quinta-feira, 17 de setembro de 2015

RESENHA: Galveston

“Você nasce e, quarenta anos mais tarde, sai mancando de um bar, assustado com as próprias dores. Ninguém o conhece. Você dirige por estradas escuras e inventa um destino porque mover-se é fundamental. Então segue em direção à última coisa que tem a perder, sem nenhuma ideia real do que fará com aquilo.” (PIZZOLATTO, p.146, 2015)

Não sou fã de “True Detective”, mas algo que me encantou na primeira temporada da série foram os dois protagonistas e os diálogos, a ponto de conseguirem me manter acompanhando uma história que, em si, não me cativou. Foi por isso que quando soube que “Galveston” era assinado por Nic Pizzolatto (criador e roteirista da série) quis imediatamente conferir o livro.

Roy Cady é um assassino profissional que no mesmo dia que descobre estar com câncer terminal é enviado em uma missão com uma estranha recomendação de seu chefe: não leve armas. Ao chegar lá, as suspeitas de Roy se confirmam e ele se vê em uma emboscada. Ele consegue escapar com vida e leva consigo Rocky, uma prostituta de 18 anos, que também estava na cena. O destino dos dois é Galveston.

“Galveston” é um suspense muito peculiar, pois não se sabe ao certo em que reside o suspense. O que consta na sinopse é apenas o início de tudo, mas não buscamos uma resposta específica para esses acontecimentos, apenas acompanhamos o desenrolar da situação. Eu não tinha a menor ideia do rumo que a história tomaria e adorei isso. Acompanhar um sujeito sem ter a menor ideia do que espera por ele é um tipo de suspense muito diferente de querer descobrir quem matou alguém e pode se tornar disperso caso mal executado, mas Pizzolatto se sai bem.

A minha expectativa era encontrar um texto pontuado por ótimas frases (daquele tipo que faz você esquecer que tem um livro inteiro pela frente porque se obriga a fechá-lo e ficar pensando sobre aquela única frase) e Pizzolatto não me decepcionou. Prova disso foram os muitos quotes que marquei. Isso se torna possível porque a base de tudo é Roy, que cumpre com a minha outra expectativa: a de encontrar personagens realistas. É da mente de Roy que surgem essas pérolas porque é pelo seu próprio ponto de vista que conhecemos sua história, mas nem por isso o personagem tenta se apresentar como uma pessoa melhor do que é, pelo contrário. Ele mesmo diz que é um cara mau, e é de fato cheio de defeitos, dono de um passado recheado de coisas erradas, mas também tem qualidades ou, se não podemos dizer tanto a seu favor, momentos de boas intenções.

Rocky também não fica para trás. Se em alguns momentos é impossível não se irritar com a moça, também é difícil não lamentar a vida que ela leva. Seja com Roy, seja com Rocky, Pizzolatto não se preocupa em nos fazer aceitar como certas as atitudes de seus personagens. Tudo que o autor faz é nos fazer vê-los como seres humanos. Conhecer suas dores. E a infelicidade, tão característica dos personagens do universo noir, é o principal ingrediente aqui. Eu, que adoro histórias e personagens que não tem a menor chance de encontrar um final feliz, vi em Roy e Rocky dois ótimos exemplares. Aliás, os dois formam uma dupla bastante improvável, afinal, são dois solitários, acostumados a se virar sozinhos (por bem ou por mal) e não ter ninguém com quem contar, mas ao vê-los juntos não se pode imaginar duas pessoas mais certas para estarem juntas, pois de alguma forma eles conseguem despertar algo de bom um no outro.

Outro ponto positivo é que Roy é cativante como narrador, algo fundamental para histórias narradas em primeira pessoa e mais ainda em um caso como “Galveston” onde não sabemos ao certo para onde estamos indo, apenas que é com esse sujeito que vamos. Tudo que temos é Roy e é fundamental querermos a sua companhia. Isso também é prova do talento de Pizzolatto já que o personagem não pode ser considerado exatamente carismático e condenamos muito do seu comportamento. Alternando passado e presente e inserindo memórias aos poucos, Roy se revela totalmente ao leitor. Podemos não conhecer todos os episódios de sua vida em detalhes, mas não temos dúvida de que o conhecemos a fundo.

