terça-feira, 31 de janeiro de 2017

RESENHA: A arte de ser normal

“Não é só brincar de me vestir; isso é real.” (WILLIAMSON, 2016, p. 274)

Quando David tinha 8 anos, perguntaram na escola o que ele queria ser. Os colegas responderam as mais diversas carreiras. David respondeu: uma menina. Agora, adolescente, ele tenta criar coragem para revelar aos pais como se sente para poder, finalmente, fazer a cirurgia de mudança de sexo. É nessa época que Leo, solitário e cheio de mistérios, surge no colégio e ao defender David de um episódio humilhante, uma inesperada amizade surge entre os dois.

Não é comum vermos personagens transgêneros na literatura, em especial em livros Young Adult. Trazer o tema à tona já torna “A arte de ser normal” um livro válido.

A narrativa se divide em dois pontos de vista: o de David, e seu desejo de realizar a operação, e o de Leo que se refugiou em um novo colégio para fugir de um episódio traumático. Apesar de se sentir preso em um corpo que não lhe pertence, David vive feliz. Tem uma boa relação com a família e dois amigos inseparáveis. Leo, por outro lado, só quer conseguir terminar o colégio para poder ir embora e começar uma vida de verdade.

A narrativa é fluida e os personagens vivem dramas tipicamente adolescentes, mas o livro peca por não elevar a história ao patamar que ela poderia alcançar. O tema pedia por profundidade e pelos mais profundos conflitos existenciais (imagine se olhar no espelho todos os dias e se sentir um estranho dentro do próprio corpo), mas a autora opta por uma abordagem superficial e leve. Sabemos que David está insatisfeito, mas não sentimos nele uma angústia, uma ansiedade ou até mesmo um verdadeiro desconforto. Isso não se torna um defeito sério porque Lisa acerta na condução da história que se propõe a contar. Ela apenas não era a história que eu imaginei que fosse e, por isso, me decepcionou um pouco.

É claro que se trata de um livro voltado para o público juvenil e talvez por isso a autora tenha optado por essa abordagem. Por outro lado, a adolescência já é uma fase cheia de conflitos e questionamentos para qualquer pessoa. Portanto, a mescla da temática transgênero com adolescência não seria ideal para explorar a fundo tudo isso?

Dentre os acertos de Lisa está conseguir mostrar os dois lados da situação: o lado inocente de quem acredita que uma cirurgia bastará para resolver todos os problemas e também o lado de quem já passou pelo procedimento e precisa enfrentar o preconceito das pessoas.

“A arte de ser normal” apresenta uma abordagem leve de um tema profundo. Não entrega todas as reflexões que poderia, mas não deixa de ser uma leitura rápida e agradável. 

Título: A arte de ser normal (exemplar cedido pela editora)
Autora: Lisa Williamson
N° de páginas: 384
Editora: Rocco

domingo, 29 de janeiro de 2017

RESENHA: O Mundo Perdido

“A característica mais típica do ser humano não é a lucidez, e sim a conformidade, e o resultado típico é a guerrilha religiosa. Outros animais lutam por território ou comida; todavia, de forma única no reino animal, seres humanos lutam por suas ‘crenças’. A razão é que as crenças guiam o comportamento, o que tem importância evolucionária entre os seres humanos. Porém, em uma época em que nosso comportamento pode muito bem nos levar à extinção, não vejo motivo para presumir que tenhamos qualquer lucidez. Somos conformistas teimosos e autodestrutivos.” (CRICHTON, 2016, p. 25/26). 

***

Jurassic Park foi um dos melhores livros que li em 2016 e conquistou seu lugar no meu top 5 devido ao sucesso em mesclar ação, suspense e ficção científica, compondo um thriller impecável. Após o sucesso do livro e de sua adaptação, o autor foi pressionado para escrever uma continuação não apenas pelos fãs, mas também por Spielberg, que tinha interesse em gravar mais um filme. Infelizmente, o autor não conseguiu repetir a fórmula. 

Mesmo depois de seis anos dos eventos narrados em Jurassic Park, carcaças de animais desconhecidos continuam a aparecer no litoral da Costa Rica. Isso por que a Isla Nublar não era a única ilha onde John Hammond fazia seus experimentos para tentar reproduzir dinossauros de forma artificial. Caberá ao matemático Ian Malcon, acompanhado por um grupo de cientistas, explorar este “mundo perdido”. 

Creio que um dos fatores que mais me incomodou durante a leitura foi a quantidade de explicações que o autor fornece, especialmente sobre temas como evolução e extinção. Em Jurassic Park o autor conseguia inserir informações importantes e relevantes à trama de forma pontual ao longo da estória. O Mundo Perdido é tão recheado de informações que por vezes dá a sensação de que se está lendo um livro acadêmico. 

Os personagens não cativam, sendo que alguns conseguem apenas irritar o leitor. Jurassic Park não tinha um protagonista definido, até mesmo porque quem ocupava o papel principal na obra era o próprio parque em toda a sua magnitude e opulência. Mais uma vez Crichton optou por não escolher um protagonista, pois a estória não era exatamente sobre esse grupo de pessoas, mas sobre o mundo perdido que elas encontram. O problema é que esse contexto já não causa o mesmo impacto, afinal, o leitor já está familiarizado com o cenário, inexistindo a sensação de descobrimento que impregnava cada capítulo de Jurassic Park. Sem este elemento, a ausência de um protagonista — que conduzisse a estória e com quem o leitor pudesse desenvolver uma conexão — foi ainda mais sentida.

