terça-feira, 28 de julho de 2015

RESENHA: Os últimos dias de nossos pais

“E a guerra nos faz ter consciência das verdades mais terríveis. Mas a pior de todas, a mais insuportável, é que estamos sozinhos. E estaremos sempre sozinhos. Totalmente isolados. Para sempre. E temos que viver mesmo assim.” (DICKER, p. 102, 2015)

No ano passado, elegi “A Verdade sobre o caso Harry Quebert” como a minha melhor leitura do ano e quando a Editora Intrínseca anunciou o lançamento de “Os últimos dias de nossos pais”, tudo que eu precisava saber era que se tratava de mais um Joël Dicker.

A Segunda Guerra Mundial está em curso quando o Serviço Secreto Britânico ganha uma nova seção: a SOE (Executiva de Operações Especiais) cujas funções incluem sabotagem e invasão das linhas inimigas. Paul-Émile é um dos jovens recrutas que deixa sua cidade natal e seus entes queridos para trás, para participar do treinamento e lutar a favor dos aliados. Muito além de técnicas de combate, o treinamento lhe ensinará o valor das verdadeiras amizades, da lealdade, da coragem e a diferença entre homens e Homens.

O livro é narrado em terceira pessoa e dividido em quatro partes: na primeira, vemos o treinamento dos recrutas; na segunda, o início de suas atividades de guerra; na terceira, uma nova fase de suas carreiras como agentes; e na quarta, o fim da guerra e a tentativa dos sobreviventes de se reajustar a vida fora do conflito. Para mim, mesmo que as partes centrais sejam as que envolvem as ações de guerra, são as periféricas que se destacam e se revelam mais intensas. Acredito que sinto isso porque os próprios personagens veem o treinamento como a melhor fase de suas vidas, o momento em que construíram seus laços. Quanto a última, é a hora de encarar tudo o que aconteceu. De aprender a conviver com as decisões tomadas, de aceita-las e de se aceitar como homens diferentes dos que eram antes de tudo.

Dicker elege Pal (Paul-Émile) como seu fio condutor, mas não exatamente como protagonista, desenvolvendo a história de todos os personagens em uma colagem bem montada de histórias paralelas que compartilham uma mesma raiz (a guerra). O autor costura essa colcha de retalhos de tal forma que parece que os personagens estão sempre conectados de alguma maneira, pois se separam para volta e meia se cruzarem novamente.

Algo que também me agradou muito foi que a falta de segurança que os personagens vivem também pode ser sentida pelo leitor. Em meio a guerra, qualquer um pode morrer a qualquer momento e Dicker sabe explorar isso. Porém, mesmo sendo uma história ambientada na guerra e mesmo que ao acompanhar a jornada dos personagens acompanhemos também o desenrolar do conflito, esse não é o foco do livro. A meu ver, “Os últimos dias de nossos pais” é uma história de amizade, acima de qualquer outra coisa. É esse sentimento - os laços que os recrutas desenvolvem e que se torna seu ponto seguro, sua segunda família - a história que fica depois da última página.

Quanto aos personagens, opto por mencionar apenas o que mais me surpreendeu: o pai de Pal. O interessante é que ele que não participa dos acontecimentos e está sempre longe da ação, mal tendo uma trama própria. Seu papel é de quem fica em casa sentindo saudade do filho que foi para a guerra. Apenas isso. Mas é impossível não se comover com seus sentimentos.

Vale mencionar também que a trama da estreia literária de Dicker é bem mais enxuta e fácil de classificar que “Harry Quebert” que flerta com tantos gêneros e tem milhares de histórias dentro de uma mesma. É por saber que há quem julgue “Harry Quebert” como um thriller devido a sua veia policial, que penso que convém deixar claro que “Os últimos dias de nossos pais” é essencialmente um drama e, mesmo protagonizado por agentes secretos, não tem ares de ação ou espionagem. 

“Os últimos dias de nossos pais” não me arrebatou como “A Verdade sobre o caso Harry Quebert” (pensando bem, quantos livros o fizeram desde lá?). Não engrenou em um ritmo frenético em nenhum momento, não me fez ansiar chegar em casa mais cedo para continuar lendo, nem me pegar pensando sobre sua história no meio do meu dia a dia, mas é uma bela história que aborda a importância da família e das amizades nos momentos mais difíceis e sobre como essas são as pessoas e situações que nos moldam e nos tornam quem somos. Poderia ser clichê nas mãos de um autor menos habilidoso, mas quando lemos um livro de Joël Dicker não encontramos rótulos, apenas personagens. E aceitamos o que vivem da mesma maneira que aceitaríamos se vivessem de verdade.

