sexta-feira, 5 de julho de 2013

RESENHA: Na Companhia das Estrelas

“Aperto os olhos e refaço o mundo. Para a normalidade. Mas.

 Mais normais são as ausências.” (HELLER, pag. 208, 2013)

Hig é um dos poucos sobreviventes de uma gripe que dizimou quase toda a população e agora vive em um hangar na companhia de Jasper, seu cachorro, e do mau-humorado Bangley. Suas atividades favoritas são pescar (mas as trutas já se foram) e voar, e de vez em quando Hig visita as famílias que vivem nas proximidades do hangar (pessoas que, tendo sobrevivido à gripe desenvolveram uma contagiosa doença sanguínea). Apesar de tudo (ou do nada) que o cerca, Hig ainda mantém a esperança, mesmo que nem ele seja capaz de dizer esperança de quê.

“Na Companhia das Estrelas” é narrado em primeira pessoa por Hig e pode causar estranheza ao leitor nas primeiras páginas, fazendo com que leve um tempo para que se acostume. As frases são curtas, chegando a ser interrompidas algumas vezes, e seguem o fluxo de pensamento do personagem que frequentemente tem seu relato do presente interrompido por um lampejo do passado. Essa intercalação de momentos da vida de Hig, a interrupção de frases, a ausência de marcação de diálogos e a mistura de diálogo com narrativa em uma mesma linha sem qualquer diferenciação gráfica são elementos que exigem do leitor uma redução na velocidade de leitura. Não é tão comum encontrarmos essas características em romances (em contos elas costumam figurar com mais frequência), mas elas combinaram muito bem com a história que está sendo contada.

Peter Heller empregou ritmo a sua narrativa e é preciso que o leitor respeite esse ritmo para que consiga absorver não apenas os sentimentos e pensamentos de Hig - muitas vezes conseguindo até se colocar no lugar do personagem -, mas também a desolação e solidão do mundo que o cerca, fazendo de “Na Companhia das Estrelas” um livro para ser lido devagar e com calma.

Outro elemento que chama a atenção é a configuração dos parágrafos, todos separados uns dos outros por uma linha em branco. Arrisco dizer que essa escolha do autor serve para reforçar o tempo que o leitor deve se dar para pensar e absorver o que acabou de ler antes de ir para o parágrafo seguinte, além de o fazer lembrar constantemente sobre os vazios e tudo o que falta naquele mundo.

A história parece ser sobre nada, mas é sobre a alma humana. Sobre um homem que mesmo vivendo uma realidade completamente diferente sente os mesmos anseios que a maioria dos leitores que acompanham a sua história. É um livro singelo, mas que ao mesmo tempo tem intensidade, e é mais reflexivo do que qualquer outra coisa, visto que eventos são poucos. Essa “falta de acontecimentos”, vamos chamar assim, aliada à narrativa fragmentada faz com que a leitura por vezes se arraste. É um livro de 400 páginas, que mesmo tendo fontes grandes e parágrafos descolados, exige do leitor o mesmo tempo de um livro de 400 páginas “normal”.

Suponho que escrever um livro com uma proposta como essa não deve ser algo fácil e reconheço muitas qualidades na obra de Peter Heller. Ainda assim não posso dizer que gostei de “Na Companhia das Estrelas”, mas também não posso dizer que não gostei. Alguns trechos me agradaram, outros até chegaram a me maravilhar, mas de maneira geral minha jornada com o livro foi arrastada. Acho que tudo me soou meio etéreo demais.

Em uma época em que futuros pós-apocalípticos e distopias estão na moda, “Na Companhia das Estrelas” aborda o tema de uma maneira inusitada, deixando de lado a ação e priorizando a introspecção.


Título: Na Companhia das Estrelas (exemplar cedido pela Editora Novo Conceito)
Autor: Peter Heller
Nº de páginas: 403
Editora: Novo Conceito

24 comentários:

Ana Paula Barreto disse...

Eu simplesmente estou maravilhada com este livro. Apesar de não ter lido ainda, tenho a impressão de que o autor foi muito feliz na abordagem em relação à história. Eu adoro introspecção e, aparentemente, no meio de uma história bem densa há sensibilidade. Uma história sobre os anseios da alma. Isto é lindo! Preciso ler Na Companhia das Estrelas, imediatamente! rs
bjs

Gabriela CZ disse...

Quando li a sinopse de Na Companhia das Estrelas, já tive vontade de lê-lo. E essa sua resenha me mostrou que devo mesmo. Gosto de histórias reflexivas, que devem ser apreciadas devagar. :)

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Vanilda disse...

Já tinha lido algo a respeito de que esse livro tem um estilo diferente, talvez mais lento, que precisa ser lido com mais atenção por ser mais introspectivo. Eu tenho esse livro faz pouco temo por isso ainda não tive a oportunidade de ler, mas acho que devo estar bem preparada para essa falta de acontecimentos, para essa "pegada" mais reflexiva.

Alessandra disse...

Honestamente falando, não gostei muito não.
Acho que estou num momento que reflexão demais me cansa, provavelmente quando eu passar essa fase, eu mude de opinião sobre o livro!

Cristiane Dornelas disse...

Vi tanta gente falando que é de dar sono...Mas poxa, mesmo que o livro seja lento e etc e tal, eu acabo gostando. As vezes é bom mudar o estilo, e no fim tem de se levar em conta o todo. Se no fim for uma boa história, não importa se o ritmo é lento...
Bem, eu gostei, quero ler, parece ser uma boa trama e meio diferente também.