Considerando esse vácuo de protagonismo e a ausência de personagens cativantes, as cenas de ação simplesmente não causavam o efeito desejado. Assim, por maior que fosse o risco, eu não conseguia me importar com o que estava acontecendo, tampouco se eles conseguiriam escapar ou não das ameaças. Outro fator que merece ser pontuado é que Crichton pareceu inserir personagens juvenis apenas para tentar repetir a fórmula de sucesso. Em Jurassic Park, as crianças representam um interessante componente da obra, enquanto que em O Mundo Perdido dão a sensação de terem caído de paraquedas em uma estória que não demandava, muito menos justificava sua presença. 

Mas o pior de tudo é que não existe uma estória. A verdade é que O Mundo Perdido parece ser um livro de restos, pois aproveita um gancho promissor e um personagem interessante. Entretanto, o autor não conseguiu desenvolver de fato uma nova estória e a sensação que fica ao final da leitura é de vazio, mesmo após quase quinhentas páginas. Creio que foi por isso mesmo que Crichton pesou tanto a mão nas explicações científicas, pois era tudo o que ele tinha para a continuação. E verdade seja dita: muitas das discussões trazidas pelo autor são interessantes, mas quando me proponho a ler um livro de ficção espero, acima de tudo, encontrar uma estória de verdade. 

Assim, em todos os aspectos que Jurassic Park foi bem sucedido, O Mundo Perdido falhou. Ficou claro que o autor escreveu não por que tinha uma nova estória, mas por causa da pressão para que continuasse a escrever. 

Título: O Mundo Perdido (exemplar cedido pela editora)
Autor: Michael Crichton
N.º de páginas: 488
Editora: Aleph

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

RESENHA: Diário de uma Escrava

Diário de uma escrava - Ro Mierling - Darkside Books
Não é com frequência que eu uso essa frase e nas vezes em que a ouvi, não foi sempre que concordei que ela cabia à situação, mas aqui vai: “Diário de uma Escrava” é para quem tem estômago forte.

Essa é a história de Laura, mas poderia ser a história de milhares de meninas e mulheres que são sequestradas e usadas como escravas sexuais. Neste diário ela conta em detalhes os horrores pelo qual passa sob o domínio de Estevão, um homem a quem ela apelidou de Ogro e que a mantém em cativeiro há quatro anos.

Não é difícil imaginar que um livro com essa temática será pesado e violento. Mas mesmo que você se prepare para isso é impossível não ficar chocado com muitas das cenas, mesmo que não causem surpresa algumas das humilhações pelas quais Laura passa. Mierling já joga o leitor de cara nessa situação e, dali para frente, não alivia em nenhum momento. A tensão é tanta que até esquecemos que esse é um daqueles livros que contam com a interação de apenas dois personagens. A narrativa é quase hipnótica e mesmo que o conteúdo seja repugnante, você simplesmente não consegue desgrudar os olhos.

A maior parte do livro é o diário de Laura e o que acontece diretamente a ela (incluindo algumas memórias de antes do seu sequestro), mas também há trechos em que acompanhamos a vida de Estevão e suas outras vítimas. Essas nos são apresentadas de maneira mais breve do que Laura, mas em nada menos intensa.

Além da violência física, é marcante a violência psicológica pela qual a personagem passa, chegando a duvidar da própria sanidade. Em alguns momentos, Laura quer morrer, em outros tenta elaborar planos para fugir e se salvar. Em alguns momentos odeia seu captor, em outros é grata a ele por pequenos momentos de “bondade” que a fazem se sentir humana novamente. Ela só quer que tudo pare. Ela só quer uma folga das coisas horríveis que ele faz e qualquer meio de conseguir isso, nem que seja por um breve momento, se torna válido para ela.

“Unindo todas as experiências que vivi nos anos trancada nesse buraco, com a certeza de que não fui a primeira e com a impressão de que o Ogro sempre pode ficar mais cruel do que antes, sei que vou morrer aqui. Então, para que lutar? Para que resistir?” (MIERLING, 2016, p. 41)

Há trechos que, a meu ver, ficaram um pouco deslocados, mas também são importantes para vermos um outro lado dessa situação: o dos que ficam sem saber o que aconteceu com essas meninas. Nesse caso, os pais e o namorado de Laura que continuam sem respostas e querem manter viva a esperança, ao mesmo tempo que querem retomar suas vidas, de um jeito ou de outro. Nesse sentido, algumas escolhas da autora me soaram um tanto forçadas, mas as considero compreensíveis diante do que Mierling quis construir e da mensagem que quis passar com a história.

O final é absolutamente chocante. Conforme eu me aproximava das últimas páginas e sentia o tom que o desfecho adotaria, eu me peguei querendo frear a leitura para não ver ela acabar daquela forma. Impossível não aplaudir a autora pela coragem.

Rô Mierling é uma ghost-writer e fica claro sua pesquisa sobre o assunto e sua tentativa de inserir nesse livro os milhares de erros que essas meninas cometem dando chance ao perigo e às horrendas consequências que eles podem ter. Inclusive, ao final do livro há um apêndice com pequenos relatos sobre casos reais dos quais podemos ver reflexos ao longo do livro.

