quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

RESENHA: Cilada

“Muitas vezes na vida somos obrigados a fazer julgamentos que não gostaríamos de fazer. E queremos que eles sejam fáceis. Queremos confinar as pessoas em categorias bem definidas, anjos ou monstros, mas quase sempre o buraco é mais embaixo: a verdade está em algum lugar entre os dois extremos. E esse é o problema. Os extremos são bem mais fáceis.” (COBEN, 2010, p. 86). 

***

Minha primeira experiência com a obra de Harlan Coben se deu com o livro Desaparecido Para Sempre, e embora não tenha sido um livro memorável, estava disposto a dar uma segunda chance ao autor. Quatros anos depois resolvi que era chegada a hora dessa segunda chance e não tenho dúvidas de que também foi a última. 

Haley é uma estudante exemplar e filha perfeita, que desaparece sem deixar vestígios e passados três meses, todos já imaginam que o pior tenha acontecido. Por sua vez, Dan Mercer é um assistente social que recebe um telefonema de uma adolescente e quando se desloca até sua residência para ajudá-la, é surpreendido por uma equipe televisa que o desmascara como pedófilo em rede nacional. Levado a julgamento, Dan é inocentado por falta de provas, sendo assassinado dias depois. Wendy é a repórter que arquitetou a cilada para Dan e, posteriormente, se tornou testemunha de sua morte. E agora, não consegue deixar de se perguntar se desmascarou um pedófilo ou se causou a morte de um inocente. 

Um dos meus maiores incômodos com Cilada foi a inconstância da protagonista em relação a inocência ou culpa de Dan. Em um momento ela estava convicta que ele era um pedófilo, para logo em seguida ter dúvidas sobre suas conclusões. Minha sensação era de que Coben fazia um sorteio no início de cada capítulo para definir se Dan seria culpado ou inocente. E o problema é que ficar fazendo esse tipo de joguinho apenas funciona se o leitor está em profunda dúvida sobre a inocência ou culpa do personagem, o que não era o caso.  

E já que estamos falando dos joguinhos que o autor utiliza, mais uma vez cheguei à conclusão que Coben usa e abusa de reviravoltas por que suas estórias são rasas. Não me entenda mal: creio que reviravoltas são necessárias para criar ou aumentar a tensão no enredo. Entretanto, seu uso deve ser moderado. E no afã de surpreender o leitor a todo instante, Coben criou uma trama mirabolante ao extremo e difícil de acreditar. 

Os personagens tampouco convencem. Os delegados que investigavam o caso e a advogada de um dos suspeitos, além de serem construídos sobre uma pilha de clichês, eram pessoas desagradáveis, o que comprometeu meu envolvimento com um dos núcleos da estória. Já a protagonista, embora tenha sido construída com mais cuidado que os demais personagens, me incomodou com sua fraca motivação. Ela tinha provas robustas da culpa de Dan e nenhum motivo para se sentir culpada pelo desenrolar dos fatos. E mais: nenhum motivo que fosse minimamente suficiente para que ela se colocasse a investigar o caso após a morte dele. 

O desfecho ligou as pontas soltas de forma coerente, embora, como já dito, faltou verossimilhança em alguns aspectos. As cenas finais foram escritas com o claro intuito de fazer o leitor prender a respiração, mas não funcionaram, dada sua previsibilidade. 

Igualmente me desagradou a tentativa do autor em tentar fazer uma reflexão sobre assuntos como culpa e perdão. O problema é que Coben não sabe provocar o leitor, de modo que a reflexão é feita pelos personagens. Ou seja, não é a situação vivida pelos personagens que leva o leitor a refletir. Esta reflexão “mastigada” soa muito mais como lição de moral do que como reflexão. 

Embora Coben tivesse em mãos uma premissa interessante, faltou habilidade para construir uma estória crível. E creio que o seu maior problema foi a falta de motivação dos personagens, que muitas vezes agiam de forma automática e gratuita, como se estivessem programados para praticar determinada conduta. Se Coben tivesse se esforçado em desenvolver os personagens, talvez tivesse percebido que suas motivações não eram convincentes, e então a estória poderia ter tomado outro rumo. Talvez. 

Título: Cilada
Autor: Harlan Coben
N.º de páginas: 271
Editora: Arqueiro

26 comentários:

Do Prefácio ao Epílogo disse...

Gente, não vejo a hora de ler algo do Harlan Coben! Sempre vejo críticas boas e ruins sobre ele, mas quero conhecê-lo e tirar minhas próprias conclusões... De qualquer maneira, adorei a resenha! Quero só ver se vou me desanimar com a escrita dele também, hehe. Quem sabe.
Beijos,
Maria - doprefacioaoepilogo.blogspot.com.br

Diane disse...

