“Não se pode tramar um homicídio como um romance. Sempre ficam pontas soltas na vida real.” (GALBRAITH, p. 385, 2014)
Se você nunca leu determinado autor, você não tem como prever o que lhe espera. Quando li “O Chamado do Cuco”, ciente de quem estava por trás das palavras de Robert Galbraith, eu esperava um livro ágil e impossível de largar e demorei a perceber que não era isso que eu tinha em mãos (e só depois disso é que fui capaz de apreciá-lo). Para “O Bicho-da-Seda”, minha segunda experiência com o detetive Cormoran Strike, minha expectativas foram ajustadas.
O escritor Owen Quine já desapareceu muitas vezes. Na maioria delas foi encontrado em hotéis, com outras mulheres, ou simplesmente voltou para casa da mesma maneira que saiu. Mas dessa vez sua esposa sente que a situação é diferente e procura o detetive Cormoran Strike, evitando chamar a polícia devido ao histórico do marido. Quando Strike começa a investigação, ele percebe que o desaparecimento está ligado ao polêmico “Bombyx Mori”, manuscrito recém terminado de Quine que humilhava praticamente todos os seus conhecidos, inclusive sua esposa, seus amigos, sua agente e seus editores. Quando Quine é encontrado assassinado em uma cena que recria uma das muitas passagens repugnantes de seu livro, Strike vê o rumo da investigação mudar e o colocar no encalço de um assassino capaz de atos inimagináveis de violência.
Tendo lido os dois livros protagonizados por Cormoran Strike, acredito que o maior mérito da série seja a naturalidade das investigações. Priorizando a veracidade da jornada do detetive, Galbraith apresenta uma história que caminha lenta e que pede de seu leitor paciência para encontrar as respostas e ânimo para apreciar a caminhada. Algo como: “Fique confortável e venha comigo”, mas com a promessa de “Eu não vou decepcioná-lo”. A evolução é lenta e não são poucos os momentos em que o livro não empolga, mas qualquer ressalva que pode ter havido durante a leitura se dissipa no final, momento em que as peças se encaixam, com uma revelação ao melhor estilo Agatha Christie, do tipo que faz o leitor exclamar “como eu não percebi isso antes?” e terminar a leitura com um sorriso no rosto. A promessa, então, se cumpre.
Inteligente e articulada, a trama gira em torno não apenas do que aconteceu com Owen Quine, mas (arrisco dizer até principalmente) de quem ele era, como as pessoas o viam e porquê escreveu tal livro, algo que acho muito mais interessante. Quem cometeu o crime e porquê é a essência da maioria dos livros policiais, mas nem sempre podemos acompanhar uma jornada em que a vítima é desvendada aos poucos, parecendo cada vez mais detestável, ao mesmo tempo em que se torna muito difícil dizer que ela teve o que merecia.
Ainda prezando a naturalidade, “O Bicho-da-Seda” não apresenta suspeitos óbvios, já que ninguém pode ser associado àquele crime de maneira simples. O caso que aos poucos se revela para Strike é bizarro, mas sua investigação e os suspeitos não são. Além disso, existem milhares de variáveis a serem consideradas. Uma descoberta não elimina a seguinte, mas não parece se somar a ela. A questão é: todos teriam motivos para querer matar Quine, mas ninguém parece ser capaz de fazê-lo.
A história se desenrola em três núcleos: a investigação, a vida de Strike e a vida de Robin (a assistente do detetive). Todos bem dosados, em especial quando se aprecia o fato de que Strike e Robin são os protagonistas de uma série e que ambos estão em evolução. É fácil ver que Gailbraith já conhece esses personagens muito além do que permite ao leitor conhecer e que guarda triunfos que serão usados posteriormente, quando tiver o caso certo para apresentar esses elementos sobre suas vidas pessoais. Entre eles, o passado no exército de Strike e seu pai roqueiro. Robin ainda luta para conquistar seu espaço no escritório do detetive e, consequentemente, nas páginas, mas continua se mostrando uma personagem cativante e cheia de qualidades a serem exploradas. É essa expectativa que me impele a continuar lendo a série. Eu quero saber mais sobre Strike, quero saber mais sobre Robin. Sobre o passado e o futuro de ambos e, no meio tempo, acredito que vou gostar de acompanhar suas investigações.
