quarta-feira, 20 de novembro de 2019

RESENHA: Travessuras da Menina Má

Mario Vargas Lhosa / Travessuras da Menina Má
Sempre tive curiosidade de ler algum livro de Mario Vargas Lhosa e “Travessuras da Menina Má” era um dos que mais me chamava a atenção.

Ricardo conheceu Lily ainda na adolescência quando ela e a irmã se mudaram para a pequena cidade no Peru onde ele vivia com os pais. Dotadas de uma energia e um comportamento diferentes das outras meninas em 1950, as irmãs despertaram paixões, mas nenhuma tão intensa quanto a de Ricardo por Lily. Anos depois, já na década de 60, Ricardo consegue realizar o sonho de morar em Paris e lá reencontra a menina que conheceu há tantos anos e a quem tantas vezes declarou sua paixão. Ela agora se chama Arlette e é uma guerrilheira (ou diz ser). Esse será apenas um dos muitos reencontros que os dois viverão ao longo de suas vidas. A cada reencontro, ele, o mesmo Ricardito de sempre, ela, uma mulher com um novo nome, mas sempre a “menina má” a quem ele não é capaz de resistir.

“Travessuras da Menina Máé tanto a história do relacionamento de um casal (e não chamarei de história de amor pelos motivos que citarei adiante) quanto um panorama das revoluções políticas e sociais dos anos 50 aos anos 90, passando por lugares como Peru, França, Japão e Espanha. Sem dúvida um romance ambicioso e uma proposta muito interessante.

Considerando que a trama pretende contar mais do que apenas a história dos personagens e sim fazer este panorama, justifica-se que sejam totalmente forçados os milhares de reencontros entre Ricardo e sua Menina Má. Afinal, sem nenhuma razão para se cruzarem, sem procurarem um pelo outro, sem amigos em comum, eles sempre voltam a se esbarrar em novos lugares e novos contextos. Isso só não incomoda o leitor porque já sabemos de antemão que a história se propõe a isso. Caso o contrário, seria um pouco difícil de aceitar.

O que realmente me incomodou foi o relacionamento do casal. Ricardo é totalmente obcecado pela Menina Má e faz qualquer coisa para ter migalhas da atenção desta mulher que é incapaz de retribuir o que ele lhe dedica. Não se trata de paixão, nem de romantismo. Se trata de obsessão. Ela é como uma doença para ele. Uma doença que quando ataca domina todos os seus sentidos e tudo que ele precisa são doses dela. Ela é a doença e ela é o antídoto. E da mesma maneira como surge do nada, também desaparece quando menos se espera.

“Ela nunca me amou, mas tinha confiança em mim, o carinho que se sente por um criado leal. De todos os seus amantes e casinhos eventuais, eu era o mais desinteressado, o mais devoto. O abnegado, o dócil, o babaca.” (LHOSA, 2017, p. 178)

A Menina Má, por sua vez, tinha tudo para exercer no leitor o mesmo fascínio que exerce sobre seu “bom menino”, como ela chama Ricardo. Isso porque ela é misteriosa e nunca se deixa conhecer por completo e personagens assim costumam ser interessantes. O problema é que, quanto mais a conhecemos, mais entendemos que esse mistério não existe porque ela guarda muitos segredos ou tem muitas facetas e sim porque, muito pelo contrário, lhe falta personalidade. A Menina Má é totalmente maleável e muda de acordo com o contexto que lhe cerca. Há outros personagens que fazem isso (e Tom Riplay - da série “O Talentoso Riplay”, de Patricia Highsmith - me vem à mente neste momento), mas uma coisa é o personagem ter a capacidade de se transformar para atingir um objetivo, sendo isso um traço da sua personalidade (ou psicopatia, como no exemplo que citei), outra é simplesmente se transformar por cair em um lugar e fingir pertencer a ele. Ela nunca parece esconder, disfarçar, ou deixar algo para trás ao se reinventar, simplesmente porque não parece existir nada que seja intrinsecamente dela. Não existe uma essência. Sua alma é um vácuo. E é por isso que, em nenhum momento, descobrimos algo que a torna interessante, carismática ou que nos permite compreender o porquê dos sentimentos de Ricardo por ela.

Um aspecto que pode prejudicar a leitura para algumas pessoas são os tamanhos dos capítulos. Como cada capítulo marca uma fase do relacionamento dos personagens, ou seja, um novo reencontro e uma nova separação, estes são bastante longos, não tendo divisões onde o leitor possa interromper a leitura. Por isso, é sempre um pouco estranho voltar à história porque você parece estar sempre chegando no meio de algo que já começou sem você.

Confesso que até a metade do livro a leitura foi bastante arrastada para mim, mas em um dado momento a dinâmica entre o casal muda um pouco, conseguindo me fisgar mais. Ainda assim, “Travessuras da Menina Má” não foi um livro que me agradou, passando muito longe de corresponder às minhas expectativas.

Título: Travessuras da Menina Má
Autor: Mario Vargas Lhosa
N° de páginas: 302
Editora: Alfaguara
Exemplar cedido pela editora

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14 comentários:

Rubro Rosa disse...

Nunca li nada do autor,mas vou admitir que mesmo lendo a resenha deste livro, sei lá, não me prendeu muito a atenção não.
O enredo parece que até prometia muito, pelos mistérios que a personagem poderia apresentar e acabou não apresentando.
Parece o tipo de livro que o título não condiz com o enredo e isso nem sempre é bom. E o fato dos capítulos maiores me incomoda e muito.
Como leio pouco, prefiro capítulos curtos.
Não digo que não lerei!!!
Beijo

Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

Gabriela CZ disse...

Confesso que não conhecia nem o livro e nem o autor, Mari. A premissa é muito interessante, mas seus comentários me passam a sensação de que o autor pecou mais que acertou. Não sei se leria. Bem, ótima resenha.

Beijos!

RUDYNALVA disse...

Mari!
Conforme fui lendo sua resenha, achei que poderia ter uma abordagem mais psicológica quanto a personalidade de Ricardo, mas pelo jeito, é um romance sem romance, desvios de personalidade sem explicação e nada faz muito sentido... uma pena.
cheirinhos
Rudy

Fabiolla Devenz disse...

Pelo que li de sua resenha, o livro não me chamou muito a atenção.
Achei o fato dos personagens sempre se reencontrarem em diferentes momentos e países, sem sequer um estar procurando o outro, um fato bem forçado, o que na minha opinião se torna chato e tediante.
Achei que poderia melhorar a minha opinião quando li que um certo suspense girava em torna da Lily, mas me decepcionou quando você falou que não existe essência na personagem.

Elizete Silva disse...

Olá! Confesso que sua resenha não me empolgou, até achei a proposta do autor interessante, mas acredito que a maneira que ele decidiu conduzir a história, principalmente a personagem da menina má não me agradaria, creio que acabe sendo uma leitura longa e arrastada

Rayssa Bonai disse...

Olá! ♡ A premissa desse livro não chamou muito minha atenção, não senti muita vontade de fazer sua leitura.
Me incomoda livros com capítulos enormes, por vezes a leitura acaba se tornando cansativa.
Não gostei do relacionamento dos personagens, o mesmo não é nada saudável, mas sim uma obsessão.
Os personagens não me fizeram ter vontade de conhecê-los, prefiro personagens com mais personalidade.
Beijos! ♡

Giovanna Talamini disse...

Oi!
Minha maior alegria é terminar um capítulo, então eu tenho certeza que teria preguiça para esse livro.
Sobre o Ricardo: "Why you're so obsessed with me? Boy I wanna know!" ♫

Ana Paula Santos Moreira disse...

Ja tem um tempinho que esse livro foi lançado, mas confesso que nunca me interessei, pois sabia que seria uma leitura cansativa. Para mim, o casal tinha tudo para fluir e serem inesquecíveis, mas acho que não foi assim.

Rayane B. de Sá disse...

Oiii ❤ Essa premissa de os personagens sempre se encontrarem, mesmo não tendo nada que os ligue parece interessante, mas um pouco cansativa já que o leitor sabe o que sempre vai acontecer.
É uma pena que o "romance" se trate de uma obsessão, que Ricardo seja obcecado por Lily e ela não dê atenção a ele.
Que pena que não foi um livro que superou as expectativas. Acho que não leria esse livro.
Beijos ❤

Luana Martins disse...

Olá, Mari
A capa do livro é linda!
Com uma premissa interessante porém o enredo não me agrada tanto assim, e a obsessão de Ricardo pela menina má ser descrito pelo lado psicológico.
Não é um livro que tenho vontade de ler.
Beijos

Ana I. J. Mercury disse...

Oi, Mari
Gostei da sua resenha, mas olha, achei o livro bem chatinho.
Essa menina má parece ser um porre.
Bem sem personalidade, mais pro ruim mesmo.
Não lerei não, não faz o meu tipo.
Bjs

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Nunca li nada do Mario Vargas Lhos é achei bem interessante a premissa da história mas lendo a sua resenha dar para notar que esse livro não é uma das leituras que curto muito.
Bjs

Anônimo disse...

Eu adorei o livro.
Li há anos e penso em revisitar a obra.
Aliás, adoro a obra de Vargas Lhosa. Versátil, inteligente.
Não achei cansativo.
Travessuras da Menina Má, A Festa do Bode e A Civilização do Espetáculo são obras que li em um só fôlego.

J J disse...

Esta é uma péssima resenha de um grandes livro de um dos maiores escritores contemporâneos. Nem todos compreendem Vargas Llosa, mas ninguém é obrigado a escrevinhar, em português pobre, apreciações sobre o que não percebeu.
Leiam este livro, (re)vivam o século vinte pela mão do genial Vargas Llosa.

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