sábado, 29 de fevereiro de 2020

RESENHA: Areia Movediça

Maja Norberg foi acusada pelo tiroteio que ocorreu em sua escola, supostamente assassinando diversos colegas de aula. Agora, não apenas precisa encarar o julgamento tendo apenas seus advogados como aliados, mas também precisa lidar com o fato de que todos os seus amigos estão mortos e que ela foi a única sobrevivente.

O livro é narrado em primeira pessoa por Maja, que aos poucos vai expondo os acontecimentos que ocorreram antes do tiroteio e nos mostrando o andamento do julgamento. Confesso que não gostei muito do texto de Giolito, pois achei que a autora violou a sagrada regra do “show, don’t tell” (mostre, não conte). Como consequência, a leitura se torna pouco envolvente pois apenas lemos uma descrição dos acontecimentos.  

Também preciso admitir que achei as primeiras cem páginas arrastadas, uma vez que Maja parece estar perdida em pensamentos e divaga sobre absolutamente tudo, menos sobre o que realmente queremos saber. Creio que a intenção da autora ao utilizar deste recurso fosse mostrar que a protagonista ainda estava em choque e, sem conseguir superar o trauma, não conseguia processar o que acontecera na escola. E apesar de achar a tática interessante, Giolito pesou demais a mão deixando a estória maçante. 

Passada essa parte, o livro dá uma guinada e a narrativa deixa de ser tão dispersa e passa abordar diretamente o que aconteceu. Vamos desvendando a relação entre ela e Sebastian — o outro aluno responsável pelos disparos, mas que foi morto por Maja —, seus colegas de aula e pais, a ponto de entender todo o contexto que culminou com o tiroteio. 

“Não acredito em coincidências. Também não acredito em Deus. O que acredito é que tudo o que acontece está conectado ao que aconteceu no passado, como elos em uma corrente. É predeterminado? Não. Como poderia ser? Mas não é o mesmo que dizer que algo simplesmente aconteceu. A lei da gravidade não é aleatória. A água aquece e se torna vapor. Isso não é aleatório, nem prova da justiça divina. Simplesmente é.” (GIOLITO, 2019, p. 326)

Mas o ponto alto certamente é quando o julgamento avança, chegando o momento que a defesa assume os holofotes e finalmente somos apresentados a versão de Maja dos acontecimentos. É neste momento que a estória se torna mais ágil e envolvente, além de conseguirmos juntar as peças do quebra-cabeça sobre o que aconteceu naquele fatídico dia. 

Ao fim da leitura, percebi que o foco da autora era muito mais o drama de Maja do que o evento que ela protagonizou. Assim, creio que não consegui me envolver tanto com a estória pois minha expectativa era justamente entender como aconteceu o crime e acompanhar seu julgamento. 

Apesar de ser uma estória interessante, fiquei com a sensação de que Areia Movediça tinha mais a oferecer e que acabou sendo subaproveitado. Creio que reduzindo o número de páginas e focando mais nos eventos e menos no drama, o resultado teria sido mais envolvente. 

Título: Areia Movediça
Autora: Malin Persson Giolito
N.º de páginas: 350
Editora: Intrínseca
Exemplar cedido pela editora

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6 comentários:

Elizete Silva disse...

Olá! Apesar desses pontos, acredito que esse é um livro bem intenso, e com um tema para lá de perturbador, como funcionária de uma escola pública, acredito que seria uma boa opção para ser trabalhado com alunos do Ensino Médio.

Rubro Rosa disse...

Mesmo com os pontos negativos do livro, eu pude acompanhar a série na tv e gostei bastante do resultado.
Pelo que andei lendo durante este tempo, há diferenças nítidas entre livro e filme(sempre há). Talvez acabe se tornando duas obras distintas né?
Por isso, ainda pretendo sim, ler o livro!!!
Beijo

Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

Gabriela CZ disse...

Acho triste quando um autor erra a mão em um aspecto e acaba estragando a história, Alê. Vi que o livro inspirou uma série da Netflix, e talvez seja o tipo de trama que funciona melhor na tela do que nas páginas. - O problema é se não souberem a hora de parar. - Mas acho que leria com fins de comparação. Ótima resenha.

Beijos!

Luana Martins disse...

Oi, Alê
Comecei a ler o livro é parei, fui passando outras leituras e deixei esse de lado. Mas vou voltar a ler.
Agora sei que depois das primeiras 100 páginas melhora me animo para ler.
O livro tem um tema que ė assustador, vemos muitos casos desse tipo atualmente, mesmo que a leitura seja maçante se faz necessária para os jovens.
Beijos

Giovanna Talamini disse...

Olá!
Chegou a ver a série da Netflix? Eu ainda não pude conferir.
Gostei muito da premissa, não sei se sinto dó da protagonista ou se fico desconfiada. Uma pena que a autora tenha entregado tanto da história de uma vez só.

RUDYNALVA disse...

Alê!
Gosto de livros que falam sobre investigação criminal e saber que a protagonista vai relatando os fatos conforme passa ou vai se lembrando, deve trazer um grande mistério até chegar realmente ao final da investigação e ficarmos a par do que aconteceu realmente.
E que pena ter aachado que o livro foi um tanto arrastado no início e poderia ter rendido mais.
cheirinhos
Rudy

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