“O Bicho-da-Seda” também traz as consequências de “O Chamado do Cuco”. Depois do caso Lula Landry, Strike ganhou certa fama e tem um volume maior de trabalho (mesmo que a maioria de seus clientes apenas desconfie de infidelidade). Uma coisa que pode desanimar alguns leitores é o fato de que esses casos de menor (ou nenhuma) importância também ganham espaço, mas a escolha de Galbraith é compreensível, afinal um detetive não abandona todos os seus clientes no momento em que aceita um novo. Gradativamente, conforme o caso Quine se torna mais complexo, ele passa a merecer uma atenção mais exclusiva de Strike.
Acredito que “O Bicho-da-Seda” seja um livro bem planejado e bem executado. Pode não ser eletrizante, mas é impossível não reconhecer suas qualidades, em especial seus protagonistas e a resposta do mistério. A meu ver, é um livro capaz conquistar o mesmo número de leitores que pode ser capaz de decepcionar. Não posso dizer que fui completamente conquistada, mas acredito que a série ainda me reserva isso.
Título: O Bicho-da-Seda (exemplar cedido pela Editora)
Autor: Robert Galbraith
Tradutora: Ryta Vinagre
Nº de páginas: 463
Editora: Rocco
Se você nunca leu determinado autor, você não tem como prever o que lhe espera. Quando li “O Chamado do Cuco”, ciente de quem estava por trás das palavras de Robert Galbraith, eu esperava um livro ágil e impossível de largar e demorei a perceber que não era isso que eu tinha em mãos (e só depois disso é que fui capaz de apreciá-lo). Para “O Bicho-da-Seda”, minha segunda experiência com o detetive Cormoran Strike, minha expectativas foram ajustadas.
O escritor Owen Quine já desapareceu muitas vezes. Na maioria delas foi encontrado em hotéis, com outras mulheres, ou simplesmente voltou para casa da mesma maneira que saiu. Mas dessa vez sua esposa sente que a situação é diferente e procura o detetive Cormoran Strike, evitando chamar a polícia devido ao histórico do marido. Quando Strike começa a investigação, ele percebe que o desaparecimento está ligado ao polêmico “Bombyx Mori”, manuscrito recém terminado de Quine que humilhava praticamente todos os seus conhecidos, inclusive sua esposa, seus amigos, sua agente e seus editores. Quando Quine é encontrado assassinado em uma cena que recria uma das muitas passagens repugnantes de seu livro, Strike vê o rumo da investigação mudar e o colocar no encalço de um assassino capaz de atos inimagináveis de violência.
Tendo lido os dois livros protagonizados por Cormoran Strike, acredito que o maior mérito da série seja a naturalidade das investigações. Priorizando a veracidade da jornada do detetive, Galbraith apresenta uma história que caminha lenta e que pede de seu leitor paciência para encontrar as respostas e ânimo para apreciar a caminhada. Algo como: “Fique confortável e venha comigo”, mas com a promessa de “Eu não vou decepcioná-lo”. A evolução é lenta e não são poucos os momentos em que o livro não empolga, mas qualquer ressalva que pode ter havido durante a leitura se dissipa no final, momento em que as peças se encaixam, com uma revelação ao melhor estilo Agatha Christie, do tipo que faz o leitor exclamar “como eu não percebi isso antes?” e terminar a leitura com um sorriso no rosto. A promessa, então, se cumpre.
Inteligente e articulada, a trama gira em torno não apenas do que aconteceu com Owen Quine, mas (arrisco dizer até principalmente) de quem ele era, como as pessoas o viam e porquê escreveu tal livro, algo que acho muito mais interessante. Quem cometeu o crime e porquê é a essência da maioria dos livros policiais, mas nem sempre podemos acompanhar uma jornada em que a vítima é desvendada aos poucos, parecendo cada vez mais detestável, ao mesmo tempo em que se torna muito difícil dizer que ela teve o que merecia.
Ainda prezando a naturalidade, “O Bicho-da-Seda” não apresenta suspeitos óbvios, já que ninguém pode ser associado àquele crime de maneira simples. O caso que aos poucos se revela para Strike é bizarro, mas sua investigação e os suspeitos não são. Além disso, existem milhares de variáveis a serem consideradas. Uma descoberta não elimina a seguinte, mas não parece se somar a ela. A questão é: todos teriam motivos para querer matar Quine, mas ninguém parece ser capaz de fazê-lo.
