segunda-feira, 7 de março de 2016

RESENHA: Dragões de Éter - Corações de Neve

“Porque a metade da vida de um ser humano envolve sobreviver ao mundo. A outra metade envolve descobrir um significado para sua existência.
Para o primeiro, existe o trabalho, o instinto e a evolução natural. 
Para o segundo, existe o amor, a fé. 
E o sonho.” (DRACCON, 2009, 375)

***

Há quatro anos li o primeiro volume da série Dragões de Éter, Caçadores de Bruxas, e mesmo tendo adorado a leitura, por algum motivo protelei a leitura da continuação, Corações de Neve.

ATENÇÃO: a sinopse (parágrafo abaixo) CONTÉM SPOILERS do livro anterior. O restante da resenha é SPOILER FREE.

Anísio Brandford se torna rei de Arzallum e, para sua coroação, comparecem reis e emissários de toda a Nova Ether. Mas a agitação na cidade não se deve apenas a coroação do novo rei, mas também ao torneio de boxe Punho de Ferro, no qual o príncipe Axel Brandford irá participar. Enquanto o torneio segue com lutas épicas, um prisioneiro inconformado com a distribuição da riqueza é liberado da prisão, duas sociedades secretas se juntam para renascer das cinzas, uma adolescente passa por um ritual de iniciação e dois irmãos descobrem vínculos sinistros de sua família com a magia negra. 

O grande barato da saga criada por Raphael Draccon são as inúmeras referências a personagens de contos de fada, da literatura e do mundo pop como um todo. E a melhor parte é que o autor não tem medo de se apropriar destes personagens, criando novas facetas e dando-lhes novos destinos, mas sempre respeitando suas origens. 

O problema de Corações de Neve é seu ritmo vagaroso. Boa parte do livro gira em torno do torneio de boxe, então para aqueles leitores que não tem nenhum interesse pelo esporte, assim como eu, ler cenas e mais cenas detalhando lutas intermináveis, pode ser um pouco cansativo. Apesar do torneio até ter algum nível de importância para o desenvolvimento da trama, me pareceu que o autor investiu muito na parte menos interessante da estória. 

Fiquei com a sensação de que o segundo livro de Dragões de Éter foi como uma partida de xadrez. Vemos os peões se movendo gradualmente pelo tabuleiro que é Nova Ether, sendo colocados em pontos estratégicos, mas a verdade é que falta ação. E talvez até por isso o torneio de boxe tenha tomado proporções tão grandes: para disfarçar a ausência de ação no restante da estória. Senti que o ritmo do livro aumentou apenas no último terço, quando o jogo de xadrez se tornou mais intenso, mas, como previsto, o “xeque-mate” foi reservado para o último livro. 

O fato é que a estória de Corações de Neve está muito pulverizada (como a sinopse comprova), dividida em inúmeras frentes de ação, contando com elencos diferentes, de modo que falta unicidade. E, a meu ver, as partes mais interessantes foram subaproveitadas. No fim das contas, me pareceu faltar um protagonista, alguém que não apenas fosse o cerne da estória, mas que também conquistasse o leitor e fizesse com que ele se importasse e se envolvesse com os eventos que se passam em Nova Ether. 

Além disso, alguns personagens me tiraram do sério com suas crises adolescentes, agindo como se seus dramas juvenis fossem o fim do mundo. Outros, por sua vez, me pareceram que agiam de forma exagerada, como se o peso do mundo estivesse em seus ombros. Os vilões fizeram um bom trabalho apimentando a trama, porém, também me pareceram caricatos, sempre movidos por ambição e ganância, dispostos a tudo para alcançarem seus intentos. Em suma, faltou equilíbrio na construção dos personagens. 

A narrativa, em primeira pessoa por um narrador que está literalmente conversando com o leitor, continua fluida e envolvente. Entretanto, achei que o autor se deu a liberdade de fazer muitas digressões filosóficas ao longo da estória, dando ares de pretensiosidade ao texto. 

Creio que no próximo livro, Círculos de Chuva, as tramas antes dispersas irão convergir rapidamente em uma mistura que tem potencial de sobra para ser explosiva. Apenas espero que este potencial seja plenamente explorado. 

Título: Dragões de Éter – Corações de Neve
Autor: Raphael Draccon
N.º de páginas: 495
Editora: LeYa

21 comentários:

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Alê!
Eu amo essa trilogia. Esses livros são uns dos meus favoritos nacionais.
O meu problema foi com Caçadores de Bruxas, que achei o começo bem chato e a leitura não andava. Mas, depois da metade do livro, tudo fluiu e li os 3 livros em menos de uma semana.
Sua resenha me deu vontade de reler a história.
Beijos
Balaio de Babados
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Porcelana - Financiamento Coletivo

Alana Gabriela disse...

Helloo, Ale! Tudo numa nice!?
Nossa, a sua resenha está perfeita. Muito bem conduzida, bem escrita e instigante, conduzida com primor. Sério, fiquei estupefata no bom sentido simplesmente porque quando vinha visitar o blog lia no geral as resenhas da Mari.
Eu nunca li nada do Raphael, mas tenho curiosidade para conferir como ele explora a escrita e como ele cria mundos. Ganhei Cemitério de Dragões no ano passado, no entanto ainda não tive coragem de iniciar a leitura. Estou numa fase desenfreada para ler Fantasia e Ficção Científica ahaha. Mas continuo protelando o livro dele.
Essa leitura, pelo seus comentários, parece um pouco mais fraca do que a primeira obra. Eu não leria agora. Essa falta de ação com certeza me incomodaria, bem como a parte inicial que é preenchida por cenas de Boxe.
Espero que o próximo livro melhore para você.
Beijin...
Pieces of Alana Gabriela

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Alê.
Eu tenho a trilogia, mas ainda não comecei a ler.
Quanto ao segundo livro, gosto da característica de usar figuras da cultura pop e principalmente de remodelar os personagens. Contudo, por outro lado, personagens adolescentes em crime me desanimam por completo. Ademais, pouco interesse tenho em Boxe.
Contudo, como já tenho os livros, pretendo ler. Espero que em geral a trilogia compense.

Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de reinauguração. Serão quatro vencedores!

Thalita Branco disse...

Olá Alê!
Eu só consegui ler o primeiro titulo da trilogia. Achei o narrador completamente insuportável. E pelo visto não fiz mal em passar a trilogia toda para a frente. Pela a sua resenha eu também não iria gostar do segundo volume.
Bjs

EntreLinhas Fantásticas - SORTEIOS NO BLOG! PARTICIPE :)

Sil disse...

Olá, Alê.
Eu ainda não li nenhum livro do autor, mas tenho muito curiosidade em conhecer essa trilogia. mas sua resenha me desanimou um pouco. Mas apesar de que segundo livros raramente são os melhores, a maioria deles é onde o autor estica a história para fechar tudo no terceiro. Mas ainda quero ler hehe.

Blog Prefácio

Theresa Cavalcanti disse...

Não tinha visto esse livro ainda, mas não parece interessante.

Unknown disse...

Não tenho muita curiosidade para ler histórias desse gênero. E também não curti o fato de que os personagens ficaram com "draminhas" de adolescentes.
Infelizmente, eu também me irritaria muito. Kkkk

Unknown disse...

Oi :D
Comecei a ler o primeiro mas não terminei, não sei o que aconteceu na verdade. Estava adorando a história, mas de alguma forma não conseguia devorar as páginas.
Pretendo finalizar esse ano!
Bj


@saymybook
saymybook.blogspot.com

Alice Duarte disse...

Oiiii

Não li nenhum livro desse autor, mas a história parece interessante. O problema são os tais draminhas que me irritam profundamente

Beijokas

naprateleiradealice.blogspot.com.ar

pausaparapitacos disse...

