quarta-feira, 17 de agosto de 2016

RESENHA: Pacto Sinistro

“— É exatamente aí que você se engana! Qualquer pessoa é capaz de matar. É uma questão de simples circunstâncias, não tem nada a ver com temperamento. As pessoas chegam lá e uma coisinha à toa pode levá-las a ultrapassar a fronteira. Qualquer um. Até mesmo sua avó. Sei disso!” (HIGHSMITH, 2006, p. 28).

***

Pacto Sinistro é muito mais conhecido pelo filme dirigido por Alfred Hitchcock e com roteiro de Raymond Chandler do que pelo livro que o inspirou, escrito por Patricia Highsmith. Sendo fã da autora desde que li a saga iniciada com “O Talentoso Ripley”, não podia deixar de conferir seu livro de estreia. 

Dois estranhos se encontram em um trem e entre doses de uísque acabam compartilhando suas vidas. No decorrer da conversa, Charles diz que gostaria de matar seu pai, responsável por infernizar sua vida. E quando ele fica sabendo dos problemas que Guy tem com Miriam, sua ex-esposa, sugere o crime perfeito: um mataria pelo outro, assim, teriam álibis inquestionáveis. Guy fica chocado com a ideia, atribuindo-a ao álcool e à imaginação fértil. Mas, para sua surpresa, Charles leva o plano a cabo, matando Miriam, e agora espera que Guy cumpra com sua parte do “acordo”. 

O primeiro fator a chamar atenção em Pacto Sinistro é como Highsmith é hábil na construção dos personagens. Em poucas páginas o leitor já tem uma imagem clara de cada um dos protagonistas. Bruno é um solitário bon vivant, que não precisou se esforçar por nada na vida e que passa suas horas livres sempre com um drink na mão. Guy é o sujeito submisso, que sempre quer agir corretamente e ser honesto. 

O ápice do livro é ver a desconstrução dessas personalidades, ver como cada um começa a perder sua essência em decorrência da sucessão de eventos. Por isso mesmo, antes de ser um suspense ou até mesmo um livro policial, Pacto Sinistro é um thriller psicológico. Aliás, este aspecto fica claro na própria narrativa, que se foca mais no estado de espirito e nos pensamentos dos personagens, do que em suas ações. 

Entretanto, confesso que achei o livro, especialmente da metade para o final, enrolado. Highsmith faz questão de mostrar o efeito que a relação entre Charles e Guy causa na vida cotidiana deles. Por isso, o leitor acompanha diversas vezes cenas sobre o trabalho de Guy ou as noitadas de Charles que em nada acrescentam à trama. Trata-se do típico caso “menos é mais”. 

Confesso que o final tampouco me agradou, pois a solução apresentada pela autora me pareceu simplista demais em alguns momentos, e forçada demais em outros, de modo que não me convenceu. Além disso, o final conta com pouca ação e nenhuma reviravolta, sendo até mesmo um pouco previsível, de modo que não empolga o leitor. 

Assim, apesar de fã da autora e com grandes expectativas para a leitura de Pacto Sinistro, admito que senti um gosto de decepção ao final. É claro que a premissa é genial e os personagens literalmente ganham vida, mas a execução infelizmente deixa a desejar. 

Título: Pacto Sinistro
Autora: Patricia Highsmith
N.º de páginas: 288
Editora: Ediouro

20 comentários:

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Alê!
É tão ruim quando o final do livro nos brocha. Eu fico bem bolada.
Eu já ouvi falar do filme, mas nunca assisti. Nem sabia que era adaptação.
Beijos
Balaio de Babados

Adriana Holanda Tavares disse...

Poxa esse livro tinha tudo para ser ao meu ver um maravilhoso trilher psicológico, mas me decepcionei bastante com a sua frustração pelo desfecho do mesmo. Como assim? Fazer um livro e deixar a coisa forçada no final de tudo? ahhhhhhhhhh, bom mas gosto de saber exatamente a opinião para poder saber se quero ler ou não, E esse eu passo!

Gabriela CZ disse...

Esse é um daqueles casos em que sabia do filme mas não do livro, Alê. A premissa e seus comentários sobre o início da trama são incríveis, uma pena que o desenvolvimento e o final deixem a desejar. Mas lembro de seus elogios à outras obras da autora que pretendo conferir. Ótima resenha.

Beijos!

Unknown disse...

Eu não conhecia a autora e nem o livro, porém confesso que a história me chamou atenção mesmo tendo alguns pontos negativos.

Josiane disse...

Adorei a resenha!
Não conhecia o livro e agora fiquei com bastante vontade de ler! Uma pena o final ter sido atropelado :(

Cristiane Dornelas disse...

