quinta-feira, 8 de outubro de 2015

RESENHA: Tudo Se Ilumina

“Acho que é por isso que me delicio tanto em escrever para você. Assim consigo ser como não sou, mas como desejo que Pequeno Igor me veja. Consigo ser engraçado, pois tenho tempo para meditar sobre como ser engraçado, consigo reparar meus erros quando eu desempenho erros, e consigo ser uma pessoa melancólica de formas que são interessantes, não apenas pura melancolia. Ao escrever, nós recebemos segundas chances.” (FOER, p.195, 2002)

Descobri “Tudo se Ilumina” quando li o belo “Extremamente Alto, Incrivelmente Perto” e fiquei curiosa para conferir mais uma obra de Jonathan Safran Foer.

Essa, que é sua obra de estreia, nasceu da intenção do autor, um jovem judeu, de saber mais sobre as origens da família, em especial de seu avô. Para isso, Jonathan partiu em uma viagem para a Ucrânia, mas a viagem não lhe proporcionou todas as respostas desejadas, o que impediu que escrevesse o livro não-ficcional que pretendia. Mas uma nova ideia surgiu: fazer um livro que mesclasse realidade e ficção. É por isso que “Tudo se Ilumina” conta a história de um jovem escritor (que leva o nome do autor do livro) que vai para a Ucrânia a fim de saber mais sobre as origens do avô e encontrar uma mulher que o salvou dos nazistas. Para a sua jornada, o personagem Jonathan contrata os serviços de um intérprete, Alex, um jovem que sonha em ir para a América e tem algumas dificuldades com o inglês. Também farão parte da jornada o avô de Alex e cachorrinha da família, Sammy Davis, Junior, Junior.

A história é contada em três narrativas distintas em tempo, narrador e estilo: na primeira, Alex conta a jornada que viveram, se referindo a Jonathan como “o herói da história”. Esses foram os meus trechos favoritos, já que Alex se torna um narrador bastante divertido devido às suas dificuldades com o inglês. O que acontece é que o personagem confunde palavras e, muitas vezes, tenta substituir palavras simples por outras mais complicadas, de forma que quase tudo o que diz soa como uma longa carta repleta de Homo Sapiens com bombas aórticas gigantescas (entendedores, entenderão. Caso o contrário, confira aqui). Para Alex, “dinheiro” é “moeda-corrente”, “papo furado” é “conversa esburacada”. Diga-se de passagem que a tradução merece destaque, pois não deve ter sido tarefa fácil.

“Acho que manufaturei meias-verdades porque isso faz com que eu me sinta uma pessoa de primeira qualidade” (p. 194)

A segunda narrativa traz a voz de Jonathan como escritor do livro de não ficção no qual conta a origem da aldeia onde seu avô foi criado e o passar dos anos até à Segunda Guerra Mundial. Nesses trechos esteve o meu problema com o livro. Enquanto a narrativa de Alex compensa a lentidão com que a história avança sendo divertida, a narrativa “não-ficcional” é monótona e desinteressante porque os mesmos floreios que Alex faz com sua dificuldade em encontrar a palavra certa, Jonathan (o personagem) parece fazer por ter dificuldade em preencher as lacunas da história. Assim, cada vez que um desses capítulos iniciava, eu me desanimava.

Por fim, há uma terceira narrativa que, no presente, une as duas anteriores (uma em um passado próximo, outra em um passado distante) mostrando que as duas eram livros dentro desse livro. Nela, Alex aparece novamente como narrador, dessa vez escrevendo cartas para Jonathan e comentando a leitura do livro que o amigo está escrevendo. Assim descobrimos que tanto Jonathan, quanto Alex estão escrevendo seus livros e enviando um para o outro trechos dos manuscritos. O leitor, por sua vez, tem acesso aos dois e mesmo não lendo as cartas de Jonathan é possível conhecer seu conteúdo pelas respostas de Alex. É nas cartas, inclusive, que Alex vai aos poucos se revelando um rapaz sensível, que se acha tão insignificante a ponto de escolher contar a história de outra pessoa ao invés da sua, sem perceber que é muito mais interessante que o amigo. Esse é o grande mérito desses trechos que, de resto, se limitam a comentar a parte mais insossa do livro. Inclusive, sou da opinião que as cartas de Alex permitiriam suprimir completamente os manuscritos de Jonathan e nos apresentar seu conteúdo somente pela forma como o Alex fala sobre ele. Ao fazer as duas coisas, o autor obriga o leitor a encarar um trecho enfadonho e depois ainda vê-lo ser comentado, o que deixa o livro repetitivo.

Foer teve a intenção de criar uma estrutura diferente, fazendo de “Tudo se Ilumina” mais do que a história de perdas de uma família. Sua história tinha tudo para ser divertida e emocionante (a jornada para encontrar respostas sobre a família de Jonathan acaba revelando também algumas sobre a família de Alex, além de proporcionar um amadurecimento para este), o problema foi que a história se perdeu em meio a um texto que chama mais atenção pela maneira como diz do que pelo que diz. Ao querer contar a história de um jeito diferente, Foer deixou o conteúdo em segundo plano, perdendo-o em meio à forma.

Me decepcionei com “Tudo se Ilumina” porque “Extremamente Alto, Incrivelmente Perto” havia sido uma ótima experiência, mas com este, que em teoria me parecia até mais atraente do que o outro livro do autor, não consegui me envolver.

Título: Tudo se Ilumina (exemplar cedido pela editora)
Autor: Jonathan Safran Foer
Tradução: Paulo Reis e Sergio Moraes Rego
N° de páginas: 365
Editora: Rocco

27 comentários:

LP disse...

Se é uma primeira historia, pode-se acabar dando um desconto nessa parte, porém talvez, só talvez, o autor tenha mesmo se perdido no que queria, por isso acabou deixando um trecho tão cansativo no livro. Mas como saber, né? O processo criativo normalmente é um mistério.
interruptedreamer.com

Unknown disse...

Oi, Mari. Só eu acho essas capas publicadas pela Rocco com fontes em tintas simples e belas?! Enfim, a história começou bem para mim pelo fato de misturar a realidade com a ficção, outro aspecto curioso foi a vida de um judeu, aspecto pouco conhecido por mim. As diferentes narrativas também chamaram a minha atenção para o livro. Foi então que decepcionei-me com a história final, que não agrada. Fiquei indeciso para a leitura.

Unknown disse...

"Ao escrever, nós recebemos segundas chances.". Muito verdade isso. Adorei!

Beijos,
http://postandotrechos.blogspot.com.br/

Soraya Abuchaim disse...

Oi, Mari.
Nossa, uma premissa tão bacana, que pena que não te cativou.
Bom saber, se eu for ler algo do autor, lerei o que vc gostou mais rsrsrs

Beijos

Meu Meio Devaneio

Resenha Atual disse...

Olá Flor
Tudo bem?
Confesso que fiquei um pouquinho com confusa, com tanta informação, mas e realmente algo novo uma mistura de ficção com a realidade, o principal sendo ele judeu, mas acredito que entendo você ter ser perdido eu mesma fiquei perdida HAHAHAHA Três narrativas?eu nunca li nenhum livro do autor, mas este não me chamou atenção e a unica coisa que consigo e pensar e , o livro parecer ser extremamente cansativo e não achei ele e tão grande, mas quando a Historia se perde não tem mais jeito!enfim e isso flor, beijinhos
http://resenhaatual.blogspot.com.br/

Daniela Pereira disse...

É legal pra quem gosta de 2ª Guerra, né? Acho que os apaixonados por história vão adorar! Mas achei desanimador o fato de existirem 3 narradores, acho que é bem cansativa a leitura :/ Enfim, que bom que gostou, mesmo tendo um problema com o segundo narrador... Hehe! <3

Beijos,
http://daniperere.blogspot.com.br/

Mariele Antonello disse...

Bom, não me interessei por esse livro, pois não é do estilo de leituras que me agrada, e como você citou em sua resenha, o autor se perdeu na história querendo fazer um livro diferente e acredito que também por esse motivo eu não gostaria do livro. Então não pretendo ler.

Leitora Cretina / Mônica disse...

Olá!!
É justamente aquilo que eu penso... é tão mais fácil reparar erros quando se escreve, dá para pensar mais antes de cometer ou como ele mesmo diz, pensar em algo engraçado, mas eu me senti confusa também em relação a escrita do livro em si, a impressão é que o autor acabou se perdendo na história.
Beijão

http://leitoracretina.blogspot.com.br/

Bárbara disse...

Olá,

Nunca tinha ouvido falar desse livro... agora o que você elogiou Extremamente Alto, incrivelmente perto, sempre tive vontade de ler...
Pena esse livro não ter te cativado, a premissa é tão boa...parece ser muito envolvente...

Beijos, Bá.
http://cafecomlivrosblog.blogspot.com.br

Ana Clara Magalhães disse...

Oi Mari!

Primeiro: FRIENDS HAHAHAHAHAHAHAHAHA.
Segundo: essa capa é maravilhosa, confesso que foi isso que me fez vir aqui ler a resenha. Mas enfim, eu costumo achar super interessante obras que mesclam ficção e não-ficção, mas o autor precisa saber fazer dar certo. Eu com certeza me desanimaria nessa segunda parte da narração também. É realmente uma pena que você tenha se decepcionado com esse livro.

Beijo!
http://www.roendolivros.com

Diane disse...

Oi ...
Adorei o quote da página 194 !
O livro parece ser bem bacana , consegui me envolver com a premissa e já adicionei nos meus desejados .
Beijos

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

Sil disse...

Olá, Mari.
Acho que não leria esse livro. Achei bem confuso e acho que iria ficar perdida hehe. Que pena que não foi tão bom para você. É ruim quando criamos muitas expectativas em cima de um livro de algum autor que gostamos bastante, porque quase sempre iremos nos decepcionar.

Blog Prefácio

Unknown disse...

Não conhecia, mas já curti.
Tem um escritos como protagonista e tem a ver com o nazismo.
Vou procurar pra dar uma chance, apesar de você ter dito que se decepcionou :(

Beijo
http://resenhandosonhos.com

RUDYNALVA disse...

