domingo, 19 de agosto de 2018

RESENHA: Ausência na Primavera

Ausência na Primavera Agatha Christie
Todo mundo conhece, pelo menos de nome, a grande Dama do Crime: Agatha Christie. Em número de vendas, a autora é superada apenas pela Bíblia e por Shakespeare, tendo vendido mais de quatro bilhões de exemplares ao redor do mundo. Christie escreveu obras-primas do gênero policial, como “E não sobrou nenhum” e “O Assassinato de Roger Ackroyd”, porém, o que nem todo mundo sabe é que a autora explorou outros gêneros escrevendo sob o pseudônimo de Mary Westmacott

Joan Scudamore sempre se considerou uma pessoa bem sucedida, com uma família exemplar e um casamento feliz. Após visitar a filha em Bágda, Joan fica presa em uma pousada no meio do deserto em virtude de um atraso do trem que a levaria de volta para casa. Sozinha e sem atividades com as quais se ocupar, Joan começa a refletir sobre a própria vida e sobre os relacionamentos com seus filhos e marido. 

Ausência na Primavera parte de uma premissa simples: uma mulher orgulhosa, que vive de aparências, que vê a sua família sob uma luz romantizada sendo confrontada por suas lembranças. Porém, não se engane: apesar desta trama simples, Agatha Christie vai a fundo na psique da protagonista, mostrando ser uma profunda conhecedora das complexidades da alma humana. 

O mais interessante é que, de certo modo, a protagonista sempre soube os problemas e desafios que sua família enfrentou e ainda enfrenta. Entretanto, é somente quando se vê neste ambiente desolador, sendo assombrada por pensamentos que não consegue evitar, é que a personagem começa a aceitar que sua vida não passava de uma fachada. 

“Pensamentos aparecendo na mente... pensamentos aterrorizantes, pensamentos perturbadores. Pensamentos que não se queria ter. Mas, se era assim, por que tê-los? Afinal de contas, podem-se controlar os próprios pensamentos, ou não? Seria possível que, em algumas circunstâncias, os pensamentos de alguém o controlassem?” (CHRISTIE, 2017, p. 93). 

A narrativa é fluida e mesmo que não haja muitos eventos e que boa parte do livro se resuma a flashbacks, fiquei impressionado como Christie consegue envolver o leitor com a estória. Outro fator que deve ser destacado é o clima de tensão crescente, que fica mais palpável a cada capítulo. De certa forma, sentimos a mesma sensação de sufocamento da protagonista, que não consegue lidar com a verdade expressa nas lembranças que lhe assombram.  

E falando na protagonista, é impressionante como Ausência na Primavera prende o leitor mesmo contando com uma personagem que não é carismática. De alguma forma, Christie consegue atiçar e manter o interesse na estória, mesmo que não haja um personagem com quem o leitor desenvolva uma conexão maior. 

A única palavra que tenho para descrever Ausência na Primavera é brilhante. Há muito tempo não lia um livro com personagens tão bem construídos, que explorasse de forma tão sutil e precisa as emoções e contradições humanas. Ausência na Primavera é um dos livros preferidos da autora e confesso que se tornou um dos meus preferidos também. 

Para conhecer mais sobre a autora, não deixe de conferir o especial A Essência de Agatha Christie, uma série de pequenos vídeos com Mathew Prichard, neto da autora. E se você se interessou por Ausência na Primavera, aconselho assistir ao episódio dedicado a Mary Westmacott

Título: Ausência na Primavera
Autora: Agatha Christie
N.º de páginas: 213
Editora: L&PM

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8 comentários:

Espiral de Livros disse...

Oi Alê. Eu adoro os livros da Agatha Christie, tive uma fase em que lia direto os livros dela e só dela, mas passou e faz muito tempo que não li outro. Realmente ela é a Dama do Crime! Fiquei surpresa com as informações desse post, não fazia ideia que ela tinha escrito livros de outros gêneros que não policial/investigativo. Não sei se eu me prenderia à história, mas acho a dica válida e vou deixar anotada.
Beijos
http://espiraldelivros.blogspot.com/

Gabriela CZ disse...

Nunca imaginaria que a Agatha escrevesse algo nesse gênero, Alê. E me interessei pela premissa. Ótima resenha.

Beijos!

Nicole Longhi disse...

Eu adoro a escrita da autora, e já li vários de seus livros de crime.
Mas não conhecia a escrita dela voltada para esse lado e fiquei encantada em ver sua resenha e descobrir este livro.
Já coloquei na minha lista.

beijinhos
She is a Bookaholic

Carolina Santos disse...

Esse para mim foi um dos piores livros da Agatha que eu cheguei a ler não consegui me empolgar na leitura e foi um dos primeiros e únicos livros que eu acabei abandonando O que foi decepcionante para mim já que eu adoro ela

RUDYNALVA disse...

Alê!
Achei bem bacana a Agatha trazer uma protagonista que trava uma luta consigo mesma ao se confrontar com o mundo de aparências em que viveu durante anos versus o mundo real para o qual ela simplesmente fechou os olhos e se decidiu pelo caminho mais curto.
cheirinhos
Rudy

Ana Paula Santos Moreira disse...

Os livros de Agatha Christie sempre foram os melhores no gênero, li a maioriade seus livros. Ausência na primavera ainda não li, mas garanto que oportunidade não vai faltar por se tratar de uma autora com a escrita tão perfeita. Amei!

Luana Martins disse...

Olá, Alê
Comecei a ser uma leitora quando na escola um dia fui na biblioteca e me interessei nos livros de Agatha Christie e a série Vagalume.
Nunca tinha pesquisado a fundo a vida da autora, mas vou assistir todos os vídeos.
Gostei muito da estória deste livro, espero ler em breve.
Beijos!

Ana I. J. Mercury disse...

Oi Alê,
ainda não conhecia esse da Agatha, mas já fiquei com muita curiosidade e vontade enorme de ler, depois de ler a sua resenha.
Parece ser um livro simples, mas com muitas reflexões e questionamentos não só por parte da protagonista, como da nossa também.
bjss

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