Título: Os últimos dias de nossos pais (exemplar cedido pela editora)
Autor: Joël Dicker
N° de páginas: 304
Editora: Intrínseca

23 comentários:

Maurilei Teodoro disse...

Este ano ainda pretendo ler o tão bem falado A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert. Tomara que eu goste tanto quanto a maioria !

bomlivro1811.blogspot.com.br

Gabriela CZ disse...

Sei que já tinha vontade de ler esse livro e fiquei ainda mais interessada agora, Mari. Ainda não tive oportunidade de ler Harry Quebert, mas tudo que você fala sobre Joël Dicker me deixa ansiosa. Contudo, penso em começar por esse por ser sua estreia literária e então ir para a grande obra. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Soraya Abuchaim disse...

Oi, Mari.
Eu quero muito ler esse livro. Mas eu entendo o que vc quer dizer em relação a nenhum ter te arrebatado depois da melhor leitura do ano. É a ressaca literária rsrs

Beijos

Meu Meio Devaneio

Tony Lucas disse...

Oi, Mariana! Tudo bem? Tenho muita vontade de ler algum livro do Jöel Dicker! "A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert" está na minha lista de desejados há um tempão, mas ainda não tive a oportunidade de lê-lo... Espero fazer isso em breve! Esse título que você resenhou, não me chamou tanto a atenção quanto "Harry Quebert" chamou, mas pretendo lê-lo. Adorei a resenha! *-*

Abraço

http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

Thamiris Dondóssola disse...

Olá Mariana,

Sempre que encontro algum livro inspirado ou que se passe durante a Segunda Guerra Mundial, eu me interesso por ele. Achei interessantíssimas as divisões e pude perceber que a quarta parte deve ser bastante reflexiva. Também gostei de saber que amizade é um ponto bem explorado nesse livro. Enfim, achei sua resenha sensacional por nos mostrar pontos importantes da obra e nos fazer ficar com vontade de lê-la.
Beijos! Tão doce e tão amarga.

Tamara Costa disse...

Já eu acredito mesmo o contrário pra mim A Verdade sobre o caso Harry Quebert não foi um livro que gostei mas talvez desse eu gostasse...o drama, a guerra, a questão do companheirismo. Eu fiquei meio zangada com esse autor quando não curti o outro livro mas talvez esse fosse o que me fizesse perdoa-lo, talvez.

=*

Unknown disse...

Oi, tudo bem?
Tenho uma curiosidade enorme em ler livros sobre a guerra ou que se passem na guerra. Acho muito interessante ver a cabeça desses homens que tanto sofreram. Meu namorado serviu o exército por um tempo e eu via o quão difícil eram os treinamentos, mas que realmente houve laços entre os soldados. E isso muda a vida de qualquer um, indo ou não para a guerra.
Me interessei bastante pela história desse livro.
Beijos, lendocomabianca.blogspot.com

Elisa disse...

Olá!
"A Verdade sobre o caso Harry Quebert" está na minha lista de leituras futuras, mas ainda não tinha ouvido falar de "Os últimos dias de nossos pais". Confesso não ser uma grande fã de drama, apesar de adorar histórias sobre a II Guerra Mundial, mas quem sabe eu leia este caso goste do outro. A forma como um autor explora as palavras faz mesmo toda a diferença no enredo, não é mesmo?
Abraços purpurinados ♥
Elisa,
The Fat Unicorn

Caverna Literária disse...

Pelo enredo em si não me chamou muita atenção, mas gostei dos pontos que você citou, nem toda história nos envolve, mas tem aquelas que ainda assim conseguem nos passar uma lição, uma reflexão, e só por isso já super vale a pena a leitura

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br
Tá rolando promoção de 'Billy e Eu' lá no blog, vem conferir!

Diane disse...

Oi ...
Não conhecia esse livro , mas , pelo que você relatou na resenha parece ser uma leitura muito aproveitosa . Fiquei bastante interessada em ler .
Livros que tem no enredo a segunda guerra são sempre impactantes .

