“Praia de Manhattan” é o mais recente lançamento de Jennifer Egan, uma autora com quem eu só tive boas experiências. Justamente por isso, minhas expectativas estavam nas alturas quando o livro chegou às minhas mãos.
Nova York, década de 40. Anna e sua família passam pelas dificuldades que a maioria das famílias americanas passa naquele momento: muitos conhecidos indo lutar na guerra, racionamento e mulheres precisando assumir o sustento da família. São tempos difíceis. Ainda mais que o pai de Anna desapareceu. Até que em uma noite, ela reencontra um homem que conheceu quando criança ao acompanhar o pai em uma visita de trabalho e desenvolve com ele uma relação na esperança de que ele possa ajudar a esclarecer o porquê do sumiço.
Algo que sempre me cativa nos livros de Egan é a vivacidade, tanto de sua narrativa quanto de seus personagens. Em “Praia de Manhattan” são três os que brilham: Anna, nossa protagonista; Eddie, seu pai; e Dexter Styles, o homem misterioso. Esses também são os três olhares que nos apresentarão a trama.
Outra coisa a respeito de Egan é que seus livros são sempre muito diferentes uns dos outros. Enquanto “O Torreão” é o mais misterioso, “Olhe para mim” o mais reflexivo, e “A Visita Cruel do Tempo” seja uma colcha de retalhos com milhares de personagens e nenhum tempo definido, “Praia de Manhattan”, por sua vez, é praticamente um romance histórico que chega até mesmo a flertar com o noir. Fica clara a pesquisa de Egan a respeito da Nova York daquele tempo e da realidade que os americanos enfrentaram durante a guerra. É o típico caso em que o pano de fundo ajuda a construir a personalidade dos personagens, tanto que Dexter é um gângster. Quer figura mais década de 40 do que isso?
“A noite se espalhava por toda parte, negra e difusa; preenchia o carro, rodeava Anna. Mas seu medo do escuro tinha desaparecido. Sem saber quando nem como, tinha se entregado à escuridão, desaparecido por uma brecha na noite. Ninguém sabia onde encontra-la. Nem mesmo Dexter Styles.” (EGAN, 2018, p. 241)
Por falar em Dexter, esse é aquele personagem que não nos deixa saber em que terreno estamos pisando. Não sabemos o quão perigoso ele é, nem até onde suas ações o levam, mas como acompanhamos seu ponto de vista, também vemos um outro lado seu: o homem, além do gângster.
Eddie é um personagem que cativa pelo amor que Anna sente por ele. A relação pai e filha tem uma força que irá acompanhá-la por toda a jornada. Gostamos dele porque ela gosta dele, mesmo que suas atitudes não sejam sempre corretas.
Anna é a luz da história. Forte e determinada, ela não deixa que lhe impeçam de conquistar o que quer apenas por ser mulher. Pode até ser que tome algumas decisões ruins pelo caminho, mas suas escolhas são sempre suas. Aliás, o papel da mulher na sociedade da década de 40 é um aspecto que Egan explora muito bem ao longo da trama em figuras como a mãe, a tia e as amigas da protagonista.
Apesar de não apontar defeitos em “Praia de Manhattan”, confesso que não foi um livro que me conquistou. Em alguns momentos achei os acontecimentos bem enfadonhos (principalmente as partes que mostram Eddie após o seu desaparecimento) e em outros os achei muito previsíveis. Ainda assim o livro não é ruim porque seus personagens fazem valer a pena e porque o contexto histórico é interessante, mas está muito longe de ser Jennifer Egan em sua melhor forma.
Autora: Jennifer Egan
N° de páginas: 448
Editora: Intrínseca
Exemplar cedido pela editora
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10 comentários:
Ainda não tive a chance de ler algo da Egan, mas se eu puder escolher um para começar, será esse.
Amo romance histórico, saber mais sobre esse tempo de guerra me envolve.
E isso me deixou curiosa em relação a esse livro.
Beijos
Oiii Mari
Tem livro que é assim, certinho e bem escrito mas ainda assim falta aquela faísca que prenda o leitor, que encante de verdade. Ainda assim achei bem legal o que li na resenha, e esse romance histórico à caminho do noir me chama bastante a atenção, não li ainda nada da autora e seria uma boa começar por esse, pode ser que me surpreenda.
Beijos
www.derepentenoultimolivro.com
Fiquei muito curiosa, Mari. Parece envolvente e intrigante. Ótima resenha.
Beijos!
Mari!
Romance histórico acho sempre interessante e fico triste que não tenha conquistado você e o tenha achado em alguns trechos enfadonho.
Como não li nada ainda do autor, gostaria de conhecer sua escrita que é tão diversificada em cada livro.
Uma ótima semana!
“As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?.” (Mahatma Gandhi)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA AGOSTO - 5 GANHADORES - BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
Oi Mari! Ainda não conhecia essa autora, mas esse de fato não é um gênero que me conquista muito. De toda forma, achei essa capa sensacional.
Não tive oportunidade de ler nada da autora, mas parece bem interessante.
Gosto isso de abordar a mulher na década de 40 e bom saber que a autora parece ter pesquisado sobre o tema.
Como disse, não sei se seria o melhor livro para ter uma primeira experiência mas gostei bastante.
beijinhos
She is a Bookaholic
Diferente de você que é cativará pelos livros do autor e simplesmente não consigo me apegar as escritas dos livros dele já li vários livros que a intrínseca lançou mas não consegui me apegar a ele
Confesso que o livro também não me conquistou, mas fico curiosa pelos detalhes e o que acontece com os personagens. Acho que daria uma chance a essa leitura.
Olá, Mari
Ainda não tive oportunidade de ler Jennifer Egan, mas vi muitos comentários positivos sobre esse livro.
Estou muito curiosa para ler esse livro porque gosto de estórias que tem como ambiente as guerras e personagens femininas que são fortes, batalhadoras que são a frente do seu tempo.
Beijos!
Oii Mari,
olha já tentei ler dois da Jennifer Egan e não consegui.
Simplesmente não entendi nada, e parei. kkkk
Mas Praia de Manhattan por mostrar um período histórico tão ruim e complicado + ter uma protagonista decidida e forte, fiquei com vontade de ler!
Vou tentar.
bjs
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