segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

RESENHA: Claros Sinais de Loucura

“Estendo os braços para abraçá-la e ficamos paradas por um momento (...). Sinto como se pudesse desmontar se ela me soltasse. É engraçado como eu não sabia que era só um monte de peças soltas até que alguém me abraçou forte.” (HERRINGTON, 2014, p.129)

Às vezes me deparo com livros cuja sinopse me parecem promissoras, mas que ainda assim não me soam como leituras que necessito fazer. Quando isso acontece, exijo desses livros um pouquinho mais antes de decidir lê-los. Foi assim com “Claros Sinais de Loucura”. A sinopse que prometia um livro em que tragédia e humor se mesclavam não foi o suficiente, mas qualquer dúvida se dissipou quando conferi as primeiras páginas disponibilizadas no site da editora.

Sarah Nelson tem um histórico trágico: quando tinha dois anos sua mãe tentou afogá-la na pia da cozinha, juntamente com seu irmão gêmeo. Ela teve sorte, mas seu irmão não sobreviveu. Desde então, a mãe vive em uma instituição psiquiátrica e ela vive com o pai que rendeu-se a hábitos alcoólatras e que a arrasta de uma cidade para outra cada vez que as pessoas descobrem que eles são a notória família Nelson, cuja mãe foi julgada pelo crime que cometeu contra os filhos e o pai por não ter protegido as crianças. Agora que o verão dos seus doze anos se aproxima, ela lamenta cada vez mais as coisas que poderia viver junto com a mãe e teme pela chegada da sétima série, quando precisará fazer uma árvore genealógica e apresentá-la para toda a turma (logo ela que sempre temeu que o gene da loucura fosse algo que tivesse herdado e só estivesse ali, esperando para se revelar).

Sarah não é só a protagonista e narradora do livro. Ela é o livro. Bastam poucas de suas palavras para se reconhecer na menina uma voz narrativa cativante e deliciosa e uma personagem que será um prazer acompanhar nas páginas seguintes.

Algumas coisas fazem com que Sarah pareça excessivamente madura para a sua idade. Uma delas é o fato de seu personagem favorito de todos os tempos ser Atticus Finch do livro/filme “O Sol é para Todos”. É para ele que ela escreve cartas contando sobre sua vida e seus problemas quando um professor passa para a turma o desafio de escreverem cartas usando palavras inteiras, sem engolir vogais. Enquanto os colegas escolhem Harry Potter, ela escolhe um advogado que cria sozinho os dois filhos e tenta lutar pelas coisas que acredita serem certas. Outro aspecto que faz Sarah parecer precoce é seu rico vocabulário. Porém ambos são justificados conforme se conhece mais da personagem. Ela identifica em Atticus o pai que gostaria de ter e, por adorar ler, volta e meia se depara com palavras que não conhece e as pesquisa, anotando seu significado (a narrativa, alias, é recheada de palavras em destaque com o significado extraído do dicionário, um recurso espirituoso da autora).

O que não compromete a verossimilhança de Sarah é que, em tantos outros aspectos, ela é apenas uma menininha de 12 anos. Alguns dos seus dilemas são como convencer seu pai a lhe deixar furar as orelhas e dar seu primeiro beijo de língua.

Além disso, é fácil entender porque ela é forçada a amadurecer ao ver o pai tantas vezes desmaiado no sofá depois de beber algumas doses e ser ela quem o cobre para não passar frio durante a noite. É fácil entender porque ela se apega a outros adultos, (como sua amiga mais velha de 20 anos e a vizinha idosa da casa em frente) já que sente a falta da mãe e não consegue confiar no pai.

A menina que tem uma planta como amiga e confidente (e que chama de Planta), que mantém conversas em sonho com seu irmão morto, que mantém dois diários (um verdadeiro, onde confessa seus segredos, e um falso, que deixa mais à vista para ser encontrado e considerado o verdadeiro, mantendo seus segredos a salvo) e que tem a curiosa mania de ficar em pé no toco da árvore do jardim, ainda enfrenta problemas como não precisar passar uma época que promete tanta diversão, como o verão, na casa dos avós onde nada acontece, além de tentar descobrir um pouco mais sobre sua mãe.

Outros personagens (como o pai e os avós de Sarah e o irmão da amiga por quem ela se apaixona) são mostrados ao leitor através da visão parcial da narradora. Assim, pouco sabemos sobre eles. Conhecemos apenas o impacto que têm na vida da menina.