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

Ana Clara Magalhães disse...

Oi Mari!

Aparentemente todo mundo qud lê Harry Quebert se apaixona pelo livro e pelo autor. Eu nunca li nada dele, mas se eu for ler, pretendo começar com Os Últimos Dias de Nossos Pais. Gosto muito de dramas, principalmente quando se passam na Segunda Guerra, só isso já me deixa com vontade de ler. Super curiosa para conhecer o pai de Pal!

Beijo!
http://www.roendolivros.com

Ana Clara Magalhães disse...

Oi Mari!

Aparentemente todo mundo qud lê Harry Quebert se apaixona pelo livro e pelo autor. Eu nunca li nada dele, mas se eu for ler, pretendo começar com Os Últimos Dias de Nossos Pais. Gosto muito de dramas, principalmente quando se passam na Segunda Guerra, só isso já me deixa com vontade de ler. Super curiosa para conhecer o pai de Pal!

Beijo!
http://www.roendolivros.com

Leandro de Lira disse...

Oi, Mari!
Não conhecia o livro, mas fiquei muito interessado. Mesmo que a leitura consiga ser desconfortável para mim por ser passar em um período de guerra, eu fiquei bastante curioso para ler e acredito que irei gostar.
Adorei a resenha. Na verdade, é difícil não gostar das suas resenhas.
Abraço!

"Palavras ao Vento..."
www.leandro-de-lira.blogspot.com

Inês Gabriela A. disse...

Olá
É comum gostarmos mais de um livro que de outro de certos autores, às vezes eles nos agradam tanto que criamos muitas expectativas, mas nada que uma dose de realidade não resolva. Morro de vontade de ler a outra obra do autor que você citou, mas esse não me interessou muito, confesso.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

Anônimo disse...

Oi Mari!

Não é um gênero que eu costumo ler. Mas gostei bastante da sua resenha, achei interessante, vale a pena a leitura mesmo com os pontos que você destacou.

Beijos!

Cintia
http://www.theniceage.blogspot.com.br/

Laís Helena disse...

Tenho que admitir que tenho um pouco de receio com livros que se passam em cenário de guerra, depois do Diário de Anne Frank que nunca mais os vi da mesma forma. Já "A Verdade sobre o caso Harry Quebert", vem me chamando a atenção já faz algum tempo.

http://brevesrabiscosblog.blogspot.com.br/

Ju M disse...

Não li nada do autor ainda, mas do jeito que você fala fiquei bem curiosa, já coloquei A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert na minha lista. O livro resenhado não me chamou muito a atenção, mas leria com certeza para passar o tempo, gostei de saber que o leitor consegue sentir a insegurança, penso que os livros devem nos dar sensações.

RUDYNALVA disse...

Mari!
Adoro os livros ambientados nas guerras porque sempre trazem grandes ensinamentos e aqui me parece que o maior ensinamento é o sentimento de amizade criado entre os protagonistas para se apoiarem durante período tão complicado e doloroso.
Deve ser uma boa leitura.
“A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.”(Mario Quintana)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Tô Pensando em Ler disse...

Eu estava doida pra ler alguma resenha deste livro.
Como não li nenhum livro dele, ainda estou analisando as resenhas, rs.

Sabe a que conclusão cheguei??

Vou ler este livro primeiro (aliás, é a primeira resenha que li deste livro). E só depois vou para o outro. Assim não criarei expectativas... Acho que é uma boa pedida né?

Adorei a resenha. Uma pena não ter te arrebatado, mas com certeza não deve ter sido tão ruim assim... É sempre bom ler um livro de um autor que a gente gosta ;)

Bjks

Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

Os Livros e Filmes da Bá disse...

Olá, estou muito a fim de comprar!! Mas gostaria de saber se a história se atém muito no quesito guerra. Não gosto de histórias com o tema guerra em si. Abraço!!

Celso Onida disse...

Achei bem chato esse livro, tava com dúvidas se ia continuar, mas lendo sua resenha a dúvida passou, não vou terminar.

Walmir Araujo disse...

Também estou achando meio chato, muita descrição das rotinas do treinamento e da guerra, tá difícil avançar na leitura.

Walmir Araujo disse...

Muita descrição técnica das rotinas de guerra, talvez não agrade.

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