terça-feira, 10 de outubro de 2017

RESENHA: Entre quatro paredes

Entre quatro paredes / B.A. Paris
Um casal aparentemente perfeito, cuja vida privada esconde muitos segredos. A premissa não é inédita, mas foi justamente por já haver funcionado antes que instigou a amante de thrillers psicológicos que existe em mim a ler "Entre Quatro Paredes". 

Grace sempre fez suas escolhas levando em consideração Millie, sua irmã com Síndrome de Down. Se o emprego não lhe permitia pagar uma boa escola para a irmã, então ela encontrava outro emprego. Se os namorados não a aceitavam, então o namoro terminava. Até que ela conheceu Jack, um advogado especializado em defender mulheres vítimas de violência doméstica. Jack é perfeito. Carinhoso, bonito, inteligente, rico, trata Millie com carinho e está disposto a recebê-la para morar com eles. Por isso, quando aos três meses de namoro Jack pede Grace em casamento, ela se considera a mulher mais feliz do mundo em poder aceitar. Mas as coisas mudam após o casamento e já não existe mais Grace sem Jack, pois ele passa a controlar todos os movimentos da esposa.

A história é narrada por Grace e dividida em dois momentos temporais: o passado, quando conheceu e casou com Jack, e o presente, pouco mais de um ano após o casamento.

Nas primeiras páginas o casal está diante de amigos em um jantar no qual são anfitriões. Ali já podemos perceber que há algo muito errado entre Grace e Jack. Para os amigos, eles são o casal perfeito. Mas vemos que Grace tem um medo mortal do marido. Cada palavra que ela diz, cada movimento que faz leva em consideração as consequências. Que preço ela irá pagar pelo que fizer? Que preço Millie irá pagar? Isso é o que faz "Entre Quatro Paredes" funcionar. O medo que Grace tem de Jack é genuíno e isso cativa o leitor a querer acompanhar o seu relato, querer entender como eles vivem e porque vivem assim.

“A escuridão total do ambiente, sem nenhum sinal de luz vindo das janelas, assim como o silencio – pois a casa estava assustadoramente quieta – me deixaram subitamente aterrorizada. Saber que Jack poderia estar em qualquer lugar, esgueirando-se escada abaixo atrás de mim, a poucos metros de distancia, fez meu coração bater acelerado.” (PARIS, 2017, p.143)

Os problemas começam justamente quando passamos a entender isso tudo. Jack mantém Grace prisioneira e simplesmente não há escapatória para ela porque ele pensou em todos os detalhes. O difícil de engolir é como foi tudo tão fácil para ele. Como ela concorda facilmente com decisões que darão a ele total controle sobre ela ou como cai com a inocência de uma criança em cada armadilha que ele prepara. Acima de tudo, é muito difícil de engolir que os amigos não vejam que há algo muito errado nesse casamento, porque não se trata das aparências do casal diante das pessoas e sim de uma mulher cuja rotina que não faz o menor sentido.

É um conjunto de fatores que, isolados, são pouco prováveis, mas até seriam aceitáveis para a trama. Ok, ela poderia ter largado o emprego e por isso não ter dinheiro ou compromissos aos quais ele não poderia acompanhá-la. Poderia não gostar de e-mail e celular e nunca falar com outras pessoas sem que ele supervisionasse o que ela diria. Poderia tentar fugir das formas mais ridículas, sem pensar se elas dariam certo ou não. Poderia. O problema é que, ao tentar encurralar Grace de todas as formas, somando todas essas possibilidades, a autora criou um contexto simplesmente inaceitável. Assim, é claro que suas chances de escapar são tão nulas quanto a lógica da trama.

Outra coisa que não me convenceu foi a maneira como Jack se tornou o tipo de homem que é e o que o motiva a ser desse jeito. Também não me convenceu ele abrir o jogo para Grace da maneira como faz, no momento em que faz.

Mas eu estaria mentindo se dissesse que o livro não me envolveu. A verdade é que mal vi as páginas passarem e realmente gostei da leitura. Meu problema é que foi tudo orquestrado demais, extremo demais, estereotipado demais. Grace, a vítima indefesa. Jack, o bicho-papão que está sempre um passo à frente. São personagens intensos pelo sofrimento que passam e que incutem, respectivamente. Mas estão longe de serem personagens profundos.

"Entre Quatro Paredes" foi uma boa leitura de uma história não tão boa assim.

Título: Entre Quatro Paredes
Autora: B.A. Paris
N de páginas: 265
Editora: Record
Exemplar cedido pela editora

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20 comentários:

RUDYNALVA disse...

Mari!
O livro retrata a vida de muitas pessoas ao nosso redor que vivem apenas de aparência ou observam apenas o que é 'mostrado' em uma família, não sabemos o que realmente há por trás da vida das pessoas, infelizmente!
Deve mesmo ser um livro que mexe com nossas crenças e muda nossa perspectiva, além de fazer com que repensemos sobre muitas coisas e atitudes.
Uma pena que alguns trechos não a convenceram.
Desejo uma ótima semana produtiva!
“Saber quando se deve esperar é o grande segredo do sucesso.” (Xavier Maistre)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

Jessica Andrade disse...

Oi Mari,

Pena que o livro em certos pontos não tenha sido bom, parece ter uma premissa bem interessante.
Bjs
http://diarioelivros.blogspot.com.br

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Tem livro que é assim, né? A leitura é boa, mas poderia ser melhor... Pelo menos a história é envolvente e você nem sente as páginas passarem.Beijos
Balaio de Babados
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Mi Tavares disse...

Poxa, o livro parece ser bem interessante, é uma pena que algumas partes não foram convincentes.
Beijos
5 O'clock Tea

Mariele Antonello disse...