Confesso que não li a resenha toda, pois respeitei o seu aviso de spoilers, rs.
Eu to doida pra ler essa série e quero ser surpreendida! Rs...

Beijos!
Fabi Carvalhais
Pausa Para Pitacos

Anônimo disse...

Oi, Alê!

Os livros do Draccon não chamam minha atenção, apesar de eu amar fantasia. Acho que o problema esteja na escrita e nos personagens que parecem se perder no meio da narrativa... Li muitas resenhas que diziam o mesmo que você. Por isso, fiquei apreensiva.

Beijocas.
http://artesaliteraria.blogspot.com.br

Daniel Igor disse...

Estou louco para ler a trilogia, mas o segundo livro parece que não irá me agradar muito. Gosto de narrativas mais aceleradas e eletrizantes quando se trata de fantasia. O Raphael é mesmo conhecido por suas referências à diversas culturas. Do autor só tenho Cidades de Dragões e quero muito poder ler Cemitérios de Dragões. Abraços!

Casos Acasos e Livros disse...

Oi, Alê!
Não conhecia a série.
Mas vejo muitos livros assim, do estilo jogo de xadrez, que mexe as peças com pouca ação, para em volumes posteriores realmente dar o xeque mate (Vi muito isso no livro 4 do Game of Thrones).
Amo narradores que conversam com a gente e em 1ª pessoa.
<3

Beijooos

www.casosacasoselivros.com

Camila Monteiro disse...

Ale, tô sem paciência pra personagens com crise adolescente! Te detesto boxe, então acho que vou passar essa hei?!
Tenho uma fila tao grande aqui que é bom ler resenhas como a sua que me ajudam a selecionar as coisas.

Valeu!

>> Vida Complicada <<

RUDYNALVA disse...

Alê!
Leitura lenta é difícil de acompanhar, no entanto acredito que o livro tenha o lado bom de trazer uma filosofia complementar atrativa.
No momento não poderei acompanhar a série, quem sabe mais para frente?
“Não basta saber, é preferível saber aplicar. Não é o bastante querer, é preciso saber querer.” (Johann Goethe)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
TOP Comentarista de março com 4 livros 3 ganhadores, participem!

Theresa Cavalcanti disse...

Nem tive coragem de ler a resenha, por conta dos spoilers. Mas fiquei curiosa sobre o livro,

Gabriela CZ disse...

Tenho bastante vontade de ler essa série, Alê. A falta de ação e o excesso de núcleos que você mencionou me preocupam um pouco, mas talvez assim eu fique preparada para o que vou encontrar. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Maria Ferreira- Impressões de Maria disse...

Olá, Alê.
Raphael Draccon é um autor com quem eu tenho um pé atrás. Ainda não li nenhum de seus livros, mas há um tempo atrás li uma resenha tão negativa que acho que traumatizei.
Esse livro também não me chamou atenção, principalmente pelas descrições das cenas de boxe, que acho demasiado violento.
Abraços.
Minhas Impressões

Cris Setúbal disse...

Já tinha visto esse livro antes, mas não sinto aquela enorme vontade de ler, ainda mais depois quie você disse que as coisas só melhoram no final. Mas como esse não se trata do primeiro livro, vou pesquisar mais sobre o primeiro pra ver se eu gosto. Beijo!

Carolina Garcia disse...

Oi, Alê!

Eu estou há séculos postergando a leitura do primeiro livro dessa trilogia também!
Bom saber que o primeiro é incrível e uma pena que segundo deixa a desejar, mas acontece de vez em quando.
Ficarei esperando pela sua resenha do terceiro para ter certeza se devo começar a ler logo! Hahaha

Bjs

livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Unknown disse...

Oi!
Sempre tive muito curiosidade sobre essa serie do Raphael Draccon, mas ainda não conheço a historia direito, mas lendo a resenha desse livro, com certeza parece que a serie fica mais lendo a mais explicativa do como se tivesse se preparando para o final como costuma acontecer nos segundos livros de series !!

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