Merece destaque também como o autor consegue, com pequenas observações inseridas pontualmente no texto, fazer com que o leitor se sinta em Galveston, vendo o céu mudar de cor, sentindo a maresia e o cheiro da cidade.

“Galveston” pode ser frustrante para muitos leitores, pois não traz todas as respostas que se gostaria (e as que traz não são exatamente saborosas). De minha parte, gostei. Se desde o início a história dava a sensação de não se saber para onde vai, por que o final deveria ser diferente? Se esses personagens não fizeram nada para serem felizes, por que deveriam ser? Pouco importa se eles mereciam coisa melhor, com que frequência se recebe o que se merece? Depois dessa promissora estreia, espero que Nic Pizzolatto não demore a se aventurar na literatura novamente.

Título: Galveston (exemplar cedido pela editora)
Autor: Nic Pizzolatto
N° de páginas: 235
Editora: Intrínseca

20 comentários:

Anônimo disse...

Oi Mari!

Tenho grandes expectativas com esse livro, depois da sua resenha já sei mais ou menos onde estou pisando. Continuou curiosa com o livro! Assistir os primeiros episódios da série e gostei bastante. Pretendo continuar e ler o livro em breve.

Beijos!

Cintia
http://www.theniceage.blogspot.com.br/

Gabriela CZ disse...

Tive mais ou menos a mesma experiência que você com a 1ª temporada de True Detective, Mari. Os diálogos dos protagonistas é que mantinham minha atenção na trama, e isso me deixou curiosa sobre Galveston. Mas como não gostei tanto da 2ª temporada tinha ficado com um pé atrás, porém seus comentários reascenderam minha curiosidade. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Casos Acasos e Livros disse...

Oi, Mari!
Não saber para onde a história vai é um ponto muito interessante.
Eu até sou fã de um clichezinho, sabe? Mas nesse gênero de Galveston gosto de ser surpreendida. E saber que o final condiz com tudo isso, que não necessariamente é um final feliz (O que não agrada todo mundo, mas às vezes é necessário) me chamou a atenção.
E quando o narrador é bom, me faz amar loucamente o livro.
Não assisto True Detective, mas todo mundo fala super bem. :)

Beijoooos

www.casosacasoselivros.com

Ju disse...

Oi Mari, eu adorei o que você comentou sobre o livro. Quando a Editora lançou, não tive nenhuma curiosidade, mas ao ler essa resenha despertou algo. Eu gosto de livros em que os personagens têm pouca esperança na vida e como você falou, que dificilmente alcançarão um final feliz. Só não sei se vou gostar de não ter respostas também, sou curiosa demais para ficar sem elas. rsrs

Beijos

Ana Clara Magalhães disse...

Oi Mari!

Para mim, os melhores tipos de suspense são justamente esses que a gente não tem ideia do que vai acontecer com o personagem principal. Não é meu estilo literário preferido, mas a forma como você falou dos personagens (não tanto a história) despertou em mim uma curiosidade enorme. Sem contar que a capa é bem chamativa e ajuda no quesito curiosidade. Bom, eu gosto de ter todas as respostas que preciso quando leio algum livro, talvez isso me desagrade um pouco, já que você mesma disse que não terei todas...

Beijo!
http://www.roendolivros.com/

camila locatelli disse...

huuuuum adoro suspenses!!!
é o tipo de história que te prende do inicio ao fim.kkk

bjinhos
http://acidadeliteraria.blogspot.com.br/

Nessa disse...

Oie
Ainda não conhecia o livro, parece ser uma história instigante de muito suspense. Fiquei com vontade de ler depois de ver suas ressalvas.

Beijos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Diane disse...

Olá ...
A história parece ser realmente boa , mas , acredito que não seja o livro certo pra mim .
Gosto de livros com todas as respostas :)
Beijos

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

PATY disse...

