quarta-feira, 26 de abril de 2017

RESENHA: As primeiras quinze vidas de Harry August

“É no renascimento que se encontra o terror. No renascimento e no medo persistente de que, por mais que nossos corpos se renovem, não há salvação para as nossas mentes.” (NORTH, 2017, p. 95)

Harry August está no seu leito de morte pela décima primeira vez, morrendo da doença que já o acometeu várias outras vidas antes, quando recebe a visita de uma menina de sete anos anunciando a chegada do fim do mundo. O que ela precisa é que Harry envie uma mensagem de volta no tempo, isso porque quando Harry morrer irá acontecer a mesma coisa que já aconteceu outras onze vezes antes: ele irá nascer novamente no mesmo dia, no mesmo lugar de todas as outras vezes, com a memória de tudo que lhe aconteceu nas vidas anteriores.

“As primeiras quinze vidas de Harry August” tem uma premissa maravilhosa: um homem que nunca morre, mas que sempre renasce no mesmo momento em que nasceu pela primeira vez, trazendo todas as lembranças do seu passado. Quais os novos caminhos que ele escolhe trilhar? Quais erros evita cometer? Quais novos desafios se propõe a encarar? Essas são algumas das possibilidades que me atraíram na leitura.

Os primeiros capítulos são fascinantes. Harry nos conta sobre as suas três primeiras vidas: a primeira, normal como a de qualquer pessoa; a segunda, quando fica surpreso e confuso por já haver vivido tudo aquilo; e a terceira, quando tenta começar a entender o que tudo aquilo significa. Claire North tem uma narrativa deliciosa, que através da voz do seu protagonista parece dizer para o leitor: “senta aqui do meu lado que eu vou levar você para uma grande aventura”.

Os problemas começam mais adiante. Por se tratarem de muitas vidas, chega um ponto em que o livro começa a dar a sensação de patinar sem chegar a lugar algum. Harry nos fala sobre uma vida e do nada interrompe aqueles acontecimentos para falar sobre um episódio isolado de outra vida (aliás, nada é narrado em ordem cronológica, mas isso não é um problema). Milhares de pessoas e lugares surgem nessas histórias (algumas reaparecem em outros momentos, outras não) e logo descobrimos que Harry não é o único a viver dessa forma e que existe um clube formado por outros como ele. Em meio a tudo isso, as coisas não parecem se encaminhar para um ponto específico e sim ficarem dando voltas e voltas.

Há outro aspecto que pode ser colocado tanto na coluna do que cativa quanto na do que entedia em “As primeiras quinze vidas de Harry August”. Como Harry sempre renasce, toda morte é encarada como apenas mais uma. Em um dado momento, uma personagem (que sofre da mesma benção/maldição que Harry) diz: “É só uma morte”, porque para eles morrer não tem importância, pois não é definitivo. É por isso que tantas vezes o suicídio é uma saída, afinal, eles só precisarão encarar novamente os tediosos anos da infância e adolescência e logo poderão estar trilhando caminhos melhores, saindo da situação ruim em que estavam. Isso torna uma existência rica e vazia ao mesmo tempo. Saber que não precisa sofrer com grandes perdas, que poderá reencontrar pessoas amadas, corrigir erros e escolher novos caminhos. Para o leitor, porém, essa mesma abordagem acaba tornando a jornada enfadonha a partir de certo momento, afinal, se nada é definitivo, se tudo pode ser apagado e recomeçado, porque eu deveria me importar com esses personagens? Assim, a leitura se prolonga com altos e baixos pois sabemos que no caminho nos depararemos com momentos que levarão a reflexões (sobre a marca que deixamos no mundo, perdas, escolhas, o quanto as coisas mudam e não mudam), mas o que promove essas reflexões já deixou de nos motivar há capítulos atrás.

Talvez esse seja um daqueles casos em que menos páginas teriam servido melhor à obra, pois se Claire North optasse por dar menos voltas e construísse uma trama mais enxuta, aproveitando o que havia de interessante em sua premissa (que era muita coisa), “As primeiras quinze vidas de Harry August” poderia ter sido um livro cativante e inesquecível. Assim, se tornou um livro mediano que decepciona ainda mais quando observamos tudo o que tinha de promissor.

Título: As primeiras quinze vidas de Harry August
Autora: Claire North
N° de páginas: 447
Editora: Bertrand
Exemplar cedido pela editora


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14 comentários:

Unknown disse...

Achei a historia mega diferente, porém acho que a autora pecou bastante em alguns aspectos e acho que assim deixou a leitura um pouco cansativa deixando o leitor a não agradar da historia.
Até mais!!!

Franciele de Santana disse...

Ainda não tinha lido uma resenha apresentando os pontos negativos da obra, me fazendo pensar melhor sobre o livro. Com certeza dessa obra vem muitas reflexões. Você me fez repensar sobre se importar ou não com os personagens, mas acho que a história pode ir mais pela reflexão como ações vão repercutir no futuro e como estão manipulando alguns eventos para evitar o pior. Quero conferir a obra e estarei atenta aos pontos positivos e negativos da obra, sempre é bom ter uma opinião diferente. :)

Gabriela CZ disse...

