sexta-feira, 17 de julho de 2015

ENTREVISTA: Letícia Wierzchowski


Como compartilhamos no post anterior, participamos da oficina “A Alegria da Escrita” com a autora Letícia Wierzchowski. Assim que a conhecemos na noite de autógrafos de seu novo livro, Navegue a Lágrima, pedimos se seria possível fazer uma entrevista, ao que autora imediatamente se dispôs. O que tínhamos em mente eram as perguntas de fã e de aspirantes a escritores, assuntos que não vieram à tona durante as aulas e que tínhamos curiosidade de saber. 

Acreditamos que muito da produção de um escritor vem dos autores e livros que ele admira e que compuseram a sua bagagem como leitor, afinal, ninguém escreve sem ler muito. Tendo isso em mente, quisemos saber da Letícia quem são os autores que já influenciaram a sua escrita e os que ela elegeu foram Erico Verissimo, Tabajara Ruas, Gabriel Garcia Marquez (assim como outros do realismo mágico) no início da sua carreia, Somerset Maugham (como um grande construtor de histórias) e, por fim, Vladimir Nabokov, ressaltando: “Não faço nada parecido, mas Nabokov me inspira muito.” E deve inspirar mesmo, porque quando perguntamos de que autor Letícia gostaria de receber o aval, podendo escolher qualquer um entre nacionais, internacionais, vivos e mortos, Letícia citou o autor russo confessando: “Nabokov é meu Deus!”. Letícia mencionou também Philip Roth, mesmo sabendo sua literatura nada tem a ver com a do autor: “Sou fascinada por ele, mas acho que ele não diria isso a meu respeito”. 

Ainda no quesito admiração, perguntamos que livro ou personagem ela gostaria de ter escrito, ao que ela escolheu “Reparação”, de Ian McEwan (citando também outros livros do autor como “Na Praia” e “Sábado”) e ainda o personagem “Tom Riplay” sobre quem há pouco havíamos comentado. “Não costumo ler suspense, mas Patricia Highsmith é ótima”. 

Mas nem só de livros bons se faz a vida de um leitor e Letícia nos disse que se permite abandonar leituras quando não está gostando delas. Dentre os mais recentes, a autora disse que tentou ler “Trem Noturno para Lisboa” duas vezes, após ter ouvido uma série de elogios, mas não conseguiu chegar até o final. Outra decepção foi “Os Originais de Laura”, livro que Nabokov estava escrevendo na época de sua morte e pediu que não fosse publicado incompleto, mas a família não respeitou o pedido. “São rabiscos e anotações que ainda não tinham sentido nenhum. Achei uma invasão ao talento criativo dele. Foi triste para mim”. Letícia disse também que seu lado escritora se irrita com livros que começam deixando muitas pontas soltas. Ao que tudo indica, o escritor não abandona o leitor nunca e Letícia confessa ler sempre com um olhar crítico. “Os livros que me arrancam disso são os que me fascinam muito.”

E é claro que não iríamos deixar de perguntar qual o livro de cabeceira da autora. Aquele que ela nunca cansa de reler. “Um monte!”, disse ela. Para citar alguns que foram fundamentais em sua vida, Letícia elegeu:
Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar
Rumo ao Farol, de Virgínia Woolf
O Bom Soldado, de Ford Madox Ford. “É um livro muito importante para mim como escritora”, salienta
A Marca Humana, de Philip Roth
Cem anos de solidão, Gabriel Garcia Marquez
O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo. “Marcou a minha vida”, disse a escritora que ao lado de Tabajara Ruas foi responsável pelo roteiro do filme de 2012, dirigido por Jayme Monjardim e estrelado por Thiago Lacerda, Cleo Pires e Fernanda Montenegro.

Sobre a inesquecível saga de Erico Verissimo, quisemos saber qual o personagem favorito de Letícia. A autora não precisou pensar muito: “O Capitão Rodrigo é uma paixão de leitora. Impossível não se apaixonar por ele”, mas completou explicando que, enquanto escritora, sua favorita é Bibiana Terra Cambará. “Uma personagem de muitas facetas”, diz. 