Vanessa Llona disse...

Esse livro parece ser muito bom, me lembrou outros livros e filmes, adoro esse tema pós-apocalíptico, e acho que com esse tema a gente para um pouco para pensar, com certeza esse livro entra na minha lista de desejados.
Bjs

Francielle Couto Santos disse...

Mari, acho que esse é o tipo de livro que só lendo para tirar conclusões mais sólidas. Percebi que existem muitas particularidades na forma como o outro conduziu tudo que compõe a trama... isso realmente deixa qualquer um curioso. Enfim... adoro temáticas reflexivas. Quem sabe um dia eu não me aventure no enredo, também?
Ótima resenha!

Um abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br

Khrys Anjos disse...

Se a proposta do livro é fazer o leitor refletir sobre a vida para mim já está valendo. Fiquei muito curiosa para descobrir a mensagem que ele encontrou nas estrelas.

Um leve bater de asas para todos!!!!!!!!!!

Unknown disse...

Oi!
O blog recebeu esse livro, mas eu não fiquei o dever de lê-lo. De início quando peguei-o, percebi que seria diferente. E realmente, acho que acertei ^^ Parabéns pela resenha!

Abraços!
http://musicaselivros.blogspot.com.br/

Nessa disse...

Olá!
Com sinceridade, leituras assim não despertam muito o meu interesse. Gosto de histórias que me envolvam emocionalmente, e essa história não me deixou com vontade de ler o livro, mas isso não impede que outras pessoas gostem!
Beijos!

Naty disse...

Quando li a sinopse e vi o tamanho do livro fiquei com medo de que a leitura fosse arrastada mesmo. Mas apesar disso tenho vontade de ler o livro, pois esse tom reflexivo conseguiu atrair minha atenção.

Cristiane de oliveira disse...

Quero ler esse livro só não sei se é o momento certo pra ler um livro tão melancólico e lento, estou numa face mais para suspense, pelo titulo achei ser outro tipo de leitura, mas é bom ter em mãos pra ter o que ler quando chegar a hora.

Elizabeth disse...

este livro é uma lição de vida pra qualquer um. hoje em dia estamos tão preocupados com bens materiais,que esquecemos o que mais importa;nós mesmos,família,amigos e pequenas coisas que a vida nos proporciona. Amei o livro e assim que puder vou ler.

Unknown disse...

Quando vi esse lançamento, não sabia o quê esperar da trama.
Achei a premissa interessante e gostaria de lê-lo.
Parece ser um dos lançamentos mais diferentes do momento.

GFC: Gladys.

Ana Paula Barreto disse...

Esqueci o GFC: Ana Paula Barreto

Rodrigo disse...

Woooooow omg! que linda a historia! tadinho da Hig e do cachorrinho gente! Quero ler demais, até lembrei do Livro um gato de rua chamado bob mas n tem mt haver, sei la, quero ler demais, ja está na minha lista, preciso desse livro demais, ai quero q tenha um otimo final p esses dois!!

Unknown disse...

Pra mim é bem complicado gostar de um livro q se passe no fim do mundo...
Particularmente eu não gostei muito da história....

Luiza Ferreira disse...

Olá Mari..
Conhecia este livro através de uma coluna, sobre capas de livros; mas ainda não tinha lido uma resenha a respeito.
Acho que eu demoraria a me adaptar a leitura, como você disse sobre o início da leitura, mas confesso que achei interessante. Mostrou-me "fidelidade" ao pensamento do personagem. Deixou-me curiosa!
Sei exatamente o que é ficar "em cima do muro" com relação a gostar ou não de uma leitura.
Repito: deixou-me curiosa. Espero ter uma oportunidade de leitura em breve!

Beijos, Lu ♥
http://luizando.blogspot.com.br

- Luiza Ferreira

Gabriella Alvim disse...

A história parece interessante e me deixou curiosa, porém sua resenha me deu um certo receio. Concordo com o que disse a respeito de ser uma leitura um tanto devagar e espero que não seja uma leitura parada demais. Procurarei saber mais sobre esse livro

Alessandra disse...

De novo, preciso de um complemento no coments lá de cima hahaha


Seg: Lê

Pam disse...

Assim que vi esse livro nao dei muita coisa por ele..
e continuo sem dar, hehe
Vi na resenha q vc nao gostou e nao deixou de gostar..
Acho q um livro grandinho assim, é importante q ele prenda a atençao do leitor...

Parece q é meio auto ajuda, e isso nao me agrada..
Logo, nao sei se vou ler..

bjinhos
Pam
Meus Livros Preciosos

Nardonio disse...

Particularmente, prefiro distopias pós-apocalípticas mais ágeis do que introspectivas. O complicado é terminar uma leitura com um sentimento de neutralidade.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Ju disse...

É impressionante como isso de respeitar o tempo do livro faz toda a diferença... não adianta querer brigar com o ritmo proposto pelo autor, e é incrível quando a gente entra nele e passa mesmo a se sentir como a personagem... amo demais essa sensação, e quero muito ler esse livro!

GFC: Ju

Unknown disse...

Achei o tema do livro diferente, mas acho que o livro deixou algo vogo (nao tenho certeza), mas gostei da ideia do autor, espero lelo em breve.


Jessica Lisboa

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