A mansão Carnhallow carrega muitas das histórias da família Kerthen ao longo dos anos. Uma delas é a trágica morte de Nina, esposa de David Kerthen e mãe do pequeno Jamie. Dois anos depois, David se casa com Rachel e a leva para a mansão. Mas o que parece ser o início de uma vida de sonhos começa a aterrorizar Rachel, principalmente quando seu enteado passa a fazer assustadoras previsões.
Embora o foco principal do livro seja Rachel, o autor divide a narrativa de forma que de um lado temos a visão dela em primeira pessoa e, do outro, a visão de David em terceira.
“A Criança do Fogo” é uma espécie de história de fantasmas, mas que em nenhum momento se assume inteiramente como tal. Isso deixa o leitor na mesma posição que a protagonista, se perguntando se as coisas que estão acontecendo são reais, sobrenaturais ou, até mesmo, loucura. Incerteza essa que eu, particularmente, gosto muito.
A trama entrelaça vários mistérios, sendo o principal deles o que realmente aconteceu na noite em que Nina morreu. Qual a participação do pequeno Jamie e o que David e sua mãe ocultaram da polícia também são mistérios daquela noite. Mas logo os acontecimentos do presente passam a intrigar também. Tem algo errado com Jamie? Ou com Rachel? O que está por trás das profecias do menino? Rachel está enlouquecendo ou tem algo de errado acontecendo na casa? O que vai acontecer na noite de natal? Qual o passado da casa? O que Rachel esconde sobre seu próprio passado? Essas são algumas das perguntas que Tremayne utiliza para conduzir a trama, fazendo o leitor se questionar o tempo todo se tem em mãos uma história de fantasmas ou uma história de loucura.
Para que a perturbação de Rachel seja convincente, é preciso que seja gradativa. Acredito que seja por isso que Tremayne estique os acontecimentos, embora, a meu ver, tenha se excedido um pouco nesse aspecto. Não é que o livro seja lento, mas nadamos tempo demais em águas mornas até realmente chegar ao que interessa. Isso seria compreensível caso houvesse um maior aprofundamento psicológico dos personagens, mas não chega a ser o caso, tanto que considero o relacionamento de Rachel e David um ponto fraco da trama. Pouco sabemos sobre a história do casal, do porquê terem se casado em apenas poucos meses de namoro e tão próximo à morte de Nina. Assim, parece que Rachel foi inserida na casa apenas para que os eventos tivessem início e não porque ela faz parte da vida daquela família.
“Mas, mesmo que explique alguma coisa, é tarde demais agora. O mistério foi além de Jamie. O mistério está em mim. Eu me torcei a fonte de escuridão. E de perigo.” (TREMAYNE, 2019, p.338)
Mas é impossível negar que Tremayne consegue deixar o leitor com os nervos à flor da pele nos últimos capítulos, conforme nos aproximamos da noite em que tudo se esclarecerá, criando um delicioso e sombrio suspense. O que me desagradou foi constatar que o autor guardava uma carta na manga que explicaria tudo, mas que o leitor não tinha a menor possibilidade de prever durante a leitura. Não me entenda mal, eu adoro ser surpreendida e feita de boba nesse tipo de história, mas isso funciona quando as peças estão escondidas e temos a chance de desvendá-las e não quando o autor, estando prestes a encerrar a história, nos joga na cara uma verdade importante.
Mesmo com algumas falhas no caminho, “A Criança do Fogo” apresenta uma narrativa fluida e um tom sombrio, desenvolvendo uma história que mantém o interesse do leitor.
Autor: S.K. Tremayne
N° de páginas: 367
Editora: Bertrand Brasil
Exemplar cedido pela editora
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6 comentários:
Capa maravilhosa e título idem. Andei lendo uma resenha deste livro nesta semana e com certeza, o enredo me agrada muito.
Confesso que não sabia desta carta escondida na manga, mas também gosto de quando tudo é meio escondido e que dá a possibilidade do leitor decifrar ou ao menos chegar perto, da verdade.
Mas mesmo assim, deu muita vontade saber de todos os mistérios que envolvem esta família e certamente, quero muito poder conferir a obra!
Beijo
Confesso que não é o meu tipo de leitura, me parece uma leitura perturbadora e com inúmeras respostas - pode ser um pouco confuso e cansativo.
Acho legal ser surpreendida, e pelo visto o autor soube "brincar" com o leitor.
Beijos
Oiii Mari
Essa é a primeira resenha positiva que leio desse livro e me animou bastante, pretendo ler ele em breve porque eu gosto dessas histórias que parecem ser mas não dá pra ter certeza se é e o leitor se pega preso nas mesmas dúvidas que os personagens, parece bacana.
Beijos
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Oi, Mari!
Parece ser um livro sobrenatural bom.
Com surpresas e reviravoltas, além de dar um medinho, rs
Eu não gosto muito do gênero, mas fiquei com muita vontade de ler, pois parece realmente instigante.
bjs
Olá, Mari
Que show de capa, amei!
É a primeira vez que leio resenha do livro e mesmo com esse problema da explicação ser jogada no fim da trama estou bem curiosa para ler.
Amo esse tom de suspense, o toque sobrenatural, sombrio que tem no livro.
Deve ser uma leitura que empolga e dá aquele friozinho gostoso na barriga, quero poder ler.
Beijos
Promissor, Mari. Mesmo com as ressalvas fiquei interessada. Ótima resenha.
Beijos!
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