segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

RESENHA: Indignação

Indignação / Philip Roth
Na vasta obra de Philip Roth, considerado um dos maiores escritores americanos da atualidade, são várias as premissas que me atraem. Dessa vez, escolhi “Indignação”, mas novamente não fiquei totalmente satisfeita com a leitura.

O ano é 1951. A Guerra da Coreia está em seu segundo ano e Marcus Messner, assim como todos os jovens da sua idade, convive com o fantasma da convocação. Seus medos, porém, não são maiores que os de seu pai que, de uma hora para outra, passou a se preocupar exageradamente que qualquer coisa possa acontecer a seu único filho. Sem conseguir suportar a superproteção, Marcus decide sair de casa para continuar a faculdade em uma universidade a quilômetros de distância e acaba indo parar em uma instituição extremamente conservadora.

É incrível a força da narrativa de Roth. Com apenas duas ou três páginas já conseguimos sentir que conhecemos a fundo tanto Marcus como seu pai. A narrativa em primeira pessoa, na voz do próprio Marcus, é direta e precisa, tanto que o livro nem chega às duzentas páginas e mesmo assim conta a sua história.

Marcus é um adolescente que, como qualquer um na sua idade, quer descobrir o mundo e a si mesmo. Mas “Indignação” não é tanto uma história de autodescoberta como é sobre aprender a lidar com a liberdade, sobre ter maturidade para aceitar que uma escolha ou um momento são capazes de mudar tudo. Nesse processo, o personagem se descobre e se questiona.

Marcus não pensa. Ele sente e age. É impulsivo, se acha cheio de razão e é preciso que outros apontem padrões no seu comportamento para que ele analise algumas de suas atitudes. Esse é um aspecto enriquecido graças à narrativa em primeira pessoa: como vemos os acontecimentos pelos olhos de Marcus, é fácil nos deixarmos levar por suas impressões e sentimentos, sem que sejamos capazes de avaliá-lo com olhos inocentes.

“Você tem que ser maior que os seus sentimentos. Não sou eu que exijo isso de você; é a vida que exige. Se não, você vai ser levado de roldão pelos seus sentimentos. Eles te levarão até o mar e você não será mais visto. Os sentimentos podem ser o maior problema na vida. Os sentimentos podem nos pregar peças terríveis.” (ROTH, 2016, p.130)

Ainda sobre a temática, o autor aborda outros dois assuntos típicos da adolescência: as primeiras experiências sexuais e a ânsia de desafiar as figuras de autoridade. Dentro da primeira, aparece aquela que é, talvez, a personagem mais enigmática da história: Olivia. A menina com quem Marcus tem um breve envolvimento e que, longe de conseguir compreender, o leva a perceber que existem outras realidades muito diferentes da dele. Filha de pais divorciados (em 1951), tendo uma tentativa de suicídio em seu histórico e sendo sexualmente mais desenvolvida do que as meninas que ele conhece (e até que ele próprio), Olivia é, do início ao fim, um mistério.

Tudo que Marcus quer é se dedicar aos estudos, tirar o seu diploma e sair com alguma menina, de vez em quando. Ainda assim, é seu pai achar que ele possa estar fazendo algo errado, algo que poderá lhe colocar em confusão, que acaba por justamente colocá-lo nesse tipo de situação. É o diretor chamar sua atenção que lhe causa revolta e o leva a fazer justamente as coisas que não deveria fazer e que jamais faria.

Além disso, Marcus lida com duas doutrinas religiosas em sua vida (tendo ido estudar em uma universidade na qual a religião está fortemente presente na vida dos alunos, mas sendo filhos de judeus), mas se considera ateu. Em tese, Marcus é um bom moço, mas a arrogância típica da adolescência o faz trilhar um caminho que não é o caminho que ele mesmo quer. É essa contradição que torna a jornada do personagem interessante.

Também é interessante o comportamento do pai de Marcus. Sem razão nenhuma, o homem de repente passa a ver um perigo em cada esquina. Mas será que estar tão alerta a cada pequena coisa que possa vir a se transformar em uma ameaça não é justamente o que as transforma em uma?

Desde o início o autor dá pistas do desfecho que nos aguarda, mas nos deixamos levar pela história, pelos pequenos problemas com que Marcus lida (e que parecem tão grandes naquele momento) e não prestamos atenção no que está nas entrelinhas. Uma reviravolta que, pensando bem, era totalmente esperada.

Eu disse no primeiro parágrafo desta resenha que, mais uma vez, não me senti totalmente satisfeita com um livro de Roth. Não é que “Indignação” seja ruim. É só que eu esperava ser arrebatada por uma grande história, um grande personagem, e não foi isso que aconteceu. Marcus é sim um ótimo personagem e é interessante ver como, apesar de sua história acontecer há décadas, seus dilemas e seu comportamento são atemporais. Talvez eu esteja tão insatisfeita quanto o personagem, querendo da leitura algo que nem eu mesma sei o que é.

Título: Indignação
Autor: Philip Roth
N° de páginas: 176
Editora: Companhia das Letras
Exemplar cedido pela editora

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17 comentários:

RUDYNALVA disse...

