sábado, 24 de fevereiro de 2018

RESENHA: A Casa dos Espíritos

A Casa dos Espíritos / Isabel Allende
Quando eu era criança, meu avô tinha uma coleção de filmes. Ainda hoje lembro do tom amarelo de uma das capas e de como esse filme em específico me chamava a atenção. Na época, eu não podia assistir, pois não tinha idade para tal história e foi só anos depois que descobri que o tal filme era inspirado em um livro de Isabel Allende. Foi assim que por muito tempo cresceu em mim a vontade de ler “A Casa dos Espíritos”.

Clara Del Vale sempre foi uma menina diferente. Quando criança, parou de falar por decisão própria e assim permaneceu por anos. Sempre um pouco etérea e dotada de poderes incompreensíveis para o resto de sua família, Clara acaba casando com o ambicioso e taciturno Esteban Trueba e com ele tem três filhos. Essa é a história dos Del Vale e como eles se juntam aos Trueba. É a história de seus amores, suas conquistas, suas desavenças, suas lutas e tudo o mais que permeou as suas vidas. É também um panorama chileno ao longo de setenta anos.

A maior parte da narrativa se dá em terceira pessoa por um narrador que, em alguns momentos, se insere na história sem que a sua participação fique clara. Sabemos que é alguém da família, mas demoramos a saber quem, já que essa é uma história de gerações, trazendo personagens e levando outros ao longo de suas quase quinhentas páginas. Por ser contada por alguém que já está distante dos acontecimentos, a narrativa também faz pequenos comentários e dá pistas sobre o que irá acontecer no futuro, um recurso sempre instigante. Em breves momentos, a narrativa também é conduzida por Esteban.

“A Casa dos Espíritos” é cativante desde o início. Allende cria personagens vívidos com os quais nos envolvemos profundamente. Inclusive, o livro me lembrou O Tempo e o Vento, inesquecível saga de Érico Veríssimo, por também se tratar da jornada de uma família através de gerações e também pela abordagem de temas políticos.

E por falar na política de “A Casa dos Espíritos”, essa é a única coisa que fez o livro perder alguns pontos comigo em suas últimas páginas, já que, conforme nos aproximamos do final, a revolução militar ganha cada vez mais espaço, algo que, confesso, sempre acaba por me distanciar das tramas já que política não é o meu forte.

“Recordava o passado como uma sucessão de violências, abandonos e tristezas, e não estava segura de que as coisas tivessem sido como pensava.” (ALLENDE, 2017, p.324)

Em uma história como essa, é impossível falar de um ou outro personagem. É claro que alguns nos acompanham das primeiras às últimas páginas e portanto ganham mais camadas, pois passam por mais fases da vida (é o caso de Esteban, que conhecemos jovem e o acompanhamos até os 90 anos). Outros (como sua neta Alba) surgem apenas depois da metade do livro e outros ainda (como sua irmã Férula) deixam a história cedo. Mas todos têm uma importância clara dentro da história, de acordo com o momento em que estão inseridos. Sim, Clara e Estaban são os protagonistas, mas apenas porque eles são o núcleo da família. São filhos de alguns, pais e avós de outros, mas a história não é sobre eles e sim sobre todo o clã. A prova disso é a sensação de estranheza que bate quando o livro termina. Vimos tantos daqueles personagens morrerem e outros nascerem depois deles que parece não haver uma razão para a história terminar, como se ela pudesse continuar indefinidamente enquanto existirem Truebas. Essa, para mim, é sempre a prova definitiva de que uma história cumpriu seu propósito: seus personagens ganharam uma vida que parece pular fora das páginas.

Livro de estreia de Isabel Allende, “A Casa dos Espíritos” é um ícone da literatura latino-americana e sem dúvida merece esse status. É um pouco drama familiar, um pouco drama político, um pouco história de amor, um pouco história de vingança, um pouco sobrenatural, um pouco romance histórico. É num todo uma história envolvente e repleta de bons personagens que sem dúvida me deixa com vontade de conferir outros livros de sua autora.

Em 1994, a adaptação cinematográfica contou com Maryl Streep e Jeremy Irons nos papéis de Clara e Esteban, e ainda Glenn Close, Winona Ryder e Antonio Banderas em outros papéis de destaque.

Título: A Casa dos Espíritos
Autora: Isabel Allende
N° de páginas: 448
Editora: Record
Exemplar cedido pela editora

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13 comentários:

Ludyanne Carvalho disse...

Uau! Pelo título pensei se tratar de terror, mas me enganei.
Você disse se lembrar de O tempo e o vento, e de fato sua resenha me traz essa lembrança também. Até fiquei interessada por conta disso; acho interessante histórias que se passam em gerações, que abordam temas políticos e contenham muito romance.
Só não gostei da capa.

Beijos

Gabriela CZ disse...

Vou confessar que não tinha nenhum conhecimento sobre esse livro, Mari. Embora ache que já ouvi falar do filme. Me interessei por esse drama familiar que acompanha várias gerações, só murchei um pouco com seu comentário sobre política. Pois também não é meu forte. Mas creio que posso relevar. Ótima resenha.

Beijos!

Casos Acasos e Livros disse...

Oi, Mari!
A Casa dos Espíritos eu nunca li, mas da Allende eu li Paula - e li em espanhol para a aula - e gostei muito da maneira como ela escreve.
Eu não sabia absolutamente nada da história e gostei do que você contou da sinopse.
Talvez não leia, mas veja o filme, porque, né, tem a Meryl Streep maravilhosa e outros atores incríveis.
Pena que pendeu no final para a política.

Beijooos

www.casosacasoselivros.com

Nessa disse...

Oi Mari
Ainda não tinha lido resenha sobre este livro e fiquei agora curioso pelo enredo, pelo visto ele é de tudo um pouco e muito bom. Eu nem sabia da adaptação e tb fiquei com vontade de assistir. Confesso que não é muito meu estilo de leitura, mas fiquei curiosa.

Beijinhos
https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Caverna Literária disse...

Oi, Mari!

Pelo título eu esperava uma história com uma carga grande de terror, mas pela resenha deu pra compreender o significado por trás do título. Ainda não conhecia a obra, mas fiquei curiosa com a premissa!

xx Carol
Vem participar do booktour do meu livro O poder da vingança!
http://caverna-literaria.blogspot.com.br

Claris Ribeiro disse...

Oi Mari, tudo bem?
Não conhecia o livro e confesso que de primeira achei que era uma história de terror. Gostei muito da sua resenha, esse parece ser um livro muito interessante e chamou muito a minha atenção. Gostei.

Obrigada pelo carinho. Volte sempre!
Um super beijo :*
Claris - Plasticodelic

RUDYNALVA disse...

Mari!
Os livros da Isabel são tão vívidos que parece estarmos dentro dele ou da trama quando os lemos.
Já tive oportunidade de ler, nossa há tanto tempo que nem lembro e já assisti o filme sei lá quantas vezes e sempre percebo um detalhe diferente.
A saga da família durante várias gerações traz muitos conflitos, inclusive a parte política, achei importante a contextualização, gosto quando há fatos verídicos misturada a trama.
Uma semaninha plena de amor no coração!
“Eu escolho um homem que não duvide de minha coragem, que não me acredite inocente, que tenha a coragem de me tratar como uma mulher.” (Anaïs Nin)
cheirinhos
Rudy
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Mariana M... disse...

A autora realmente merece o título que tem, afinal, mesclar tantos gêneros assim é conseguir construir uma história intrigante é envolvente não é para qualquer um, não. Antes de ler a resenha achava que era uma obra majoritariamente de terror, mas já vi que não é bem assim. Não conhecia a obra até então, mas já quero saber mais também sobre a adaptação.

Ana I. J. Mercury disse...

Oi Mari,
gostei muito da sua resenha.
Já faz anos que quero ler A Caso dos espíritos, mas, confesso que não gosto muito desses dramas familiares que se passam por várias gerações.
Acabo sempre parando na metade.
Fiquei com vontade de ler agora, vamos ver, quem sabe, ainda lhe dou uma chance!
bjs

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Fiquei encantada com a sua resenha sem duvida esse livro tem uma longa história a ser contada. Gosto bastante de livros que narra a saga de várias gerações de uma família.
Bjoss

Unknown disse...

Estou vendo várias pessoas falando bem deste livro, o que me deixou bem curiosa quanto a história.

Amei a sua resenha!

Patrini Viero disse...

Allende é uma autora que me instiga muito porque já ouvi diversos comentários positivos com relação a suas obras. Esse em particular é um dos livros mais aclamados da autora, e a tua comparação com a obra do Veríssimo me deixou bem curiosa pra conhecer a história. Política também não é meu forte e fico feliz que isso só apareça com força ao final da obra. E os personagens bem construídos são os responsáveis não apenas por dar consistência ao enredo, mas também por tornar a obra marcante e digna de ser lembrada por seus leitores.

Carolina Santos disse...

Acho q que mais me chamou atenção Esse livro foi o fato dele ser um livro de época porque sinceramente nem a sinopse e nem a capa conseguiram efetivar acho que não poderá se liga Por enquanto vou anotar sugestão Mas acho que essa leitura não vai sair agora

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