terça-feira, 9 de janeiro de 2018

RESENHA: Vulgo Grace

Vulgo Grace / Margaret Atwood
Depois do sucesso de “O Conto da Aia” não tinha como o nome de Margaret Atwood passar despercebido. E com a promessa de uma protagonista enigmática, baseada em uma pessoa real, “Vulgo Grace” me atraiu imediatamente.

No Canadá, na década de 40, Grace Marks é uma jovem de 16 anos que, enquanto trabalhava como criada na casa de Thomas Kinnear, foi acusada de ser cúmplice do assassinato de seu patrão e da governanta da casa, Nancy Montgomery. Salva da forca, mas condenada à prisão perpétua, Grace passa os dias na prisão, mas também trabalha como criada na casa do governador da prisão, graças ao seu bom comportamento. Despertando dúvidas sobre se era realmente culpada ou mesmo insana na época em que os crimes aconteceram, Grace conquista uma legião de defensores, entre clérigos e políticos, e acaba atraindo a atenção de um jovem médico que se interessa em fazer um estudo de sua saúde mental. É nas conversas com o Dr. Simon Jordan que Grace revelará toda a trajetória da sua vida, até a noite dos assassinatos. 

A história de Vulgo Grace é baseada em fatos reais. Mesmo que alguns eventos sejam criações da autora (entre eles o personagem Simon Jordan), os personagens e eventos que cercam o crime são todos reais.

A história começa quando Grace já está presa há quase 20 anos e a narrativa se dá de três maneiras diferentes: em primeira pessoa, pela própria Grace, quando se trata dos acontecimentos da sua vida; em terceira pessoa, quando o foco está no Dr. Simon e em outros personagens; e ainda através de correspondências trocadas, principalmente, entre o médico e algumas pessoas do seu círculo, entre eles a sua mãe e colegas de faculdade.

“E fiquei pensando o que seria de mim e me confortei com o fato de que, dentro de cem anos, estaria morta e em paz, em minha sepultura, e pensei que, na verdade, seria muito menos complicado se estivesse lá bem antes disso.” (ATWOOD, 2017, p.376)

O interessante no relato de Grace é que não só acompanhamos o que ela diz ao médico, mas também muitos dos seus pensamentos. E é assim que vemos que tudo o que ela fala, ela escolhe falar. Ela age com base naquilo que acredita que os outros esperam dela em determinada situação. Sendo assim, como é possível conhecer esta mulher? Ela pode contar cada detalhe da sua vida (o pai terrível, a mãe morta em uma viagem de navio quando ela ainda era criança e responsável por seus irmãos mais jovens, os empregos que teve, os amigos que fez, os homens dos quais fugiu), mas é impossível sabermos cada uma das suas intenções porque ela só revela o que lhe interessa revelar.

Tendo dito isso, Grace é mais interessante pela figura que se torna, pelas histórias que se criaram ao torno dela (seria ela culpada ou inocente? Insana ou perversa? Mulher sedutora ou vítima?) do que pelo papel que desenvolve dentro da própria trama. Parece contraditório, mas não é. Ao analisarmos, Grace é sim uma personagem interessante, mas o desenvolvimento da história é moroso demais para prender o interesse do leitor por 500 páginas. São capítulos e capítulos de uma história que avança a passos lentos, sem grandes acontecimentos (a não ser aqueles que já sabemos de antemão que irão acontecer), consequentemente, sem cativar.

Há um posfácio no qual a autora comenta suas pesquisas e as discrepâncias nos relatos existentes sobre o caso e sobre Grace e não há dúvidas que Atwood construiu uma interessante colcha de retalhos com os elementos disponíveis. Quando nos aproximamos do final, há também uma cena fantástica em que a autora arrisca uma resposta para o que teria acontecido a Grace. Mas mesmo ela é pouco para compensar uma jornada que prometeu mais do que entregou.

Em 2017, “Vulgo Grace” ganhou uma adaptação para a Netflix com Sarah Gadon, no papel de Grace Marks, e conta ainda com nomes como Anna Paquin e Zachary Levi no elenco. “Alias Grace” é uma série limitada em 6 episódios.

Título: Vulgo Grace
Autora: Margaret Atwood
N° de páginas: 512
Editora: Rocco
Exemplar cedido pela editora

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15 comentários:

Ludyanne Carvalho disse...

Não é uma leitura que me dê vontade de fazer...
Eu acho interessante histórias reais, mas essa é um pouco tensa.
Já li algumas resenhas sobre, e fico imaginando as diversas situações difíceis que Grace passou. É doloroso.
E o fato de não termos certeza se ela é ou não inocente me incomoda, mas gosto de acreditar que é.
Eu acho essa capa muito interessante.

Beijos

Nessa disse...

Oie
Ainda não li nenhum dos livros, mas estou bem curiosa para conhecer a escrita desta autora.
Não sabia da série e agora estou com vontade de assistir.

