segunda-feira, 9 de julho de 2018

RESENHA: Terra das Mulheres

Terra das Mulheres / Charlotte Perkins GilmanAdoro quando os autores se propõem a brincar de “e se?”. Em “Terra das Mulheres”, Charlotte Perkins Gilman imagina uma sociedade habitada apenas por mulheres.

Van, Jeff e Terry são três exploradores que irão se deparar com uma curiosa tribo que vive afastada da civilização, é composta apenas por mulheres e irá desafiar a maneira como eles enxergam o mundo em que vivem.

Narrado em primeira pessoa por Van, o livro nos apresenta uma sociedade que causa estranheza e faz isso através dos olhos de quem também a acha estranha. Caso fosse narrado por uma das mulheres, com certeza o impacto seria diferente. O interessante é que essa estranheza se apresenta dos dois ângulos, porque, da mesma forma que os homens não compreendem essa sociedade, as mulheres também não entendem a maneira deles de viver. E é pela estranheza delas que percebemos como muitos dos nossos hábitos fazem pouco sentido.

Apesar de interessante, “Terra das Mulheres” me decepcionou. O grande problema é que o livro não tem história, parecendo mais uma bandeira que a autora quer levantar, como se um dia ela tivesse pensado: “Como seria um mundo povoado apenas por mulheres?” e criado as regras que regeriam esse mundo, o que faz com que “Terra das Mulheres” pareça um livro teórico e sem carisma. Além disso, algumas das soluções que a autora propõe para a falta dos homens são completamente sem sentido. A principal delas, obviamente, a concepção das crianças que continuam nascendo mesmo sem a presença de homens há anos. Nessa sociedade, tudo que as mulheres precisam fazer para engravidar é querer muito, do fundo do coração, e pronto! Elas estão esperando um filho. Se isso não é uma solução preguiçosa, eu não sei mais o que é.

“Ficam surpresas ao saber que ainda enterrávamos os mortos – perguntaram nossos motivos e ficaram muito insatisfeitas com os que fornecemos. Contamos sobre a crença na ressurreição dos corpos, e elas perguntaram se nosso Deus não seria tão capaz de ressuscitar das cinzas quanto da podridão antiga. Contamos que as pessoas consideravam repugnante queimar seus entes queridos, e elas perguntaram se deixá-los apodrecer seria menos repugnante.” (GILMAN, 2018, p.100)

Outra coisa que me incomodou é que, tão distante de nós quanto a civilização das mulheres, é a própria sociedade de Van, Terry e Jeff. Tendo sido escrito em 1915, muitos dos costumes que eles comentam como sendo “normais” também já soam muito distante de nós (como o fato de as mulheres não trabalharem fora de casa). É como se tivéssemos duas distopias brigando uma com a outra.

“Terra das Mulheres” tem uma premissa fantástica, mas se preocupa tanto em explicar a sociedade que criou que esquece de deixá-la se contar por conta própria. Por isso, não consegue fisgar o leitor para dentro do seu mundo e o deixa como o trio de protagonistas, dividido entre a curiosidade de saber o que acontece por lá e a vontade de escapar.

Título: Terra das Mulheres
Autora: Charlotte Perkins Gilman
N° de páginas: 256
Editora: Rosa dos Tempos
(exemplar cedido pela editora)

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12 comentários:

Espiral de Livros disse...

Oi Mari, a premissa do livro é bacana, diferente, mas é uma temática bastante difícil de conduzir. É uma pena que não tem uma história para prender o leitor à escrita.
Beijos
http://espiraldelivros.blogspot.com/

Ludyanne Carvalho disse...

Não conhecia esse livro, pela resenha sinto que não vou gostar de uma leitura nesse estilo.
Parece que deixou a desejar.

Beijos

Gabriela CZ disse...

Não conhecia esse livro, Mari. Tinha gostado da premissa, mas esse negócio de simplesmente querer e engravidar me fez pular fora. Que piada! Enfim, ótima resenha.

Beijos!

RUDYNALVA disse...

Mari!
É uma ficção/fantasia totalmenteutópica e mesmo que os autores tenham o direito de escrever suas histórias como queiram e imaginar um mundo feminino totalmente estrambólico, n´ós como leitores, não somos obrigados a aceitar e gostar, concorda?
E o que é feito desses homens nessa sociedade que nem deles se faz necessário para procriação?
E se não trabalham fora de casa, vivem de que?
Muitas questões e pouca conclusão...
“A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta.” (Blaise Pascal)
cheirinhos
Rudy
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Teca Machado disse...

Oi, Mari.
Sério que é só desejar que a mulher engravida?
Porque é fácil assim, né?
Também achei uma solução bem preguiçosa. E só nascem mulheres?
A premissa é bacana, mas não me chamei a atenção para ler, principalmente depois do pontos negativos que você citou.

Beijoooos

www.casosacasoselivros.com

Nicole Longhi disse...

Achei a premissa muito interessante e bacana, mas parece que a autora pecou e muito no desenvolvimento da trama.
Só desejar do fundo do coração e pronto, tá grávida! Uma solução muito preguiçosa mesmo.
Achei a premissa sensacional, mas o fato da autora não saber desenvolver essa ideia me deixou sem vontade de realizar a leitura.
Adorei a resenha.

beijinhos
She is a Bookaholic

Evandro Atraentemente disse...

Eu não conhecia o livro, mas também gosto de enredos que apresentam formas diferentes de viver em grupo. É uma pena a falta de uma trama que segure o leitor, afinal não seria tão difícil criar elementos para isso. O próprio fato da gravidez poderia render um bom mistério e não essa saída sem graça.

Vitória Pantielly disse...

Oi Mari,
Nossa, não imagina como fico sentida em ver que um livro que poderia se destacar tanto, simplesmente não conquista. A premissa é mais do que interessante, e confesso que a primeira pergunta que fiz (antes de ler o que escreveu) foi em relação a gravidez, e sim, além de preguiçoso não combina com uma premissa tão chamativa.
Um ponto que me deixa curiosa é saber se só nascem mulheres, ou, se nascem homens elas fazem algo para não ter a criança, ou algo do tipo, isso me intriga.
Realmente uma pena...
Beijos

Ana Paula Santos Moreira disse...

Difícil entender certas coisas que os autores expõem nos livros, deixando as histórias sem sentido. Não conhecia o livro, mas com certeza não o procurarei para ler.

Ana I. J. Mercury disse...

Oi Mari,
eu não conhecia o livro, e não gostei da premissa lendo sua resenha.
Achei bem estranho e parece mesmo querer tipo ensinar ao mundo a viver sem homens.
Estranho esse negócio de conceber só querendo do fundo do coração também kkkk
bjs

Luana Martins disse...

Olá, Mari
Não tinha conhecimento do livro e sua resenha é a primeira que leio.
Concordo com você que o livro tinha um potencial muito grande para ser um enredo maravilhoso, mas que se perdeu ao tentar explicar demais.
Agora tipo só de pensar do fundo do coração engravida, uai que coisa hein.
Beijos

Ycaro Santana disse...

Gosto desse livro por delimitar bem as personalidades dos personagens, desde sua viagem o diálogo dos personagens mostra bem isso. Mas, realmente, em relação a explicação da sociedade presente na história é muito complicado, deixa a narrativa pouco fluída e cansativa.

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