“Quais daqueles homens e mulheres com sorrisos afáveis e olhares enviesados eram seus amigos do dia, e quais eram os inimigos? A qual comitê, ministério, crença religiosa ou partido político obscuro eles deviam fidelidade? Pelo que sabia, somente um pequeno punhado deles tinha ouvido uma bomba explodir, mas na guerra longa e silenciosa pela liderança do Serviço Secreto, eram veteranos calejados.” (LE CARRÉ, 2014, p. 256)
Sempre gostei de thrillers de espionagem e Le Carré é um dos maiores representantes do gênero. Porém, eu nunca havia lido um livro do autor pela simples razão de não saber por onde começar. Já vi muitos comentários a respeito da sua obra e minha impressão é que ela se divide em duas fases: a primeira, que apresenta uma espionagem mais de ação e menos política; e a segunda, mais psicológica, com conflitos mais dissimulados, mas nem por isso menos interessante (pelo contrário). Qual dos estilos eu gostaria mais? Qual me faria conhecer o “verdadeiro” (se é que se pode usar esse termo) Le Carré? Essas perguntas fizeram com que eu protelasse a primeira leitura, mas quando a nova edição de “O homem mais procurado” nos foi oferecida pela Editora Record, decidi aproveitar a oportunidade.
Issa é um jovem checheno, muçulmano devoto, que chega na Alemanha clandestinamente com uma mochila cheia de dinheiro e a intenção de formar-se em medicina. Tendo sofrido tortura no passado (que ele afirma ter sido motivada exclusivamente por suas origens) ele desperta o interesse das autoridades que estão em estado de alerta já que no passado a cidade abrigou autores dos atentados de 11 de setembro. Issa se alia à jovem e idealista advogada Annabel e conta ainda com a ajuda de Tommy Brue, um banqueiro que precisará encarar as contas de origens obscuras mantidas em seu banco por seu falecido pai a pedido do pai de Issa, um cruel militar.
“O homem mais procurado” utiliza como pano de fundo as consequências dos atentados de 11 de setembro para o mundo da inteligência ao invés da Guerra Fria como as primeiras obras do autor. Já vi comentários negativos a respeito dessa segunda fase da obra de Le Carré, por ser menos empolgante que a primeira, mas também já a vi receber muitos elogios por ser mais intricada e psicológica. Como não posso me basear em outras leituras, minha opinião sobre essa é que a história é excelente, mas a execução foi um tanto confusa.
O começo do livro é puramente psicológico e toma seu tempo para apresentar os personagens. É lento, mas muito interessante. Aos poucos a história revela a sua complexidade e começa a se tornar um tanto confusa. A minha sensação era que os personagens sabiam bem mais do que eu. Isso acontece com livros de suspense, mas nesse caso, me parecia que eu devia estar sabendo tanto quanto eles, porém não encontrava as ferramentas para isso. Eu sabia todos os “o quês” da história, entendia o que estava acontecendo, mas quanto os “porquês”, apenas 50% estavam claros e eu não tinha certeza se essa era a intenção ou se eu deveria estar sabendo 100%.
Em geral o livro é bastante denso. Cada personagem se torna um núcleo e cada núcleo tem seus mistérios. Brue e o banco, Bachmann e as operações, Annabel e seu relacionamento com Issa além do próprio Issa que por si só é um mistério constante (tanto seu passado quanto o que realmente pretende no presente). Paira também a sensação de que cada personagem pode ter motivações ocultas.
Merece destaque que Le Carré foi de fato um espião para o Serviço Britânico de Inteligência no tempo da Guerra Fria. Talvez por isso a imaginação e criatividade empregadas em sua obra se fundamentem mais nos conflitos que ele tantas vezes deve ter testemunhado, do que em artefatos e malabarismos (se seu primeiro pensamento quando o assunto é espionagem é “Bond, James Bond” esqueça isso ao ler Le Carré). Talvez por essa razão alguns eventos sejam confusos, afinal, quanta clareza pode haver nos corredores do mundo da espionagem? De minha parte, me sinto atraída por ambas as abordagens.