Oi...
Que capa linda !
Achei a premissa muito interessante, inclusive, acho que vou comprar meu exemplar para ler, apesar dos pontos negativos que você mostrou .
Beijos

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Oi, Alê. Com certeza levaria Cilada para casa por conta de sua capa. A premissa do livro também não é desinteressante, com uma proposta cheia de mistérios, dúvidas e intrigas, a trama me chamou a atenção. Estou tentando ler O inocente do Coben há muito tempo, mas sempre adio. Enfim, com suas justificativas para com a desanimação sob a escrita do autor, eu entendi completamente. O joguinho que ele faz parece mesmo cansativo e estressante. Os personagens não me interessaram também.

Alessandra Fernandes disse...

Alê, estou surpresa por você confessar que este livro será o último lido de Harlan Coben. Li somente Não Conte a Ninguém do autor, e tenho gostado muito, ficando curiosa para ler suas demais obras. Confesso que sua resenha me desanimou um pouco por você não ter agradado, principalmente dos personagens, mas eu quero dar uma chance á trama e talvez eu possa ter uma opinião diferente.
Bjs!

Unknown disse...

Que decepcionante saber que um livro com uma capa tão linda e com uma sinopse tão interessante não é realmente bom. =(

Abraço,
literarizei.blogspot.com

RUDYNALVA disse...

Alê!
É a primeira vez que leio uma análise do livro que mostre o real ponto de vista do leitor.
Sim, porque só li boas resenhas do livro e ver que há uma visão diferenciada e a meu ver, de alguém que realmente analisa o livro, é bom.
Bom porque instiga a leitura para saber qual sentimento terei ao ler.
Adorei sua análise.!
“Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa.” (Sigmund Freud)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Participem do nosso Top Comentarista de Dezembro, serão 6 livros e 3 ganhadores!

Thalita Branco disse...

Olá ALê!
Fiquei tão feliz por ler essa resenha! Desisti de Harlan Coben pelos mesmos motivos! Gosto de uma reviravolta, mas no caso de Coben são tantas e tantas que soam forçadas e sem graça. Tenho o Cilada aqui em casa e vou adiar bastante a leitura.
Bjs

EntreLinhas Fantásticas | SORTEIO 250 SEGUIDORES! NOS SIGA E PARTICIPE :)

Caverna Literária disse...

Li só um livro do Harlan, mas você tem razão. Ele gosta de jogar a culpa de um personagem pra outro, nos deixando na dúvida, mas tem vezes que isso não cola. Tem autores que simplesmente não funcionam com a gente né :/ Mas eu gostei do que li dele (foi Seis anos depois, caso tente arriscar de novo haha), e fiquei curiosa com esse que você resenhou também!

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Tem resenha nova no blog de "O Projeto Rosie", vem conferir!

Resenha Atual disse...

Olá Alê
Não a e a primeira resenha que leio de A cilada, a maioria realmente não gostou de livro, este foi um dos motivos pelo qual não me senti motivada a compra este, mas se me permitir dizer...Desaparecido para sempre na minha opinião e um dos melhores do autor, li também não conte a ninguém e não me decepcionou e uma pena mesmo você não ter gostado, em relação aos joguinhos concordo plenamente que ele sempre faz isso e as vezes irrita um pouco,mas acredito que não existe o livro perfeito.
adorei a resenha.
http://resenhaatual.blogspot.com.br/

Anônimo disse...

Poxa que pena que o livro não te agradou! Eu nunca li nada do Coben, mas morro de vontade! Não tenho muito conhecimento do gênero, e as vezes o livro não era o momento certo... Então talvez seja uma opção tentar outros! Mas obrigado pela sinceridade viu!
Beijokas
Je Fachini
www.jeitodler.com

Unknown disse...

Não conhecia o livro, achei a capa bonita. Pena que não te agradou, acho que não leria.

Sorteio de livro no meu blog rolando: http://goo.gl/i03FzM

http://blogexplicita.blogspot.com.br/

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Alê!
Nunca li nada do Corben e nem tenho taaaanta vontade assim.
Eu também dou segunda chances a alguns autores, mas, tem uns que nem merecem porque olha...
Beijos
Balaio de Babados | Participe da promoção Natal do Babado

Unknown disse...

Oi Ale.