Beijinhos
https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Oi Mari, tudo bem?
Eu fiquei bem curiosa lendo a premissa do livro, mas depois desanimei ao saber que a leitura é tão arrastada. Quem sabe um dia eu pegue para ler.
Beijos

Caverna Literária disse...

Oi, Mari!

A série já possui um ritmo lento, mas proposital para manter o suspense quanto à inocência ou culpa da protagonista. Como são poucos episódios, até que a lentidão não incomoda, mas imagino que em 500 páginas de um livro deva ser bem cansativo, inclusive arrastado. Uma pena, porque provavelmente partes do relato poderiam ter sido mais objetivas, sem tanta enrolação, mantendo assim o leitor mais preso no desenrolar. Pelo menos da série eu gostei bastante, principalmente do final. Ótima resenha!!

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

Carolina Santos disse...

Esse livro é incrível eu comecei a ler ele e eu fiquei surpresa com a história eu já tinha lido outros livros da Margaret atwood o conto da Aia por exemplo e apesar da história a ser diferente obviamente é muito interessante universo que a autora aborda e esse livro eu vi que foi adaptado para Netflix e quando eu fui assistir eu vi que tava exatamente parecido com a obra da Margaret e eu indico a série na Netflix

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Eu comecei a assistir a série, mas parei no primeiro ep. Não sabia que era limitada.
Interessante saber que foi baseado em fatos reais... Não sabia.
Beijos
Balaio de Babados

Na Nossa Estante disse...

Oi Mari! Eu só fiquei sabendo do livro por conta da série da Netflix, que aliás, tem bastante critica positiva. eu acho a premissa mega interessante, que pena que não entrega tudo que promete...

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Entre Histórias disse...

Oii Mari, tudo bem? essa autora anda bem comentada ultimamente né ainda mais por conta das séries baseada nos livros, eu quero muito ler os dois livros dela esse ano, antes de começar a assistir a série.
-Beijos, Carol!
http://entrehistoriasblog.blogspot.com.br/

Eduarda Graciano disse...

Oi Mari. Eu não li o livro e, se não me engano, a sua é a primeira resenha que leio dele.
Eu vi a minissérie (e saquei a da colcha de retalhos, viu? ba dum tss kkkk) mas tive exatamente essa impressão... promete mais do que entrega. Uma série de época e feminista dificilmente não me agradaria, mas foi bem o que aconteceu. Como eu AMEIVENEREI The Handmaid's Tale fui com toda a sede ao pote quando essa daí lançou e vi tudo na mesma tarde do lançamento. A série começa meio devagar, pega fôlego, depois pisa no freio e ali fica. Eu gostei, mas só. Não achei nada de mais e fiquei bem decepcionada por não ter cumprido minhas expectativas :( Apesar disso adorei as atuações e todos os aspectos técnicos. Acho que, em todo caso, vale a pena uma olhada, até pq são só 6 epis. Vc chegou a assistir?
O livro eu nem tive curiosidade de ler não... quem sabe um dia.
Beijão!

http://www.cafeidilico.com

Alison Teixeira disse...

Olá, a obra conta com um estilo de escrita bem interessante, afinal a protagonistas consegue manipular os personagens a sua volta e o leitor com suas histórias. Outro ponto positivo é a fusão que Atwood fez ao misturas fatos reais com ficção, deixando a leitura ainda mais rica. Beijos.

Lary Zorzenone disse...

Eu vou começar a ver a série na Netflix. Espero que ela tenha mais emoção que o livro. Não sou uma grande fã de livros com desenrolar mais lento. Eu preciso de coisas acontecendo pra me manter presa a história.

Vidas em Preto e Branco

RUDYNALVA disse...

Mari!
Após o sucesso do livro anterior dela, não esperava nada menos que sucesso nesse também.
Amo histórias ambientadas no século XIX e quando mostram a força de suas protagonistas, ainda melhor.
A autora sempre com temas polêmicos.
Quero ler.
Novo Ano repleto de realizações!!
“Meta para o Ano Novo? Ser feliz!” (Desconhecido)
cheirinhos
Rudy
1º TOP COMENTARISTA do ano 3 livros + Kit de papelaria, 3 ganhadores, participem!

Ana I. J. Mercury disse...

Uaaaau, parece ser um livro bem complexo e reflexivo.
Fiquei curiosa, ainda mais depois de ter lido tantas ótimas resenhas sobre O Conto da aia, queria ler mais da autora. Mas esse, acho que não conseguirei entender bem, não.
bjsss

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Assim que saiu a série pela netflix com 6 episódios correi para assistir gostei bastante e ainda quero muito ler o livro.
Bjos

Gabriela CZ disse...

Fiquei dividida, Mari. Já queria ler esse livro pois a premissa é mesmo muito interessante, mas essa morosidade que você mencionou me deixa receosa, ainda mais por ser um livro com mais de 500 páginas. Acho que vou ver a série e depois decido se leio ou não. Enfim, ótima resenha.

Beijos!

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