segunda-feira, 27 de abril de 2015

RESENHA: Um Cântico para Leibowitz

“Quando o mundo estava nas trevas e na miséria, podia-se acreditar na perfeição e se ansiar por ela. Mas quando se tornou iluminado pela razão e pela fartura, começou a sentir a estreiteza do buraco da agulha, e isso se ressentiu em um mundo que não desejava mais acreditar ou ansiar pela perfeição. Bem, estavam a ponto de destruí-lo mais uma vez, não era?” (MILLER, p. 327, 2014)

Cenários distópicos têm se tornado cada vez mais comuns na literatura. Por isso é tão interessante vermos um livro como “Um Cântico para Leibowitz” que propõe uma abordagem diferente da distopia: uma que se assemelha muito ao passado. O que me causou estranheza durante a leitura foi observar que justamente o atrativo do livro se tornou o seu calcanhar de Aquiles.

Um holocausto nuclear quase dizimou a humanidade. Seis séculos depois, o mundo permanece afundado em uma era de mutações, falhas genéticas e escassez de conhecimento. Nesse cenário, cabe a Ordem de São Leibowitz preservar informações científicas e históricas na sua Memorabília de forma que as futuras gerações possam ter acesso a elas e reconstruir a civilização.

Comecei a leitura preparada para um livro que seria lento em suas primeiras páginas, já que várias resenhas apontam essa característica. O problema foi que, para mim, essa lentidão se estendeu pelo livro inteiro, em nenhum momento atingindo um nível que me deixasse realmente estimulada em saber o que viria em seguida.

A humanidade será sempre a mesma. Esse é o principal argumento do autor e é um bem interessante. Sempre haverão lutas por poder, medo do desconhecido, o orgulho sempre contaminará as relações, mudanças e evoluções serão bem-vindas e se somarão até um extremo que será sinônimo de destruição se não houver dosagem e que levará essa mesma humanidade evoluída de volta à estaca zero. Como eu disse, isso é tudo muito interessante, mas me soou mais como a apresentação de um cenário do que como uma história. A humanidade é, na minha interpretação, a protagonista de “Um Cântico para Leibowitz”, mas isso tornou a trama ampla demais, fazendo com que não existisse uma especificidade que faria com que o cenário deixasse de ser uma teoria para se tornar uma trama. Talvez seja por isso que durante quase toda a leitura me senti em uma aula de história que parecia falar do passado, mas situando-o no futuro.

O livro é dividido em três partes. O livro um (Fiat Homo), soa como uma reinterpretação da Idade das Trevas, onde o conhecimento era escasso e limitado, quase todo, à igreja. É nesse momento que importantes documentos são encontrados por um noviço da Ordem de São Leibowitz. Documentos esses que deverão ser preservados para as gerações futuras. O livro dois (Fiat Lux), se assemelha ao renascimento: uma época em que o conhecimento, as artes e a ciência deram um salto. É no segundo livro que os documentos passam a ser estudados e invenções como a lâmpada elétrica surgem no mundo apresentado na obra. O livro três (Fiat Voluntas Tua) apresenta uma sociedade evoluída que conta com diversas tecnologias, entre elas máquinas voadoras e armas nucleares. Eu aprecio esse desenvolvimento cíclico, mas me incomodou ver como a história se passar no futuro não parece ter tido interferência nenhuma nos acontecimentos. Com exceção de algumas pessoas com deformidades físicas provenientes da radiação (que nem chegam a ser personagens e sim menções) não parece haver muita diferença entre esse futuro e o passado que estudamos na escola. Seja lá como era o mundo antes do tal holocausto nuclear, a humanidade parece ter voltado ao que era há séculos.

Outra coisa que prejudica o envolvimento do leitor é a falta de personagens fixos. Como a trama aborda 18 séculos de história, cada etapa tem seu grupo de personagens, de modo que não chegamos a conhecer nenhum profundamente.

O que mais me atrai em distopias, e na ficção científica de maneira geral, é ver como uma pequena alteração no mundo em que conhecemos acarretaria em uma vida completamente diferente. “Um Cântico para Leibowitz” é um marco distópico, mas meu sentimento durante a leitura foi “eu já vi esse filme antes e sei como ele termina”. Apesar dos meus problemas com o livro, eu jamais diria que ele não vale a pena. Mas tenha em mente que é uma história lenta que soa mais como uma dissertação do que como uma trama. Pode sim levar você a pensar, mas, pela minha experiência, as quase quatrocentas páginas não irão fazer isso mais do que as cinquenta primeiras.

