quinta-feira, 9 de maio de 2019

RESENHA: A Metade Sombria

A Metade Sombria - Stephen KingPseudônimo é um recurso ao qual muitos autores recorrem para poderem se livrar pressão dos seus próprios nomes. Autores que têm um estilo definido e querem (e por que não?) escrever algo diferente, fora da zona de conforto. Agatha Christie já foi Mary Westmacott, J.K Rowling já foi (e ainda é) Robert Galbraith, Stephen King já foi Richard Bachman. E da sua experiência sendo Bachman (o homem que morreu de “câncer no pseudônimo”, como diz o autor) nasceu a ideia de “A Metade Sombria”. E se esse outro cara ganhasse mesmo vida? E se ele não fosse um cara muito legal?

Thad Beaumont escreveu dois livros, mas nenhum fez muito sucesso. Porém, ele conheceu a fama escrevendo livros violentos sob o pseudônimo de George Stark. Quando um fã descobre a ligação entre Stark e Thad, o autor decide enterrar o pseudônimo, mas Stark não aceita ser dispensado tão facilmente. Quando uma série de assassinatos tem início e as pistas apontam para Thad, ele precisa dar um jeito de se conectar com a sua outra metade e a impedi-la de levar seu plano até o fim.

Stephen King tira histórias de grama. É impressionante como o autor consegue pegar uma coisa pequena e transforma-la em uma coisa absurda e completamente envolvente. Tanto é assim que os leitores não precisam estar dentro de seus livros para reconhecem seu estilo (eu mesma, certa vez ao ver um carro velho, sujo e estranhamente abandonado em uma rodovia, pensei: “Isso parece coisa do Stephen King. Credo!”). Ele tem um estilo e esse estilo faz com que seus leitores esperem certas coisas dele. Em “A Metade Sombria” é interessante que ele use toda a bagagem Stephen King para escrever sobre a sua experiência tentando fugir dessa bagagem (inclusive, King dedica o livro a Bachman).

King sabe sustentar uma história como ninguém e o legal de estar dentro do seu universo é que qualquer coisa pode ser qualquer coisa. O pseudônimo enterrado voltou à vida e está se vingando daqueles que o mataram. Ele não quer estar morto e, estando vivo, ele é a pessoa que escrevia as coisas horríveis que aconteciam naqueles livros violentos. Esse homem está a solta. Mas, estando ele em um livro de Stephen King o leitor se pergunta: isso é mesmo algo sobrenatural ou pode ser apenas um fã maluco reivindicando Stark de volta à vida? Com King tudo pode acontecer porque tudo pode ser real. Essa é parte da graça de “A Metade Sombria”.

"Um leve sorriso surgiu nos lábios do homem louro. Não apareceu em nenhuma outra parte do rosto, só nos lábios. Não havia verão naquele sorriso." (KING, 2019, p. 145)

Algo marcante no livro é a presença dos pardais. Quando criança, Thad teve um tumor removido e pardais estavam associados às suas crises. Quando Stark volta à vida, a frase “os pardais estão voando novamente” passa a assombrar Thad. E isso permite mais um exemplo do talento de King como contador de histórias. Eu não sou do tipo que se impressiona ou assusta fácil, mas com King tudo é tão vívido e a história se torna tão real que eu estava trabalhando, concentrada, e vi um pássaro na minha janela. Imediatamente, meu pensamento foi: “Os pardais estão voando novamente”. Aliás, os pardais rendem cenas dignas de Hitchcock em “A Metade Sombria” (e há até mesmo uma menção à Daphne Du Maurier, autora do livro que inspirou o clássico filme “Os Pássaros”).

Como sempre, com King você tem que se entregar. “A Metade Sombria traz uma eletrizante caçada policial, um vilão assustador e imprevisível e ainda a angústia do protagonista que está no centro de acontecimentos terríveis tendo, ao mesmo tempo, toda e nenhuma responsabilidade por eles. É uma trama que não faz sentido, mas que é construída de forma a fazer o leitor acreditar em seu absurdo. Um ótimo livro que, assim como outros do King, vai construir relacionamentos diferentes com cada leitor. Eu, por exemplo, detestei a explicação a respeito da existência de Stark, mas isso não interfere na minha experiência com “A Metade Sombria” porque sou do tipo que acredita que a graça está na jornada (penso o mesmo de “Sob a Redoma” que é um dos meus favoritos do autor). Prefiro ficar sem algumas explicações, mas, se elas são fornecidas e não me agradam, deixo de lado e foco na jornada. No caso desta jornada em específico, foi uma que devorei como há tempos não fazia.

A Metade Sombria” não deixa de ser uma grande metáfora. Todos nós temos outros lados dentro de nós e todos os dias escolhemos qual deles ganha. Thad pode abominar Stark, mas de alguma ele faz parte da sua personalidade e o fato de Stark fazer certas coisas talvez seja a razão pela qual Thad não as precise fazer. Sobrenatural? Sim. Realista? Também.

Título: A Metade Sombria
Autor: Stephen King
N° de páginas: 464
Editora: Suma
Exemplar cedido pela editora

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5 comentários:

Rubro Rosa disse...

Como meu coração se alegra quando vê algo do Mestre King! Eu ainda não pude ler este livro,mas tenho tido aquele namoro gostoso.
Estes dias estava lendo que o autor já escreveu de tudo e que talvez estava na hora de parar, ou mudar.
E pensei eu: O cara consegue fazer uma tempestade surgir de um pingo de água e vai parar?? Nem a pau, Juvenal!
É realmente isso, ele tira enredos de grama e constrói histórias que deixam a gente com aquela pulga atrás da orelha.
Não por medo, por terror..mas por colocar dentro da cabeça da gente algo muito forte que nos faz desconfiar até do som dos pardais.rs
Com certeza, quero muito poder conferir!!!
E oh, estas capas duras estão incríveis!
Beijo

Ludyanne Carvalho disse...

King realmente não faz o meu estilo.
Mas preciso dizer que achei genial ele trazer uma história com seu pseudônimo.
Há diversos eus dentro da gente, e essa é uma mensagem muito bacana.

Beijos

Gabriela CZ disse...

É difícil ler comentários sobre Mestre King que não me deixem entusiasmada, Mari. Fiquei super intrigada com esse livro, quero já! E realmente, uma vez no universo King e ficamos sujeitos a ver coisa que poderiam muito bem ter saído de sua mente. [rs] Ótima resenha.

Beijos!

Ana I. J. Mercury disse...

Mari, gostei muito da sua resenha e de outras que li desse livro.
Mesmo tendo muito medo dos livros do King kkkk vou querer mesmo ler Metade sombria.
Parece ser genial.
E traz várias reflexões, medos, angústias, etc.
Já quero!
bjs

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Que capa maravilhosa. capa dura com cores que deixa o leitor de boca aberta.
Tenho muita vontade de ler King um dia, mas terror eu evito. Claro que esse livro vai para minha lista de desejos, amo um suspense. A pergunta que não quer calar será que Stark existe?
Bom até eu se fosse escritora de sucesso como King ia escrever com pseudônimo para ter certeza se os leitores gostam da minha escrita ou se só de ter o nome King para vender.
Genial ele usar seu exemplo para escrever o livro.
Vai que King criou outro pseudônimo e esta de boa escrevendo e nós não descobrimos ainda?
Quero muito ler, beijos!

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