Mesmo lendo com os olhos de escritora também, Letícia conta que sua vida como leitora não mudou depois que passou a escrever. Ela diz que ficou mais crítica, mas acha isso uma coisa natural da passagem do tempo e não necessariamente por escrever. “Ler é uma coisa que faço com muita alegria”, diz, mesmo que hoje a rotina lhe de menos tempo para isso. Sobre o amor pelos livros, ela ainda confessa algo com que todo bookaholic se identifica: “Adoro comprar livro”. 

A respeito sua formação como leitora, Letícia revela: “Sempre fui desesperada para ler.” E diz que sempre leu sem critério, escolhendo suas leituras sozinhas, e que se achava o livro chato, trocava por outro. Por isso o livro nunca foi algo de que teve raiva. “Todo mundo me conhecia na biblioteca. A leitura é um prazer para mim e eu tento ensinar isso lá em casa para os meninos.” A autora nos contou ainda algo que acontecia na sua infância: “Minha mãe me colocava para dormir e lia, lia e lia para mim até que chegava uma hora que ela dizia: eu vou ao banheiro e já volto. Que nada! Ela ficava lá para dentro para ver se eu pegava no sono.

Hoje, Letícia diz preferir o romance de ficção, não ler muitos livros de suspense ou policiais e fugir de livros de auto-ajuda. “Eu estou procurando personagens”, diz. 

A autora, que diz acreditar em inspiração, mas é adepta da filosofia de Pablo Picasso (“Prefiro que a inspiração me pegue trabalhando”), revela ser mais intuitiva e não tanto cerebral quando escreve e acha que o momento mais difícil na hora de escrever um livro é quando alguma coisa parece não estar funcionando e precisa refazer tudo.  Quando perguntamos qual dos seus livros fluiu mas fácil, sem parecer trabalho, Letícia elegeu “O Anjo e o resto de nós”, seu primeiro livro publicado. 

Com uma carreira que já dura 18 anos, quisemos saber qual o momento de maior orgulho para Letícia. Ela escolheu dois. “Ter meu livro publicado na Alemanha”. Descendente de poloneses, Letícia diz ficar feliz em poder superar a história dramática que a família teve na Segunda Guerra Mundial e ter seu livro publicado no país. Outro momento que escolheu foi a maneira como conheceu seu marido. Por indicação da escritora Martha Medeiros, o publicitário Marcelo Pires (gaúcho, na época vivendo em São Paulo) leu um livro de Letícia e se apaixonou por ele de tal forma que contatou a autora por email pedindo se podia pegar um avião e ir encontra-la em Porto Alegre. “Eu estava tentando começar uma carreira como escritora e uma pessoa que eu nunca tinha visto se apaixona pelo meu livro dessa forma”. Do relacionamento com Marcelo, surgiu também o livro “eu@teamo”, uma coletânea de emails trocados pelo casal, encadernada e distribuída como lembrança aos convidados na cerimônia de casamento. Disso, surgiu a proposta de Ivan Pinheiro Machado (editor da L&PM) para que o livro fosse publicado, devido ao sucesso que estava fazendo com sua esposa, filha, amigas das filhas, todas leitoras emocionadas e chorosas. “Tinha até lista de espera para empréstimo.

Sobre seu livro de maior sucesso, “A Casa das Sete Mulheres” (transformado em mini-série pela Rede Globo e publicado em vários países), Letícia diz ser rotulada muitas vezes como uma autora de romances históricos e ter sofrido preconceito devido ao sucesso da série e do livro. “Na literatura existe isso de se faz sucesso é ruim”, mas a autora diz não se importar, pois sabe que a obra lhe abriu diversas portas e a apresentou para vários leitores. “Os ganhos são maiores”. 

