segunda-feira, 26 de setembro de 2011

RESENHA: Crimes

“Mas a realidade não é tão simples assim.(...) A frase daquele detetive que diz que a solução é elementar não passa de uma invenção de roteiristas. A verdade é o contrário. O evidente é o provável, e, quase sempre, também o certo.” (SCHIRACH, 2011, p.96)

Eu tinha muita expectativa ao começar a ler “Crimes” de Ferdinand Von Schirach. Quando descobri o livro, me pareceu ser o tipo que tem muito potencial para ser excelente, mas igualmente potencial para ser um desastre. Explico: O livro é composto por 11 pequenas histórias, contos, e são basicamente casos que o autor encontrou ao longo de sua trajetória profissional, apesar de não ficar claro se estamos prestes a ler ficção ou realidade. Intrigante, pensei. Imaginei os casos mais inusitados, os desfechos mais diversos, tudo muito diferente do que estamos habituados a ver, afinal, com a possibilidade de se tratar de histórias verídicas, talvez com uma certa licença poética, como suponho, é de se supor que nada, ou muito pouco, aconteça exatamente como planejado sendo que os eventos narrados poderiam resultar em absolutamente qualquer coisa, o que me deixou fascinada. Mas eu tenho certo preconceito com contos, confesso. Por melhor escritos que sejam, sempre me fica a sensação de conhecer pouco sobre as personagens e de não ter tempo de me envolver com elas e suas tramas. E é aí que “Crimes” surpreende, mas mais ainda, a narrativa de Von Schirach. Se pensarmos se tratar de casos reais, é de se esperar que não possamos conhecer cada detalhe da vida dos envolvidos na história, como talvez conheceríamos em uma trama de Sidney Sheldon, mas Von Schirach consegue nos fazer compreender cada aspecto envolvido nos acontecimentos. Cada uma das razões que levou as personagens a agir da maneira como agiram e os fatos se desenrolarem da maneira como desenrolaram (destaco aqui o primeiro caso do livro “Fähner”). O leitor conhece apenas o necessário para compreender os eventos, mas nesse quesito conhece cada detalhe. É por essa razão que, na minha opinião, se trata de um livro de não-ficção, com uma certa liberdade para fins literários, no sentido de lacunas a preencher.

Terminada a leitura, para mim “Crimes” não foi nenhum dos extremos que eu imaginava. O que pensei que seriam problemas não foram, ao mesmo tempo em que os casos não eram tudo o que eu esperava encontrar, o que me faz classificá-lo como um bom livro, mas apenas bom. Com a dosagem ideal entre o melhor, e o pior, que poderia ser.

Destaco ainda mais um aspecto sobre a narrativa de Ferdinand Von Schirach. Sem tempo, ou palavras, a perder, ele constrói um texto simples e ágil, porém com todo o necessário para contar sua história do jeito que ela deve ser contada, sem deixar nada de fora e sem comentários desnecessários.

Há outra coisa que eu gostaria de ressaltar. “Crimes” não é um livro para sentar e devorar páginas, pelo contrário. É um livro que você lê um capítulo, uma história, por vez, para compreendê-la na sua individualidade e até, porque não, refletir sobre ela ao terminar a leitura. Assim, recomendo para leitores pouco vorazes. No meu caso, intercalei essa leitura com a de outro livro, lendo apenas um dos crimes por dia.

Para finalizar, meu destaque vai para a sétima história - “Legitima Defesa” - que se revelou absolutamente diferente de qualquer coisa que eu poderia imaginar. A contracapa do livro promete “a verdade e nada além da verdade” e me parece que, no geral, consegue entregar o prometido.


Título: Crimes
Autor: Ferdinand Von Schirach
Nº de páginas: 174
Editora: Record

1 comentários:

Junior Nascimento disse...

Não sei o motivo... mas tenho uma aversão a contos, nunca encontrei nenhum livro ou conto mesmo que me prendessem a atenção. Pelo esse livro ser uma leitura mais densa, não sei se teria vontade de tentar ler, mas valeu pela dica.

Junior Nascimento
www.CooltureNews.com.br

Postar um comentário

 

Além da Contracapa Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger