segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Conversa de Contracapa # 05

Conversa de Contracapa é coluna off topic do blog Além da Contracapa. Sem limitação temática, iremos explorar todo e qualquer assunto relacionado ao mundo da literatura. 


Há alguns meses, fizemos o primeiro de uma série de três posts, que têm como tema as adaptações que livros de sucesso frequentemente recebem. A intenção desses posts é comentar os três casos que, a nosso ver, podem acontecer quando a trama de um livro é levada para o cinema ou para a televisão. No primeiro deles, abordamos o caso de um excelente livro que deu origem a uma série de TV bastante inferior. Neste segundo post, o tema é um livro cuja adaptação tomou rumos diferentes da história original, mas conseguiu se estabelecer como uma boa obra. É o caso de “A Zona Morta”, de Stephen King, e sua adaptação televisiva, a série “The Dead Zone”, estrelada por Anthony Michael Hall no papel de Johnny Smith, um professor de ensino médio que ao sofrer um acidente de carro e ficar anos em coma, passa a ter visões ao tocar nas pessoas. 

Diferente de um filme, uma série de TV pode se estender por inúmeras temporadas, totalizando dezenas de episódios. Tendo isso em mente, há de se compreender que é muito difícil que um livro consiga manter sua história fiel ao extremo ao ganhar uma adaptação nesse formato. É preciso flexibilidade para que os personagens, e as relações entre eles, vāo além do que está nas páginas. 

A meu ver, uma das vantagens de se adaptar um livro no formato de série é justamente essa possível longevidade. Enquanto um filme se reduz a aproximadamente duas horas - obrigando os roteiros a, muitas vezes, enxugar alguns aspectos das histórias originais - a série tem a oportunidade de explorar cada detalhe criado pelo autor, o que permite que a segunda versão da história seja a mais próxima possível da original.

Por outro lado, é preciso ter em mente que uma série de TV mantém com quem a acompanha uma relação diferente do que o livro mantém com o leitor. Enquanto o ritmo da leitura é ditado por quem lê - que pode optar por 50 ou 100 páginas a cada dia ou mesmo por virar a madrugada e devorar o livro de uma vez - a série apresenta um episódio por semana, obrigando o fã a esperar esse período para saber como a história irá continuar. É por isso que uma adaptação para a TV é enriquecida ao apresentar elementos que não fazem parte do livro e que poderão manter a atenção tanto de quem leu a história original quanto de quem a desconhece, afinal, é mais fácil ler o livro em uma semana do que ficar esperando pelo próximo episódio. Além disso, se você já sabe tudo que irá acontecer, não sentirá a mesma necessidade de assistir a cada episódio.  

É por essas razões que “The Dead Zone” se revela uma adaptaçāo bem sucedida, pois ela tem suas raízes no excelente livro de Stephen King, mas se permite alterações que têm em vista a longevidade da série. 

Os primeiros episódios focam nos acontecimentos do livro, ao mesmo tempo em que apresentam as alterações perfeitamente aceitáveis que os produtores e roteiristas optaram por fazer. É o caso do relacionamento de Johnny e Sarah, que estão apenas iniciando um namoro no livro, mas na série se conhecem há anos, são noivos, estando ela grávida quando ele sofre o acidente. Essas alterações, que a meu ver podem ser consideradas pequenas, permitem a série criar um arco romântico em torno do protagonista que no livro não tem chance, nem necessidade, de adquirir importância. Entre outras alterações, a série opta por eliminar alguns personagens, como os pais de Johnny, e trazer outros em seus lugares, como o ambicioso reverendo e o fisioterapeuta que se tornará o melhor amigo do protagonista. Talvez a mais válida dessas alterações seja a da profissão de um político sem destaque na trama do livro e que na série se torna o xerife da cidade e um dos personagem principais. Essa é uma decisão acertada já que a série opta por focar no relacionamento de Jhonny com a polícia, levando o protagonista a atuar como consultor em casos complicados graças aos seus talentos. Essa abordagem, que também é explorada no livro em alguns momentos, serve para moldar o formato da adaptação televisiva. 

Assim, a série mantém o conceito procedural no qual cada episódio apresenta um caso com começo, meio e fim, enquanto os personagens principais dão continuidade às suas histórias. Aos poucos, a série adquire um rumo próprio e se afasta cada vez mais do livro de Stephen King, embora esteja enraizada nele. Quem assiste ao programa e está familiarizado com o livro claramente reconhece a sua origem, mas aos poucos vai se esquecendo dela e aprende a assistir a série exatamente por o que ela é: uma nova versão daquela excelente história. Como prova disso, menciono que, a partir de um determinado momento, eu já nem pensava em Greg Stillson, um personagem importantíssimo no livro. Os roteiristas, sabendo utilizar do triunfo que tinham em mãos, inseriram o personagem apenas no último episódio da primeira temporada, mantendo tanto os familiarizados com o livro, quanto aqueles que apenas assistem a série, na expectativa para a próxima temporada. Além disso, naquele momento, “The Dead Zone” já havia estabelecido sua identidade à parte do livro de Stephen King, tendo seus dramas e arcos próprios, não depositando todas as suas fichas nos eventos do livro e assim, sabiamente, evitando comparações excessivas que poderiam vir a prejudicá-la. 

