segunda-feira, 25 de março de 2019

RESENHA: Nove Desconhecidos

Nove Desconhecidos / Liane Moriarty
Meu primeiro contato com a obra de Liane Moriarty foi através do ótimo “Pequenas Grandes Mentiras” (que depois ganhou ainda mais repercussão devido à série da HBO). Tempos depois, quando li “Até que a culpa nos separe”, me deparei com os mesmos elementos e a mesma fórmula narrativa (basicamente, um acontecimento trágico sobre o qual sabemos pouca coisa e uma narrativa segmentada em dois momentos: no presente, vemos as consequências da tal tragédia; e meses antes do dia fatídico, vemos o que nos levou a tal situação). Por isso, eu achei que sabia o que esperar de “Nove Desconhecidos”, mas eu estava enganada.

Há dez anos, Masha abandonou a vida coorporativa e abriu um spa de bem estar. A promessa da Tranquillum House são dez dias de desintoxicação daquilo que está contaminando a sua vida e os resultados costumam ser pessoas transformadas em melhores versões de si mesmas. É com esse objetivo que nove pessoas iniciam as suas estadias.

Um grupo de personagens que não se conhece confinado em um espaço, por um determinado período de tempo. A premissa não é exatamente inédita e já provou inúmeras vezes que pode render boas histórias (“O Caso dos Dez Negrinhos” que o diga). Com “Nove Desconhecidos” ela é promissora, mais uma vez.

Liane faz de seu elenco um mostruário diversificado de angústias e aflições: o casal que já não se reconhece mais, a profissional que já não tem o sucesso de antigamente, a mulher que foi deixada pelo marido e ficou obcecada com sua aparência e os pais que perderam o filho são alguns dos exemplos. Além disso, a autora explora também as válvulas de escape que todos nós usamos no dia a dia (as comidas reconfortantes, o álcool, as redes sociais) o que faz com que qualquer leitor possa se identificar com um aspecto da experiência do grupo: a privação dos nossos pequenos vícios diários. O que Liane parece querer mostrar é que, muitas vezes, entramos em uma espiral e não percebemos o quanto de nossas vidas está sendo consumido por fatores externos que em nada contribuem para a vida que queremos ter e as pessoas que queremos ser.

“Jéssica não conseguia se livrar da sensação de que, caso não registrasse aquele momento com o celular, significaria que aquilo não teria acontecido de verdade; não contava, não era a vida real.” (MORIARTY, 2019, p. 142)

A narrativa, sempre em terceira pessoa, nos dá a cada capítulo a visão de um personagem, sem por isso deixar de lado os demais. Em “Nove Desconhecidos” não há coadjuvantes. Todos desempenham papel de protagonista em um momento ou em outro. Cada um deles traz uma história e aos poucos vamos nos conectando a cada uma. De um jeito ou de outro, todas elas funcionam pois todas são verossímeis.

Comentei no início dessa resenha que minha experiência prévia com os livros de Liane Moriarty me fez acreditar que eu sabia o que iria encontrar em “Nove Desconhecidos”. O problema é que isso me levou a esperar, durante toda a leitura, por algo que não estaria ali. Mais frustrante ainda: me deixou com a impressão de que outra pessoa havia escrito o livro e colocado o nome da autora na capa porque eu, simplesmente, não consegui reconhecer a identidade de Liane Moriarty. É claro que autores têm o direito (e devem!) se reinventar, afinal, nada é mais desestimulante do que fórmulas reaproveitadas, mas quando um autor é conhecido por escrever thrillers envolvendo núcleos familiares e de repente você se depara com o drama de um grande elenco há de ser compreensível certa estranheza e desapontamento.

Apesar de ter me decepcionado, “Nove Desconhecidos” não é um livro ruim. Demora um pouco até que nos acostumemos com cada personagem, até que eles passem a funcionar com um todo e não como partes isoladas, mas a narrativa da autora é fluida ao nos conduzir pela jornada. O problema é você entrar no carro esperando ir para a praia e acabar nas montanhas.