Alguns autores querem chocar apenas para mostrar que podem. Outros chocam para mostrar que o mundo é cruel e que são as pessoas que o tornam assim.“Diário de uma escrava” é uma leitura envolvente sobre um tema horrível, que não poupa seu leitor e certamente se encaixa na segunda categoria. Longe de ser perfeito, o livro escorrega em alguns momentos ao forçar certas coincidências, mas todas necessárias para cumprir o seu propósito: mostrar que são muitos os níveis de maldade que um ser humano pode infligir a outro, que a nossa humanidade não é à prova de balas e que para alguns caminhos não há volta. Leia se for capaz de encarar.

Título: Diário de uma escrava (exemplar cedido pela editora)
Autora: Rô Mierling
N° de páginas: 220
Editora: Darkside

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

RESENHA: Bom dia, Verônica

Bom dia, Verônica Andrea Killmore DarkSide Books
Para quem não sabe, sou formado em Direito e atuei por alguns anos como advogado criminalista, e por causa deste histórico não consegui levar a sério alguns livros policiais brasileiros, pois os autores pareciam desconhecer como se dá o trabalho investigativo em nosso país. Mas estava com expectativa em alta para conferir Bom dia, Verônica justamente pelo fato da autora contar com experiência policial e possuir conhecimento prático sobre o que escreve. 

Verônica Torres é uma escrivã de polícia que foi “promovida” a secretária pessoal do Delegado Carvana, titular do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Agora, suas funções limitam-se as tarefas burocráticas, sendo mantida a distância de qualquer investigação. Tudo muda quando Marta Campos — uma mulher que caiu no golpe “Boa noite, Cinderela” — se suicida no departamento. Contrariando a orientação de engavetar o caso, Verônica parte em uma investigação particular para capturar o homem que enganou Marta. E por causa da repercussão do caso, Veronica é contatada por Janete, que acusa o marido da prática de crimes bárbaros e implora por ajuda. 

Demorei a me envolver com a estória e creio que em boa parte isso se deva a protagonista e narradora, que não é muito carismática. Entretanto, reconheço que tal característica é compatível com o perfil de Verônica, uma pessoa atormentada pelos fantasmas do passado, que convive com a violência e a impunidade diariamente. 

“O ser humano é podre e egoísta, prefere o problema que já conhece a enfrentar o desconhecido com honra.” (KILLMORE, 2016, p. 191). 

Admito que me causou um certo estranhamento o fato de Verônica embarcar quase que simultaneamente em duas investigações distintas por conta própria após permanecer relegada ao trabalho burocrático por tanto tempo. Apesar da motivação da protagonista não ser das mais fortes, ambas as investigações se justificam para o desenvolvimento da trama

Quanto a investigação, fica claro que a autora tem conhecimento de causa, porém, é preciso dizer que algumas atitudes de Verônica deram a impressão de ser um tanto amadoras, enquanto outras me pareceram contar com um aparato tecnológico avançado demais (pelo menos julgando a partir do contexto que conheço). 

O livro apresenta um clima sombrio e tenso que vai apenas escalando com o desenvolver da estória. Andrea Killmore não tem medo de mostrar o que há de pior no ser humano e sua escrita visceral é um reflexo disso. A autora também descreve com precisão as cenas mais cruéis, transportando o leitor para dentro do livro, mas em nenhum momento utiliza da violência como um mero recurso para chocar o leitor. 

O que realmente fez o livro valer a pena são as últimas cem páginas, quando as investigações avançam mais rapidamente e as pontas da trama começas a ser costuradas. O desfecho é genial, sendo extremamente original e surpreendente, mas sem deixar a verossimilhança de lado. 

Apesar de alguns percalços no caminho, Bom dia, Verônica conta com uma estória brutal, personagens vívidos e uma trama criativa. Eis a prova cabal de que a literatura policial brasileira tem muito mais a oferecer. 

Título: Bom dia, Verônica
Autora: Andrea Killmore
N.º de páginas: 251
Editora: DarkSide Books
Exemplar cedido pela editora

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sábado, 21 de janeiro de 2017

[Literatura Brasileira] para quem não gosta de [Literatura Brasileira]

Todo leitor se identifica com alguns gêneros literários mais do que com outros. Mas existem alguns livros que são capazes de abrir os olhos dos leitores para gêneros dos quais ele nunca gostou, justamente por mostrarem uma faceta diferente do gênero, por terem algo a mais. Livros que fazem o leitor que diz “Não gosto deste tipo de livro” se apaixonar justamente por um livro deste tipo.

Foi pensando nisso que o Além da Contracapa criou uma nova coluna: “[...] para quem não gosta de [...]”, na qual faremos uma seleção de livros de um determinado gênero ou temática que podem agradar até mesmo quem costuma fugir deles. 