Depois de “O homem mais procurado” fico ansiosa para ler outros livros do autor? Não exatamente. Mas certamente lerei se tiver oportunidade.
Nesse ano, “O homem mais procurado” ganhou uma adaptação cinematográfica estrelada por Philip Seymour Hoffman. Esse é apenas um dos livros do autor a ganhar as telas. Entre os outros estão “O espião que sabia demais”, com Gary Oldman e “O Jardineiro Fiel”, com Ralph Fiennes.
Título: O Homem Mais Procurado (exemplar cedido pela editora)
Autor: John Le Carré
Nº de páginas: 349
Editora: Record
Sempre gostei de thrillers de espionagem e Le Carré é um dos maiores representantes do gênero. Porém, eu nunca havia lido um livro do autor pela simples razão de não saber por onde começar. Já vi muitos comentários a respeito da sua obra e minha impressão é que ela se divide em duas fases: a primeira, que apresenta uma espionagem mais de ação e menos política; e a segunda, mais psicológica, com conflitos mais dissimulados, mas nem por isso menos interessante (pelo contrário). Qual dos estilos eu gostaria mais? Qual me faria conhecer o “verdadeiro” (se é que se pode usar esse termo) Le Carré? Essas perguntas fizeram com que eu protelasse a primeira leitura, mas quando a nova edição de “O homem mais procurado” nos foi oferecida pela Editora Record, decidi aproveitar a oportunidade.
Issa é um jovem checheno, muçulmano devoto, que chega na Alemanha clandestinamente com uma mochila cheia de dinheiro e a intenção de formar-se em medicina. Tendo sofrido tortura no passado (que ele afirma ter sido motivada exclusivamente por suas origens) ele desperta o interesse das autoridades que estão em estado de alerta já que no passado a cidade abrigou autores dos atentados de 11 de setembro. Issa se alia à jovem e idealista advogada Annabel e conta ainda com a ajuda de Tommy Brue, um banqueiro que precisará encarar as contas de origens obscuras mantidas em seu banco por seu falecido pai a pedido do pai de Issa, um cruel militar.
“O homem mais procurado” utiliza como pano de fundo as consequências dos atentados de 11 de setembro para o mundo da inteligência ao invés da Guerra Fria como as primeiras obras do autor. Já vi comentários negativos a respeito dessa segunda fase da obra de Le Carré, por ser menos empolgante que a primeira, mas também já a vi receber muitos elogios por ser mais intricada e psicológica. Como não posso me basear em outras leituras, minha opinião sobre essa é que a história é excelente, mas a execução foi um tanto confusa.
O começo do livro é puramente psicológico e toma seu tempo para apresentar os personagens. É lento, mas muito interessante. Aos poucos a história revela a sua complexidade e começa a se tornar um tanto confusa. A minha sensação era que os personagens sabiam bem mais do que eu. Isso acontece com livros de suspense, mas nesse caso, me parecia que eu devia estar sabendo tanto quanto eles, porém não encontrava as ferramentas para isso. Eu sabia todos os “o quês” da história, entendia o que estava acontecendo, mas quanto os “porquês”, apenas 50% estavam claros e eu não tinha certeza se essa era a intenção ou se eu deveria estar sabendo 100%.
Em geral o livro é bastante denso. Cada personagem se torna um núcleo e cada núcleo tem seus mistérios. Brue e o banco, Bachmann e as operações, Annabel e seu relacionamento com Issa além do próprio Issa que por si só é um mistério constante (tanto seu passado quanto o que realmente pretende no presente). Paira também a sensação de que cada personagem pode ter motivações ocultas.
Merece destaque que Le Carré foi de fato um espião para o Serviço Britânico de Inteligência no tempo da Guerra Fria. Talvez por isso a imaginação e criatividade empregadas em sua obra se fundamentem mais nos conflitos que ele tantas vezes deve ter testemunhado, do que em artefatos e malabarismos (se seu primeiro pensamento quando o assunto é espionagem é “Bond, James Bond” esqueça isso ao ler Le Carré). Talvez por essa razão alguns eventos sejam confusos, afinal, quanta clareza pode haver nos corredores do mundo da espionagem? De minha parte, me sinto atraída por ambas as abordagens.