A história se desenrola em três núcleos: a investigação, a vida de Strike e a vida de Robin (a assistente do detetive). Todos bem dosados, em especial quando se aprecia o fato de que Strike e Robin são os protagonistas de uma série e que ambos estão em evolução. É fácil ver que Gailbraith já conhece esses personagens muito além do que permite ao leitor conhecer e que guarda triunfos que serão usados posteriormente, quando tiver o caso certo para apresentar esses elementos sobre suas vidas pessoais. Entre eles, o passado no exército de Strike e seu pai roqueiro. Robin ainda luta para conquistar seu espaço no escritório do detetive e, consequentemente, nas páginas, mas continua se mostrando uma personagem cativante e cheia de qualidades a serem exploradas. É essa expectativa que me impele a continuar lendo a série. Eu quero saber mais sobre Strike, quero saber mais sobre Robin. Sobre o passado e o futuro de ambos e, no meio tempo, acredito que vou gostar de acompanhar suas investigações.
“O Bicho-da-Seda” também traz as consequências de “O Chamado do Cuco”. Depois do caso Lula Landry, Strike ganhou certa fama e tem um volume maior de trabalho (mesmo que a maioria de seus clientes apenas desconfie de infidelidade). Uma coisa que pode desanimar alguns leitores é o fato de que esses casos de menor (ou nenhuma) importância também ganham espaço, mas a escolha de Galbraith é compreensível, afinal um detetive não abandona todos os seus clientes no momento em que aceita um novo. Gradativamente, conforme o caso Quine se torna mais complexo, ele passa a merecer uma atenção mais exclusiva de Strike.
Acredito que “O Bicho-da-Seda” seja um livro bem planejado e bem executado. Pode não ser eletrizante, mas é impossível não reconhecer suas qualidades, em especial seus protagonistas e a resposta do mistério. A meu ver, é um livro capaz conquistar o mesmo número de leitores que pode ser capaz de decepcionar. Não posso dizer que fui completamente conquistada, mas acredito que a série ainda me reserva isso.
Título: O Bicho-da-Seda (exemplar cedido pela Editora)
Autor: Robert Galbraith
Tradutora: Ryta Vinagre
Nº de páginas: 463
Editora: Rocco
14 comentários:
Oi, Mari.
Desde que houve todo o rebuliço com o lançamento de O Chamado cuco eu não me senti tentada a ler o livro. Não vi resenhas do primeiro exemplar e agora lendo a primeira desse segundo livro. Ainda não li nenhum livro pro lado policial e tenho interesse, mas não começaria por essas obras. Irei buscar alguma coisa mais empolgante. Por que não quero abandonar um livro logo no começo do ano.
Beijos.
Visite: Paradise Books BR // Sorteio Fim de ano
Por ser investigação já ganhou alguns pontos comigo.Mas enfim, a trama parece ser super bem criada, e que deixam pulgas. É bem construídos com várias partes e não foca em uma coisa só. Isso é bom!.O chamado cuco tem a capa linda, mas este, se superou. A história parece bem complexa e muito boa de se ler.
Abraços Mari,
ThayQ.
Oi Mari...
Eu confesso que li "O Chamado do Cuco" unicamente por saber que Robert Galbraith é a J. K. Mas enfim, acontece que eu acabei gostando do livro, apesar de ter sido uma leitura meio lenta para mim. Como você disse na resenha, o que me dá vontade de continuar lendo a série é saber mais sobre a vida de Strike e Robin, e saber se finalmente a Robin vai ter a atenção que merece.
Beijo!
http://www.roendolivros.com/
Somente no fim do ano passado pude ler O Chamado do Cuco, e logo em seguida já adquiri O Bicho-da-Seda. Dessa vez pretendo não demorar a ler, e pelos seus comentários, Mari, percebo que precisarei continuar tendo paciência. Mas preciso concordar que apesar de muitas partes parecerem morosas o final é surpreendente. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Que adorável resenha, Mari. Jamais poderia imaginar que a autora de HP tivesse tanto dom para escrever essas duas obras. Quando foi revelado que era ela foi um grande rebuliço. Confesso que não li HP e acredito que não lerei tão cedo, existe algo nessa série que não me prendi e não sei desvendar. Porém, em se tratando desses dois livros, bom, é algo que almejo ler. Desde quando lançou O chamado do Cuco eu já estava ansiosa para ler. Quanto a esse livro, confesso que não conhecia e adorei cada detalhe da trama. Comparar com a escrita de Agatha com certeza é um grande privilégio àquela.