1. Dom Casmurro

Talvez um dos livros mais icônicos da Literatura Brasileira, “Dom Casmurro” pode fazer muitos torcerem o nariz graças a traumas de escola, mas é um livro sensacional. Eu poderia dizer aqui que a narrativa de Machado de Assis é, provavelmente, a mais engraçada e irônica que você vai encontrar em um clássico. Eu poderia dizer que Bentinho e Capitu são personagens espetaculares (e eu só não a considero a melhor personagem da literatura brasileira porque Erico Verissimo nos presenteou com o Capitão Rodrigo Cambará). Mas “Dom Casmurro” também é um ótimo livro para quem gosta de desvendar um bom mistério. Não importa quantas vezes você leia, simplesmente não há como ter uma opinião definitiva sobre a possível traição de Capitu. Já li três vezes, quero ler outras, e em todas terminei acreditando que a traição ocorreu. Mas como saber ao certo? Já vi até mesmo professores de literatura manterem suas dúvidas. Um comentou inclusive que só depois de várias releituras percebeu um comentário de Capitu que iria totalmente contra a hipótese de Bentinho de que ela o traía. Até então, ele também era do time dos que acreditam que houve traição. É por isso que mesmo que você não goste dos clássicos da nossa literatura, “Dom Casmurro” pode conquistar você por ser um quebra-cabeças no qual você procura novas peças escondidas a cada linha para tentar desvendar o insolúvel mistério.
Cresci ouvindo minha mãe falar sobre “O Tempo e o Vento” e, quando li a saga, não foi difícil entender porque a história se mantinha viva em sua memória após tantos anos. Você não lê “O Tempo e o Vento”, você vive “O Tempo e o Vento”, isso porque Verissimo cria alguns dos personagens mais vívidos que eu já encontrei na literatura e não é difícil sentir que você os conhece (não é à toa que certa vez um leitor disse a Verissimo que ficou em luto e não foi trabalhar no dia seguinte ao ler a morte do Capitão Rodrigo Cambará ou que minha mãe chorou por dias quando Rodrigo Cambará – bisneto do capitão – também morreu). Em uma história tão extensa e com tantos personagens surpreende que até o menor dos coadjuvantes ganhe essa faísca de vida. É verdade que a história é longa (três livros divididos em sete volumes), mas quando você termina a sensação não é de conclusão e sim de fazer parte de uma nova família: a dos Terra Cambará. “O Tempo e o Vento” tem aventuras, batalhas, amores, decepções, personagens fortes e é uma aula de história, tanto do Rio Grande do Sul, quanto do Brasil. Por ter de tudo um pouco é capaz de agradar leitores dos mais variados gêneros.

3. Capitães de Areia 


Capitães de Areia foi meu primeiro contato com a obra de Jorge Amado e um dos melhores livros que já li (inclusive estando entre minhas 5 melhores leituras de 2015). A estória gira em torno de um grupo de meninos abandonados, que vive de pequenos furtos e mora nas ruas. Jorge Amado conviveu com meninos de rua para escrever o livro e o conhecimento de causa do autor fica claro desde o início, pois vemos um “olhar de dentro”. Com muita sensibilidade, Amado desenvolve personagens complexos — cada um vivenciando dramas particulares — e que encontram no grupo não apenas aceitação, mas também o sentimento de pertencimento e, principalmente, uma identidade. O autor ainda aborda temas como amizade, companheirismo, lealdade, amor, integridade, vingança, abandono e violência de forma sútil, mas contundente. Capitães de Areia consegue ser uma mescla de romance de formação e crítica social, que não apenas faz o leitor refletir, mas que também emociona. Certamente, um livro atemporal e que merece ser visto com um verdadeiro clássico da literatura brasileira. 


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

RESENHA: Harry Potter e a Criança Amaldiçoada

“DUMBLEDORE: Harry, nunca existe uma resposta perfeita nesse mundo confuso e perturbado. A perfeição está fora do alcance da humanidade, fora do alcance da magia. Em cada momento luminoso de felicidade há esta gota de veneno: o conhecimento de que a dor voltará. Seja sincero com aqueles que ama, mostre sua dor. Sofrer é tão humano quanto respirar.” (ROWLING; TIFFANY; THORNE, 2016, p. 275)

A oitava história de Harry Potter, dezenove anos depois. Alguém em sã consciência não ficou enlouquecidamente ansioso assim que soube que isso ia existir?

Nunca foi fácil ser Harry Potter, mas também não é fácil ser filho de Harry Potter. Alvo Severo, o segundo filho de Harry e Gina, agora frequenta Hogwarts e enfrenta o peso de levar o nome do menino que liderou a batalha contra o maior bruxo das trevas que já existiu.

Fugi o máximo possível de qualquer informação sobre “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”. Por isso, quando comecei a ler, tudo que eu sabia era que a tal criança do título era Alvo Severo. Dali para frente, tudo foi surpresa. Para que você também tenha suas surpresas, aviso: essa resenha contém alguns spoilers.

Antes de mais nada é preciso reconhecer a coragem de J.K. Rowling em dar continuidade à história de Harry Potter, pois isso significa mexer em uma obra irretocável. Há nove anos ganhamos um final cheio de aventura e ação, mas também lindo e emocionante. E se esse sentimento se perdesse? E se essa nova história estragasse tudo? E se, ao ler, você pensasse: “Esses não são os personagens que eu conheço”? Seria um sentimento terrível. Mas estamos falando da pessoa que teve a genialidade de criar esse mundo tão rico e é claro que ela não decepcionaria agora. Dito isso, eu não esperava muitas das coisas abordadas nesse livro, mas fiquei bem satisfeita com o que encontrei.

A começar pela relação de Harry e Alvo. Eu jamais imaginei Harry (que, acima de tudo, sempre sonhou em ter uma família) tendo problemas com seu filho. Jamais imaginei que o menino pudesse sentir qualquer outra coisa pelo pai que não idolatria. E jamais (jamais!) imaginei que ele não seria um destaque em Hogwarts, que não seria popular, que iria para a Sonserina (!) e que teria como melhor amigo o filho de Draco Malfoy (ah, como o mundo bruxo dá voltas...).

Acredito que Rowling enfrentou uma série de desafios com essa história. O primeiro deles: como é um mundo após a queda de Voldemort? Obviamente não pode ser perfeito, então quais são os desafios? Como vivem aqueles que nunca conheceram um mundo assombrado por Voldemort? E, principalmente, quem será o nosso vilão se antes tínhamos um dos maiores vilões de todos os tempos? É uma responsabilidade como substituir Darth Vader! E a autora arruma outra saída que eu jamais havia imaginado: Voldemort teve um filho! E o que esse filho quer? Trazer seu pai de volta para dominar o mundo bruxo. Simples e genial.

Outro desafio era que o foco não deveria ser tanto nos nossos velhos conhecidos e sim nos novos personagens. Como fazer isso de forma que não estranhássemos e ainda assim víssemos as características que nos fizeram amar a saga para começo de conversa? Fácil: qual a essência de Harry Potter? A aventura, a amizade e a importância de se fazer a coisa certa. E é isso que vemos acontecer com Alvo e Escórpio Malfoy. Uma amizade verdadeira que se provará diante dos maiores perigos.

“ESCÓRPIO: O mundo muda e nós mudamos com ele. Estou melhor neste mundo. Mas o mundo não é melhor. E eu não quero isso.” (ROWLING; TIFFANY; THORNE, 2016, p. 207)

ALVO: Amigo, agora que temos isto (...) nossa jornada está só começando.
ESCÓRPIO: Só está começando e já quase nos matou. Ótimo. Vai ser ótimo.” (ROWLING; TIFFANY; THORNE, 2016, p. 94)

Quanto aos nossos velhos amigos, é muito gostoso ver que as relações continuam as mesmas e que eles tomaram os rumos que poderíamos ter previsto. Rony continua engraçado, Hermione continua um poço de responsabilidade (e agora é Ministra da Magia – que orgulho!), Harry continua tendo um enorme coração (e por vezes o peso do mundo nas costas) e Gina continua forte e determinada. Nesse sentido, um dos personagens mais interessantes de reencontrarmos é Draco Malfoy, que ao longo da saga foi se mostrando, aos poucos, menos filho de Lucio do que se poderia supor. Draco nunca será humilde, mas há muito deixou de ser o menino insuportavelmente arrogante que conhecemos em “Harry Potter e a Pedra Filosofal” e há uma cena ótima (um dos diálogos mais bonitos da peça/livro, na minha opinião) em que ele confessa ter sonhado em ter a amizade que Harry, Rony e Hermione tinham. Agora, Draco é um pai como qualquer outro. Preocupado com seu filho, cometendo muitos erros, mas sempre tentando acertar.

Outra escolha que me agradou muito foi a revisitação de alguns momentos icônicos da saga (como o Torneio Tribruxo) e o uso o vira-tempo para nos mostrar como teria sido o destino dos personagens caso algumas escolhas tivessem sido diferentes. Mas mais do que tudo, achei incrível que o ápice da história estivesse ligado justamente ao momento em que tudo começou: a noite em que Voldemort matou Lílian e Tiago em Godric’s Hollow. Ali Harry venceu Voldemort mais uma vez, mas também reviveu a maior perda da sua vida. Um momento glorioso, carregado de tristeza e beleza, como a saga sempre soube entregar.

É preciso mencionar também que este texto não é uma narrativa convencional (e não foi escrito por JK Rowling e sim baseado no argumento dela para a peça), afinal se trata de uma versão especial de um roteiro teatral. Por isso, a leitura causa estranheza já que não temos uma narrativa contínua, apenas breves comentários que nos permitem visualizar as cenas. Além disso, os diálogos são marcados pelo nome do personagem que fala. Mas logo é possível se acostumar e a leitura flui muito rápido (tanto que li em poucas horas).

Sim, Alvo é um tanto imaturo, mas ele é apenas uma criança que - assim como seu pai cresceu sendo “o menino que sobreviveu” - cresce sendo “o filho de Harry Potter” e ainda não encontrou uma maneira de lidar com as decepções e superá-las. Sim, Harry comete erros como pai, mas ele está em uma nova fase da vida, enfrentando novos desafios, muitas vezes sem saber como agir diante deles. Não, Alvo e Escórpio não têm o carisma nem a força de Harry, Rony e Hermione, mas a saga nunca se fez apenas de seus protagonistas e sim de um conjunto de situações e essa essência se manteve. Isso, para mim, era o mais importante. “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada” não tem a grandiosidade dos livros originais da saga (e nem poderia ter, já que se trata de uma trama avulsa, mas que precisa estar linkada a todo o histórico da série), mas é um retorno competente ao mundo que aprendemos a amar e que jamais esqueceremos. Sem dúvida, enche o coração do leitor de saudade e coloca um sorriso no seu rosto.

Sempre há lugar para as trevas, mas também sempre há lugar para a amizade. E é essa a mensagem que “Harry Potter” reforça mais uma vez: que o amor e a lealdade são os maiores poderes de que alguém pode dispor.