Eu já havia lido alguns comentários referentes a este livro, e a história dele me deixou bem curiosa, gosto de livros de mistério, uma pena ter estes acontecimentos e fatos pouco prováveis na história, pretendo ler este livro, mas não irei ler com muita expectativa.

Gabriela CZ disse...

A premissa é bastante boa, Mari. E até incute bastante a questão das aparências pelas quais tanto nos deixamos levar às vezes. Uma pena que, pelo visto, a autora pecou em aspectos importantes. Quem sabe se a trama fosse ambientada na década de 1970 ou 1980 (onde a mulher já conquistara certos direitos mas com a inexistência de certas tecnologias que mencionou) poderia ter deixado um tanto mais plausível. Ao menos foi uma boa leitura. Ótima resenha.

Beijos!

Na Nossa Estante disse...

Oi Mari, uma amiga leu e gostou muito. Acho que mais parece um livro de terror com esse Jack do que suspense, cruzes kkkkkkkk Que pena que algumas coisas não de convenceram, mas ao menos a leitura fluiu.

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Renata Leite e Isadora Klauck disse...

Oi, Mari!

A premissa desse livro me interessa muito, pena que algumas partes não foram tão convincentes pra ti :(

Beijos,
Isa
Viciadas em Livros
Participe do Amigo Secreto Literário do Viciadas em Livros

Mari Zavisch disse...

Oi, Mari!
Concordo completamente com você: é uma boa leitura de uma história não tão boa assim! Disse tudo!!!
Eu também não vi as páginas passarem, mas foram tantos buracos na história e tanta coisa que não foi explicada, que fiquei inconformada hahaha
Bom saber que não fui a única a pensar assim!
Beijinhos,

Galáxia dos Desejos

Alessandra Salvia disse...

Oi Mari,
Eu gosto de histórias divididas entre tempos. Eu sinto que a história evolui e os personagens crescem. Uma pena que nem tudo foi ótimo, mas se envolveu, vale a pena.
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br

Sil disse...

Olá, Mari.
Uma coisa que gosto muito no blog é que sempre vejo livros que não estão sendo resenhados por todo mundo. E sempre me interesso por eles hehe. Mesmo você falando sobre essas falhas, acho que esse enredo compensa. Parece ser daqueles livros que agente não consegue largar enquanto não vê o final. Vou querer ler.

Prefácio

Alice Duarte disse...

Oiii Mari

Já ouvi falar mesmo que o livro é bem envolvendo e prende por conta de todo o clima de tensão, mas essas coisinhas que não conseguem convencer são complicadas mesmo... Eu espero ler esse livro em algum momento, parece ser legal pra sair da zona de conforto eterna que é a fantasia e os juvenis para mim mas não estou morrendo de pressa pra ler ele não. Se aparecer a oportunidade eu leio.

Beijos

aliceandthebooks.blogspot.com

Mrs. Margot disse...

Apesar de ser um género que eu não aprecio muito, estou muito curioso com este livro =)

MRS. MARGOT

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
O livro tem uma estória bem interessante, pena que a autora não conseguiu entregar um livro com uma estória mais bem estruturada. Apesar dos pontos negativos fiquei bem curiosa para saber mais sobre esse livro.
Bjoss

Mari disse...

Vi tantas pessoas elogiando que é pena que o livro apresente essa incoerências; de fato acho que a história acaba perdendo um pouco a graça. No entanto, foi bom saber que a leitura ainda assim foi boa, quem sabe eu dou uma chance, pois já sabendo o que esperar da história pode ser que eu releve esses pontos e aprecie o livro. Eu até espero algumas incoerências (exageros) em romances, mas como leio para relaxar, eu relevo. Porém, em livros desse gênero eu "cobro" que ele faça sentido, pois é uma história mais séria que acho que envolve mais o leitor se for mais crível. Ainda assim, acho que darei uma chance!

Nicole Longhi disse...

Parece ser uma leitura bem angustiante.
Mas gosto desse gênero pois ele me envolve completamente, e não paro ate chegar ao fim.
Não conhecia a autora e nem o livro.
Uma pena a autora ter uma trama tão boa, mas colocar contextos que a tornam praticamente inaceitável.
Mas ainda quero dar uma chance a leitura.

beijos

ThermIso disse...

Oiiiii....
Acho que vou dar uma chance sim para o livro...gosto de livros onde tem mulheres que sofrem pois eu quero ver quando ela descobrir que pode fazer alguma coisa para sair dessa situação...eu espero realmente que isso aconteça nesse livro...estou bem interessada em ler...otima resenha...
Bjs

ThermIso disse...

Oiiiii....
Acho que vou dar uma chance sim para o livro...gosto de livros onde tem mulheres que sofrem pois eu quero ver quando ela descobrir que pode fazer alguma coisa para sair dessa situação...eu espero realmente que isso aconteça nesse livro...estou bem interessada em ler...otima resenha...
Bjs

Paula disse...

Oi Mari,
Eu tinha grandes expectativas por esse livro, diminiuram um pouco. Mas adoro resenhas sinceras assim como esta. Também não gosto de personagens estereotipados, vilão vilão e mocinho mocinho, pois realmente não acredito que somos assim, somos os dois, mas tem pessoas que são mais um pouco de um ou de outro. Continuo querendo ler. Saber o aconteceu a Gracie.
Um beijo
Paulinha S

Ana I. J. Mercury disse...

Nossa, muito forte esse.
Fiquei muito curiosa pra ler.
Mas livros com violência contra a mulher, por mais necessários que sejam, me dói ler e esse parece ser um desses!
bjsss

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