sábado, 18 de março de 2017

RESENHA: Cujo

“O grito estava entalado na garganta. Era algo vivo se debatendo para sair, e tudo fervilhava no mesmo instante (...)” (KING, 2016, p. 198)

Quando você é fã de um autor, é natural querer ler todos os livros dele, mas também é natural que alguns despertem mais interesse que outros, principalmente quando se trata de uma obra extensa como a de Stephen King. “Cujo”, apesar da fama que alcançou e de a sinopse prometer “um dos livros mais assustadores e emocionantes de Stephen King” pouco me atraia. Mas, se tem alguém que sabe extrair o melhor de uma premissa bizarra e fazer o leitor acreditar totalmente naquilo, esse alguém é Stephen King, então o livro ganhou uma chance.

Tad Trenton é um menino aterrorizado pelo monstro que vive em seu armário e que, toda a noite, sussurra a assustadora promessa de se aproximar dele cada dia mais. Cujo é um dócil São Bernardo de 90kg que pertence a família dos Camber. Como em toda a cidade pequena em que todos conhecem a todos, Tad até já brincou com Cujo, mas isso foi antes de o cachorro ser mordido por morcegos contaminados e desenvolver raiva. Agora, os piores pesadelos de Tad podem se tornar realidade a qualquer momento.

O que me faz gostar dos livros de Stephen King não são as situações assustadoras e sim o que o autor faz com seus personagens nessas situações assustadoras. O principal nunca é a situação em si (de onde surgiu a redoma e como eles vão se livrar dela, como exatamente John Smith adquiriu seus poderes depois do coma, qual a força maligna que paira sobre o Hotel Overlook), mas sim o que ela desperta nos personagens, ou seja, os conflitos psicológicos. Essa é a razão pela qual os livros do autor vão além do mero terror, pois King usa situações assustadoras para extrair as reações dos personagens, ao invés de usar os personagens apenas para transitar em situações assustadoras. Mas em “Cujo” essa característica se perde e por isso o livro me decepcionou.

Longe de ser um livro ruim, “Cujo” apresenta uma situação que se torna gradativamente mais tensa (uma mãe e seu filho presos em um carro isolado e cercado por um cão raivoso). O problema é que a situação é pobre porque os personagens são pobres em dramas e todos os conflitos existem apenas para justificar onde os personagens estarão quando Cujo atingir o ápice da raiva. É um livro frio, sem sentimento.

A abordagem não é de todo decepcionante. Ao invés de alastrar o pânico pela cidade, fazendo com que Cujo atacasse geral, o autor prefere explorar um único ataque ao máximo, elegendo vítimas específicas. Existem outros ataques, mas mesmo esses visam as consequências para o ataque principal. Assim, King consegue extrair o máximo desta situação porque é fácil se colocar no lugar de Donna e seu filho e achar angustiante estar preso em um carro trancado, no calor, sem comida ou água, sem possibilidade de comunicação e com um cachorro violento e atento a qualquer um dos seus movimentos, pronto para atacar você. Mas também é nisso que o livro peca: a situação funciona porque nos colocamos no lugar de Donna e Tad e imaginamos o que é sentir aquilo na pele, mas não porque nos importamos com eles.

Por um lado, é admirável ver como King planeja tudo de forma estender aquela situação ao máximo a fim de que as coisas fiquem realmente complicadas (caso o contrário, logo o leitor se perguntaria por que ninguém dá pela falta dos dois ou por que ninguém passa por lá e os encontra), mas não muda o fato de que o livro gira em torno do ataque de um cachorro e o ataque pelo ataque significa muito pouco a não ser que os personagens tenham se tornado importantes para o leitor.

Ressalto que “Cujo” não é um livro ruim e que eu concordo com as opções que King fez sobre como contar a história, apenas acho que soa como um livro de principiante, do tipo que mostra que seu autor é talentoso, mas ainda não sabe como explorar esse talento a fundo. Certamente tem menos complexidade psicológica do que obras que King escreveu anteriormente como “O Iluminado”, “Carrie”, “Dança da Morte” e “A Zona Morta”, embora a situação pudesse proporcionasse isso.

Um detalhe inusitado é que o livro não é dividido em capítulos, apenas trechos, fazendo com que a história esteja em movimento o tempo todo, com todas as pontas conectadas.

Essa edição em capa dura (que dá início à coleção de clássicos do mestre: a “Biblioteca Stephen King”) conta ainda com uma excelente entrevista concedida pelo autor, parte em 2001 e parte em 2006.

Título: Cujo (exemplar cedido pela editora)
Autor: Stephen King
N° de páginas: 373
Editora: Suma de Letras

24 comentários:

Bruna Oliveira disse...

Eita, fiquei bem curiosa pra ler, parece ser muito bom, eu já amei a capa ♥
com amor, Bru
Mania de Bruna
@wildbru

Alessandra Salvia disse...

Oi Mari,
Dá até vergonha de falar que nunca li nada do Stephen King.
Parece uma leitura tão forte que preciso conhecer.
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

Rael Silva disse...

Eu também adoro o jeito com que o SK humaniza os personagens durante o medo. O desespero parece mesmo real. Até hoje só li um livro do Stephen que foi "Cemitério" - que por sinal é muito bom - até o fim do ano pretendo ler outros, incluindo agora "Cujo".


http://obaucultural.blogspot.com.br/

Rackel disse...

Oi! Nunca li nada do autor. Não sei se iria curtir. Parabéns pela resenha! Bjos❤


Click Literário

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Menina, eu li O Cemitério e Revival e os dois são aclamados como os mais assustadores do King, mas eu meio que me decepcionei com eles. Percebi que Cujo tem algumas falhas, mas ainda assim quero ler e espero não me decepcionar.
Beijos
Balaio de Babados
Sorteio Literário de Carnaval
Sorteio Três Anos de Historiar

Girlene Viey disse...

Stephen King é melhor cara quando assunto é historia assustadora, acho ele super talentoso para criar obras neste gênero. Principalmente ele tem coisa de riqueza de detalhes que me surpreender Pois bem, como você disse eu também adoro os conflitos psicológicos e personagens e como eles lidam com tudo aquilo. Acho isso mexe mais comigo do que a historia em si. Enfim, sem duvidas já tá na lista de desejos, porque amo o Stephen

Gabriela CZ disse...

Tenho o mesmo sentimento pela obra de King, Mari. Quero ler todos os livros mas alguns me despertam mais interesse que outros. Cujo também não é um dos que mais me instigam, mais pelo fato de que não curto muito histórias com animais assassinos. Mas pelos seus comentários sobre a condução da trama até acho que leria. Continua não sendo um dos primeiros da lista, mas leria. Ótima resenha.

Beijos!

Giulianna Santicioli disse...

Adoro os livros do King, Cujo não é um dos que mais quero ler, mas não deixa de ser um que eu tenho certeza que em algum momento da vida será lido, não costumo ler histórias sobre animais assassinos, mas pelo jeito que você disse que a trama vai se desenrolando, parece ser super interessante.
Beijos!

Sil disse...

Olá, Mari.
Acho que já disse por aqui que apesar de já ter lido vários livros do autor, não sou muito fã dele. E estava querendo muito ler ele, mas depois que vi sua opinião, mudei de ideia. Acho que não vai me agradar. Já basta o que passei de raiva em Jogo Perigoso onde a garota também fica presa. Mas a edição parece estar muito linda.

Prefácio

Unknown disse...

Eu sempre tive curiosidade nesse livro confesso que achava que fosse mais pesado no terror mas os livros do King sempre tem um toque de quero mais.

RUDYNALVA disse...

Mari!
acredito que mesmo o mestre tem alguns instantes de pouca criatividade e nem extrai das personagens todos seus pontos positivos, tornando a leitura mera leitura, sem tanto terror ou suspense.
Como falou, ainda assim não é uma obra ruim e merece leitura.
“Não ganhe o mundo e perca sua alma; sabedoria é melhor que prata e ouro.” (Bob Marley)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!

Luiza disse...

Por ser do King com certeza minha mãe vai querer conferir essa leitura. Eu tenho que correr e ler algum livro do autor.E muito chique edição de capa dura.
Bjs
https://eternamente-princesa.blogspot.com.br

Paixão Literária disse...

AAAAAAAA Mari, eu já estava louca para ler. Tentando quebrar o cofrinho para comprar. E agora eu só fiquei com mais vontade ainda. Sou apaixonada pelas obras do King, essa edição está maravilhosa. Sério, da hora que você falou: "não é de todo decepcionante." Eu já estava: ENTÂO QUERO AGORA hahaha

Beijos,
Paixão Literária 📚

Day Morais disse...

Essa leitura já está agendada e estou super ansiosa. Adorei sua resenha! O King arrasa né!! Beijos!

www.lendo1bomlivro.com.br
Instagram :) @lendo1bomlivro

Somos Visíveis e Infinitos disse...

Oi, tudo bem?
AMO stephen king e MORRO de vontade de ler esse livro!
Adorei a resenha!
Beijos
www.somosvisiveiseinfinitos.com.br

Na Nossa Estante disse...

Oi Mari! Acho que mesmo quando o King não acerta tudo, ainda acerta, né? rsrsrs Não li Cujo, mas mesmo não tendo toda a complexidade das outras obras acaba me chamando bastante atenção.

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Ariane Gisele Reis disse...

Oie Mari =)

Um rapaz que trabalha comigo é fã do King, tanto que ele fala que ainda vai me convencer a ler algo do autor. Só que o problema é que por mais que alguns livros do King me deixei levemente curiosa, sou medrosa demais para arriscar rs...

Beijos;***
Ane Reis | Blog My Dear Library.

Carolina Garcia disse...

Oi, Mari!!!

Eu já li uma resenha de Cujo que me deixou bem sem vontade de ler e agora com a sua acho que entendi o que aconteceu com quem leu o livro.

Sendo bem sincera, como não tenho muito tempo sobrando, Cujo entra para o fim da lista de leituras do Stephen King que eu quero fazer ainda.
Acho que tem muitos livros dele que preciso ler antes. Hahaha

Bjs!!

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Kemmy disse...

Mari, eu tô muito doida ou você escrevia no blog S2 ler? hahaha enfim... eu li dois livros do SK na vida, um deles terminei há uns dias e gostei bastante, que foi Joyland, mas achei que o autor perdeu um pouco do foco durante a trama, não sei explicar bem... Cujo nunca tinha me interessado, realmente existem obras que nos atraem mais, e é uma pena que ele não tenha sido tão bom pra você. Realmente parece meio maçante acompanhar esse único ataque e suas consequências, e claro que é importante quando a gente se coloca no lugar dos personagens mas é melhor quando a gente torce por eles. A premissa até é boa, mas pelo jeito que você descreveu acredito que não farei essa leitura, pelo menos não tão cedo.

Duas Leitoras - no Top Comentarista de Março você pode escolher entre 4 livros!

Priscila Tavares disse...

Oi Mari, tudo bem?
Eu vi algumas pessoas que meio que se decepcionaram com esse livro por esperarem mais dele, já que os outros livros do King parecem ser um nível acima desse. Nunca li nada dele mas morro de vontade. Já até comprei um, Mr. Mercedes. Já leu?
Beijos
Quanto Mais Livros Melhor

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Adorei a resenha, já estava encantada com os livros do King. Agora estou ainda mais. Essa história e fantástica e fiquei bem curiosa para saber mais dela. E que edição linda essa!
Beijoss

Jonatas Amaral disse...

Você sabe que o cara é um mestre quando lemos resenhas assim que mostram pontos negativos e não tão interessantes da construção da obra, mas ainda sim é bom.
Nem todo autor tem que ser bom o tempo todo, acredito que possa ser uma tentativa de escrever, mesmo que dê errado. Escrever e experimentar mesmo depois de tantos anos.
Não conheço muito sobre o livro e nem muito do autor. Mas, fiquei pensando nessas coisas enquanto lia sua resenha.

Jônatas Amaral
alma-critica.blogspot.com.br

Unknown disse...

Oi!
Ainda não conhecia esse livro do Stephen King, mas realmente acho essa questão psicológica dos personagens bem interessante e gostei de saber que o autor consegue trabalhar essa parte tão bem, me deixando bem curiosa para ler esse livro, mesmo não sendo o tipo de leitura que gosto !!

Ana I. J. Mercury disse...

Parece ser bom, diferente, mas não mesmo o melhor dele.
Nunca tinha ouvido falar desse livro, e pela sua resenha, acho que o acharei pobrinho também, rs, vou deixar pra lê-lo por último.
Quero todos do King.
bjss

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