“The Dead Zone” mostra que uma adaptação não precisa seguir à risca os eventos do livro em que se baseia para ser bem sucedida, basta ser fiel à essência da história e dos personagens criados pelo autor e adaptar o que é necessário para esse novo formato de contar aquela trama. 

Saliento que estou assistindo a segunda temporada da série, portanto não sei que rumo ela tomará até o seu final na sexta temporada, mas isso é, em parte, o que me agrada. O que Stephen King reservou para Jhonny Smith em seu ótimo livro, eu já sei. Minha expectativa, agora, é descobrir o que o destino reserva para o personagem nas telas de TV. 

O último post dessa série sobre adaptações de livros irá ao ar no próximo mês abordando o caso de adaptações que souberam aproveitar os aspectos positivos e se tornaram melhores do que o livro em que se basearam.

11 comentários:

Unknown disse...

Mari, adorei o post. Não assisti nem li. Mas achei seus comentários superpertinentes com a questão da adaptação e de como adaptar.
Vai virar roteirista! hehehe

Parabéns

liliescreve.blogspot.com

Gabriela CZ disse...

Ótimo post, Mari! Já tinha lido vários elogios sobre Dead Zone, mas nunca cogitado assistir. Agora, no entanto, começo a considerar a ideia. Assim como ler o livro de King, é claro.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Ana Paula Barreto disse...

Concordo plenamente. Uma adaptação boa é aquela que consegue manter a essência do que o autor do livro pretendeu passar ao leitor, tanto nos personagens, quanto na base da história.
Não conhecia essa série, mas achei bem interessante. E por ser uma adaptação bem-sucedida, vai entrar para minha lista!
bjs

Michelle Agda disse...

Concordo com você Mari ao dizer que a melhor parte de se adaptar um livro em série é que ele é dividido em várias partes e fica bem longo, diferentemente de um filme. Não sei qual dos dois eu prefiro, ambos dão prazer de assistir.
Estou conhecendo agora “The Dead Zone”, mas estou tão sem tempo ultimamente, que assim que possível, vou dar uma chancezinha a pelo menos um capítulo da série pra ver se realmente gosto :)

Thais Pampado disse...

Não vi a série ainda, mas realmente gosto mais quando adaptam livros para séries do que para filmes. Nesses últimos casos o resultado, na maioria das vezes, é terrível, e tem piorado ainda mais nos últimos anos (vide Dezesseis Luas e Percy Jackson). Já as séries acho que realmente dão esse potencial de explorar cada detalhe do livro e até se estender, acho que inclusive há séries que acabaram ficando melhores do que os livros.

Unknown disse...

Ainda não vi essa série e nem li o livro do divo King. Mas vontade não falta. Quero primeiro ler para depois ver The Dead Zone.

Anônimo disse...

Oi Mari!! Excelente post, apesar de ter conhecido o livro no post anterior achei de,ais saber mais sobre o seriado. Confesso que tenho alguns que olho, pois tenho TV aberta, mas adorei saber mais.

pamela giovana disse...

As maioria das séries que são adaptadas de livros tem uma boa estrura. não gosto dos filmes que são adaptações de livros...
Tenho que ler algum livro de Stephen King, para saber que como é sua escrita....
Talvez veja a série depois, quando colocar em dia os milhares de séries, animes e mangás que tenho que ler....
Bjs

Nardonio disse...

Esse é um daqueles casos clássicos em que os expectadores devem começar a assistir a série com a mente aberta, sabendo que vai ver o essência do livro, mas não a cópia fiel, afinal, são mídias completamente diferentes. Adorei esse segundo post. Aguardando o próximo.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Mallu Marinho disse...

Adorei o post e a coluna! Bem diferente e original. Não tinha visto o primeiro post, então me surpreendi. Acho que para uma boa adaptação (seja de filme ou série baseada em livros) é saber dosar as informações do livro com o que uma produção cinematográfica tem que ter. Vou aguardar o próximo post!

Adriana disse...

Muito bom!!! Eu imagino que a série seja muito legal, afinal, não é uma cópia fiel do livro de King, mas como voce muito bem disse, mantêm toda a essência dessa historia que é o mais importante, e em se tratando de um livro do Sthepen King que tem uma narrativa tão dinâmica e cativante, com certeza uma boa produção, faz com que essa série tenha sucesso igualmente! Adorei esse post!
Adriana

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