“O mal despertava um fascínio eterno.” (GALBRAITH, p. 65, 2016)
Aprendi a não esperar da série Cormoran Strike livros ágeis que me impelem a devorar suas páginas até encontrar a resposta para o mistério da trama. Aprendi também que qualquer lentidão vale a pena porque os desfechos são sempre interessantes e surpreendentes. Mas aprendi, acima de tudo, a gostar de seus protagonistas, Strike e Robin, e querer saber mais sobre eles. Por isso, quando “Vocação para o Mal” chegou às minhas mãos, eu achei que sabia o que esperar, mas fui surpreendida.
Robin Ellacott está no escritório para mais um dia de trabalho quando um pacote chega endereçado a ela. Para o seu horror, dentro há uma perna decepada. Quando seu chefe e parceiro, o detetive Cormoran Strike, fica sabendo do ocorrido, ele imediatamente pensa em quatro pessoas de seu passado que poderiam ser responsáveis por tal ato e todas elas são extremamente violentas e perigosas.
Robert Galbraith sempre presenteou seus leitores com intrigantes histórias policiais, mas o que faz de “Vocação para o Mal” um livro diferente dos outros é termos Strike e Robin no centro do caso, não apenas como investigadores. Eles são os alvos e a resposta está em algum lugar do misterioso passado de Strike. Eu diria até que mais interessante do que descobrir quem é o vilão é conhecer essas histórias sobre o detetive que é, desde o começo da série, um mistério por si só. Strike é um homem fechado e pouco sabemos sobre ele, mas não há dúvidas de que há muito para ser explorado.
Robin, por sua vez, ganha mais destaque do que nunca, estando às vésperas de casar com um homem com quem vive um relacionamento que não está em seu momento mais feliz (e muito disso devido ao trabalho dela com Strike). A personagem foi aos poucos merecendo o seu espaço dentro da série, se tornando cada vez mais uma detetive e menos uma assistente que está ali apenas para fazer uma pesquisa e vez ou outra ter um golpe de sorte.
Como Strike desconfia imediatamente de quatro pessoas e suas razões para eleger esses suspeitos são claras, não há urgência (ou surpresa) na descoberta do motivo. O que queremos é apenas desvendar a identidade do criminoso. Para mim, particularmente, o mais interessante era descobrir as circunstâncias envolvendo os casos que fizeram Strike desconfiar dessas pessoas.
Assim, “Vocação para o Mal” é o livro em que a trama policial abre espaço para que o leitor conheça um pouco mais sobre os seus protagonistas, acompanhando o desenvolvimento deles e a evolução do seu relacionamento. Aliás, eu preciso reconhecer que adoro a dinâmica dos dois. Robin e Strike são personagens ricos individualmente (um pelo passado que guarda, outro pelo futuro que promete), mas sua relação sempre foi um dos pontos altos da série. Eles não são exatamente chefe e funcionária, nem exatamente parceiros, nem exatamente amigos, nem exatamente mais do que amigos. Nesse ponto da série, eu não colocaria minha mão no fogo para afirmar nada sobre esses dois. Haverá um relacionamento romântico entre eles? Parece haver uma semente plantada nesse sentido, porém mais para o leitor captar do que pelos personagens, já que eles não parecem saber exatamente como veem um ao outro.
A narrativa se dá toda em terceira pessoa, o que não impede o leitor de conhecer a fundo os personagens. Em alguns momentos, parecemos conhecer Robin e Strike melhor do que eles conhecem a si mesmos (o que é um ótimo contraponto com o fato de que muito pouco sabemos sobre a bagagem que ambos carregam). O mesmo vale para o vilão, cujos sinistros pensamentos acompanhamos mesmo que não estejamos vendo o mundo pelos seus olhos.
Estupro, pedofilia, relações abusivas e um perturbador distúrbio psicológico (sobre o qual eu nada conhecia) chamado “Transtorno de Identidade da Integridade Corporal” no qual as pessoas sentem necessidade de amputar membros do próprio corpo e acreditam estarem no corpo errado são alguns dos temas abordados na trama.
Com “Vocação para o Mal” a série Cormoran Strike mostra pela terceira vez o quanto é promissora. Quanto mais sabemos sobre seus personagens, mais interessante suas histórias se tornam. Foi o primeiro dos três livros em que não senti as páginas passarem e não queria parar de ler. Também foi o primeiro livro em que não achei a história policial tão interessante, mas isso não incomoda porque fica claro que seu intuito era outro.
O que diferencia a série de outras tantas do gênero policial é seu notável planejamento. Enquanto outras tem início com uma história centrada em um detetive ou policial e depois que o livro faz sucesso ganham sequência em histórias em que o personagem está ali apenas para investigar um caso corriqueiro (é o caso, por exemplo, da série Lyncon Rhyme, de Jeffrey Deaver), a série Cormoran Strike apresentou seu personagem em dois livros policiais tradicionais (mas que mostravam seu potencial e o fato de ele não estar ali apenas para investigar um crime), mas só no terceiro livro foi explorá-lo. Resultado: a curiosidade é enorme para saber um pouquinho mais sobre ele. O terreno foi preparado para chegarmos aqui e essa abordagem me parece perfeita, afinal, é preciso tempo para desenvolver uma certa familiaridade com uma pessoa antes de conhecermos ela a fundo. Isso me remete a um dos meus detetives favoritos, Harry Hole, cujas histórias são claramente para o seu desenvolvimento, mas são casos policiais porque o personagem calha de ser um detetive. Em meio a cada vez mais tramas supérfluas e repetitivas, são livros como “Vocação para o Mal” que restauram a minha esperança no gênero policial. Não é uma trama espetacular (eu diria até que o caso é o mais fraco da série), mas deixa claro que está trilhando um caminho que pode sim vir a ganhar este adjetivo (ainda mais que todos sabemos quem está por trás do pseudônimo Robert Galbraith).
O que diferencia a série de outras tantas do gênero policial é seu notável planejamento. Enquanto outras tem início com uma história centrada em um detetive ou policial e depois que o livro faz sucesso ganham sequência em histórias em que o personagem está ali apenas para investigar um caso corriqueiro (é o caso, por exemplo, da série Lyncon Rhyme, de Jeffrey Deaver), a série Cormoran Strike apresentou seu personagem em dois livros policiais tradicionais (mas que mostravam seu potencial e o fato de ele não estar ali apenas para investigar um crime), mas só no terceiro livro foi explorá-lo. Resultado: a curiosidade é enorme para saber um pouquinho mais sobre ele. O terreno foi preparado para chegarmos aqui e essa abordagem me parece perfeita, afinal, é preciso tempo para desenvolver uma certa familiaridade com uma pessoa antes de conhecermos ela a fundo. Isso me remete a um dos meus detetives favoritos, Harry Hole, cujas histórias são claramente para o seu desenvolvimento, mas são casos policiais porque o personagem calha de ser um detetive. Em meio a cada vez mais tramas supérfluas e repetitivas, são livros como “Vocação para o Mal” que restauram a minha esperança no gênero policial. Não é uma trama espetacular (eu diria até que o caso é o mais fraco da série), mas deixa claro que está trilhando um caminho que pode sim vir a ganhar este adjetivo (ainda mais que todos sabemos quem está por trás do pseudônimo Robert Galbraith).
Título: Vocação para o mal (exemplar cedido pela editora)
Autor: Robert Galbraith
N° de páginas: 496
Editora: Rocco
23 comentários:
Oi, Mari.
Não sou muito de ler livros desse gênero, e confesso que os temas abordados no livro são bem fortes, porém fiquei curiosa ao extremo para conhecer os personagens cheios de mistérios citados por você. :)
Ótima resenha!
Beijos,
Elidiane Ferreira - Leitura Entre Amigas
http://leituraentreamigas.blogspot.com/
Oi, Mari!
Essa série vai ter mais livros?
Conheço muita gente que rasga elogios por esses livros, mas ainda não bateu a vontade de ler, sabe...
Beijos
Balaio de Babados
Oi Mari, eu adorei muito o que você escreveu sobre esse livro. Eu nunca li algo do tipo mas já fiquei bastante eufórica com todo o enredo, adoro um bom suspense. O autor nos trás grandes revelações e o mistério envolvido me chamou muito atenção.
Beijos
O Reino Encantado de uma Leitora
Nossa, esse livro da medo.Mas eu adoro um livro policial, mas percebi que esse tem uma emoção a mais, o que me fez gostar muito dele.
Quero esse livro pra ontem, Mari! Com certeza já o queria, mas depois desses seus comentários e a menção de ser o melhor livro da série me fez ver que preciso dele. E depressa! Enfim, ótima resenha.
Beijos!
Oie...
Essa série de Roberth Galbraith está na minha lista de desejados faz um bom tempo, mas, não está sobrando dinheiro pra comprar rsrsrs...
Gostei dos temas abordados, pois, é bem diferente do que estou acostumada a ler e assim como você também não conhecia esse transtorno mencionado. Minha curiosidade a respeito dessa série ficou ainda maior e pretendo ler logo logo.
Beijos
http://coisasdediane.blogspot.com.br/
Eu ia falar que essa capa é parecida com de um livro da autora de HP, mas pera...... hahahaha
Se eu quero indicações de obras de suspense, aqui é o blog certo. Adoro ver essas resenhas por aqui, é um gênero que gosto bastante, mas que costumo deixá-lo de escanteio por preguiça de ler a fundo. Vai entender.
Essa série pelo jeito possui todos os elementos de mistério em peso, já fiquei curiosa desde a parte da perna decepada, e pra descobrir quem é o criminoso!
xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Poxa, que legal, fiquei muito interessada, adoro livro de suspense. Acho que vou passar pra frente na minha lista de interesses (que é sempre enorme pq leio bem mais devagar que você rs).
Beijos
http://www.rabiskos.com.br/
Oi Mari! Não li o livro, mas pela sua resenha tem temas muito fortes! Gosto quando o autor explora os personagens, acho que o enredo só ganha com isso.
O livro parece ser bem interessante!
Bjs, Mi
E quem diria que Angry Birds daria uma filme super divertidos e com piadas inteligentes?
O que tem na nossa estante
adorei a resenha, bjs :)
já estou te seguindo
eu também tenho um blog se quiser conhecer ficarei muito feliz
lanibelezafeminina.blogspot.com.br
Olá, Mari.
A narrativa mais lenta não me incomoda. Aliás, já estou acostumado com obras assim. Se o autor usar esses momentos de maneira inteligente, eu saio bastante satisfeito.
Outro fator que me impulsiona a querer ler a série é o planejamento. Gosto de enredos bem planejados e desenvolvidos.
Ótima resenha.
Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de maio. Serão três vencedores!
Olá!
Eu nunca procurei nada sobre essa série e acabei de me arrepender por não ter feito isso!
To gostanto bastante desse gênero policial e essa série parece ser ótima.
Mesmo você dizendo que esse foi o "menos legal da série".
Achei super bizzaro esse Transtorno de Identidade da Integridade Corporal, fiquei com medo e curiosa hahaha
Olá, Mari.
Não sei se quero ler esse livro. Quando fui ler o primeiro, li tanta comparação aos livros da Agatha, e ao Poirot, alguns até dizendo ser melhor que os da Rainha do crime, que acabei me decepcionando com a história. Não que eu não tenha gostado, mas li com o nariz torcido. Então não sei se quero continuar a série. Mas gostei de saber que a Robin teve mais destaque nesse livro. Foi a personagem que eu mais gostei no anterior.
