é incrível. Vale muito a pena conhecer. Não deixe que a opinião dos outros afete a sua motivação para ler esta obra. Tudo nela foi programado pelo autor pensando nas reações que ele quis provocar no leitor. Leia e sinta a história. Só você leitor é que pode entender como a obra vai mexer com você. A minha experiencia foi altamente positiva. Para mim ela será inesquecível.

FPV disse...

Li esse livro na época. O hype em torno dele era imenso e as críticas eram excelentes. A premissa do livro é essa descrita acima: bem instigante e captura o momento em que se vivia, com excelente descrição da sociedade norte-americana. Esta é a primeira vez que leio uma resenha que fala sobre esse excesso na contextualização dos personagens e lembrando agora sobre a leitura do livro eu realmente senti isso em alguns momentos. Eu queria saber como a história estava indo, mas estava preso numa narrativa paralela. Talvez eu fosse jovem demais na época e não tinha paciência, e talvez se eu relesse o livro hoje não sentiria isso...

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