Quando perguntamos a respeito das oficinas de escrita criativa, a autora disse estar gostando muito do desafio por ele permitir sair da zona de conforto que é só produzir e escrever e poder se deparar com outras pessoas que também querem escrever. Esse convívio também é a melhor lembrança que Letícia disse ter de quando cursou a tradicional oficina com o escritor Assis Brasil em Porto Alegre. Enquanto em casa a família dizia que ela era louca por querer escrever, ali ela se via em meio a um grupo de pessoas que também queriam fazer aquilo. 

Encerramos a conversa com Letícia com o sentimento renovado de que o sonho de ser escritor não é impossível, mas que apenas demanda esforço, dedicação e paciência. E é por isso mesmo que o saldo final daquele fim de semana poderia ser resumido em apenas uma palavra: inspiração. 


20 comentários:

Kamila Villarreal disse...

Olá!

Que entrevista legal! A Letícia tem uma bagagem incrível, mas eu morria sem saber que ela era a autora da Casa das Sete Mulheres! Incrível!

resenhaeoutrascoisas.blogspot.com

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Uma entrevista bem interessante, sem dúvidas.
O que percebi é que a autora possui uma carga de leituras densas e interessantes, então imagino que isso também seja uma característica de suas obras. Se isso for verdade, acho que adoraria conhecer um livro dela.
Não sabia que ela era a autora de A Cada das Sete Mulheres.

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Luiza disse...

Que ótima essa entrevista!!! Adorei!
Bjs
http://eternamente-princesa.blogspot.com.br/

Diane disse...

Adorei a entrevista ! Principalmente por descobrir que a autora é fã do Capitão Rodrigo e de Bibiana Terra , assim como eu :)

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

Gabriela CZ disse...

Mari e Alê, quase não sei o que dizer além de que adorei a entrevista! Vocês tocaram em questões importantíssimas que muitas vezes jornalistas profissionais deixam passar. Muito bom saber um pouco mais sobre a Letícia - não imaginei que sofria preconceito por causa da minissérie da Globo - e até me identifiquei com algumas coisas. [rs] Fico ainda mais curiosa e ansiosa para conferir mais obras da Letícia. E mais uma vez, parabéns pela entrevista! :)

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

RUDYNALVA disse...

Alê e Mari!
Maravilha participar desses eventos.
Gostei de saber que as referências literárias da autora, são bem diversificadas.
Quer dizer que ela abandona os livros quando não consegue apreciar a leitura, mortal como todos nós...kkk
Também não consigo deixar de ler com olhos críticos, mesmo não sendo escritora profissional, gostei disso...
Momentos marcantes de verdade, primeiro ver seu livro publicado na Alemanha e a forma como conheceu o marido... fascinante!
Ai que delícia sair com a sensação de que poderão se tornar escritores e ainda mais inspirados pelo encontro.
Parabéns!
“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.”(Mario Quintana)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Caverna Literária disse...

Adorei a entrevista, bem completa, deu pra conhecer mais a fundo a autora. Ainda não tinha ouvido falar sobre esse livro, mas só o título já me chamou a atenção :D

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Tem post novo sobre séries no blog, vem ver!

Nathalia Silva disse...

Achei bem baca a entrevista com a autora e saber mais um pouco sobre o que ela pensa sobre os assuntos. Achei super bacana ela se permitir abandonar leituras que não seja tão boas. Enfim, esse outro lado, a de leitora foi muito bom conhecer.

bjus
http://ventoliterario.blogspot.com.br/

Ana Clara Magalhães disse...

Oi gente!

Nossa, a Letícia parece ser muito simpática! Queria muito ter conversado com ela também, hahaha. Nem acredito que ela leu O Tempo e o Vento, sou louca por essa série. Acho que são os livros que mais tenho vontade de ler do mundo. Adorei o papo.

Beijo!
http://www.roendolivros.com

Adriana disse...

Nossa! Adorei essa entrevista!
Não sabia "A casa das sete mulheres" e eu amo o seriado rs
Beijos
Dri
http://livrosleituraseleitores.blogspot.com.br/

Vanessa Vieira disse...

Gostei da entrevista Alexandre. A autora possui um estilo bem peculiar no que concerne a literatura e só por isso já fiquei interessada em conhecer sua escrita. Abraço!

www.newsnessa.com

Soraya Abuchaim disse...

Amei a entrevista! A Leticia pareceu extremamente inteligente, com um gosto excelente para literatura.
Adoro conhecer o outro lado dos autores, sabe? Geralmente os rotulamos apenas pelas obras, nos esquecendo que são pessoas com gostos e vontades.
Adorei :)

Beijos

Meu Meio Devaneio

LP disse...

Eu acho muito bacana quando leio essas entrevistas que abrem espaço a informações sobre autores, principalmente quando esses acrescentam conhecimento. E ela adicionou bastante.
Muito boa a entrevista, de verdade.
quatroselos.blogspot.com.br

Ariane Gisele Reis disse...

Oie =)

Da Letícia só li A Casa das Sete Mulheres e adorei *-*
Ainda não tive oportunidade de ler outras obras dela, mas tenho muita curiosidade em ler outros livros da autora.

Parabéns pela entrevista!



Beijos;***

Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary

Inês Gabriela A. disse...

Olá,
Nossa, ela citou a Virginia Woolf <3. Enfim, não cheguei a ler um livro da autora, o que é uma falha minha, uma vez que as obras dela são sempre muito elogiadas e me despertam curiosidade. A jornada de escritor no Brasil é mesmo bem difícil, mas enfim, adorei a entrevista.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

Tony Lucas disse...

Oi, Alê e Mari! Tudo bem? Nossa, vocês estão chiques, hein? Letícia Wierzchowski! Que demais! *-* Eu tenho uma história bem bacana com a Letícia. Um dos primeiros livros que li na minha pré-adolescência que me fizeram tomar gosto pela literatura foi "O Dragão de Wawel", que é de autoria da Letícia. Desde então, infelizmente não li mais nada da autora, mas vontade é o que não falta. Quero muito ler Sal, Navegue a lágrima e A Casa das Sete Mulheres. Mas enfim, voltando ao post... Adorei a entrevista, vocês capricharam nas perguntas! Parabéns! :) Obrigado por nos terem dado a oportunidade de conhecer melhor a Letícia! :D

Abraço

http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

Anônimo disse...

Oi, Alê! Oi, Mari!

Adorei a estrutura da entrevista e as perguntas. "Reparação" é maravilhosamente bom, um dos meus favoritos. Aliás, todos os livros do Ian são ótimos!
Virgínia Woolf e Gabriel García Marquez são igualmente incríveis, ainda quero ler todos os romances!
Gostei de conhecer a Letícia e minha vontade de ler "A Casa das Sete Mulheres" aumentou.

Beijocas.
http://artesaliteraria.blogspot.com.br

Anônimo disse...

Oi oi, ótima resenha. Muito bom conhecer um pouco sobre a escritora. Deu vontade de ler suas obras e também aquelas que ela gosta. Não li nenhum livros dos autores que ela citou, vou começar a procurar e quem sabe algum acabe entrando para minha lista de leituras futuras.

Tamara Costa disse...

Nossa que entrevista linda! Eu não conhecia quase nada sobre a autora e agora sei um bocadinho :) muitas referências boas a dela, adorei os autores que elas citou como inspirações!

Ju M disse...

Uau, adorei a entrevista!! Muito linda a história dela e a do marido!!

Quero muito ler a casa das sete mulheres, adorei a série na tv!!
Também adorei o tempo e o vento que a autora cita, mas minha personagem preferida é a Ana Terra.

Um problema que eu tenho é que não consigo abandonar um livro começado, aí sigo uma leitura arrastada que não estou gostando. Vou ter que trabalhar isso....kkkkk

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