Nove Desconhecidos” foi o livro de fevereiro do Intrínsecos, clube de livros da Editora Intrínseca

Título: Nove Desconhecidos
Autora: Liane Moriarty
N° de páginas: 464
Editora: Intrínseca
Exemplar cedido pela editora

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9 comentários:

Rubro Rosa disse...

Confesso que não havia lido nadinha a respeito deste livro ainda, apenas tinha visto a capa pelo mundo literário.
E só tenho contato com as letras da autora por Pequenas Grandes Mentiras, que se tornou não somente um dos melhores livros, mas também, uma das melhores séries que já assisti!
Mas é ruim isso de se criar uma certa expectativa nas obras de determinados autores e autoras. Pois acaba se esperando demais e? Talvez haja esta mudança de comportamento(no caso do livro acima, pelo jeito, mudou total)
O enredo tem tudo para ter dado certo, as diferenças expostas, os confrontos de personalidades e problemas, mas...parece que autora deixou de fazer algo que sempre fez.
Mesmo assim, quero ter a oportunidade sim, de conferir!
Beijo

Espiral de Livros disse...

Oi Mari, tudo bem? Me empolguei muito com a premissa desse livro. Eu tentei ler um livro da autora (O Segredo do Meu Marido), mas a leitura simplesmente empacou e acabei abandonando a obra, por isso fiquei com um pouco de ranço e nunca mais li nada e passei longe dos livros da autora, mas essa história captou meu interesse e, talvez por nunca ter lido efetivamente nada da autora, eu não experimentarei a mesma frustração que tu, pois não tenho conhecimento do estilo narrativo da autora.
Beijos, Adri
Espiral de Livros

Gabriela CZ disse...

Ainda não li nenhum livro da Moriarty, Mari. Mas acho as premissas dela muito interessantes e quero muito conferi-las. Essa me parece bastante reflexiva. Ótima resenha.

Beijos!

RUDYNALVA disse...

Mari!
Como não li ainda nenhum dos livro da autora, nem posso falar sobre a mudança na sua forma de escrita, mas posso dizer que mesmo que de alguma forma, o livro a tenha decepcionado, como gosto dde dramas, ainda mais relacionados ao psicológico de cada personagem, achei bem atrativo.
cheirinhos
Rudy

Ludyanne Carvalho disse...

Estava super empolgada para ler algo da Liane, até adquiri Pequenas grandes mentiras, mas confesso que agora estou sem ânimo.

Beijos

Alice Duarte disse...

Oiii Mari

Que pena que o livro te decepcionou, a sinopse até parecia ser bacana, mas às vezes não funciona mesmo, falta algo. Eu tenho uma dificuldade tremenda em me envolver em histórias narradas na terceira pessoa, não sei porque mas demora pra captar minah atenção e acabo me cansando se não for um livro extremamente bem escrito e envolvente. Enfim, não sei se leria esse da Liane, apesar dos muitos elogios que já vi sobre a autora, acho que este livro em particular talvez não seja pra mim.

Beijos

www.derepentenoultimolivro.com

Larissasm disse...

Eu li Pequenas Grandes Mentiras quando ouvi falar da série e gostei muito. Ai li O Segredo do Meu Marido e fiquei ressabiada de ler outros livros da autora com medo dela insistir nessa fórmula que, honestamente, deu muito certo. Não que eu não tenha gostado, eu adorei, mas tenho medo de ficar esgotada desse estilo de história kkk vai entender. Mas já me sinto mais inclinada a ler esse livro, muito obrigada pela resenha!!

Ana I. J. Mercury disse...

Mari,
parece ser bom, nada de muito empolgado, mas até que dá pra ler.
Confesso a você que não me empolgo com os livros da Liane, já comecei 3 dela e parei, porque realmente não consigo gostar.
bjs

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Ainda não conheço a escrita da autora e não assisti a série baseada em seu livro.
É a primeira resenha que leio do livro, gostei da trama. Mesmo com tantos personagens a autora soube conduzir o enredo e conectando todos na trama.
Tenho muita vontade de conhecer os livros de Liane e espero gostar.
Beijos

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