sexta-feira, 25 de março de 2016

RESENHA: Laranja Mecânica

Laranja Mecânica é um clássico da literatura inglesa e um dos livros mais importante do gênero distópico, pois passados mais de cinquenta anos de sua publicação, a obra continua mais atual e relevante do que nunca.  

Em uma sociedade futurista, comanda por um governo totalitário, conhecemos Alex, um adolescente de quinze anos, e seus amigos. Mas o que os une não é a amizade e sim o gosto pela violência. Certo dia um assalto não sai como planejado e Alex é deixada para trás por seus amigos, sendo levado à prisão. Lá ele é submetido a uma técnica para torná-lo uma pessoa avessa a maldade. 

A narrativa de Laranja Mecânica é densa em virtude do linguajar próprio utilizado por Alex e sua gangue. Apesar desta edição contar com um glossário ao final, optei por ler o livro sem a ajuda de tal recurso, pois esta era a intenção de Burges: jogar o leitor nesse mundo distópico e fazê-lo sentir na pele o estranhamento de mergulhar em uma cultura desconhecida. Apesar dessa dificuldade inicial, creio que a partir da segunda parte do livro já estava acostumado com esta linguagem. 

Alex é um protagonista e tanto. Narrando em primeira pessoa suas aventuras, temos um olhar honesto, de quem não tem nada a esconder e que revela seus defeitos sem pudor, principalmente sua personalidade perversa, egoísta e aproveitadora. Mas chega um momento que o leitor se apega a ele, e mesmo não concordando com suas ações ou forma de pensar, queremos vê-lo superar a situação em que se encontra. 

Os demais personagens também foram bem desenvolvidos, mesmo que suas aparições na estória sejam mais restritas. O desfecho, mesmo não sendo o ápice da obra, é extremamente interessante em virtude do amadurecimento do protagonista. E foi só ao final da leitura que percebi que a jornada de Alex pode ser interpretada tanto literalmente, quanto metaforicamente. Ou ainda de ambas as formas.

“— [...]. Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor que um homem que teve o bem imposto a si?” (BURGESS, 2012, p. 156)

Laranja Mecânica conta com uma trama simples, mas que impressiona pela quantidade de reflexões que provoca. A mais interessante delas é o tratamento ao qual Alex é submetido, que é baseado na terapia da aversão: Alex passa a sentir um mal-estar físico ao ser exposto ou a imaginar qualquer forma de violência. É daí que surge o cerne do livro: onde fica a liberdade do ser humano e seu poder de escolha? Ser forçado a escolher o bem é ser realmente uma boa pessoa? 

Em um outro nível de análise, podemos ver uma crítica à sociedade e a forma como esta condiciona as pessoas. É impossível não se questionar até que ponto o convívio social não tolhe parte da nossa identidade e livre-arbítrio. Exemplifico: uma criança que sofre bullying por ser diferente. O grupo social em que convive está lhe dizendo que sua forma de ser não é aceitável. Ou seja, não se precisa chegar ao extremo da lavagem cerebral para que tenhamos um cerceamento de escolha. E quem nunca fez ou deixou de fazer algo por considerar, em primeiro lugar, o que os outros iriam pensar, que atire a primeira pedra. 

Para além das reflexões sobre o condicionamento comportamental, Burgess também aborda temas como a eficácia do sistema prisional, a adolescência e o processo de amadurecimento, a vida em sociedade, os jogos de poder e de manipulação. E esta é uma das maiores belezas de Laranja Mecânica: seu infindável potencial para discussões sobre os mais variados assuntos. 

Laranja Mecânica é um livro universal e atemporal pois dialoga diretamente com a essência do que é ser humano. Um livro que impacta tanto por sua estória, quanto por suas reflexões, e que certamente merece ser lido e relido. 

O livro foi adaptado para o cinema em 1971 por Stanley Kubrick. 

Título: Laranja Mecânica 
Autor: Anthony Burgess
N.º de páginas: 352
Editora: Aleph
Exemplar cedido pela editora

Compre: Amazon
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21 comentários:

Livros & Entretenimento disse...

Olá :)
Tenho muiiiiiiiiiiiiita vontade de ler esse livro, mas confesso que receio pela violência que contém, essa edição da Aleph ta incrível *-----*

Beijos!

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Alê!
Eu ganhei esse livro num encontro de blogueiros aqui na minha cidade, mas ainda não li. Estou me preparando parar entrar nesse mundo violento.
Beijos
Balaio de Babados
Participe do sorteio Mês das Mulheres em Dobro
Porcelana - Financiamento Coletivo

Unknown disse...

Oie! Eu comprei esse livro na última Black Friday mas não li até agora. Gosto muito do filme. Sem dúvidas essa edição da Aleph é muito boa!

Beijos,
http://www.girlfromoz.com.br/

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Alê.
Eu sou suspeito para comentar sobre esse livro, visto que é o meu favorito. Pelos mais diversos motivos, Alex mudou a minha forma de ver a literatura.
Dois dois principais aspectos que me fazem amar a obra foram comentados por você: a superfície textual diferenciada e a crítica social contida no livro. Em relação ao primeiro, acho simplesmente genial. São raros os autores que costumam sair do lugar comum; quando isso acontece, merece ser elogiado. Quanto à critica, ela ainda parece muito pertinente, em todos os aspectos. Apesar da quebra de paradigmas que estamos vivendo por causa dos mais diversos movimentos sociais, ainda é possível encontrar uma normatização enorme.
Magnífica obra e magnífica resenha.

Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de reinauguração. Serão quatro vencedores!

Sil disse...

Olá, Alê.
Eu já tentei comprar esse livro várias vezes no Submarino quando está em oferta, mas nunca consigo. Quando vou comprar ele está esgotado hehe. Mas um dia vou conseguir hehe. Eu não tinha vontade de ler ele, mas depois que li uma resenha do Marcos, fiquei com muita vontade. E a sua resenha só veio reafirmar o quanto o livro merece ser lido. Não vou atirar a primeira pedra porque tudo o que vou fazer eu penso no que os outros vão pensar hehe

Blog Prefácio

Gabriela CZ disse...

Tenho uma vontade enorme de ler esse livro, Alê. Já vi diversas referências à trama e suas reflexões que a cada vez me deixam mais curiosa. E seus comentários só aumentaram minha ansiedade por essa leitura. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Carolina Garcia disse...

Olá, Alê!!!

Laranja Mecânico é um clássico que pelo menos uma vez na vida somos obrigados a ler. É um desses livros.
Sua resenha está ótima. :)

Bjs

livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Unknown disse...

Oi!
Faz um tempo que vi esse livro e fiquei bem interessada na historia e lendo a resenha gostei bastante principalmente das reflexões que o autor acaba nos fazendo e se tiver oportunidade quero muito ler !!

Unknown disse...

Faz um tempo que estou querendo esse livro, todo mundo fala tão bem e é um clássico né?
Post it & Livros

Cris Setúbal disse...

Esse ano estou tentando incluir mais clássicos na minha lista de leituras, e até agora estou indo bem, e esse está na minha lista. Sepre tive muita curiosidade em relação a ele e fiquei animada lendo a sua resenha. Espero gostar, beijo!

Vanessa Vieira disse...

Gostei da resenha Alê. Sempre ouvi ótimos comentários acerca de Laranja Mecânica- tanto referentes ao livro quanto a adaptação cinematográfica de Stanley Kubrick. Se tiver oportunidade, pretendo conhecer um pouco mais a respeito da obra. Abraço!

www.newsnessa.com

Tô Pensando em Ler disse...

Olá!!!

Eu AMO este livro. Tanto que tatuei no braço o símbolo do Alex.

Sua resenha está incrível!!! Amei!! E me deu saudade do livro, acho que quero ler de novo.

Bjkss

Lelê

Bianca Sampaio disse...

Oi Alê!
Meu contato com Laranja Mecânica foi com o filme, o qual não gostei tanto, mas as críticas estão presentes e acredito que tenha atingido o objetivo.
Sempre vejo comentários positivos sobre ambos, livro e filme, e como não gostei muito do filme, resolvi comprar o livro para entender melhor a trama criada. Ainda não o li, mas irei fazê-lo em breve.

Beijos,
Epílogos e Finais

Tony Lucas disse...

Oi, Alê! Tudo bem? Eu adoro uma boa distopia e essa parece ser ótima. Já li várias resenhas sobre Laranja Mecânica e muitas diziam que o livro tem muitas cenas impactantes e de embrulhar o estômago, o que me deixou com um certo receio de ler a obra, mas ainda assim pretendo lê-la. Adorei a resenha! :)

Abraço

http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Oi Alê, tudo bem?
Sempre vejo resenhas sobre esse livro mas ele nunca chegou à minha estante ;x
Vi o filme e mesmo sendo genial, é forte. Quero muito ler, mas preciso me preparar hah

Bj
@saymybook
saymybook.blogspot.com

Camila Monteiro disse...

Fiz resenha desse livro no blog também. Aliás hoje! Hehehe
Foi uma experiência interessante ler essa obra.

>> Vida Complicada <<

Theresa Cavalcanti disse...

Sou louca para ler esse livro, pois todo mundo fala super bem dele. Mas nunca aparece a oportunidade.

Ana I. J. Mercury disse...

Eu fico entre a cruz e a espada por este livro!!!
Quero lê-lo pois a crítica é muito positiva é um dos clássicos mais benquistos.
Porém, é bem diferente do que gosto de ler, do que estou acostumada. Então acabo postergando a leitura, e nem sempre tenho vontade de me aventurar por novas ideias.
Mas acho que ainda tentarei pelo menos, lê-lo.
bjss

Unknown disse...

Já assisti o filme e eu me sinto estranha (a diferentona kkk), por ser uma das pessoas que não curtiram essa adaptação do livro.
Porém, creio que darei uma chance ao livro, pois amo clássicos da literatura e ao mesmo tempo, a obra possui críticas sociais que eu preciso ler.

Maria Ferreira- Impressões de Maria disse...

Olá, Alê.
Li esse livro há alguns anos atrás e estou precisando relê-lo. No entanto, lembro desse aspecto que você citou: chega uma hora que passamos a ver o Alex com outros olhos e até ficamos com pena dele. Pensamos que mesmo ele tendo feito tantas atrocidades, talvez não merecesse o tratamento que recebeu.
Excelente resenha.
Abraços.

Minhas Impressões

Denise Simino disse...

Oi Alê,

Esse é um livro mítico na vida de muitos leitores, o melhor do melhor. Morro de vontade de ler, mas tenho medo, confesso que a excentricidade da estória e da escrita do autor me assustam um pouco. Nem o filme eu vi ainda, então talvez eu veja o filme primeiro e depois leia.

Bjs, @dnisin
www.sejacult.com.br

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