“- Que tipo de justiça?
(...)
- E tem mais de um tipo?
- Tem vários tipos. E o que me interessa é o pior de todos eles. O mais imundo. Olho por olho.” (BLAKE, pag. 443, 2013)
Após ser rebaixada de posto, a detetive Heather Kennedy é designada a investigar a morte de um professor universitário que à primeira vista foi considerada acidente. Mas o que parece ser uma investigação irrelevante acaba encontrando uma conexão com outras mortes que também haviam sido consideradas acidentais: todos os mortos estavam trabalhando em um antigo manuscrito. Um acidente de avião e a missão pessoal de um ex-mercenário também parecem ter relação com a investigação da detetive.
Começo essa resenha assumindo que li “Manuscritos do Mar Morto” com um pé atrás. Qualquer pessoa que lê a sinopse do livro o associa imediatamente a “O Código Da Vinci” o que, para mim, parecia ser justamente a intenção do autor. Ainda assim resolvi dar uma chance, afinal, não é porque uma fórmula já foi utilizada que ela precisa ser descartada. Porém, se o livro de Dan Brown ganha seus maiores pontos por ser frenético, o de Adam Blake perde os seus por ser enrolado.
A opção do autor em dividir a história em três núcleos - encabeçados por três personagens - que eventualmente se cruzam não foi aproveitada como poderia, pois os três têm muitas subtramas que não empolgam e só protelam a chegada ao cerne da história. Para exemplificar, basta dizer que o evangelho de Judas - o elemento central da trama - só é mencionado a partir da página 300 e ainda assim pouco, sendo também mal aproveitado. Ao invés de investir nas possibilidades que um documento como esse poderia render e no mundo no qual ele estaria inserido, o autor opta por usá-lo como pano de fundo de uma investigação comum e insiste em explicar coisas que não precisariam ser explicadas - usando, muitas vezes, de explicações não convincentes.
É assim que a história dos manuscritos fica perdida em meio a uma trama que se resume a um grupo de pessoas matando outro grupo de pessoas, sendo conduzida pelo autor de forma que essa matança poderia estar ocorrendo por qualquer motivo e em qualquer contexto. Não precisava envolver um documento antigo potencialmente polêmico (e altamente suscetível a associação com um certo best-seller americano), pois nada mais na história utiliza deste tema.
Além de pecar na construção da trama, “Manuscritos do Mar Morto” também peca na construção dos personagens que são rotulados com característica que, muitas vezes, ou não influenciam em nada na trama (como o lesbianismo da protagonista) ou parecem estar presentes apenas porque são de praxe, o que os torna pouco carismáticos.
É por essas razões que, a meu ver, “Manuscritos do Mar Morto” é um livro que não funciona, independente do ângulo que se olhe. Não funciona como thriller porque não é eletrizante o suficiente; não funciona como policial porque a investigação está tão emaranhada com outros elementos que se dispersa; não funciona como suspense porque o autor não faz suspense com o que poderia (como as razões para o rebaixamento da detetive ou o que levou um homem comum como Tillman a se tornar um mercenário), deixando evidente o que poderia ser misterioso, e tentando revestir de mistério coisas que são óbvias ou pouco interessantes.
“Manuscritos do Mar Morto” é um livro conduzido por uma trama dispersa que parece não girar torno do assunto que propõe nem de seus personagens. Até poderia ser um bom entretenimento, uma distração, mas o autor não foi hábil o suficiente para transformar o superficial em empolgante (especialmente ao tentar usar um tema já explorado antes e com mais méritos)
Autor: Adam Blake
N.º de páginas: 477
Editora: Novo Conceito
9 comentários:
Nossa, não tinha lido nenhuma resenha negativa sobre o livro até agora. Tenho ele, mas ainda não li.
Esperava que fosse alguma dessas coisas que você mencionou: thriller, suspense, policial e mistério. Na verdade, imaginei que fosse uma mistura disso tudo.. o que, na minha opinião, daria uma boa trama!
Uma pena que não seja tão bacana assim. Mas de qualquer forma, vou ler e tirar minhas próprias conclusões.
bjs
Algumas pessoas que já leram esse livro me disseram que era bom, mas se um dia eu o lesse, ficaria como você: com um é atras. Achei o enredo muito inadequado para o título do livro. Um grupo de pessoas matam outras, tem detetives no meio... não gostei :/
Eu tinha bastante vontade de ler esse livro, mas nunca tinha lido uma resenha dele. Esperava que fosse eletrizante, mas se é enrolado e mau contado vou desistir. :/
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Poxa, é tão chato quando a gente vê que uma história que tinha tudo para dar certo não foi bem aproveitada, né? Pelo menos, foi o que eu senti lendo a sua resenha. Achei que a premissa, ainda que lembrando um pouco o livro do Brown, parecia ter uma genialidade. Os personagens e até o próprio desenvolvimento parece não ter sido explorado de maneira convincente. Essa é a primeira opinião negativa que vejo e agora estou dividida... Posso até ler, mas não criarei muitas expectativas.
Mari, é muito bacana ler uma resenha cuja a opinião é expressa de forma incisiva. Neste caso, você não gostou, e explicou bem o porquê disso. Foi bastante categórica e explicativa. Muito bom mesmo! Após tantos comentários - muito bem elaborados,volto a frisar - eu permaneço não tendo o mínimo interesse na leitura. Fórmulas mal elaboradas não me convencem.
Um abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Olá Mari!! Bom, primeira resenha negativa que leio sobre o livro, e acho demais poder ler diversas opiniões sobre um livro, pois quando iremos fazer a leitura, não lemos com tanta expectativa e acabamos não nos decepcionando com o livro.
Desde que soube que esse livro tinha essa pegada de "O Código Da Vinci", me interessei. Mas é realmente uma pena que ele não funcionou muito bem. Acho que era tanto material interessante, que o autor acabou se perdendo um pouco, e jogando tudo que lhe vinha à cabeça. Mesmo assim, ainda tenho vontade de lê-lo.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Talvez não tenha funcionado pelo motivo do autor ter, de alguma forma, tentado escrever uma historia parecida com o livro do Dan Brown, acho que esse foi o primeiro pecado que ele cometou e depois, se perdeu na narrativa e no desenvolvimento dos personagens, é uma pena, mas infelizmente acontece né! Não tenho vontade ler esse livro! Ótima resenha, bjão!
Adriana
Disse.....
Gostaria de ler o livro , porém vou desistir , resenha negativa
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