“GINA: Harry, você tem um dos maiores corações de qualquer bruxo que já viveu...” (ROWLING; TIFFANY; THORNE, 2016, p. 138)

Título: Harry Potter e a Criança Amaldiçoada (exemplar cedido pela editora)
Autor: J.K. Rowling, John Tiffany & Jack Thorne
N° de páginas: 343
Editora: Rocco

domingo, 15 de janeiro de 2017

RESENHA: A Escolha dos Três

“Se pensou em abrir mão de suas emoções para só se concentrar na Torre, Roland, você já perdeu. Uma criatura sem coração é uma criatura sem amor e uma criatura sem amor é um animal. Ser animal é talvez suportável, embora o homem que se tornou um certamente acabe, no final, pagando o preço do próprio inferno, mas e daí se você alcançar seu objetivo?” (KING, 2007, p. 235)

***

Após o promissor início da série A Torre Negra com O Pistoleiro e sendo esta saga minha maior expectativa literária para 2017, o ano só poderia ter começado com a leitura do segundo livro: A Escolha dos Três

ATENÇÃO: a sinopse (parágrafo abaixo) CONTÉM SPOILERS de O Pistoleiro, primeiro volume da série A Torre NegraO restante da resenha é SPOILER FREE.

O Homem de Preto leu nas cartas do tarô que a jornada de Roland não seria solitária, pois contaria com a ajuda de três pessoas representadas por três cartas: o Prisioneiro, a Dama das Sombras e a Morte. Assim, Roland descobre três portas ao longo do mar ocidental que o levam para Nova York de diferentes épocas, sendo que a cada viagem encontra um novo companheiro com o qual seu destino se mescla. 

A Escolha dos Três é um livro que causa um certo estranhamento por dar a impressão de ser um novo começo e não uma continuação. Apesar de se fundar basicamente na profecia do Homem de Preto, o segundo livro da série tem exatamente as mesmas características do primeiro: apresentação e desenvolvimento dos personagens. A diferença é que no primeiro livro o contexto era a busca de Roland pelo Homem de Preto, agora o contexto é a busca por aqueles que se tornarão seus companheiros em sua grande jornada. 

King mergulha fundo não apenas no desenvolvimento dos personagens, mas também na criação de relações inusitadas que surgem entre pessoas que são tão diferentes, mas cujos destinos estão entrelaçados. E apesar do autor dominar a arte da criação de personagens como poucos, a minha sensação durante boa parte da leitura era de que nada estava acontecendo, o que tornou a leitura cansativa e até mesmo monótona em alguns momentos.

Foram apenas nas últimas cem páginas do livro que realmente vi o King que tanto admiro em ação, começando a amarrar as pontas das tramas de forma surpreendente e empolgante. Entretanto, o autor ainda mantém distância de explicações mais complexas sobre o universo da saga, dando apenas respostas fragmentárias. 

Fica claro que a intenção do autor era limitar o enfoque do livro a apresentação dos novos companheiros de Roland e mostrar o choque de dois mundos, mas estaria mentindo se não reconhecesse que esperava mais. Ainda assim, creio que A Escolha dos Três seja um livro necessário a longo prazo, pois um aprofundamento tão grande nos companheiros de Roland aponta para o fato de que eles serão de extrema importância para o desenvolver da saga. 

Creio que o motivo pelo qual este livro não foi desastroso se atém ao talento de King, que é um dos poucos autores que consegue prender a atenção do leitor e mantê-lo entretido mesmo quando não há muita coisa acontecendo. 

Ainda assim, encerrei a leitura com o sentimento de que o livro poderia ter sido mais sucinto, não se atendo a tantas minúcias, e contar com mais ação. Entretanto, King mais uma vez nos fornece lampejos promissores do universo de A Torre Negra e o segundo livro certamente continua sendo uma grande promessa. Resta-me torcer para que a partir do terceiro volume as promessas comecem a ser cumpridas. 

Título: A Escolha dos Três - A Torre Negra, livro 2
Autor: Stephen King
N.º de páginas: 413
Editora: Suma de Letras

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

RESENHA: Tony & Susan

“Os que acontece com Laura e com Helen depende do tipo de história que está sendo contada. Assim, enquanto Tony luta para manter a esperança, a leitura de Susan imagina Edward, que prepara algo insuportável. Todavia, mesmo enquanto tem medo, Susan o incentiva, dizendo: bom trabalho, Edward, você está indo bem. Susan está tensa não só por causa de Tony, mas por causa de Edward, imaginando como ele poderá evitar o anticlímax sem uma catástrofe.” (WRIGHT, 2016, p. 64)

Há alguns anos, “Tony e Susan” havia me chamado a atenção dentro do catálogo da Intrínseca, mas não a ponto de me convencer a fazer a leitura. Foi apenas com o lançamento da sua adaptação cinematográfica - “Animais Noturnos” - e do relançamento do livro que decidi conferir o romance de Austin Wright.

Susan não tem notícias de Edward, seu primeiro marido, há 25 anos. Por isso, é com surpresa que ela recebe um pacote contendo o manuscrito do primeiro romance finalizado por ele pedindo que ela o leia, afinal, ela sempre fora sua melhor crítica. Aproveitando que Andrew, seu atual marido, estará fora da cidade por três dias, Susan mergulha na leitura da história de Tony, um homem que ao viajar com a esposa e a filha vive o maior pesadelo de sua vida.

É estranho falar de um livro como “Tony & Susan” que, a princípio, parece ser de uma simplicidade óbvia, mas que esconde tanto nas suas entrelinhas. Nele temos uma história dentro de outra história, ou seja, a história de Susan e também a da trama do manuscrito de “Animais Noturnos”. O período temporal coincide com o período de leitura de Susan, desde que recebe o manuscrito até que termina de lê-lo. O que acompanhamos são ambas as histórias: os dias de Susan durante a leitura e também a trama de “Animais Noturnos”, ou seja, a jornada de Tony. Esse artifício faz com que tenhamos uma estranha sensação de que uma parte é fictícia e a outra é verdadeira. De que Tony é apenas um personagem de uma história inventada, enquanto Susan vive a vida real.

As duas narrativas funcionam muito bem. A trama do manuscrito (que começa leve e aos poucos se torna angustiante e sombria) cativa imediatamente e de tal forma que por vezes esquecemos que não é a história principal do romance de Wright. Isso inclusive é engraçado, porque a história de Tony se estende por mais páginas do que a de Susan. Ainda assim ele não é o nosso protagonista. Susan sim. Ao fim de cada capítulo de “Animais Noturnos”, descobrimos o que ela pensa a respeito do que leu e, por ser o mesmo que nós lemos, é como se Susan fosse uma amiga com quem trocamos ideias por estarmos lendo o mesmo livro. Por isso, “Tony & Susan” é também um livro sobre a experiência de leitura, sobre como o ato de mergulhar em um bom livro nos permite (e nos força) a deixar a nossa própria realidade de lado para vivenciarmos outra, mas também como as nossas vivências reais influenciam a maneira como encaramos o que lemos nas páginas.

Embora estejamos lendo o mesmo manuscrito, a experiência de Susan é diferente da nossa, pois ela busca na trama vestígios do homem que ela conheceu. Seus olhos não são inocentes como os nossos já que para ela cada detalhe da história de Tony está contaminado pelo que ela sabe sobre o homem que inventou Tony e pelo tanto que desconhece sobre ele dos últimos 25 anos. Isso a leva a refletir sobre sua própria vida. Sobre as escolhas que fez, sobre o início do seu relacionamento com Edward e, posteriormente, com Andrew, além de se questionar sobre aspectos incômodos da sua vida de casada e também sobre a fragilidade de certas coisas que, de uma hora para outra, podem mudar drasticamente. E é nesses momentos, nas reflexões de Susan, que a verdadeira história de “Tony & Susan” se revela. De um lado temos um manuscrito, com início, meio e fim. Do outro, temos uma mulher lendo esse manuscrito, fazendo muito pouco no seu dia a dia além de ler. No meio, quase escondido, temos todo o resto.

Escondidos também ficam alguns personagens. Em nenhum momento convivemos com Edward ou com Andrew, mas eles são partes tão vivas da trama como Susan. Eles estão ali, na maneira como ela lê “Animais Noturnos” e como processa os acontecimentos da trama, e é através dessas observações que nos é permitido conhecê-los também. Assim, é impressionante como Wright consegue dar vida a esses personagens com tão poucas informações. Essa vivacidade também se estende aos personagens do manuscrito.

Porém, para mim, pairava uma tensão durante toda a narrativa que, conforme os capítulos finais se aproximavam, comecei a perceber que não me seria entregue. Eu me perguntava se algum grande segredo seria revelado ou se Edward tinha algum motivo obscuro para fazer Susan ler “Animais Noturnos”. Assim, eu confesso que esperava mais intensidade, no sentido de tensão e suspense, e precisei de um tempo para entender que não era isso que o livro queria me entregar e reajustar as minhas expectativas. Na verdade, alguns leitores podem se decepcionar com o final aberto proposto por Wright, mas refletindo um pouco, acredito que ele seja perfeito para reforçar que a história de Susan é real e em histórias reais não temos desfechos definitivos. Temos apenas interrupções. Em “Tony & Susan” acompanhamos essa mulher durante uma leitura e o que essa experiência a leva a refletir sobre a própria vida. É isso que temos no final: uma Susan pensativa que precisará voltar para a sua rotina, deixando os dramas de Tony para trás. Não é o que acontece com todos nós leitores? Falando assim, parece que “Tony & Susan” é um livro pobre, mas está longe disso. Há profundidade e há drama. O que não há são ápices e reviravoltas. Quanto à história do manuscrito, essa sim tem um desfecho claro (e muitos momentos de tensão), de novo reforçando a sensação de que aquela é uma história fictícia para a qual seu autor precisava definir qual seria o ponto final.

“Tony & Susan” é uma leitura envolvente que deixa o leitor com uma sensação incômoda ao final, pois o faz sentir o mesmo descontentamento que Susan sente com a própria vida. Algo que só obras que nos remetem a algo verdadeiro são capazes de fazer.

Título: Tony & Susan (exemplar cedido pela editora)
Autor: Austin Wright
N° de páginas: 336
Editora: Intrínseca

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O que vem por aí - Janeiro

domingo, 8 de janeiro de 2017

RESENHA: No Limite da Loucura

“Eu tinha poder, literalmente. Precisava me lembrar. Eu era maior e mais forte que qualquer fantasma que cruzasse meu caminho. Isso ainda não havia me ocorrido. Eles deveriam me temer. E eu nunca tinha sido amedrontadora para ninguém.” (JOHNSON, 2016, p. 95). 

***

O primeiro volume da série Sombras de Londres se mostrou como uma inusitada e surpreendente mistura de young adult, fantasia e policial, de modo que mal podia esperar para conferir a continuação. Entretanto, No Limite da Loucura não conseguiu repetir a formula bem sucedida de seu antecessor.