Blog Prefácio
Oie Mari =)
Não li nenhum livro dessa série, mas confesso que a premissa dela não me chama muito a atenção. Pelo menos não no momento.
Fico feliz em saber que você aproveitou a leitura e que o autor (cof, cof tia J.K) consegue fugir dos clichês do gênero.
Ótima resenha!
Beijos;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary
Hey, Mari, tudo bem?
Não passo por aqui há um tempo, mas não estou conseguindo uma brecha nem para ler direito de tanto trabalho T_T #CadêFérias?
Apesar de ter amado O Chamado do Cuco, essa não é uma série que eu pretendo dar continuidade imediata, apesar de estar bem curioso. Como você disse, JK optou por uma narrativa mais lenta e com mais detalhes e isso acaba fazendo com que eu leve mais tempo para ler. Gosto muito quando livros abordam temáticas novas e confesso que também não conhecia nada sobre esse Transtorno O_O.
Acho que vou esperar lançar todos para depois retomar a leitura.
Grande abraço.
Matheus Braga
Vida de Leitor - http://vidadeleitor.blogspot.com.br/
Oi, Mari! Tudo bem? Li O Chamado do Cuco há algum tempo e gostei muito, apesar de ter achado a resolução do mistério previsível. Contudo, amei a construção de Cormoran e Robin e fiquei com muita vontade de conhecê-los melhor. Esse terceiro livro parece ser o ideal para mim e tenho certeza que vou curti-lo muito, mas antes tenho que ler O Bicho da Seda. Adorei a resenha! <3
Abraço
https://tonylucasblog.blogspot.com.br
Essa é uma das únicas resenhas positivas que li sobre as obras do Robert Gilbraith! Mas ainda não me animei a ler... :(
www.literaturaliteral.wix.com/litblog
Primeiro eu devo confessar que estou CHOCADA com o Transtorno de Identidade da Integridade Corporal! Nunca imaginei que houvesse um transtorno no qual as pessoas querem amputar partes do corpo! É muita coisa pra mim! Hahahahaha
Mas eu adorei sua resenha!!! Estou louca para começar a ler esses livros, só que ainda não tenho nenhum e estou sem comprar livro há algum tempo. =/
Espero que a situação melhore porque eu vi ótimas promoções dessas edições já! :)
E já estarei preparada para ler todos com calma. ;)
Bjs
livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br
Oi!
Gosto muito dos livros policias e logo que vi esse no lançamento fiquei bem interessada e lendo a resenha tenho que ler esse livro, achei a historia muito interessante e fascinante, fiquei curiosa para conhecer mais sobre a historia do detetive e se tiver oportunidade quero muito ler esse livro !!
Mari, acredita que ainda não li nenhum livro da série?
Pois é, comprei o e-book em inglês no lançamento, assim que fiquei sabendo que era da J. K. Rowling, e por fim, to com o e-book aqui ainda para ser lido kkk acabei postergando, postergando...
Mas quero muito ler, e não posso deixar passar este ano.
As resenhas são sempre muito positivas, e falam sobre como são livros diferentes. Gostei muito de como você descreveu a relação da Robin com o Strike que sempre me deixou curiosa pelas resenhas que li. Se eles têm um caso ou não, e como trabalham juntos.
bjs
Ainda não li nenhum livro dessa série, mas não tenho a menor dúvida de que logo o farei e ficarei aguardando a continuação, interessante a ideia de focar o caso nos detetives e com isso explorar um pouco mais sobre o passado dos mesmos, mostrando que ainda há muito para ser dito e revelado, temas pouco abordados e que eu também nunca tinha ouvido falar atrelados a uma narrativa mais lento porém envolvente, fazem dessa estória um prato cheio para os leitores, pretendo ler muito em breve!
Oii, alguém pode me dizer se eu posso ler só esse sem ter lido os anteriores?
Excelente resenha.
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