A história do verão dos doze anos de Sarah Nelson é composta por capítulos curtos e o tom da narrativa se mantém leve, mesmo que aborde dilemas sérios. Com tantas dicotomias, mas cheia de personalidade, Sarah se revela uma personagem adorável e faz de “Claros Sinais de Loucura” um livro divertido e cativante que pede para ser lido em poucas horas. Eu atendi o pedido.

Título: Claros Sinais de Loucura (exemplar cedido pela editora)
Autora: Karen Harrington
Nº de páginas: 254
Editora: Intrínseca

9 comentários:

Anônimo disse...

Mas credo, a própria mãe. Imagino o trauma, ainda mais sobre o irmão ter morrido. Achei bem legal a forma de que a protagonista é praticamente a própria leitura. Meio que estranho o que ela convencer ao pai '-', isso não é coisas que se convençam. Já vi algumas protagonistas que amadurecem cedo demais, devido as causas familiares, é triste. Parece ser divertido mesmo, mas não me chamou tanto a atenção.
Abraços Mari,
ThayQ.
http://leituras-insanas.blogspot.com.br

Sil disse...

Eu já vi esse livro por ai, mas não sabia que era tudo isso. Agora fiquei muito interessada nele. Gostei da sua colocação como o personagem ser o livro. Se der vou ler.

Blog Prefácio

Gabriela CZ disse...

Estou com esse livro me esperando e muito ansiosa pra ler. Ainda mais depois desses seus comentários, Mari. Parece daqueles livros que nos marcam e lembramos carinhosamente. Ótima resenha.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Jéssica Soares disse...

Oi, Mari! Tudo bem? Eu não conhecia o livro, mas fiquei surpreendida por sua resenha ao saber que a história consegue ser divertida, mesmo com um passado tão trágico. Sarah parece ser uma personagem na qual eu gostaria de acompanhar, gosto da ideia dela ser amadurecida e achei super interessante o fato do Atticus Finch ser o seu personagem favorito, isso diz muita coisa sobre ela!
Acabei de adicionar o livro na minha estante do Skoob e espero que eu possa lê-lo logo!
Jéssica - http://lereincrivel.blogspot.com.br/

Nardonio disse...

Gente, que vida a dessa garotinha, hein?!?! Ainda não li esse livro, mas já me encantei pela Sarah. Ao ler o trágico passado dessa menina, me peguei pensando como poderia haver um tom de humor nessa trama?!?! Depois que li essa parte de tentar convencer ao pai para beijar na boca, vi que pode rolar essas pitadas. Não é um tipo de livro que geralmente leio, mas esse conseguiu me deixar com uma pontinha de curiosidade.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Vitória Pantielly disse...

Oi Mari !

Pra uma menina que só tem doze anos a Sarah já passou por muita coisa eim! a história é bem interessante, chega a ser engraçado em como a protagonista tem que amadurecer (é quase obrigada a isso) mas mesmo assim sofre os dilemas de estar entrando na adolescência.. Eu adorei a resenhas, e se tiver oportunidade quero dar uma chance pra leitura!
Bjs

Unknown disse...

Oie,
Nossa, essa é uma história que irá mexer muito comigo. Com certeza irei ler.
Ser forçada a amadurecer deve ser dificil para uma garota com apenas 12 anos de idade.
Tenho um parente alcoólatra e sei muito bem o quanto isso é dificil, imagina para uma adolecente na pré-adolecencia. É duro.
Quando citou que a mãe de Sarah afoga ela e seu irmão na pia, issi é completamente terrivel. Dá uma imensa dó da menina.

Camila Monteiro disse...

Hum, gostei demais dessa resenha e uma das coisas que me anima ler o livro é que ele saiu pela Intrínseca que é garantia de livro bom pra mim.
Já está anotado aqui na lista! Valeu a dica!

www.vidacomplicada.com

Lary Zorzenone disse...

Tenho tanta vontade de ler esse livro. Confesso que essa foi a primeira resenha que li dele (costumo fazer isso quando quero muito realizar uma leitura) e gostei bastante. Me deu ainda mais vontade de adquirir um exemplar pra chamar de meu *-*
Beijinhos

http://vidasempretoebranco.blogspot.com

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