Tinha vontade de ler esse livro mas agora não sei, Mari. Alguns aspectos me lembraram "Revivente", que achei sensacional. Mas outros diferem em muito, como o fato dos personagens banalizarem a morte e verem o suicídio como uma saída fácil. Até porque não existe certeza de que voltarão. Enfim, perdi um pouco a vontade ler esse, embora possa fazê-lo pra comparar. Ótima resenha.

Beijos!

Na Nossa Estante disse...

Oi Mari! Tudo bem?

Eu concordo que o livro teve seus altos e baixos mesmo. O Harry é um personagem que me cativou bastante, mas algumas vidas foram mais interessantes que outras. Pra mim, de modo geral, eu gostei da obra, só poderia ter sido menor sem nenhum problema

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante
Sorteio A guerra que salvou a minha vida

Ju disse...

Oi Mari, que pena que o livro acabou não se mostrando tão interessante quanto poderia ter sido. Não conhecia a obra e confesso que até fiquei curiosa quando começou a contar sobre o início do livro, mas acho que teria as mesmas impressões que você durante a leitura e, pior, ficaria bastante entediada. Achei que o final ainda traria alguma grande lição e valeria a pena, mas não parece ter sido o caso.

Beijos

Adriana Holanda Tavares disse...

Adoro historias com viagens no tempo, achei bem interessante esse livro e diferente, uma pessoa ter tantas vidas assim, poder saaber e ver muitas coisa é até interessante, agora quanto saber sobre o que vai acontecer no futuro deve ser dificil, pois nem sempre os acontecimentos agradam.

Casos Acasos e Livros disse...

Oi, Mari!
Desde que vi a sinopse do livro fiquei com vontade de ler.
Achei super diferente.
E mesmo que você diga que alguns momentos são enfadonhos, fiquei curiosa, ainda assim.
Essa questão do suicídio é algo que eu nem tinha pensado.
Vou dar uma chance.
:D

Beijooos

www.casosacasoselivros.com
www.livrosdateca.com

RUDYNALVA disse...

Mari!
Triste ver uma premissa tão interessante se perder em um escrita repetitiva e enfadonha.
E fiquei sem entender direito qual o real sentido de todas essas mortes e ressurgimento, só para melhorar os fatos passados?
Achei confuso.
“A sabedoria é a única riqueza que os tiranos não podem expropriar.” (Khalil Gibran)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Jonatas Amaral disse...

Nossa, é um livro de mais de 400 páginas. Talvez tenha ficado realmente enfadonho, mas talvez essa sensação de voltas e voltas, talvez, tenha sido proposital. O que acha?
Porque nem sempre os autores se limitam a colocar nos seus leitores uma leitura fluída e sem firulas, mas sim fazer o leitor sentir aquela sensação do personagem. Será que experimentando isso, o leitor não entende melhor os personagens? É uma pergunta que vou ver se respondo lendo o livro.

Jônatas Amaral
alma-critica.blogspot.com.br

Nessa disse...

Oi Mari
Eu vi este livro no evento mochilão, fiquei curiosa, mas não sabia do que se tratava. Achei interessante e curioso o enredo do livro. Gostei muito da sua opinião, e apesar das ressalvas, ainda sim fiquei com vontade de ler.

Beijinhos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Ana I. J. Mercury disse...

Eu ainda não conhecia o livro, mas achei bastante curioso e diferente.
Fiquei com bastante vontade de lê-lo.
Apesar ter achado chato esse negócio de renascer e viver algumas coisas de novo, demorando um tempo para criar coisas novas kkkkk
Tem coisas que é melhor esquecer pra sempre kkk
bjs

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Gostei bastante da resenha e da premissa do livro que é bem interessante!! Mas é uma pena que o livro não tenha sido tão perfeito assim e acabe sendo um pouco enfadonho!!
Beijoss

Pablo Leão Yorke disse...

Não deixem que a opinião exarada na resenha os desestimulam a conhecer essa obra fantástica. Os fatos contados de forma não linear, indo e voltando nas 15 vidas de Harry, só deixam o livro mais interessante e intrigante. As voltas a fatos de vidas anteriores servem para trazer ou mostrar a experiência ou relação de Harry com algum fato das vidas posteriores. Na meiuca do livro também comecei a ter a impressão do que parecia ser uma certa "gordura" que poderia ser cortada, mas à medida que o livro vai se encaminhando para o final até alcançar o desfecho, percebi que aquela "gordura" tinha um propósito, entre os quais estabelecer a relação do protagonista com seu antagonista, gerando fatos que teriam consequências nas vidas posteriores. E tudo isso está também relacionado com a premissa inicial de evitar o "fim do mundo" cada vez mais próximo citado no aviso que Harry recebe em sua 11° vida. E todos os seus atos a partir da 12° vida são direcionados a isso. Enfim, é um livro fantástico, o melhor dos que li até agora em 2017.

Pablo Leão Yorke disse...

* os desestimule

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