domingo, 14 de julho de 2019

RESENHA: Floresta Escura

Floresta Escura / Nicole Krauss
Aquele livro no qual você esbarra por acaso, lê a prova e não esquece dela por meses. Até que chega a hora de fazer a leitura.

Jules Epstein está beirando os 70 anos quando simplesmente desaparece. Ao ser avisada, sua família se depara com um apartamento que jamais poderia ser associado a ele, o que intensifica ainda mais o mistério a respeito do que pode ter lhe acontecido. Já Nicole é uma romancista que, ao tentar escrever um novo livro, se vê cheia de lembranças da piscina do hotel que frequentava com a família em Tel Aviv quando era criança. Em busca de um sopro de inspiração, ela deixa os filhos e o marido, com quem vive um casamento acomodado, e decide passar uma temporada em Israel.

Duas histórias que correm paralelas, sem que o leitor saiba como elas irão se cruzar. É assim que Krauss molda “Floresta Escura”. De um lado temos a história de Epstein. Do outro, a de Nicole. Ambos estão em busca de si mesmos, mas em pontas diferentes. Enquanto Epstein já não vê sentido nas coisas que antes foram importantes na sua vida, Nicole espera encontrar sentido para os anos que estão por vir.

Na narrativa há uma diferenciação que funciona como um reflexo dos personagens. Enquanto a de Nicole (que está tentando se entender) é em primeira pessoa, a de Epstein (que os outros estão tentando entender) é em terceira pessoa. Uma é o olhar de dentro para fora. A outra, de fora para dentro.

“E parte do temor que sentimos quando confrontamos o desconhecido não vem de saber que, se ele afinal nos envolver e se tornar conhecido, não vamos mudar?” (KRAUSS, 2018, p.55)

“Epstein entrou na casa. Entrou com uma música na cabeça. Entrou do modo como um homem entra em sua própria solidão, sem esperança de preenchê-la.” (KRAUS, 2018, p.149)

Embora ambos sejam ótimos personagens, confesso que aos poucos fui perdendo o interesse na jornada de Epstein, mas continuei envolvida com a história de Nicole. Talvez isso tenha acontecido porque, desde o início, vi uma profundidade maior nos trechos dedicados a ela e não foram poucas as vezes em que determinadas frases me fizeram interromper a leitura para refletir, porque “Floresta Escura” é, acima de tudo, um livro reflexivo sobre as decisões que tomamos, sobre como deixamos a vida nos levar, sobre os caminhos que não percebemos que estamos trilhando, sobre o sentido que muitas vezes não somos capazes de atribuir às coisas que nos cercam.

Quem também aparece em “Floresta Escura” é Franz Kafka. Para a minha surpresa, em um belo momento me vi lendo algo que era praticamente uma biografia do autor de “A Metamorfose”, mas eventualmente, tudo faz sentido e é interessante ver o paralelo entre a vida e obra do autor com a dos personagens que estamos acompanhando.

“Floresta Escura” é um livro lento, reflexivo e ligeiramente melancólico sobre as perguntas que fazemos e as respostas que buscamos. Sobre o sentido que damos às nossas ações e sobre a felicidade que almejamos. Sobre quem somos e quem gostaríamos de ser.

Título: Floresta Escura
Autora: Nicole Krauss
N° de páginas: 297
Editora: Companhia das Letras
Exemplar cedido pela editora

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10 comentários:

Rubro Rosa disse...

Primeira resenha que leio deste livro e confesso que nem o havia visto pelo mundo literário. Talvez por trazer esta profundidade extrema, esse se jogar de verdade na vida destes dois personagens tão diferentes.
Esse ver cada um de uma forma diferente e bem ampla é algo novo, algo que faz o leitor se questionar e trazer um pouquinho de Franz?? Puxa.
Mesmo não sendo muito meu estilo de leitura, com certeza se tiver oportunidade, quero conferir!!!
Beijo

Alison Teixeira disse...

Olá Mariana!
Apesar da capa nem um pouco sugestiva, a obra parece ter uma trama intrigante, sendo que a escrita de Krauss chama atenção por mudar ao longo da história, uma estratégia que faz com que não seja difícil para o leitor distinguir as passagens de Nicole das de Jules. Gosto quando um livro possui material de qualidade para reflexão, e aqui percebe-se que a autora não desaponta neste aspecto.
Beijos.

Ludyanne Carvalho disse...

Confesso que tenho um fraco por leituras melancólicas, também amo livros que me levam a refletir, ainda mais quando são esses questionamentos em relação a vida; mas... leitura lenta me deixa com um pé atrás.

Beijos

Rayssa Bonai disse...

Olá! Nunca tinha ouvido falar sobre esse livro, muito obrigada pela indicação! ♡
Gosto bastante quando o livro aborda histórias paralelas, pois, de fato, fico muito curiosa para saber quando e como as histórias dos personagens vão se cruzar.
Achei bem interessante a escolha do autor em fazer uso tanto da primeira quanto da terceira pessoa, não me lembro de já ter lido algo assim.
Não curto muito livros com uma pegada mais lenta, mas no caso desse livro, acho que faz todo sentido.
Com certeza quero ler Floresta Escura, gosto de leituras que nos fazem refletir.
Beijos! ♡

Rayane B. de Sá disse...

Oiii ❤ Apesar de eu não ser muito fã de livros melancólicos, esse em especial me chamou atenção.
Admiro que os personagens deixem suas vidas para, como no caso de Nicole, encontrar sentido e inspiração para os próximos anos de sua vida. Tem que ter muita coragem pra fazer isso.
Gosto dessa coisa de duas histórias paralelas que acabam se cruzando, esse tipo de coisa me agrada muito.
Concordo que dá pra enxergar mais profundidade no ponto de vista de Nicole, já que ela mesma narra o que está acontecendo em sua vida.
Gostaria de fazer essa leitura.
Beijos ❤

Naiara Fidelis da Silva disse...

Confesso que eu não conhecia esta obra e imaginei que se tratava de outros assuntos, contudo lendo a resenha não sei se seria um livro que eu gostaria.

Evandro Atraentemente disse...

Lendo a resenha já fico me perguntando onde essas vidas se cruzarão e que mistérios há nesse desaparecimento. Essa referência a Franz Kafka também é bem-vinda, o que sugere a linha que essa trama percorre. Gosto de leituras assim. Achei a capa sem graça, e talvez não me chamasse atenção em uma livraria, mas a resenha me convenceu.

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Ainda não conhecia o livro, a capa é um mistério não entrega muita coisa do enredo. Mas o título combina muito com a estória.
Confesso que gosto muito de leituras melancólicas, que nos fazem refletir e ter que parar a leitura e pensar a respeito.
Vou procurar o livro para comprar estou muito curiosa para ler.
Beijos

Ana I. J. Mercury disse...

Oi Mari!
Parece ser um livro reflexivo, daqueles que nos dá um puxão pra analisar nossa vida e escolhas no geral.
Achei interessante, embora um tanto complexo.
Bjs

Gabriela CZ disse...

Não conhecia, Mari. Parece interessante e acho que leria, mas não no momento. Ótima resenha.

Beijos!

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