Digamos que me atiçou a leitura do livro, a historia é bem marcante, ♥

Bjus! Até a próxima!

http://petalasdelicadas.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Antigamente não gostava muito de histórias de suspense nesse aspecto. Romances e nem histórias policiais, mas depois a gente vai mudando um pouco os nossos gostos e cedendo mais para se deixar cativar por aquilo que tínhamos aversão. Hoje gosto de enredos assim.
Acompanhei um pouco da série "True Detective" e adorei! Então pela sinopse e sua opinião de "Galveston" acredito que também posso gostar de mais essa história. :)

Beijos.

oeraumavezdeverdade.blogspot.com

Vanessa Vieira disse...

Gostei da resenha Mariana. Me pareceu ser um livro bem intrigante, além nos trazer um suspense eletrizante. Beijo!

www.newsnessa.com

Alana Gabriela disse...

Helloo, Mari! Tudo bem?!
Ai, Meu Deus, Mari, que resenha! Estou chocada... Resenha maravilhosa. Não conheço o trabalho do Nic e também nunca assisti True Detective. Você disse tanta coisa que me fez querer ler essa obra. Não gosto muito daqueles suspenses que se arrasta até o final para saber quem matou quem. Gosto que tenha reviravoltas. Também gosto de originalidade e imprevisibilidade. Acho que encontrei isso nesse livro pelo que tu falou. Estou extremamente curiosa. Sei lá! Fiquei com uma vontade imensa de ler só pelo texto ser diferente. Gosto de personagens meio complexos.
Gostei demais dessa resenha. Parabéns pelo post! :)
Beijin...

Alana - Pieces of Alana Gabriela
http://piecesofalanagabriela.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Oi, Mari! Tudo bem?
Gostei da resenha, mas não fiquei tentado a ler o livro! Não faz muito bem estilo!
Beijo
mundoemcartas.blogspot.com.br

Unknown disse...

Olá, Mari. Não conhecia nada do Nic Pizzolatto, incluindo a série True Detective. Mas, logo me encantei com Galveston e sua estória de assassinos, mistério e futuro. O suspense me chamou muito a atenção, porém a decepção veio logo depois com a falta de respostas ao finalizar o livro. Mas, concordo com você em parte, se o começo é duvidoso, porque o final não seria?!

Jessica Andrade disse...

Oi Mari,
Confesso que não fiquei muito interessada no livro, não é muito o estilo que eu leio :|
Mas fico feliz que tenha gostado, e a resenha ficou ótima! Parabéns!
Bjs
http://diarioelivros.blogspot.com.br/

Plínio Mendes disse...

Não conhecia o livro, mas sua resenha me deixou bem curioso.
Gosto do gênero, e essa história pode me agradar.
Já está na lista!

Até mais,
http://entreserieselivros.blogspot.com.br/

Vanessa Meiser disse...

Já vi outra blogueira elogiando muito este livro, confesso que não havia prestado muita atenção a ele mas, acredito ser uma boa para sairmos de nossa zona de conforto já que, não é um gênreo que eu costume ler com frequência...

Beijo, Vanessa Meiser - Retrô Books
http://balaiodelivros.blogspot.com.br/

RUDYNALVA disse...

Bem Mari!
Como não acompanhei a série, não posso fazer comparativo.
Agora se é bem escrita, os diálogos são inteligentes e todo o livro ruma para um final, mesmo que não seja feliz, porém é condizente com os acontecimentos no decorrer do livro, deve ser uma ótima leitura.
“Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror.”(Charles Chaplin)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Leitora Cretina / Mônica disse...

Olá, Mari!
Primeiramente, adorei seu blog (já estou seguindo) e a sua resenha! Parabéns.
O livro me pareceu muito interessante e com um gênero bem diferente dos livros que estou acostumada a ler, confesso que fiquei muito curiosa!
Beijão!!

http://leitoracretina.blogspot.com.br/

Gustavo Gouveia disse...

O livro não havia me chamado atenção... mas agora quero lê-lo \o/ Vou colocar na lista de desejados (que está ENORME) hehe Eu AMO suspenses, amo aquela incerteza do que acontecerá no futuro do livro <3

www.cidadedosleitores.blogspot.com

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