Mari!
Nunca li nada do autor, mas fico impressionada quando leio que a escrita dele é fabulosa, acredito que por falar sobre assuntos mais adolescentes, deve ter um apelo grande.
Um carnaval de alegria e moderação e desejo uma nova semana!
“Ninguém é assim tão velho que não acredite que poderá viver por mais um ano.” (Cícero)
cheirinhos
Rudy
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Alessandra Salvia disse...

Oi Mari,
Acho que não é um livro para mim. Não consigo me animar com a premissa e você mostrando essa 'insatisfação', me deixou pior, rs.
Uma pena...
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Confesso que achei a capa fofinha até, mas esse enredo não me agradou por agora..
Beijos
Balaio de Babados
Participe da Folia Literária 2018: cinco kits, cinco sortudos.

Gabriela CZ disse...

Confesso que nunca fui atrás de livros do Philip Roth, Mari. Mas a premissa desse é realmente muito interessante, e fiquei curiosa para conhecer a narrativa dele. Mesmo que não tenha te deixado totalmente satisfeita, me parece um livro que vale a pena. Ótima resenha.

Beijos!

Ludyanne Carvalho disse...

Gostei muito dessa resenha!
Eu não conhecia nada sobre esse autor, e apesar de não ser um gênero que me chama atenção logo de cara é uma história um tanto interessante.
Gostei também do título, reflete muito o sentimento de grande parte da população.
Uma pena que a leitura não tenha sido tão satisfatória.

Beijos

Denise Flaibam disse...

Oi Mari, tudo bom?
A capa é muito bonita. Adoro arte minimalista assim. Porém a temática da obra definitivamente não é minha praia :/

Beijos,
Denise Flaibam.
www.queriaestarlendo.com.br

Tamires Marins disse...

Oi, Mari

Nunca li nada do autor e fiquei bem impressionada com a quantidade de coisas com as quais Marcus tem de lidar.
Por mais que você tenha dito que esperava mais eu achei intenso tudo o que você descreveu e fiquei curiosa a respeito desse desfecho e dessa reviravolta.
Costumo me dar bem com enredos atemporais, e realmente esses dilemas podem ser enfrentados nos dias de hoje.

Excelente resenha e vou ficar torcendo para que sua próxima experiência com o autor seja melhor.

Beijos
- Tami
http://www.meuepilogo.com

Entre Histórias disse...

Oii Mari, não conhecia esse livro, mas achei interessante a premissa, ainda mais por focar em adolescentes, e amo livros assim.
-Beijos,Carol!
http://entrehistoriasblog.blogspot.com.br/

Carolina Picasso disse...

Oi, Mari!
Confesso que a capa me atrai e o título é bem interessante, mas eu não teria lido se não tivesse visto que na sua resenha, se trata de problemas adolescentes e coisas desse gênero... uma pena que você não tenha ficado totalmente satisfeita, mas faz parte, né?
Acabei de conhecer seu blog e estou te seguindo, gostei do seu trabalho!
Beijos,
http://ofantasmaliterario.blogspot.com.br

Felipe disse...

Oi Mari,
que pena que você não curtiu tanto a leitura.
Blog Entrelinhas

Patrini Viero disse...

Não conhecia ainda nem livro nem autor, mas acho interessante um personagem tão complexo e ambíguo. O estereótipo de perfeição que muitas histórias trazem não é exatamente crível, e acredito que um personagem com defeitos e que comete erros seja muito mais fácil não só de se tornar real perante o leitor, como também de possibilitar a identificação em alguns aspectos. O enredo não me parece ter nada de extraordinário, mas aborda temas interessantes e comuns a todo, de um jeito ou de outro, e acho que esse é o maior ponto forte da trama.

Mrs. Margot disse...

Nunca li nada do autor, nunca tive grande curiosidade, mas ele é muito apreciado aqui em Portugal =)

MRS. MARGOT

Unknown disse...

Eu não conhecia o livro e nunca tinha ouvido falar neste autor. Porém, apesar de você não ter gostado tanto assim do livro eu fiquei curiosa para ler e descobrir como é a narrativa, já que é uma descoberta para mim.

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!
Para falar a verdade essa é a primeira vez que leio uma resenha de algum livro de autor Philip Roth, e sinceramente não curti essa sinopse da história.
Bjoss

Ana I. J. Mercury disse...

Eu conhecia o autor só de nome.
Ai, desculpe Mari, mas não gostei não.
Esse Marcus parece ser bem vida louca e achei meio confusa a história. Acho que é, porque não é bem do tipo que estou mais acostumada a ler (romanção kkk).
bjss

Mariana M... disse...

Achei a premissa bastante promissora de início, afinal, nunca li nada ambietado nesse contexto da Guerra da Coreia. É realmente muito legal ver um protagonista real, com suas nuances e Marcus parece ser exatamente assim. Uma pena que o livro não te conquistou totalmente

Carolina Santos disse...

Nunca um título de livro combino tanto com a minha experiência em lê-lo eu li esse livro para um trabalho da faculdade Mas sinceramente foi a leitura mais marcante que eu já fiz em toda minha eu pelejei muito para terminar essa merda e quando eu terminei só falta jogar no chão de tanta Felicidade e de alívio

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