Depois de “O homem mais procurado” fico ansiosa para ler outros livros do autor? Não exatamente. Mas certamente lerei se tiver oportunidade.
Nesse ano, “O homem mais procurado” ganhou uma adaptação cinematográfica estrelada por Philip Seymour Hoffman. Esse é apenas um dos livros do autor a ganhar as telas. Entre os outros estão “O espião que sabia demais”, com Gary Oldman e “O Jardineiro Fiel”, com Ralph Fiennes.
Título: O Homem Mais Procurado (exemplar cedido pela editora)
Autor: John Le Carré
Nº de páginas: 349
Editora: Record
11 comentários:
Apesar de já ter ouvido falar desses três filmes que você citou, não sabia que eles eram adaptações de livros do John Le Carré. Aliás, nem conhecia esse autor (me matem. kkkk).
É interessante quando um thriller tem suas ramificações, mas o autor tem que tomar cuidado ao conecta-las. Pelo que entendi, essa parte deu certo, mas essa falta de explicação de alguns porquês não são legais. Enfim, se tiver oportunidade, vou dar uma conferida.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Pra ser bem sincera só fui tomar conhecimento desse livro por causa do filme. Como gosto muito de thrillers de espionagem não pude deixar de ficar interessada. Mas apesar de seus comentários terem me deixado bastante curiosa, Mari, percebo que teria que ler com a mente limpa. Lerei se tiver oportunidade. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Oiee
Sou apaixonada por essas coisas psicóticas, sempre que posso leio livros com esse tema, psicopatas me intrigam.
E espionagem me prendem de um jeito que poucos temas o fazem.
Pen o livro não ser o melhor do autor, mas ainda assim se tiver a chance o lerei com certeza, caso não aconteça, vou ver o filme né.
Bjokas!
Eu só soube do livro por conta do filme mas eu gostei da sinopse, eu gosto desse estilo de livro e adoro quando tem suspense. Agora ele realmente foi bem criativo e especifico ao colocar um espião no serviço britânico de inteligência no tempo da Guerra Fria. Enfim parece ser mt bom!
Mari!
Minha relação com Le Carré vem ainda da adolescência onde os livros baseados na Guerra Fria, que acabava de ser extinta e tinha a própria experiência do autor como agente secreto, ele transportava para os livros as vivências pessoais ainda 'frescas' digamos assim...
Quanto a essa abordagem mais psicológicas e contemporânea do autor, não tive oportunidade de ler, entretanto, tenho certeza de que vou gostar porque quando conhecemos mais a fundo a personalidade das personagens, o entendimento dos fatos ocorridos durante o enredo, ficam mais fáceis de serem desvendados.
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Oi, tudo bom?
Gostei da resenha, mas não me interessei muito pelo livro no momento, ele não me chamou a atenção, por isso não pretendo ler ele por enquanto, mas quem sabe mais para frente eu mude de ideia.
Beijos *-*
Nunca assisti ao Jardineiro Fiel, e já tive oportunidade, mas sempre protelei.
Essa trama parece bem interessante mesmo, mas essa parte de ser um pouco confusa me desanimou...
Não tenho interesse por esse tipo de livro/filme mias gostei da resenha foi bom ler um pouco sobre esse livro !
Oie...
Eu ainda não li nada do autor mas já assistir ao filme O Jardineiro Fiel e gostei no mesmo tempo eu não gostei, fala o real mas as vezes o real não é bom.
Esse livro me deixou curiosa, mas vou esperar o filme.
Abçs :)
esse livro parece ser fascinante, adoro livros que tenham pitadas de fatos historicos, sempre podemos aprender mais com eles, um bom exemplo é o Colecionador de Lagrimas, de Augusto cury!
Bjs <33
breakdaleitura.blogspot.com.br
Ainda não conhecia esse autor, nem as obras dele, mas pelo que vi não me chamou a atenção... Não gosto de livros desse gênero, e o fato de ser denso e ao mesmo devagar me desestimula para ler... Quem sabe mais pra frente eu leia...
Kisses =*
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