ATENÇÃO: a sinopse (parágrafo abaixo) CONTÉM SPOILERS de O Nome da Estrela, primeiro volume da série Sombras de LondresO restante da resenha é SPOILER FREE.

Depois de seu exílio em Bristol, Rory retorna a Londres e volta a frequentar Wexford, onde aconteceu seu último encontro com o imitador de Jack, o Estripador. Além do trauma, Rory precisa lidar com seus novos poderes e ainda ajudar na investigação de uma nova onda de crimes que atormenta a cidade. 

O primeiro ponto que chama atenção é o fato de que a trama se encontra extremamente dispersa. O livro conta não apenas conta os ganchos deixados pelo livro anterior, mas também introduz novos arcos, de forma que falta não apenas unicidade, mas um fio condutor que guie a estória. Assim, a impressão que eu tinha era de que muita coisa estava acontecendo ao mesmo tempo em que estória parecia não estar avançando. 

Johnson também falha no desenvolvimento do suspense, pois as opções que tomou ao longo da estória se mostraram as mais previsíveis, de modo que não consegue surpreender o leitor. Me pareceu que a autora notou tal deslize e, para apimentar a obra, recorreu a reviravoltas desesperadas, que além de forçadas, tampouco surpreenderam. 

O envolvimento romântico da protagonista também não convence. Me causou muito estranhamento a forma como esse romance surgiu do nada, ficando claro que a autora optou por tal recurso apenas para que determinado evento causasse um impacto maior. 

Apesar de todo o desenvolvimento da estória ter parecido como um carro desgovernado, no desfecho Johnson pareceu ter retomado o controle. Foi apenas nas últimas páginas que a autora conseguiu amarrar algumas pontas da trama e ainda encerrar a obra com um promissor desfecho. 

A verdade é que No Limite da Loucura sofreu da “maldição do segundo livro” e se tornou o que costumo chamar de “livro ponte”, cujo objetivo é tão somente fazer a ligação entre o primeiro e o terceiro livro da série, pois conta com uma estória vazia, não tendo elementos suficientes para se manter por conta própria. 

Assim, No Limite da Loucura é um livro que apenas promete, mas que não entrega. A verdade é que Johnson deu o passo maior do que a perna e, ao tentar atirar para todos os lados, conseguiu a façanha de não acertar nenhum alvo. Sinceramente, tenho dúvidas se terei ânimo para ler os próximos volumes da série. 

Título: No Limite da Loucura (exemplar cedido pela editora)
Autora: Maureen Johnson 
N.º de páginas: 304
Editora: Fantástica Rocco

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Especial de Fim de Ano: Parte 3

Em 2016, o nosso tradicional Especial de Fim de Ano ganhará um formato diferente. Por razões externas a nossa vontade, não conseguimos gravar os vídeos a tempo de os posts irem ao ar nesta época, mas também não quisemos deixar que o especial se perdesse. Por isso, dessa vez, as duas primeiras partes serão feitas na forma de post escrito e a última na forma de vídeo.

Para quem ainda não conhecesse os nossos especiais, uma breve explicação: na primeira parte comentaremos como foram as leituras dos livros que, no especial de 2015, elegemos como as nossas maiores expectativas para 2016. Na segunda, vocês saberão quais foram as nossas melhores leituras desse ano. Por fim, vamos contar para vocês quais os livros que mais estamos desejando para 2017. 




terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Top Comentarista Janeiro


No Top Comentarista de Janeiro, o vencedor poderá escolher o livro que quer ganhar dentre as quatro opções: Silêncio, Hibisco Roxo, A Verdade e Outras Mentiras e Fique Comigo.

Confira o regulamento:

1. Para participar, basta preencher o formulário abaixo, usando sua conta do Facebook ou seu e-mail. É obrigatório curtir a página do blog no Facebookcomentar em todas as postagens de janeiro e ter um endereço de entrega no Brasil.

2. Para simplificar, optamos por utilizar o Rafflecopter. A primeira entrada confirma sua participação no Top Comentarista, enquanto as demais constituem chances extras, sendo opcionais. Atenção: depois de feito o sorteio será conferido se o sorteado comentou em todas as postagens do mês. Caso essa regra não seja cumprida, o mesmo será desclassificado, e um novo sorteio será realizado.

3. Para a entrada "Tweet about the Giveaway" ser válida, é obrigatório seguir o blog no twitter. 

4. Lembrando que somente serão válidos comentários significativos. Ou seja, comentários do gênero “interessante”, “legal” ou “ótima resenha” não serão computados. O participante poderá comentar apenas uma vez em cada post.

5. O sorteado poderá escolher os dois livros que deseja receber dentre as quatro opções disponíveis:
- Silêncio, de Richelle Mead
- Hibisco Roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie
- A Verdade e Outras Mentiras, de Sascha Arango
- Fique Comigo, de Harlan Coben

6. O resultado do Top Comentarista será divulgado no blog até o dia 05 de fevereiro.

7. O sorteado será contatado por email, tendo o prazo de 48h para fornecer seus dados e o blog se responsabiliza por confirmar o recebimento das informações. Decorrido o prazo sem manifestação do vencedor, novo sorteio será realizado.

8. O prêmio será enviado pelo blog no prazo de trinta dias úteis.

9. A Equipe do Além da Contracapa se reserva ao direito de dirimir questões não previstas neste regulamento.


a Rafflecopter giveaway
 

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