Título: Um Cântico para Leibowitz (exemplar cedido pela editora)
Autor: Walter M. Miller Jr.
Nº de páginas: 399
Editora: Aleph

22 comentários:

Junior Costa disse...

Oi Mari
Não conhecia essa obra, nem o autor. Eu estou a procura de livros mais "teóricos"? porém esse não me chamou atenção, e pela sua resenha nem vou dar uma chance. Realmente livros que tendem a não focar em personagens, realmente são mais cansativos ><
Abraços :)
www.chamandoumleitor.blogspot.com.br

Gabriela CZ disse...

Fiquei dividida com seus comentários, Mari. Gosto muito quando uma ficção traça paralelos com a realidade e leva a reflexões sobre a humanidade. Mas os pontos negativos que você ressaltou são coisas que também costumam me incomodar, e também tenho tendência a me cansar com tramas que não foquem tanto nos personagens. Não descartarei totalmente a leitura, mas não será uma prioridade. Ótima resenha.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Gislaine disse...

Oi mari, tudo bem??? Eu já ouvi falar do livro. Mas foi a sua resenha que mais me chamou a atenção. E olha que ela nem é tão positiva, ahsuahsuhaus. Mas acho que seria um livro que eu leria no momento e iria gostar bastante, apesar das ressalvas :)
Um beijão
http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

Ju M disse...

Já ouvido falar bastantinho do livro até. Eu sei que um livro não se julga pela capa, mas a capa e o título do livro haviam instigado minha curiosidade. Agora que vi que é um livro lento, com a leitura pouco fluída vou deixar mais ao fim da minha lista de leitura. Abordar 18 séculos de história? Achei exagerado, se os personagens não forem imortais acho complicado se apegar. Acho que mais do que a trama nos apegamos aos personagens, queremos saber o que vai acontecer com eles, mas se o livro não permite esse apego, apresentando muita rotatividade de personagens, a leitura se torna um pouco massante.

Diane disse...

Olá !

Mari , você sempre resenha ótimos livros e na maioria dos casos eu tenho a mesma opinião que você outrora me animo toda para ler sua indicação (Jane Austen que o diga !) . Mas desta vez...
Acho que o gênero não me atraiu muito , o enredo também não me agradou :(
Vou esperar pela próxima resenha porque esse livro não me atraiu ...

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

Unknown disse...

400 páginas de uma história assim não é pra mim,eu sou super apegada a personagens e esse não tendo os seus principais fica meio dificil.Gosto de distopias mas esse não tem aquela coisa que te chama atenção logo de cara,não é uma leitura na qual eu me arriscaria.

Leandro de Lira disse...

Oi, Mari!
Eu realmente dispenso essa leitura. Sei que é um marco do gênero distópico e como você deixou bem claro, há muitas pessoas que o adoraram, mas não é pra mim. Só o fato da leitura ser enfadonha e sem focar ou se aprofundar nos personagens já me incomoda.
Adorei sua sinceridade e a resenha.
Abraço!

"Palavras ao vento..."
www.leandro-de-lira.blogspot.com

Nardonio disse...

Adoro distopias e tento ler o maior número possível delas. Achei a premissa dessa bem interessante. Uma pena que houve esses probleminhas. Gosto da pegada Idade Média e Futurística das primeira e terceiras partes, mas concordo com você no que diz respeito ao período que o autor quis estruturar. E outra coisa que me incomoda é o ritmo lento. Mas, por se tratar de uma distopia, é claro que vou querer dar uma conferida.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Luis Carlos disse...

Distopia é o meu gênero favorito <3 Eu adoro saber como o mundo é tratado diante de um acontecimento, pois isso me deixa bastante curioso. Eu adorei o conteúdo do livro, mas fiquei desanimado após ver que os personagens não são explorados, porque os personagens são os que dão vida para a história, e ficar mudando os personagens é algo bastante complicado!

Caverna Literária disse...

Quando você falou em mutações eu já até prestei mais atenção, mas que pena que o livro é arrastado assim! :( é compreensível que a humanidade persista naquele ritmo, mas bem que o autor podia trazer algum outro assunto, ou algum ponto pra incentivar mais o leitor né

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br
Tem resenha nova no blog de "Billy e eu", vem conferir!

Unknown disse...

De fato, a premissa e o argumento do autor são válidos. "A humanidade será sempre a mesma", não posso deixar de concordar, por isso é tão interessante.
Porém, 400 página que se assemelham a uma aula de história em um livro distópico não é algo que me chame a atenção. Eu provavelmente não me daria bem com esse livro.

Domino Simmons disse...