Uma pena que essa leitura seja tão mal construída assim. Eu li um livro dele somente e adorei, já estou com o segundo aqui. Espero não me arrepender. kkkkk A capa está maravilhosa, só que fiquei na dúvida se o desaparecimento da menina tem a ver com o tal pedófilo. kkkkk :P :P Só lendo para saber se vou gostar e responder minhas dúvidas. Bjoks da Gica.

umaleitoraaquariana.blogspot.com

Michael disse...

Oi Alê!
Que pena que não gostou do livro, porém ninguém gostou =(
É por isso que leio varias resenhas sobre o livro que quero antes de comprar.
blogmichaelvasconcelos.blogspot.com

Sil disse...

Olá, Alê.
É uma pena que você não gostou do livro e está desistindo do autor. Eu adoro os livros dele. O que mais gosto são essas reviravoltas que a história dá. Mas aprecio sua sinceridade, e não adianta fica insistindo em uma coisa que você não está gostando.

Blog Prefácio

Tony Lucas disse...

Oi, Alê! Tudo bem? Nossa, é realmente uma pena saber que "Cilada" não te agradou. Ainda não li nada do Coben e agora estou muito preocupado: será que irei achar o mesmo das obras dele? Espero que não. Adorei a resenha e a sua sinceridade! :)

PS: Indiquei vocês no "Blog Amigo Awards 2015"!

Abraço

http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

Gabriela CZ disse...

Que tenso isso, Alê. Nunca li nada do Harlan Coben, e pelo visto nem vou. Me parece que seus livros são uma forçação de barra só. Começo a me perguntar como vende tanto. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Vanessa Vieira disse...

Gostei da resenha Alê. Ainda não li nada do Harlan Coben, mas não vejo a hora de reverter este quadro. Abraço!

www.newsnessa.com

Carolina Garcia disse...

Oi, Alê!!

Uma pena que você se decepcionou tanto com dois livros do mesmo autor. No seu lugar eu também não desejaria ler mais nada, mas recentemente li O Inocente dele e achei bem legal.

O fim e os culpados foram previsíveis para mim, mas mesmo assim achei um enredo bem construído e bem feito.

Ainda tenho curiosidade sobre as obras do autor então vou deixar de lado esse lançamento e pegar um dos títulos premiados. Quem sabe não seja melhor, né?

Bjs

livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Carla disse...

Nossa, Alexandre! Eu nunca li nada do autor, mas esses dias mesmo duas amigas estavam falando sobre como ele é bom... Já leram vários livros. Me empolguei pra conhecer, mas pelo jeito não é isso tudo.

Beijos, Entre Aspas

Gustavo Gouveia disse...

Todo mundo fala maravilhas do Coben, mas eu não acho ele isso tudo não. A maioria dos livros é sobre gente desaparecida e tals, com historia rasa e sem sentido. Sou mais Agatha Christie e Gillian Flynn.

www.cidadedosleitores.blogspot.com

Unknown disse...

Eu amooooo os livros do Harlan Coben, tem sempre um desfecho incrível, esse eu não li ainda e vi que te desagradou um pouco!

Unknown disse...

Oi!
Faz um tempo que vejo as pessoas comentarem muito sobre as obras de Harlan Coben mais ainda não peguei nenhum historia do autor que me interessou para conhecer sua escrita, e uma das coisas que me incomodou nesse livro foi a falta de verossimilhança para mim um livro policial tem que trazer essa ideia de real !!

Patrini Viero disse...

Sempre leio resenhas extremamente positivas com relação aos livros do Coben, mas ainda não tive oportunidade de ler nenhuma de suas obras. Gostei da sinceridade com que tu escreveu a tua opinião, acredito que isso seja importante ao indicar ou não uma leitura a alguém. Personagens rasos são realmente cansativos, e acredito que seja complicado ligar-se a qualquer um deles. Concordo que a premissa tinha tudo para ser uma boa história, mas talvez os participantes desse enredo não tenham favorecido o autor.

Camila Monteiro disse...

Eu li esse livro há tempo tempo que nem me recordo da história mais. Lembro que gostei na época, mas eu era um leitora mais crua, talvez hj, um pouco mais critica eu perceba essas coisas que vc disse.
Só não me atrevo reler kkkkk

>> Vida Complicada <<

Unknown disse...

Já ouvir falar sobre Harlan, mas muito vagamente. Pela resenha do livor me parece que não é uma estória que valha a pena ler, principalmente quando você tem dezenas de livros esperando por você. Além de que, o gênero investigativo não faz meu estilo. Uma pena, pensei que o autor fosse melhor rsrsrs.

Postar um comentário

 

Além da Contracapa Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger