“F” estava na minha lista de desejados desde o seu lançamento em 2017, mas outros livros sempre acabavam ganhando a vez nas minhas solicitações para a editora. Até que chegou a hora.
Arthur Friedland não faz nada de especial. Seu trabalho é totalmente inexpressivo, assim como a sua relação com os filhos Martin, Eric e Ivan. Em uma tarde, ele decide levar os meninos a um espetáculo de hipnose, sem acreditar que a técnica possa lhe afetar. No mesmo dia, Arthur desaparece, levando as economias da família. Anos mais tarde, os filhos vivem cada um as suas vidas, cada um os seus problemas.
O interessante em “F” não é tanto a história em si (até porque, de certa forma, temos cinco histórias cuja única ligação é o laço sanguíneo), mas os personagens que o livro apresenta. São todas pessoas cujas vidas parecem não lhes pertencer. Pessoas que vivem mentiras, que não sabem como sair das situações em que se colocaram. Pessoas infelizes e de existências medíocres.
O livro se divide em 5 partes, cada uma com enfoque em um personagem. Na primeira, uma voz em terceira pessoa nos leva a acompanhar Arthur e os meninos. Essa é a única parte em que conhecemos o personagem sem ser através dele mesmo, talvez porque Arthur nunca tenha chegado a ser verdadeiramente conhecido por ninguém. O que o autor nos mostra em Arthur é alguém que não vive, mas que simplesmente deixa a vida lhe viver.
Na sequência, nos deparamos com Martin adulto, um padre sem fé. Martin não acredita em Deus, não tem respostas para as suas próprias perguntas e, ironicamente, é a pessoa a quem todos procuram para terem respostas, para terem paz. Estamos dentro de sua cabeça enquanto ele analisa cada uma dessas interações. Uma pessoa que dedica a sua vida a uma crença na qual ele mesmo não acredita.
Eric, por sua vez, se dedica ao mundo das finanças. O problema é que ele perdeu o dinheiro dos clientes e pode ser preso a qualquer momento. A vida de Eric é toda nebulosa, porque sua cabeça nunca está onde ele está. Ele não consegue sentir nada porque tudo está envolto da confusão em que ele se meteu e ele está tão desesperado com o que pode lhe acontecer que não consegue processar mais nada.
“Cá entre nós, o que de fato significava querer ou não querer alguma coisa. Quem é que sabia o que queria, quem tinha isso resolvido. As pessoas queriam tanto e a cada momento uma coisa nova. Naturalmente, no início, ele dizia ao público que ninguém poderia ser levado a fazer alguma coisa para a qual já não estivesse preparado de qualquer forma, mas a verdade era que todo mundo era capaz de tudo. O ser humano era aberto, era um caos sem limites e sem forma fixa.” (KEHLMANN, 2017, p. 195)
O terceiro dos irmãos é Ivan. O artista da família. Ivan se dedica ao mundo da arte, mas não acredita que ele seja verdadeiro. É por isso que ele inventa um artista e se torna especialista neste artista, sendo que ele mesmo é o responsável pelas obras.
São três homens vazios que tentam se preencher de coisas que acabam por os consumirem. Martin tenta se preencher com Deus; Eric, com dinheiro; Ivan, com o mundo da arte. São personagens cheios de vida e completamente sem vida ao mesmo tempo e é justamente isso que os torna fascinantes.
Na última parte, vamos entender um pouco do que aconteceu com Arthur nesses anos e também conhecer a filha de Eric. O desfecho (repleto de ironias) não esteve à altura de livro, na minha opinião, mas não apaga o impacto dos questionamentos que ele propõe durante todo o seu desenvolvimento.
“F” foi uma grata surpresa. Um livro profundo e reflexivo que por vezes consegue até mesmo ser engraçado. Um livro que nos faz questionar os caminhos que escolhemos seguir, o acaso e o destino, a mentira e a verdade em cada coisa que vivemos.
Título: F
Autor: Daniel Kehlmann
N° de páginas: 276
Editora: Seguinte
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12 comentários:
Não gosto muito de livros com esse tipo de mistério, mas fiquei muito curiosa para saber o que levou o Arthur a sumir e se o espetáculo de hipnose está relacionado com esse sumiço. Não sei se os outros três personagens iriam me agradar, já que pela resenha eles se mostram pessoas sem essência e tentam se preencher com alguma coisa.
Oi!
Acabo de adicionar esse livro na minha listinha, rs.
Achei muito interessante a maneira de contar sobre os filhos. Todo mundo é fica meio vazio e perdido às vezes.
Olá! Parece ser um livro bem diferente dos quais estou acostumada a ler, os personagens são bem confusos, todos praticam coisas das quais não acreditam ou gostam, o que é bastante peculiar, fiquei curiosa para entender o porquê disso, e também o motivo que levou o pai deles a desaparecer, e acredito que todo livro que nos permite refletir sobre algo deve ser lido com bastante cuidado e atenção.
Olá! ♡ Esse livro não faz muito o meu estilo de leitura, mas gostaria de fazer sua leitura.
Parece um livro cheio de questionamentos, bem reflexivo e profundo mesmo.
Acredito que os personagens não irão me agradar muito, mas se tiver a oportunidade quero fazer sua leitura!
Beijos! ♡
Oiii ❤ Estou curiosa para saber o que aconteceu no show de hipnose para Arthur ter ido embora.
É interessante que o foco do livro é os personagens, que parecem bem infelizes.
Gostei que cada parte tem enfoque em um personagem, já que acho que assim dá para entender melhor a situação que cada um deles se encontra.
Fiquei intrigada que Martin não acredite em Deus, mas seja um padre, é realmente algo muito irônico.
Beijos ❤
Nossa que livro reflexivo e sinceramente bem cotidiano em nossas vidas que sempre em determinado tempo a gente se questiona sobre tudo. Esse é um livro que gostaria muito de ler.
Oi, Mari
Eu não conhecia o livro, mas uma ótima ideia.
De uma forma simples e sagaz, o autor nos leva a muitas reflexões sobre a vida que levamos, o que queremos e o que acreditamos.
Já quero!
Bjs
Oi, Mari
Já tinha visto esse livro pelas lojas virtuais, mas sua resenha é a primeira que leio.
É um livro complexo que aborda muitas facetas que podemos ter ou presenciar durante a vida.
Assim que tiver oportunidade quero ler e descobrir porque depois do show de hipnose Arthur sumiu.
Beijos
Oi, Mari!!
Essa é a primeira vez que leio algo sobre esse livro, achei bem interessante a história e particularmente diferente de tudo que já li. Espero ter a oportunidade para conhecer mais sobre essa história.
Bjs
Admito que não conhecia o livro,mas adoro enredos assim, que levam o leitor a também fazerem esse tipo de questionamento sobre vida, escolhas e afins!
Hipnose é sempre algo tão interessante, fiquei curiosa para saber se esse assunto é aprofundado ou falado só superficialmente!
E claro, o título dá um nó.rs
Se tiver oportunidade, quero sim, conferir!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Não conhecia o livro, Mari. Achei a premissa interessante, mas não sei se chego a ficar curiosa. Mas se chegar até mim, leio. [rs] Ótima resenha.
Beijos!
Mari!
Livros que nos fazem questionar nossa existência, são sempre uma boa leitura, porque é um tanto filosófico e acabamos revendo nossas premissas na vida.
Uma pena o final não ter ficado a altura como deveria...
cheirinhos
Rudy
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