Oie Mari...
Sabes que esse livro me chamou a atenção principalmente pela capa... pois achei ela muito bonita, apesar que agora lendo a sua resenha me deixou mais curiosa ainda, mas esse é um livro de ficção cientifica dai eu não sei se combina muito comigo e tenho medo de começar por ele, mas adorei seu post
beijos
http://cantodadomino.blogspot.com.br/

Carla Gomes disse...

Estou dividida. O livro parece tão bom, com uma história interessante, mas você disse que é lento, que os personagens não são envolventes (pelo que eu entendi nem tem um "personagem principal"ou personagens fixos, como você escreveu). Não sei se leria um livro com mais de 80 paginas que fosse lento e sem personagens fixos.
Adorei sua resenha, mesmo que eu provavelmente não vá ler o livro, ele parece bem interessante e tem uma capa muito legal.
Com amor,
cabanadosanjos.blogspot.com

Inês Gabriela A. disse...

Olá,
Livros com um ritmo lento são bem agoniantes, eu mesma fico bem chateada quando isso acontece. Ando saturada de distopias, mas essa tem um proposta diferente e uma mensagem bacana, relacionando passado com futuro. Mas não leria.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

Janaína de Souza Roberto disse...

Oi, Mari, tudo bem?
Eu gosto bastante de distopias, mas esse livro parece sair do lugar comum das tramas de um modo geral, não é?! A ausência de personagens e o alto teor "teórico" parece fazer com que a narrativa se torna um tanto quanto cansativa. Fiquei na dúvida se leria ou não. Mas parabéns pela sinceridade na resenha.

Beijão,
Blog | Youtube | Instagram

Maria Cecília Vieira disse...

A sua resenha está ótima, mas não sei se eu gostaria da leitura, principalmente porque distopia nunca foi o meu gênero favorito, embora agora eu esteja dando uma chance a ele. Ainda estou na dúvida se irei colocar na minha lista ou não, então vou pesquisar mais sobre o livro para ver o que descubro.
Beijos.

Maurilei Teodoro disse...

Olá Mariana ! Faz um tempo que este livro está empacado em minha estante. O tema de um mundo pós apocalíptico eu gosto muito, porém geralmente não gosto de tramas muito lentas e sem surpresas. Tomara que quando eu ler eu acabe gostando.

bomlivro1811.blogspot.com.br

RUDYNALVA disse...

Nossa Mari!
Tão triste ver um livro de distopia que não acrescenta muito no sentido ficcional do enredo.
Até gosto muito de história e por isso gostaria de ler, radioatividade, mutações, etc... mas, uma leitura arrastada nem estimula muito, não é?
Vamos ver se consigo ler mais para frente.
Estou em fase de livros mais dinâmicos.
“Acredite na justiça, mas não a que emana dos demais e sim na tua própria.” (Código Samurai)
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

Mariana disse...

fiquei um pé atrás com esse livro...
achei interessante a ideia de uma distopia "diferente", mas acho que acompanhar 18 séculos de história é meio demais, a não ser que sejam vários contos, mas mesmo assim é meio muito demais, sem falar em um apocalipse nuclear e as consequencias serem poquissimas... pensando aqui se eu vou dá uma chance, mas se o livro é lento como vc diz, provavelmente vai ser daqueles que eu começo e nunca termino.

Lary Costa disse...

Oi, Mari.
Eu gosto bastante de distopias, mas ultimamente sempre que leio uma resenha de algum que não li, fico com aquela sensação de "eu já vi isso em algum lugar". E também não gosto nem um pouco de livros lentos e arrastados. Ainda faço um esforço quando ele começa lento e melhora do meio pro fim... Mas lento o livro inteiro?! Sem condições. Esse não me atraiu, por isso não vai para a lista.
Beijos!

Isabelle Vitorino disse...

Mari, ensaiei a leitura desse livro algumas vezes, mas em nenhuma senti que ela deslanchou, sabe? Não é que a história seja ruim, porque o plot é interessante, ela só não conseguiu me pegar de jeito. Até estava me sentindo meio anormal, mas depois de ler sua resenha percebi que a questão mesmo é paciência para relevar a morosidade do livro.
Beijos,
Isabelle | http://www.mundodoslivros.com/

Darth Versus disse...

Esse é um dos livros mais tristes que eu já li e provoca uma reação muito diferente dependendo do leitor, se a pessoa for espiritualista ela sente que há um fio de esperança de um mundo melhor no final, seja em outros planetas ou no plano espiritual. Se ela tiver uma visão materialista, vai sentir apenas depressão. Também é preciso conhecer a fundo a história do Ocidente para entender certas analogias que o autor faz.

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