A ideia dele já é bem louca, esses dois sendo álibis um do outro...já dá pra ver que o que vem pela frente é problema e mais problema. O nome do livro combinou bem. E acho bacana quando o autor vai fazendo uma boa análise do que o personagem passa, o que pensa, como vai mudando a partir dos seus atos, o que sente... Ainda mais com esse tipo de história. Chato que tenha sido enrolado, mas acho que ao menos gostaria de ver que final teria essa ideia. Pode não ser um exemplar maravilhoso de bem feito, mas acho que é uma boa dica.

Márcia Saltão disse...

Oi.
Não conhecia o livro, mas pela premissa fiquei interessada. Mas depois de ler sua resenha, desisti totalmente de fazer a leitura desse livro. Tenho uma lista grande de livros que desejo ler, então seleciono muito bem minhas próximas leituras e esse livro não me conquistou. Ótima resenha. Beijos.

Na Nossa Estante disse...

Oi Alê!

A enrolação eu acho que até dá pra aguentar, mas se decepcionou de modo geral, daí complica. Uma pena porque a premissa é tão boa, adoro desconstrução de personagens!

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Caverna Literária disse...

Que pena que o final desandou, mas gostei da premissa, da forma como em poucas páginas conhecemos bastante sobre os personagens. Acho que nada melhor do que diálogos para se envolver com a realidade que se encontram. Ótima resenha!

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

Vanessa Vieira disse...

Gostei da resenha Alê. Aprecio thrillers psicológicos e é uma pena que o livro tenha deixado um pouco a desejar. Abraço!

www.newsnessa.com

Eu Li nas EntreLinhas disse...

Olá, hoje venho dizer que acompanho de perto o seu trabalho e que você foi escolhido pelo blog Eu Li nas EntreLinhas para receber o Selo Prêmio Dardo Bloggers!
Selo Prêmio Dardo Bloggers

Beijos, Jana!

Blog Eu Li nas EntreLinhas

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Alê.
Essa desconstrução dos personagens, mediante aos acontecimentos, me interessa demais. Adoro livros que apostam no lado psicológico, pois tendem a ser mais densos e melhor construídos.
Ademais, tenho vontade de ler algo da autora.
Excelente resenha.

Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de agosto. Serão dois vencedores e um deles levará um vale compras!

Alessandra Salvia disse...

Oi Ale,
Uma decepção no final? Me desanima... Já é algo que nem sinto vontade de ler. E olha que a premissa me interessa.
Beijos
https://estante-da-ale.blogspot.com.br/

Carolina Garcia disse...

Oi, Alê!!!

Odeio quando a gente se decepciona com um livro. Eu culpo nossas próprias expectativas - já me frustrei muitas vezes assim!!

Mas pelo menos os personagens foram muito bem construídos pelo que compreendi. Eu lembro desse filme, mas realmente nem fazia ideia que tinha o livro...
Vou colocar na minha listinha para checar no futuro também!!

Bjs!!

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Tony Lucas disse...

Oi, Alê! Tudo bem? Eu achei essa capa ótima! Mas saber que o livro é enrolado em certos pontos e que a conclusão não é das melhores me desanimou um pouco. Mas enfim, a resenha está ótima! :)

Abraço

https://tonylucasblog.blogspot.com.br

Sil disse...

Olá, Alê.
Fiquei na duvida agora se quero ler ou não. Achei o enredo bem interessante. mas dai você falou que enrolou bastante e o final não te agradou. Agora não sei hehe. Mas concordo com a frase lá do começo. Ninguém sabe como será a sua reação diante da ocasião.

Blog Prefácio

Maria Fernanda Pinheiro disse...

O enredo não me despertou o interessei, não sei os motivos do personagem para matar o pai, mas já não se insere no que desejo ler. Fico feliz por o autor conseguir criar bem os protagonistas, mesmo que com o começo enrolado, gostei do autor focar sua narrativa do psicológico, gosto de livros assim, e mostrando as mudanças que os atos trouxeram, infelizmente o livro te decepcionou, pelo que li tenho certeza que sentiria o mesmo

Andrea Barbosa disse...

Oi tudo bem..
Nao conhecia o livro nem a autora,tampouco sabia que tinha um filme,e apesar de gostar de livros policiais ,nao gostei da historia do livro principalmente por ter um final com pouca ação e nenhuma reviravolta.
Otima resenha.
Um abraço e muito sucesso :)

Ingrid Moitinho disse...

Que pena que o livro deixou a desejar, quando leio resenhas assim fico com o pé atras pois tenho medo de não gostar também, mas como tem o filme eu opto por assistir pra conhecer um pouco também.

Ana I. J. Mercury disse...

Eu já conhecia a autora e o livro de nome, e confesso que achei sinistro kkkk apesar de ter dado uma vontadinha de ler kkkk
Como você não gostou, acho que eu não lerei esse, mas vou querer conhecer outros da autora, que é tão bem falada. Não leio thriller psicológico, mas quero começar a ler alguns, então vou por esses autores mais "aclamados".
bjss

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