Oie Mari
eu quase comprei esse livro ontem (estava na promo), mas sei lá, na hora algo disse que eu iria enrolar para ler, e resolvi deixar lá na livraria.
Confesso que não sinto tanta curiosidade em lê-lo, apesar de amar suspense policial, e por saber a autora por trás do pseudônimo. Talvez, um dia eu leia.
ótima resenha
bjos
www.mybooklit.com
Oi, td bom?
Eu li o primeiro livro da série e você relatou em palavras o sentimento que eu tive, não me arrebatou, mas conquistou a leitura. Espero que O Bicho da Seda seja um caso mais intrincado do que O Chamado do Cuco, mas já vi que o estilo mais lento e gradativo se repete. Enfim, quem sabe essa não seja a série da minha vida, mas tenho expectativas para ela.
Beijos!
Arrastando as Alpargatas
Oie, tudo bem?
Eu ainda não consegui ler nada da JK publicado após ela começar usar o pseudônimo.
Por mais que seja um livro com uma trama bem elaborada e bem escrita, eu não vou me arriscar nos romances policiais por agora. Foi ótima sua resenha e opinião sobre o livro.
Bjs bjs bjs Mih!
Paradise Books || @ParadiseBooksBr || @Mih_Francielle
Oi!
Ah, eu já tentei diversas vezes ler O chamado do cuco mas, não adiantava o esforço, acabava sempre voltando para a prateleira.
Não sei dizer se é porque não estava em um momento certo para mergulhar num romance policial ou se o livro não é instigante mesmo, mas, com tantos elogios em relação à esse livro estou começando a achar que o problema sou eu mesmo.
Sua resenha me animou, em breve pegarei o livro novamente haha
Gostei bastante dessa capa.
Adorei sus resenha, você escreve muito bem.
Um beijo!
http://bloggpaginassecretas.blogspot.com.br
É a minha próxima leitura. Confesso que gostei muito do primeiro livro, pensei, uau, finalmente um bom livro. O marketing em volta foi uma jogada de mestre (modéstia à parte). Estou mega curiosa para esse caso e acompanhar Strike outra vez em suas investigações. :D
Beijos,
Amy - Macchiato
eu ainda não li nenhum dos livros do "Galbraith" eu sou meio de épocas, tem épocas que eu adoro livros policiais outras nem tanto.
no começo eu fiquei muito curiosa para ler por causa do estardalhaço que fizeram na época, mas depois eu comecei a ficar com medo de ler por causa das resenhas negativas.
mas pelo que vc comentou não é um tipo de estilo que atraem muitas pessoas, achei interessante tb o fato de vc dizer que é um livro que tanto pode cativar quanto decepcionar, isso explica a diferença das resenhas e notas que eu vi
essas histórias lentas que se resolvem no final é muito fácil para as pessoas desistirem no meio, isso fica de lição para mim pois quando eu for ler não desistir e só avaliar no final.
bjs
Ainda não li essa série, mas tenho bastante vontade. Assim como muitos outros leitores, o maior motivo é saber como se saiu a autora que assina essa obra. Pelo que vi, mesmo não sendo "o livro", ele já mostra uma evolução, tanto em relação a trama em si, como as personagens. Super curioso pra ler.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Oi Mari :D
Já me deparei com o Chamado do Cuco por várias vezes, e em nenhum me senti tentada a iniciar a leitura, talvez por não conhecer ainda a escrita do autora ..
Achei interessante ele trabalhar dessa forma os personagens, apresentando eles aos poucos para os leitores, como você disse, é uma forma de nos fazer desejar os livros seguintes! Confesso que senti uma pontada de raiva de Quine, ele deve ter merecido a morte, porque falar mal até da esposa é inaceitavel! Enfim, fiquei curiosa pela leitura, mas ainda assim nada que me faça sair correndo pra ler o livro.
Bj
Oi!
Eu tenho verdadeira loucura por ler esta série. Sou apaixonada por J. K. Rowling e compreendo que, ao adotar um novo pseudônimo, a intenção dela devia ser desligar os dois tipos de narrativas. Entretanto, é óbvio que sempre fica aquela expectativa.
De qualquer modo, eu com certeza lerei estes dois e Morte Súbita.
Beijos.
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