Oh! Mari!
Que pena não ter conseguido se envolver com o livro e ter sido uma decepção.
Gostei do formato de os protagonista trocarem seus textos e de ficarmos conhecendo um pouco mais sobre a família de ambos através da comunicação deles.
No momento deixaria passar a leitura...
“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”(Cora Coralina)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Unknown disse...

Não é bem o estilo de livro que eu gosto, mas quem sabe um dia.
Post it & Livros

Carolina Garcia disse...

Oi, Mari!

Primeiro, amei a citação de Friends! Melhor série até hoje! <3 Continuo assistindo os episódio e dando risada mesmo sabendo o que irá acontecer, como pode isso?! Hahaha
Mas amo muito tanto que tenho todos os DVDs aqui!

Com relação ao livro, é muito chato quando lemos algo com uma premissa tão legal e de um autor que já gostamos, mas acabamos não gostando. É sempre decepcionante de uma forma.

Quando isso acontece eu acabo criando um bloqueio e demoro um bom tempo para ler outra obra da pessoa. Às vezes fico feliz com o novo livro. Então, o negócio é nunca desistir, né?!

Bjs

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br/

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Eu não conhecia nem a autora e nem esse livro.
Que pena que você se decepcionou com o livro. Quando isso acontece comigo, dá vontade de jogar na parede ou tacar numa fogueira pra fazer um ritual de libertação. Esses livros são os que mais me causam ressaca literária.
Beijos
Balaio de Babados

Caverna Literária disse...

Nossa, que legal! Uma história diferente pela mistura de realidade e ficção, ainda mais por retratar um pouco os tempos de guerra, mas que pena que não te agradou no final :(

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Tem resenha nova no blog de "Uma história de amor e TOC", vem conferir!

Fernanda Bizerra disse...

Oie.

Não conhecia o livro, mas depois de sua resenha já fiquei mais desaminada ainda. Acabei de me decepcionar com um livro aqui e nem quero outro tão cedo para essa lista

Beijos
Amor Literário

Gabriela CZ disse...

Não conhecia o livro, Mari, mas ao começar a ler sua resenha me dei conta de que a trama me soava familiar até me lembrar do filme Uma Vida Iluminada com o Elijah Wood. Pesquisei aqui e de fato é uma adaptação desse livro, coisa que nem imaginava. Acho que leria o livro pelo personagem do Alex, que no filme já me pareceu ótimo e pelos seus comentários a versão escrita é ainda melhor. Já Jonathan parece ter ficado melhor no filme.
Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Tati Lemos disse...

Oi Mariana,

Primeiramente gostaria de agradecer a visita em meu blog e estou retribuindo, fique a vontade para voltar quando quiser. Sinceramente, fiquei lisonjeada ao receber a visita de outra resenhista, e com um blog muito mais frequentado do que o meu, suas resenhas são ótimas e frequentes, você se expressa muito bem.

Sobre o livro, achei interessante a história, embora não tenha lido nem este e nem o "Extremamente Alto, Incrivelmente Perto", mas achei interessante você conseguir entrar de cabeça na história e achar um nexo ou desnexo nas duas histórias.

Abraços.
http://www.portiprati.com/

Unknown disse...

Achei confuso, acho que não leria não kkk Que pena que você e os outros comentadores se sentiram assim, muito ruim se decepcionar com algo que te surpreende no começo, que no final não é o que você imagina :(

Gustavo Gouveia disse...

Nossa, a premissa é bem interessante, mas não foi bem desenvolvido né? Quando o autor se perde, não tem jeito.

Www.cidadedosleitores.blogspot.com

Mariele Antonello disse...

Não conhecia esse livro, mas parece ter uma narrativa bem diferente, fiquei curiosa em relação a história e em dúvida entre ler ou não ler.
Sua resenha está muito boa e quem sabe futuramente eu resolva ler esse livro.

Lívia-Michele-Rose disse...

Olá!!
Esse é meu primeiro contato com “Tudo se Ilumina”, e também não conheço “Extremamente Alto, Incrivelmente Perto” é uma vergonha porque não é de hoje que vejo desse livro e que realmente é bom. Gostei muito da premissa do livro e do que levou o onathan Safran Foer a decidir criar uma obra que contenha ficção e realidade, e pelo que percebi em sua resenha ele não conseguiu desenvolver a historia muito bem e se perdeu um pouco , mais acho que leria ele meso assim...

Ana I. J. Mercury disse...

Adorei por se tratar de um judeu, acho que li um ou dois livros com judeus, além de ter essas narrativas diferentes que mesclam não só detalhes inovadores na história, como também conhecemos pontos de vista e de escrita diferentes!
Mais um que gostei!
bjos

Ju M disse...

Não li nada do autor e nem havia ouvido falar desse livro. Não fiquei muito afim de ler, já pela resenha da para ver que o livro não tem muito conteúdo que faça querer ler. Mas achei muito legal a estrutura que o autor quis criar, achei muito inovador, mas como você destacou que falta conteúdo, de nada serve uma boa estrutura.

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